CAMINHOS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM: A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO E DO “DEVIR DOCENTE” PARA AS CIÊNCIAS HUMANAS
Considerações
iniciais
O objetivo deste
artigo é dissertar sobre algum dos percalços enfrentados pelos docentes, com
destaque para os professores recém-formados. Para isso, procuramos interpretar
certas experiências vividas no âmbito do Estágio em Ciências Sociais no Instituto
de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp/UERJ) à luz de duas
definições: a do “planejamento” e a do “devir docente”. São percepções que
extrapolam esta área de formação e abrange, sem sombra de dúvidas, toda a
grande área de Humanidades.
Aproximar teoria e
prática é um desafio das licenciaturas em relação a qual devemos sempre estar
atentos. A prática docente se faz através do exercício da atividade de
magistério no qual a experiência é um componente fundamental. O curso de
Licenciatura em Ciências Sociais da UERJ reflete sobre essas importantes
questões, estimulando constante participação dos licenciandos, de maneira que o
CAp-UERJ constitui-se num importante espaço de experimentação da prática do
magistério.
O primeiro autor
finalizou os estágios obrigatórios da Licenciatura do curso de Ciências Sociais
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em fins de 2019, tendo sido
orientado pelo Professor que assina a coutoria deste trabalho. Ao longo do
período de estágio, de dois semestres, foi possível constatar que tanto a
organização burocrática das ações pedagógicas quanto uma “desterritorialização”
de identidades e ideias cristalizadas do cotidiano escolar são dimensões
necessárias da prática docente. Em função disso, tratamos de algumas
preponderâncias do ato de planejar, tais como a “racionalização” e a
“objetividade” das metas a serem alcançadas.
Outrossim, miramos
também a compreensão de determinados elementos do que concerne a um “ser”
contínuo do docente. Ou seja, ser um educador demanda não apenas capacidades de
ordem técnica, mas também uma formação permanente que o estimule a superar as
predefinições que a carreira costuma lhe impor, fugindo dos efeitos do “choque
de realidade”, concluindo assim que as contradições da sala de aula são
constituintes do processo de aprendizagem. O esforço aqui, portanto, será o de
verificar tais peculiaridades da docência, a partir das experiências da
licenciatura.
Nesse sentido, as
reflexões que procuramos fazer aqui gravitam acerca de dois temas: o
“planejamento” e o “devir docente”. O intuito será o de externar, a partir dos
relatos sobre as experiências vivenciadas durante o curso de licenciatura em
Ciências Sociais, impressões sobre estas duas dimensões do cotidiano escolar.
Pretende-se, pois, projetar as expectativas que um licenciando, independente de
que disciplina das Ciências Humanas, costuma esperar da sua carreira e algumas
possíveis reflexões que os futuros docentes precisam fazer para superarmos os
bloqueios típicos dos anos iniciais.
Inquietações
da atividade docente vivida pelo licenciando
A atividade docente é
uma das atividades consideradas centrais na garantia de um projeto democrático,
pois é aquela que zela pela formação cidadã e pelo convívio social. Este
destaque é revelado nos marcos da Modernidade, já que a escola pública ganhou
forma inicialmente na Revolução Francesa [Boto, 2003]. Esta percepção da escola
como espaço vital para a aprendizagem e a cidadania pode ter servido para,
dentre outras ricas disposições coletivas, cristalizar entendimentos
inconclusivos e errôneos sobre o que são os conhecimentos e quais são os papéis
do docente.
Num entendimento
primário do autor, antes da iniciação dos estágios no CAp-UERJ, o bacharelado o
gabaritaria automaticamente para o exercício da docência, observando a
licenciatura como uma formação complementar. No entanto, no decurso da
licenciatura ocorreu a percepção desta visão equivocada através da oportunidade
de contemplação das aulas presenciais, por meio dos estágios, além das atividades
providenciadas pelas disciplinas de ordem essencialmente pedagógicas. Só assim
houve a compreensão do processo de ensino-aprendizagem como trajeto que mantém
o docente na constante formação e capacitação que sua carreira lhe solicita
paulatinamente.
As questões suscitadas
pelo ex-licenciando são tão comuns quanto a relevância da formação encontrada
na prática de ensino. Como destacado por Mizukami e Reali [2010], as atividades
de prática de ensino são fundamentais na formação inicial de professores,
somando-se ao conhecimento específico da área de formação e ao conhecimento de
conteúdo pedagógico.
Inquietações, como a
apresentada anteriormente, surgidas em meio à formação docente, foram cruciais
para o desenvolvimento de uma importante interrogação. É possível falar de
alguma combinação prévia entre o conteúdo acadêmico e a experiência do
cotidiano escolar? É factível pensar esquemas de ensino-aprendizagem que
compreendam múltiplas realidades sociais? Parece-nos que essas perguntas
dependem da apreensão do que é o “planejamento”, ou seja, dos procedimentos
necessários a toda aula ou ação estratégica que são organizados e
racionalizados antes de serem postos em prática.
O fato é que a
“revelação” que a licenciatura oferece aos estudantes os leva a perceber que a
produção de uma aula envolve diversas questões, que envolvem trabalho,
inspiração, disciplina e motivação. O planejamento escolar não pressupõe apenas
uma dimensão essencialmente burocrática, responsável pela evidente viabilização
de condições básicas para o exercício docente. Mais do que isso, o planejamento
ocupa eminente posição dentro da vida escolar, dado que qualquer ação - por
justamente visar o bem da comunidade escolar - depende de planejamento e
avaliação dos recursos e infraestruturas à disposição.
Além do planejamento,
outra dimensão de grande relevância para a vida docente é a formação
continuada, dado que todo professor não deve resumir sua carreira a de mera
transmissão do conhecimento adquirido e de controle do alunato. A docência, em
seus anos iniciais, é costumeiramente bombardeada pela realidade implacável do
Ensino Básico, tendo de assimilar precariedades cumulativas e limitações
burocráticas, que acabam por estimular a evasão docente.
No CAp-UERJ, a equipe
de Sociologia possui ativo o Laboratório de Ensino e Pesquisa em Ciências
Sociais (LEPCS), um espaço coletivo voltado para a formação curricular e
extracurricular de estudantes de licenciatura em Ciências Sociais, além de
contribuir para a formação continuada de professores de Sociologia inseridos na
educação básica. É um braço de ação da universidade para além dos seus muros,
focado na formação e aperfeiçoamento de professores do presente e do futuro.
O licenciando autor
deste artigo teve contado, durante sua formação no ano de 2019, com diversas
atividades organizadas pelo Laboratório. Dentre elas participou, no campus
Maracanã da UERJ, de uma palestra sobre a valorização das disciplinas de Humanas
em contexto de fake news e desvalorização da ciência; e de outra sobre as
contribuições da Sociologia escolar na preparação dos estudantes para o Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM); assistiu a uma oficina sobre os impactos do
modelo extrativista para o meio ambiente e outra sobre a importância da
reciclagem, ambas no CAp-UERJ. Além disso, contribuiu com a organização da 1ª
Semana da Consciência Negra do CAp-UERJ, organizada pelas equipes do
departamento de Ciências Humanas do Instituto.
Como
planejar e como sobreviver ao “choque de realidade”?
A licenciatura
vivenciada pelo autor foi importante para, dentre outras questões, ressaltar a
singularidade do planejamento escolar, elemento que corporifica a ação
pedagógica. O ato de planejar não se restringe à organização de recursos
pedagógicos. Para além da organização, o planejamento suscita uma
racionalização de todos os tipos de recursos que a escola dispõe para
viabilizar o ano letivo (Menegolla; Sant’anna, 2001). Tanto para iniciantes
quanto para docentes já experientes, o planejamento é de suma importância, pois
constitui ato corrente da sua carreira, no que tange à construção de
currículos, períodos e até de aulas.
O planejamento
constitui um método central para a consolidação da ação pedagógica, dado que é
necessário buscar a avaliação periódica das habilidades desenvolvidas. Isto
posto, é possível considerar que o planejamento se apresente como uma “garantia
de aprendizagem”, já que é a partir desse processo de racionalização do docente
que se estabelece conteúdos, recursos, tempo para cada atividade, de modo a
buscar a relação entre “objetivo de aula” e a “avaliação do aprendizado”
(Schewtschik, 2017).
É comum ouvir dos
licenciandos a assertiva de que a regência consiste num dos momentos de maior
percepção da importância de se planejar as ações pedagógicas. É na elaboração
do plano de aula que se dá a compreensão de que cada aula começa bem antes da
sua execução. O planejamento de aula dá aos docentes limites nos quais se pode
delinear o que será proposto como tema de suas aulas e quais caminhos percorrer
para avaliar a aprendizagem. Educar é um ato contínuo que exige do docente a
delimitação de objetivos e metas para a condução de uma rotina escolar.
No entanto, há uma
questão importante que só a ação da regência proporcionará ao estudante de
licenciatura. Diz respeito entre a construção da sua performance, que, conforme
bem observado por Cunha [1997], envolve, além do planejamento, também as
referências daquele sujeito: “Entre elas estão sua história familiar, sua
trajetória escolar e acadêmica, sua convivência com o ambiente de trabalho, sua
inserção cultural no tempo e no espaço. Provocar que ele organize narrativas
destas referências é fazê-lo viver um processo profundamente pedagógico, onde sua
condição existencial é o ponto de partida para a construção de seu desempenho
na vida e na profissão. Através da narrativa ele vai descobrindo os
significados que tem atribuído aos fatos que viveu e, assim, vai reconstruindo
a compreensão que tem de si mesmo (CUNHA, 1997, p. 03).
Planejar é um ato
contínuo do docente, que prevê condições para realizações de atividades
pedagógicas e avaliações concretas do aprendizado. E é importante, para nós
docentes, percebermos os limites do nosso raio de ação, pois a realidade
escolar dispõe de autonomia suficiente para produzir seu próprio tipo de
conhecimento, dado que toda aula pressupõe, não apenas a recepção de conteúdos,
mas também o confronto entre estes mesmos conteúdos técnicos apresentados pelo
docente e aqueles que são trazidos pelos alunos.
Não perceber tal
peculiaridade é crucial para o docente, especialmente aquele em seus anos
iniciais, visto que este docente estará em busca de algum “princípio de
sobrevivência” (Amorim; Monteiro, 2019). O docente recém-formado, quando não
situado acerca de suas capacidades e vocações típicas da sua carreira, tende a
se alicerçar em cima de uma pretensa autoridade, evocada pela sua formação
acadêmica. O “choque de realidade”, apontado como costumeiro entre os professores
em seus anos iniciais, aparentemente, é produzido a partir de problemáticas
como: 1) domínio de conhecimentos específicos; 2) relação de professores e
alunos; 3) relacionamento com a comunidade escolar: pais, pares, direção,
alunos e outros profissionais; 4) organização pedagógica das escolas que
realizam mudanças de série a cada ano com os professores; 5) falta de material;
6) ausência da direção; 7) processo de ensino, especificamente a não
aprendizagem dos alunos, a adequação do trabalho em sala à proposta da escola
(Amorim; Monteiro apud Romanowski; Martins, 2019).
É partindo dessas
limitações que seria interessante pensar em um “devir docente”, ou seja, na
interpretação do exercício docente como um ato contínuo que pressupõe a
superação de identidades prévias do que é ser “professor” e do que é ser aluno
(Amorim; Monteiro, 2019). Pois tais formações identitárias não constituem o
“ser” estabelecido, de modo que, tanto o professor quanto o aluno estão em
permanente construção de suas identidades, portanto, de suas percepções do que
é ser um aprendiz e, simultaneamente, um educador.
O tempo de sala de
aula nos leva a percebê-la como um espaço de disputa, onde as diversas formas
de conhecimento se chocam, produzindo compreensões mais afinadas com o cotidiano.
É revelador perceber que a sala não constitui o espaço do conhecimento
exclusivamente técnico, mas um “espaço vazio”, onde acontecem as disputas e
surgem os antagonismos, de modo a manter o terreno fértil para a permanente
“luta pela significação”. Ou seja, há uma produção que “se dá em torno da
articulação de demandas diferentes que negociam, enfrentam-se, aglutinam-se
buscando encadeamentos possíveis para disputar e hegemonizar alguns sentidos
que se sobreporão a outros” (Dias; Frangella, 2018, p. 9).
É revigorante perceber
como a sala de aula é viva em suas capacidades de suscitar o debate e suas
contradições. Trata-se de uma percepção que move a vida docente, de modo que
cada aula representa uma oportunidade nova de construção do conhecimento. É
preocupante ser professor quando nos é imposto condições meramente burocráticas
de atividade, de modo a ater nossas ações pedagógicas estritamente às metas do
ano letivo. Observamos a riqueza da docência na tensão produzida pelos
antagonismos, pois é através das tensões entre diferentes formas de compreender
a realidade social que podemos “desterritorializar” qualquer tipo de
entendimento cristalizado, isto incluindo as identidades de “aluno” e
“professor” (Silva; Canclini, 2019).
No caso das
disciplinas de Ciências Humanas, os professores de História, Geografia,
Sociologia e Filosofia se aproximam no diálogo interdisciplinar, constituindo o
arcabouço teórico necessário na formação do sujeito enquanto ser social, apto
ao exercício da cidadania e agente participativo no âmbito da tomada de
decisões na sociedade. As Ciências Humanas atuarão de forma mais próxima com a
reforma do Ensino Médio, ainda em fase de implantação, e a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) que seus currículos devem se guiar. Pensando no planejamento
nos quais os professores deverão se basear, bem como nas futuras mudanças na
formação de professores, Alice Ribeiro, do Todos pela Educação, nos diz:
“A Base oferece uma
excelente oportunidade para o ajuste da formação, de maneira que ela contribua
para que os professores aprendam as competências, habilidades e os conteúdos,
bem como as formas de ensiná-los e técnicas de gestão da sala de aula. Evidências
nacionais e internacionais mostram que essas formações serão mais exitosas
quanto mais conseguirem concretizar para os professores o que é esperado que os
alunos aprendam e as diferenças entres as atuais e as novas aprendizagens
previstas. Para isso, é essencial que a formação se valha de materiais de
caráter prático, como exemplos de planos de aula, mapas de aprendizagem, itens
de avaliações e exercícios alinhados aos objetivos de aprendizagem (Ribeiro,
2017, p. 8).
Considerações
finais
A partir das experiências
nos estágios de licenciatura no CAp-UERJ durante o ano de 2019, trazemos para
este artigo a percepção de que formação docente pressupõe um processo de
capacitação técnica para a viabilidade da ação pedagógica. Como profissionais
da educação de todas as disciplinas de Ciências Humanas, precisamos preconizar
os postulados que demarcam nossa função institucional. E o planejamento, neste
sentido, contribui para sintonizar nossa área de conhecimento com a prática
docente, mas associado a formação continuada e a noção de constante necessidade
de aprendizado.
Devemos entender a
complexidade que envolve a relação ensino-aprendizagem, ou seja, a tudo que
compõe o âmbito da produção de conhecimento escolar. Nosso entendimento é que a
sala de aula e a escola, em sua totalidade, são também formadores de opinião e
de saberes, de modo que o professor neste cenário, embora conte com uma posição
estratégica, compõe apenas parte do processo de produção dos saberes.
Referências
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doutor em Sociologia pelo IESP/UERJ e Professor Adjunto de Sociologia da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
E-mail:
walaceuerj@yahoo.com.br.
Anderson Ribeiro da
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Ciências Sociais na UFRRJ.
E-mail:
ander161305@hotmail.com
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DIAS, R. E.,
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Prezados,
ResponderExcluirParabéns pelas reflexões neste texto!
Este texto provocou reflexões sobre minha experiência nos estágios supervisionados da licenciatura em Ciências Sociais, na UERJ. Por exemplo como nesta experiência eu precisei problematizar minhas concepções, sobre as expectativas de como um aluno e um professor devem se comportar em sala de aula diante do erro. Precisei lidar com a condição de graduanda, que está se formando enquanto docente, envolvendo sentimentos de vergonha e medo de errar. Estes são alguns sentimentos gerados que vivenciei, diante dos estudantes do Ensino Básico. Estes, geralmente, podem desconfiar da sua performance em sala de aula devido a ideia sobre a condição do graduando que ainda está em formação e, por isto, pode cometer erros. Nestas situações em que precisei lidar com tais emoções, percebi que minha formação no Ensino Básico me proporcionou aprender um medo e vergonha de errar. Por outro lado, quando iniciei a licenciatura em Ciências Sociais, na UERJ, percebi o quanto esta formação valoriza lidar com o erro de forma a considerá-lo importante para se permitir aprender com os alunos/professores que, por sua vez, percebem este erro como oportunidade para aprimorar a performance em sala de aula.
Gostaria que os autores comentassem se já tiveram a experiência de lidar com estudantes no Ensino Básico que entendem as aulas como algo naturalmente "dado" pelos professores como se fosse consequência de um dom e, por isto, não esperam que os docentes cometam erros. Também, gostaria de saber como se pode apresentar estas aulas de forma que os estudantes as reconheçam como parte de um trabalho que exige tanto o domínio de conhecimentos e práticas previamente organizadas e constantemente atualizadas, como também um trabalho emocional que exige ao docente interpretar as emoções comunicadas pelos alunos para poder modular suas estratégias de ensino.
Muito obrigada pela atenção!
Bruna Navarone Santos
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá, Bruna!
ExcluirComo licenciando, no âmbito dos Estágios em Ciências Sociais do CAp-UERJ, estava em busca de um horizonte de ideias e percepções que lhe indicasse como melhor refletir sobre a posição do docente dentro de uma comunidade escolar. O ponto-chave para a compreensão acerca das experiências que estava recolhendo nas salas de aula foi a ideia de "devir docente", ou seja, de uma formação contínua, onde o personagem do docente fosse "desterritorializado" do entendimento que se faz costumeiramente do professor como detentor do conhecimento ou como o avaliador tenaz. O "devir docente" nos conduz a uma compreensão da nossa formação que fomenta uma permanente busca pela formatação da identidade. Ser "professor" é também ser "aluno", isto é, é reconhecer que a sala de aula é arena genuína para o contraditório e para o exercício da cidadania. De modo que o professor, sendo aquele personagem que assume as atribuições típicas de um docente (diário de classe, plano de aula e outros instrumentos de planejamento, o que o coloca em uma posição inevitavelmente "autoritária"), ele também é aquele que vivencia a experiência da sala de aula como um ambiente de troca e de construção coletiva de identidades, onde ele é apenas um contribuinte.
Em suma, acredito que o medo tem fundação no próprio ideário cultivado nos sensos comuns de que o professor é um guerreiro, um obstinado a lhe dar com os selvagens, como costuma-se interpretar o alunato. Acredito que a profissionalização do docente requer compreender seu papel nas linhas tênues do projeto democrático.
Muito agradecido por sua contribuição ao nosso texto!
Anderson Ribeiro da Silva e Walace Ferreira
Prezada Bruna,
ExcluirReafirmo as palavras do Anderson. É importante entendermos todos e todas que o trabalho docente é reflexo de esforço, trabalho, planejamento, disciplina e uma constante readequação às novas demandas que vão aparecendo, seja no que se refere às dinâmicas sociais em constante transformação, seja no que tange às intempéries surgidas durante uma aula. A prática docente envolve uma atualização constante. Com isso, as incertezas emocionais estarão sempre presentes e fazem parte do nosso trabalho.
Um abraço,
Walace Ferreira e Anderson Ribeiro da Silva.
Boa noite, Anderson e Walace ! Eu atualmente curso o 3° ano do Ensino Médio no CAp UERJ, sendo assim, ao longo dos meus anos no colégio, tive contato com os licenciandos de Ciências Sociais da UERJ, entre outros em licenciaturas de demais disciplinas. Gostaria de saber qual a maior dificuldade docente no âmbito da educação de sociologia no Ensino Médio, e se vocês consideram que a inserção da matéria no currículo da educação básica como um todo, para que os alunos pudessem ter contato com a disciplina no ensino fundamental II, como em algumas escolas ocorre, isso teria algum impacto pedagógico positivo ?
ResponderExcluirObrigada pela atenção.
Gláucia Soares Nogueira
Prezada Gláucia, agradecemos sua questão!
ExcluirEntendemos que a inserção da Sociologia no ensino fundamental auxiliaria os estudantes a terem, por mais anos, contato com ferramentais importantes de desnaturalização e estranhamento das relações sociais, além de um conhecimento mais abrangente sobre direitos de toda natureza. No Colégio Pedro II, por exemplo, a disciplina, além do ensino médio, também está no sétimo, oitavo e nono ano do ensino fundamental. Os alunos chegam ao ensino médio dominando conteúdos importantes das ciências sociais, com ampla capacidade de argumentação e estruturação textual. Sobre as dificuldades enfrentadas, elas se encontram em fatores externos, como a falta de valorização da disciplina e ataques de movimentos conservadores e, inclusive, de autoridades políticas e educacionais.
Cordialmente,
Walace Ferreira e Anderson Ribeiro da Silva.
Este comentário foi removido pelo autor.
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