Luciano Araujo Monteiro


A IMPORTÂNCIA DAS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE PARA A DIFUSÃO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO




O objetivo desse estudo é apresentar as ideologias sociais contidas na Teologia da Libertação, movimento inserido no Brasil na década de 1960, como uma forma de trazer à tona o discurso de mobilização das massas excluídas, a fim de que elas, por meio da união, pudessem exercer mudanças na sociedade brasileira, havendo engajamento no âmbito político. Todavia, nesta visão ideológica, torna-se necessário deixar de lado uma visão clássica da Igreja Católica Apostólica Romana, como porta voz da felicidade após a morte. Para este fim também são mostrados aspectos que ilustram a visão conservadora da Igreja.

No intuito de desenvolver este trabalho, foram utilizadas fontes orais, isto é, entrevistas veiculadas em rádio e em sites e fontes secundárias, ou seja, livros de autores contemporâneos, sendo que, o recorte temporal abrange o decênio de 1910 e o intervalo entre as décadas de 1960 até 2009 [ano da fonte de pesquisa mais atual utilizada].

A Teologia da Libertação é uma doutrina que visa combater a exclusão social vigente nos meios de produção, por sua vez, influenciada pelo imperialismo das nações europeias e dos EUA, nos países subdesenvolvidos. Este movimento, conforme disse o próprio Leonardo Boff [nome de batismo: Genésio Darci Boff] em entrevista ao canal Aparecida, não desejava romper com a Igreja, mas sim, almejava reformar a instituição, para que ela estivesse a serviço do povo. Em outras palavras, é um erro confundir essa Teologia com uma nova religião por não atentar-se em observá-la como uma vertente do Cristianismo, conforme informa Gustavo Gutiérrez [2008], precursor desse ensinamento na América Latina.

Divergências entre Teologia da Libertação e uma Igreja conservadora
Essa teologia concede voz aos excluídos como indígenas, mulheres, pobres e, como disse Boff em entrevista: “a libertação não é só na sociedade, mas também na Igreja, tornando-se um espaço de acolhida. Ela também deve animar os processos sociais e ser boa”, porém, há setores reacionários na própria instituição, os chamados Carismáticos Católicos, dentre eles, destacam-se os Cruzados de Cristo, em termos de grande intolerância. Há também a corrupção entre os religiosos, conforme nos lembra Boff, ao comentar sobre a venda de documentos pertencentes ao vaticano por membros do clero católico.

É possível lembrar também da censura exercida sobre os teólogos da libertação, no pontificado de João Paulo II, dentre eles Boff, que, nos anos 80 sofreu um processo inquisitorial, no qual foi condenado ao silêncio obsequioso, ou seja, este ficou proibido de lecionar, dar entrevistas, publicar livros e foi afastado de seu cargo de coordenador editorial, pela Editora Vozes.

Durante esta pesquisa, foi evidenciado que há outros entraves que separam a Igreja da população, como o fato do celibato clerical, o qual desestimula bons indivíduos a aderirem à vida religiosa, além do fato das mulheres, parcela significativa dos fieis, não terem espaço para prosseguir na instituição, havendo impedimento para que se tornem bispas ou papas.

Na primeira metade do século XX, houve duas propostas de Igreja no Brasil, uma defendida pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, de cunho conservador por colocar o povo em condição de tutela e outra exposta pelo padre Júlio Maria, que permitia maior participação popular, a partir de um melhor entendimento da realidade brasileira. É importante lembrar isso, pois, é um exemplo de que sempre houve vozes dissonantes na Igreja [DELGADO; PASSOS, 2007], assim como ainda há na atualidade. Devido ao grande apoio eclesiástico, a primeira proposta venceu. Com isso, foi elaborada a Carta Pastoral [1916], que resultou num intenso distanciamento das classes populares, e aproximou a Igreja dos latifundiários, classe média e do governo, inclusive dos militares na década de 1960. Sua doutrina passou a reafirmar os dogmas por meio da intensificação do ensino religioso, posiciona-se contra as demais religiões e atividades de caráter comunista. Por isso, a Teologia da Libertação sofreu discriminação, pois, nessa Teologia, também se percebe a utilização de ideias marxistas, como o uso do trabalho tendo o fator humanizante, em decorrência da transformação da natureza, visando construir uma sociedade melhor, como ilustra Francisco Catão [1987].  

No pontificado de João XXIII, houve a convocação para o Concílio Vaticano II, que durou entre 1962-65, que visou abrir maiores discussões sobre as dificuldades impostas aos menos favorecidos, em virtude das desigualdades sociais. Porém, no período estudado, percebe-se certo conservadorismo, no sentido em que as transformações sociais devem ser realizadas pela elite, assim como no âmbito trabalhista, por meio do patronato. O que permite pensar num estímulo ao paternalismo, pois, os excluídos deveriam esperar passivamente por mudanças em sua própria condição de vida, executados por setores dirigentes [DELGADO; PASSOS, 2007].

O papel das Comunidades Eclesiais de Base
As Comunidades Eclesiais de Base [CEBs] surgiram na década de 1960, nas quais o evangelho foi difundido conforme a realidade social do excluído. Todavia, num estágio mais avançado de evangelização, o fiel era estimulado a questionar a organização social e a incorporar-se em sindicatos, associações de bairro, partido político, dentre outras organizações. Ademais, por meio das CEBs, os fieis ganharam mais participação na comunidade que fazem parte, o que não ocorreu numa Igreja altamente hierarquizada, como a Católica [BOFF, 1982]. Frei Betto nos mostra a essência das Comunidades Eclesiais de Base:

“São comunidades, porque reúnem pessoas que têm a mesma fé, pertencem à mesma Igreja e moram na mesma região. São eclesiais, porque congregadas na Igreja, como núcleos básicos de comunidade de fé. São de base, porque integradas por pessoas que trabalham com as próprias mãos (classes populares): donas-de-casa, operários, subempregados, aposentados, jovens e empregados dos setores de serviços, na periferia urbana; na zona rural, assalariados agrícolas, posseiros, pequenos proprietários, arrendatários, peões, e seus familiares. Há também comunidades indígenas”. [BETTO, 1981, p. 17] 

As Comunidades Eclesiais foram influenciadas pelos pensamentos pedagógicos de Paulo Freire e apoiavam o movimento operário em suas reivindicações, assim como os sindicatos que defendiam os interesses dessa categoria, incentivando paralisações [BETTO, 1981]. Isto é, nas CEBs, discutia-se sobre toda forma de adversidade, dentre elas: desemprego, baixos salários, etc. [BOFF, 1982], não é por acaso que o movimento cresceu na época da Ditadura Militar Brasileira, período de grande concentração de renda nas mãos de uma minoria. Tais ideias eram vistas pelos governantes daquele período como atos subversivos e, em decorrência disso, houve perseguições dentro das Comunidades Eclesiais, que culminaram com prisões, torturas e mortes de alguns de seus membros [BETTO, 1981]. Mesmo assim, as CEBs, continuaram recebendo adeptos e, se os militares tiveram autonomia para extinguir os partidos políticos, não podiam fazer o mesmo no seio eclesiástico, assim os representantes dessas Comunidades não podiam ser substituídos por indivíduos pró-ditadura. Durante as atividades pedagógicas, as pessoas aprendiam a não esperar pela iniciativa de políticos, no intuito de resolver questões sociais, assim, os membros das CEBs passaram a agir do micro ao macro, ou seja, difundiram o conhecimento utilizando a realidade cotidiana e simbólica das camadas populares, indo para atos de politização mais complexos, na linguagem Freiriana, essa prática ficou conhecida por Círculos Concêntricos. Para facilitar o entendimento, há o exemplo da dona-de-casa que toma consciência de que é um abuso o fato dela não possuir água em seu bairro, o que provoca posteriormente um movimento de contestação, em conjunto com a comunidade na qual ela está inserida, a fim de resolver tal problema.

É importante também ressaltar o fato de que o Partido dos Trabalhadores [PT] nasceu no seio das CEBs, incorporando as teses de conscientização da população, criticando as mazelas sociais, tanto que, conforme foi evidenciado, o PT agregou pessoas pertencentes às Comunidades Eclesiais de Base em sua estrutura [CAMURÇA, 2007]. Além disso, elas tiveram poder para eleger deputados estaduais e federais [BETTO, 1981]. As CEBs tiveram grande aceitação entre os habitantes do campo, pois, para eles, o discurso religioso é algo sagrado, além deles sofrerem com a opressão do latifúndio, em decorrência da falta de iniciativas do Estado em solucionar os entraves do campo. Assim como a mecanização dos meios de produção, por parte das multinacionais, que acabam em termos de concorrência com o pequeno agricultor. Ademais, há os intermediários, que compram os gêneros agrícolas dos camponeses por um valor irrisório e os revendem por um preço abusivo [BETTO, 1981].

Nota-se também que, no intuito de evangelizar os camponeses, os membros das Comunidades Eclesiais apropriaram-se de seu universo simbólico, a fim de que o ensinamento fosse mais bem interpretado, como na cerimônia de São Félix do Araguaia, na qual, os objetos litúrgicos eram as ferramentas de trabalho dos agricultores e pescadores [BETTO, 1981].

Com o fim de auxiliar na evangelização, muitas comunidades utilizaram os círculos bíblicos, folhetos em linguagem popular, que possuíam um apelo visual, elaborados por Frei Carlos Mesters, nos quais, os fatos do cotidiano são comparados com os acontecimentos da Bíblia [BETTO, 1981].

É importante lembrar que as CEBs também incentivaram na formação das Ligas Camponesas, movimentos de contestação à opressão no campo, usando cartazes e instrumentos agrícolas em manifestações públicas. Tal iniciativa difere com a que foi difundida pela alta hierarquia eclesiástica, a qual está ao lado dos grandes fazendeiros. Além disso, no interior das CEBs não era difundida a intolerância religiosa, pois entre seus participantes existiam católicos, protestantes, espíritas e ateus, ou seja, a única divisão que realmente era considerada estava na divisão entre aqueles que defendiam os interesses de uma minoria, detentora do poder, contra os que desejavam o bem coletivo [BETTO, 1981].

É necessário lembrarmo-nos do agente pastoral, o qual poderia ser um religioso ou leigo, responsável pelo contato direto com os membros da comunidade, vivenciando a realidade dos excluídos, lembrando que este personagem possuía entre as atribuições, ajudar nos preparativos das cerimônias religiosas, além de difundir a ideologia de diferença entre classes. Todavia, apesar de sua importância, esse agente não deveria usar sua influência para controlar a comunidade, mas sim, por meio de sua experiência de vida, educar os membros da instituição, a fim de que, mesmo sem essa figura, a CEB pudesse progredir [BETTO, 1981]. A formação desse personagem foi tão essencial que, foi criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento [Ibrades], visando o conhecimento da realidade social e econômica do país [DELGADO; PASSOS, 2007]. Ademais, o agente pastoral poderia abandonar a família e o serviço para dedicar-se ao evangelho, caso a CEB tivesse estrutura para recebê-lo.

Neoliberalismo e Crise das Esquerdas
Em entrevista, o teólogo Benedito Ferraro lembra-se de Boff ao falar do novo papel das CEBs, tornando-se Comunidades Eclesiais Ecológicas de Base, assim como a importância das CEBs no seio da Igreja, e também, na sociedade brasileira, nos anos 60, 70 e 80 do século passado. Todavia, menciona a década de 90, no momento em que o Brasil adere ao neoliberalismo e há uma considerável diminuição das lutas dos trabalhadores. Ao ser indagado de o porquê disso ter ocorrido, Ferraro [2009] mencionou:

“A desestruturação dos sindicatos, dos movimentos populares, do desemprego em massa. Toda a época Collor e praticamente os dois mandatos do Fernando Henrique Cardoso foram momentos muito duros para a classe trabalhadora. E as CEBs ressentiram esse problema. As lideranças perderam seus empregos, as pessoas tinham de lutar pela sobrevivência, de forma tal que não conseguiram efetivar todas as expectativas que tínhamos na década de 80. Agora, sabemos que, como as ondas do mar, o movimento popular tem altos e baixos, e as Comunidades também tiveram momentos de muitas dificuldades. Nós vemos também que o pontificado de João Paulo II foi difícil para a Teologia da Libertação, para as Comunidades Eclesiais de Base...houve muita pressão”.

Com base na citação anterior, pode-se esmiúça-la ao lembrarmo-nos de que, no governo Fernando H. Cardoso, houve a tentativa de flexibilizar as leis trabalhistas, que na verdade significava a perda de direitos sociais, além de ter existido em seu governo o beneficio de instituições financeiras. Assim como o governo Collor, o qual acabou com o protecionismo da indústria nacional, culminando em grande concorrência com os produtos estrangeiros e, como consequência disso, tivemos um enorme contingente de desempregados. Além disso, deve-se pensar na ideologia política de fortalecimento das nações, nos moldes do capitalismo, pois, isso acarreta o desequilíbrio entre as classes num mesmo país, assim como no âmbito internacional, independente do grau de desenvolvimento [CATÃO, 1987].

Ao falar de marxismo, pode-se lembrar de que as CEBs e outros movimentos sociais sentiram em suas estruturas um enfraquecimento no fim dos anos 80 e início da década de 90, devido ao fim da União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas [URSS]. Conforme exposto por Boff e Frei Betto, era a esperança de um mundo em que todos teriam direitos sociais assegurados.

Devemos lembrarmo-nos de que, ao entrarmos na “Nova República”, o povo brasileiro teve voz e direito ao voto presidencial, no entanto, não ganhou poder suficiente para organizar uma nova sociedade, deixando no ar a ideia de participação popular de forma consentida, mas não efetiva. Tal desigualdade é notória ao vermos algumas pessoas desfilando de carro importado, enquanto outras dormem nas calçadas das ruas.

Como se pode observar, a Teologia da Libertação concedeu voz aos excluídos socialmente, como também não os inseriu numa mesma categoria (pobre), lutando pelos direitos das mulheres, homossexuais, indígenas, negros, etc, a fim de combater um sistema social que oprime de forma implícita ou explícita. No entanto, é mal-vista pela alta hierarquia eclesiástica, pois, o segmento conservador, além de tentar cercear as ações dos teólogos engajados neste ideal libertador, ainda mantêm-se longe dos menos abastados, promovendo um discurso demagógico, ligado a uma recompensa de vida após a morte para manter a estrutura da sociedade, benéfica aos poderosos. Em meio a estes fatos, finalizo com a afirmação feita por Frei Betto [1981]: “Enquanto as decisões pastorais continuarem a ser tomadas fora do povo, o povo será Igreja, mas a Igreja não será povo”.


Referências
Luciano Araujo Monteiro é aluno, vinculado ao programa de mestrado acadêmico, pelo Departamento de História da UNIFESP. Graduado em História, com certificação em patrimônio e pós-graduado em Gestão Pública pela mesma universidade.

BOFF, Leonardo. Entrevista concedida à emissora de rádio Inconfidência FM (100,9), de Belo Horizonte, Programa Frente e Verso, data: 30 jan. 2009.
BOFF, Leonardo. Igreja, Carisma e Poder. Petrópolis: Editora Vozes 1982. p.196-202. [livro]
CAMURÇA, Marcelo Ayres. A militância de esquerda [cristã] de Leonardo Boff e Frei Betto: da Teologia da Libertação à mística ecológica – Revolução e Democracia 1964. [org: Jorge Ferreira e Daniel Aarão Reis].V.3. As Esquerdas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira 2007. p. 387-405. [livro]
CATÃO, Francisco. Libertação. Editora FTD S.A. 1987. p. 24-47. [livro]
DELGADO, Lucília de Almeida Neves; PASSOS, Mário. Catolicismo: direitos sociais e direitos humanos (1960-1970) – O Brasil Republicano. O tempo da ditadura...[org: Jorge Ferreira e Lucília de Almeida Neves Delgado]. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. 2007. p. 93-112. [livro]
FERRARO, Benedito. Entrevista. Revista Missões. 2009. Disponível em:
http://www.revistamissoes.org.br/2009/07/entrevista-teologo-benedito-ferraro-fala-sobre-a-forca-e-importancia-das-cebs/ [internet]
FREI BETTO. O que é Comunidade Eclesial de Base. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Editora Brasiliense. 1981, p.16-41. [livro]
GUTIÉRREZ, Gustavo. Entrevista. Vigília da Noite. 2008. Disponível em:
http://vigiliadanoite.blogspot.com/2008/10/entrevista-com-gustavo-gutirrez.html [internet]


6 comentários:

  1. MANOEL ADIR KISCHENER

    Olá Professor! Olá a todos!
    Felicito pelo texto e temática, de certa forma, marginalizada na academia. Destaco três trechos de vosso texto que gostaria de apresentar certa discordância:
    “[...] o Partido dos Trabalhadores [PT] nasceu no seio das CEBs, incorporando as teses de conscientização da população, criticando as mazelas sociais, tanto que, conforme foi evidenciado, o PT agregou pessoas pertencentes às Comunidades Eclesiais de Base em sua estrutura”, ao longo do texto faz apenas esta referência, sem crítica alguma do que fez os governos do PT (de positivo, mas também de negativo às comunidades eclesiais de base); logo em seguida, se atesta a vossa opção nesta linha ao mencionar dois governos que trouxeram problemas aos trabalhadores, mas não cita os do PT: “[...] no governo Fernando H. Cardoso, houve a tentativa de flexibilizar as leis trabalhistas, que na verdade significava a perda de direitos sociais, além de ter existido em seu governo o benefício de instituições financeiras. Assim como o governo Collor, o qual acabou com o protecionismo da indústria nacional, culminando em grande concorrência com os produtos estrangeiros e, como consequência disso, tivemos um enorme contingente de desempregados”.
    Creio que, como afirmei antes, os governos do PT foram benéficos em muitos sentidos, mas justamente nessa linha, das comunidades eclesiais de base, a partir dos ideais abertos da Teologia da Libertação, que podem propiciar algum sentido de emancipação no campo (se não houver massificação com intentos mais político-partidários do que os fins da emancipação humana, tal como assevera Marx em “Sobre a questão judaica” (em especial na edição espanhola da Editorial Crítica de 1978) que falharam, aliás, o ciclo petista, me parece, foi mais de engessamento político dos movimentos sociais do campo (e agora, com o ocultamento desse processo na literatura acadêmica).
    Por fim, a terceira parte, “Ao falar de marxismo, pode-se lembrar de que as CEBs e outros movimentos sociais sentiram em suas estruturas um enfraquecimento no fim dos anos 80 e início da década de 90, devido ao fim da União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas”, em que pese você mencionar que esta ideia seria de Boff e Betto, me parece um tanto inocente, pois não leva em conta a crise e a contestação, já desde os anos 1960, pelo menos, ao modelo soviético; ela apenas se sustenta se colocar um peso (que não teve) do marxismo sobre os movimentos sociais do campo (que são tributários da Teologia da Libertação sim!), ao contrário, este foi vago e impreciso no campo, por exemplo, com o MST (apenas quando os intelectuais mais sérios estavam mais envolvidos, até meados dos anos 1980; depois prevalece um marxismo-leninista vulgar). E, se observar este movimento social que teve seu auge político justamente pós anos 1990, notadamente nos governos de Fernando Henrique (porque este recrudesceu a luta no campo, o MST tinha outra estratégia, mas também foi o período do maior número de famílias assentadas) e, não se observou a queda da luta e nem do intento e da “[...] esperança de um mundo em que todos teriam direitos sociais assegurados”.
    Agradecido!
    Abraços!

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  2. Olá professor.
    Você tem todo o direito de discordar de meu texto. Esse é um dos aspectos que caracteriza uma democracia. Busquei elaborar um trabalho científico e não partidário. Todo o trabalho do historiador implica em fazer escolhas e a minha foi focar nas CEBs e não nos 16 anos de PT no governo federal. Se mencionei outros governos foi porque minhas fontes as mencionaram. Ademais, se fiz referencia a Boff e Frei Betto foi pra fazer justiça às pessoas que propagaram essas ideias. Na verdade, seria inocente pensar que a crítica ao modelo soviético nasceu na década de 1960, pois houve embates entre o PCB e o governo varguista na década de 1930.

    Obrigado.

    Luciano Araujo Monteiro

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    1. MANOEL ADIR KISCHENER

      Olá Professor! Não caracterizei vosso trabalho como partidário. Mas, em minha opinião, ao fazer a escolha do recorte (que é a coisa mais normal na escrita) esta escrita opta por mostrar um lado da história. O que escrevi foi no sentido de contribuir para mostrar diferentes formas da mesma questão.
      Quando afirma: “[...] se fiz referencia a Boff e Frei Betto foi pra fazer justiça às pessoas que propagaram essas ideias”, concordo, justo. Mas penso que mesmo autores deste porte não estão imunes a crítica e, assim se faz a escrita acadêmica.
      Por fim, “Na verdade, seria inocente pensar que a crítica ao modelo soviético nasceu na década de 1960, pois houve embates entre o PCB e o governo varguista na década de 1930”, concordo; e conheço este processo, mas me referi a contestação, de forma geral ao modelo soviético, advinda pós anos 1960, como crítica àquele modelo de marxismo. No entanto, conhecendo isso, preferiu não mencionar no vosso texto.
      Penso que, a despeito de termos posições e, a vida é um ato político, cabe dialogar e, com certeza as perspectivas à esquerda tem mais condições de nos conduzir a uma vida melhor, admiro os escritos de Boff e, conheço alguns (estou começando a ler alguma coisa de Betto) e, reconheço a sua contribuição. Mas, ao pensar a esquerda, penso que nós, e se observar as revistas acadêmicas, os congressos, em sua maioria, nos recusamos a aprofundar a crítica, a tocar em nossas feridas, artigos que apenas tocam em uma ou duas são barrados, desta forma a ciência não avança e continuamos meramente militantes; talvez explique o porque temos o presidente que temos, falta autocrítica a esquerda.
      Abraços!

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  3. Olá, professor.
    Compreendo que o intuito de sua argumentação foi o de enriquecer meu trabalho. Creio que nenhum autor é imune às críticas, visto que, o conhecimento histórico não é estático, mas sim, desenvolvido constantemente. Concordo que deva existir uma autocrítica por parte da esquerda. Do contrário, teremos governantes que desrespeitam os direitos humanos, como ocorre nos dias atuais.

    Abraço.

    Luciano Araujo Monteiro

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    1. MANOEL ADIR KISCHENER

      Agradecido, Professor!
      Abraços!

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