Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada


CONTEXTOS HISTÓRICOS E SOCIOPOLÍTICOS DOS MANGÁS E ANIMÊS E SUA POTENCIALIDADE NO ENSINO




Este estudo pretende discutir contextos históricos e sociopolíticos da construção e divulgação dos Mangás e Animês japoneses, com base na seguinte questão norteadora: como a linguagem das emoções utilizadas pelos Mangás e Animês podem comunicar e sensibilizar o leitor sobre os impactos do desenvolvimento científico e tecnológico, no ambiente, no período pós-Segunda Guerra Mundial? Para ilustrar como esta discussão pode ser representada por algumas animações japonesas, analisamos o filme “Nausicaä do Vale do Vento“ [風の谷のナウシカ, ''Kaze no Tani no Naushika''] produzido por Hayao Miyazaki em 1984. Procuramos neste texto nos adequar as novas denominações usadas por pesquisadores no que tange a ambiente e meio ambiente. Pelas determinações vigentes devemos utilizar o termo “ambiente” que compreende: “[...] olhar integral sobre o ambiente em suas dimensões físicas, socioculturais e biopsicossociais [...].” [Layrargues e Puggian, 2018, p.135]

Sustenta-se a relevância desta discussão em sala de aula para os estudantes no Ensino Médio, tendo como referências algumas orientações da Base Nacional Comum Curricular [BNCC, 2018]. Estas orientações sugerem que a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, incluindo as teorias, conceitos e metodologias das áreas de Sociologia, Filosofia, Geografia e História, devem propiciar a estes estudantes a desnaturalização e problematização das condições de vida em sociedade. Da mesma forma propõe abordar estas condições enquanto construídas a partir das relações e interações sociais com outros indivíduos. Assim se pode mobilizar os estudantes a compreenderem suas percepções de mundo em relação a outras, reconhecendo que as percepções atribuem diferentes significados às práticas que interferem na natureza e a transforma [BNCC, 2018].

A Base Nacional Comum Curricular [BNCC, 2018] pretende que a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas deva possibilitar aos estudantes de Ensino Médio reconhecerem suas responsabilidades coletivas na relação e cuidado do ambiente. Para tal, é sugerido que as teorias, conceitos e metodologias desta área possam corroborar para desenvolver capacidades necessárias para questionarem e não tornarem natural os modos já convencionados de intervir na natureza. Estes modos, geralmente, objetificam o ambiente apenas enquanto recurso individualizado para subsistência humana [BNCC, 2018].

Desta forma, a BNCC [2018] sugere não só o desenvolvimento das capacidades para aprender, buscar, formular e intervir, como também para pesquisar e selecionar informações, organizar, comparar e analisar com base em procedimentos analíticos e interpretativos, destas áreas, pelo domínio de conceitos, argumentação e sistematização das maneiras de apreender estes conhecimentos.

Esta BNCC [2018] também recomenda que a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas introduza os estudantes a mobilizarem diferentes linguagens, textuais, imagéticas e artísticas, de modo a tematizar e problematizar os fenômenos sociais a serem estudados. Por exemplo, quando abordarem os fenômenos da relação entre indivíduo, natureza e sociedade. No que diz respeito a estes fenômenos se considera a influência de aspectos históricos, culturais e sociais sobre os diversos modos em que os grupos sociais realizam suas interações com a natureza, incluindo os problemas ambientais resultantes destas interferências [BNCC, 2018].

Neste contexto se compreende a natureza enquanto ambiente em suas dimensões relacionadas ao senso de pertencimento, bem-estar social, reprodução social, econômica e cultural de seus grupos, também enquanto fonte de recursos para reprodução material da biodiversidade [Layrargues e Puggian, 2018]. Argumenta-se que as relações as quais as sociedades podem ter com o ambiente são influenciadas pela importância atribuída a este, pelos valores e crenças socioculturais que fundamentam estas relações [BNCC, 2018].

Ainda, nesta etapa do Ensino Médio, os conhecimentos sociológicos também são imprescindíveis para propiciar uma visão crítica e contextualizada das realidades que os jovens estão lidando. Este cenário possibilita construírem e desconstruírem estas interpretações dos fenômenos quando inseridos em determinado contexto histórico, social e cultural. Assim se pode compreender a sociedade a partir de diferentes formas de organização de tradições, práticas, hábitos, costumes e valores. Portanto, analisar, comparar e compreender diferentes sociedades, suas culturas e instituições, enquanto formações desenvolvidas em determinado tempo e espaço mediante relações de poder, são algumas das aprendizagens propostas pela área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para o Ensino Médio [BNCC, 2018].

Para entender o cenário em que os Mangás e Animês ganham popularidade no pós-Segunda Guerra Mundial buscaremos apresentar alguns aspectos do contexto histórico e sociopolítico daquele momento, com foco nas relações entre os governos dos Estados Unidos e Japão e suas cooperações em políticas desenvolvimentistas que influenciaram o cotidiano dos japoneses.

Mangás e Animês no período pós-Segunda Guerra Mundial
No período pós-Segunda Guerra Mundial, o governo japonês vigente representado pelo Primeiro-Ministro Yoshida Shigeru [1946 – 1954] estava engajado em reconstruir a infraestrutura e economia do país que fora exaurida durante enfrentamentos e bombardeios, inclusive atômicos, no período da Guerra [Watanabe, 2011].

Neste contexto pós-Segunda Guerra Mundial havia a intenção de cooperação entre o governo japonês e dos Estados Unidos em busca do desenvolvimento do país. Esta cooperação foi oficializada no momento da assinatura do Tratado de Segurança Mútua entre o governo estadunidense e o japonês em 1951. O acordo determinou como as forças militares dos Estados Unidos deveriam atuar em solo japonês. Os principais objetivos desta ocupação foram desmilitarizar e democratizar o Japão, para que este não voltasse a ser uma ameaça política e econômica aos Estados Unidos [Watanabe, 2011; Lemos, 2012].

A partir do Tratado de Segurança Mútua, o Primeiro-Ministro japonês constituiu uma política desenvolvimentista chamada Doutrina Yoshida. A doutrina buscava investir na parceria militar-industrial com o governo estadunidense e focava na reestruturação econômica. Este governo começou a investir na indústria japonesa, empregando japoneses para produzirem e fornecerem armas e demais equipamentos tecnológicos para os enfrentamentos durante a Guerra na Coreia [1950 – 1953]. Também promoveu a substituição do carvão, produzido nacionalmente no Japão, pelo petróleo [Lemos, 2012].

É importante ressaltar que esta ideia de desenvolvimento tem como marco o discurso do presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, em 1949. Truman alegava que era preciso intervir nas nações consideradas economicamente atrasadas e rurais, incluindo o Japão. Agências internacionais foram convocadas para investirem em estudos e projetos de intervenção para proporem soluções [Castro, 2002].

Como fundamento destes projetos e práticas de intervenção no Japão, a Teoria Malthusiana também corroborava o investimento neste desenvolvimento científico e tecnológico no cotidiano dos japoneses. Esta teoria, muito popular na comunidade científica estadunidense, popularizou-se no Japão. Acreditava-se que a população tendia a crescer em ritmo acelerado, de forma a superar a oferta de alimentos, resultando em fome e miséria. Desta forma, os governos do Japão e dos Estados Unidos consideravam o crescimento populacional no Japão como um problema que poderia causar escassez dos recursos naturais, alimentos e território. Acreditavam também que favoreceria a fome, pobreza e doenças em lugares muito povoados no Japão [Homei, 2016].

Diante desta problemática, nos anos 50, convocaram a cooperação dos especialistas estadunidenses Edward A. Ackerman, geógrafo, e Warren S. Thompson, sociólogo, com o governo japonês. Esta cooperação corroborou com políticas públicas que propagavam o controle da natalidade, principalmente com foco em famílias japonesas moradoras em áreas rurais e socioeconomicamente mais vulneráveis. A política de controle de natalidade, divulgada pela mídia japonesa da época, também foi introduzida em hospitais e postos de saúde como parte da formação de profissionais responsáveis por orientar e fornecer os métodos contraceptivos à população [Homei, 2016].

Diante deste cenário, analisaremos brevemente como os Mangás e Animês podem representar problematizações sobre os impactos destas políticas no ambiente. Por exemplo, quando utilizam linguagens que consideram signos típicos da cultura japonesa e da cultura ocidental, tendo em vista realizar uma identificação com o leitor tanto por discursos do cotidiano, representando experiências parecidas com as que o leitor vivenciou, ou que deseja vivenciar, quanto pela humanização dos personagens de modo que haja uma maior interatividade entre o enredo e o leitor [Coêlho e Nascimento, 2010].

Linguagem das emoções nos Mangás e Animês
No contexto pós-Segunda Guerra Mundial, o Mangá se adequou a abertura cultural, política e econômica entre os governos do Japão e dos Estados Unidos. A palavra Mangá significa desenho “sem importância” e foi usado pela primeira vez em 1814 por Katsushika Hokusai, pintor japonês que costumava retratar figuras de seu cotidiano e caricaturava pessoas a sua volta [Sawada et al, 2009 ].

O Mangá, como se reconhece atualmente, foi constituído por uma indústria de entretenimento que até hoje se apropria de algumas características de histórias em quadrinhos americanas [Luytem, 2001, apud Coêlho e Nascimento, 2010]. Como exemplo: linearidade em suas histórias e personagens fixos, situada a partir do nascimento dos personagens, sua adolescência, maturidade e envelhecimento; integração entre a linguagem verbal e não-verbal mediante utilização de quadros e balões para comunicar as histórias com enfoque nos desenhos [Moliné, 2004, apud Coêlho e Nascimento].

Na década de 20, com o advento do cinema, os japoneses puderam utilizá-lo para construir animações [animation – animê] baseadas nestas histórias e linguagens do Mangá [Sato, 2005, apud Coêlho e Nascimento, 2010]. Contudo, somente na década de 50 o termo Animê é convencionado como referência aos desenhos animados japoneses [Luytem, 2001, apud Coêlho e Nascimento, 2010].

O Animê começa a utilizar técnicas de enquadramento cinematográfico que induzem movimento e passagem de tempo nestas histórias. Assim como o Mangá, adota outras características diferenciadas das histórias em quadrinhos americanas: o desenho acentuado dos olhos que buscam representar as emoções e sensibilizar o leitor [Moliné, 2004, apud Coêlho e Nascimento, 2010]. Desta forma se utiliza uma linguagem de emoções que compreende técnicas corporais, expressões faciais, posturas e gestos [Abu-Lughod e Lutz, 1990, apud Zembylas, 2003] que além da sensibilização, comunicam ao mesmo tempo a história.

Esta história, geralmente, informa conhecimentos, valores e costumes da cultura japonesa, aproximando o enredo à vida cotidiana quando apresenta o viver dos personagens como verossímil, ou seja, reconhecido como realidade possível. Nesta representação os personagens também comunicam ambiguidade de valores como uma questão social e cotidiana [Coêlho e Nascimento, 2010]. Como exemplo, na imagem a seguir se pode interpretar estas características numa representação do encontro entre a princesa Nausicaä e seu professor Yupa. Adiante nos dedicaremos a uma análise deste Mangá e Animê, dentro do contexto proposto:

Figura 1 Encontro da princesa Nausicaä com seu professor Yupa, após ajudá-lo a fugir de um dos insetos da floresta tóxica. Página 23, volume 1, capítulo 1, Mangá “Nausicaä do Vale do Vento“ [風の谷のナウシカ, ''Kaze no Tani no Naushika''] Fonte:  http://www.mangapanda.com/nausicaa-of-the-valley-of-the-wind/1/23

Nesta reprodução do Mangá se percebe que o emprego de signos não verbais, como a troca de olhares, abraços e outros gestos corporais, também são importantes para determinar o sentido do significado que se quer expressar sobre o encontro entre a princesa Nausicaä com seu professor. Portanto, o contexto não verbal enquanto um elemento ideológico constitui a forma e conteúdo do enunciado, considerando este contexto enquanto fator social que determina os conhecimentos e intenções dos interlocutores, o tema e avaliação do que está sendo comunicado [Silvestri, Bakhtin e Blanck, 1993].

A partir desta contextualização da produção e divulgação do Animê e Mangá se torna possível compreendê-los como enunciados que fazem parte de um contexto histórico e ideológico, enquanto um sistema de ideias socialmente determinado com juízos de valor e visões de mundo de uma dada sociedade [Silvestri, Bakhtin e Blanck, 1993]. Para ensejar esta análise, veremos em seguida o enredo do filme “Nausicaä do Vale do Vento“ e seus possíveis enunciados críticos sobre os impactos deste desenvolvimento científico e tecnológico na sociedade japonesa.


Figura 2 Capa do volume 1, Mangá “Nausicaä do Vale do Vento“ [風の谷のナウシカ, ''Kaze no Tani no Naushika''] Fonte:
http://www.mangapanda.com/nausicaa-of-the-valley-of-the-wind/1

Nausicaä do Vale do Vento
A partir da análise de alguns enunciados presentes no “Nausicaä do Vale do Vento“ se pretende que os estudantes os compreendam em relação as representações imagéticas, enquanto expressões de visões de mundo. A partir da concepção das relações sociais, contexto histórico, cultural, onde as representações estão inseridas e, por outro lado, que influencia tanto as representações dos fenômenos como também as interpretações de quem os observa [Silva, 2017].

Neste exercício se busca incentivar os estudantes a perceberem as linguagens verbais e não-verbais presentes no Animê como uma construção. E, desta forma, possibilitar que compreendam esta animação como expressão de determinados enunciados e ideologias sobre determinado fenômeno da sociedade [de Lima Moura, 2011]. Este pressuposto encontra respaldo nas determinações sugeridas pela BNCC [2018] como já citado no início deste estudo: mobilização de diferentes linguagens textuais, imagéticas e artísticas, com o intuito de abordar os fenômenos da relação indivíduo-natureza-sociedade.

O filme “Nausicaä do Vale do Vento“ criado por Hayao Miyazaki em 1984, baseado em seu Mangá homônimo e publicado em 1982, pressupõe que a humanidade provocou a destruição do ambiente onde habitam. O filme é situado num contexto, datado em mil anos, após uma guerra que exterminou a maior parte da civilização humana. Posteriormente a esta guerra, um tipo de floresta tóxica à vida humana começa a se alastrar na superfície terrestre [Coelho e Meira, 2017].

Os sobreviventes são representados como divididos em três grupos sociais.  Dentre estes, Pejite e Torumekia tratam e representam esta floresta tóxica como um inimigo a ser eliminado. Embora tenham em comum a atitude de combater os insetos que moram na floresta tóxica, as duas nações vivem em guerra. Já o grupo Vale do Vento representa esta floresta com respeito e temor, mas não busca sua destruição. Este grupo até utiliza e enxerga os recursos desta floresta como renováveis e importantes para fabricar seus armamentos. Este grupo também tem como referência as atitudes da princesa Nausicaä que defende a possibilidade de convivência entre os humanos e a floresta tóxica [Coelho e Meira, 2017].

Durante o enredo desta animação se revela o interesse desta princesa em compreender o processo que está causando a existência da toxicidade da floresta. Este interesse é representado quando a Nausicaä está em seu laboratório secreto, cultivando as plantas derivadas da floresta tóxica, e o seu professor a descobre. Ela admite que criou estas plantas com a água e a terra fornecidas no subterrâneo e, desta forma, apresenta como hipótese o fato de a poluição tóxica está na própria superfície da terra destruída pelos humanos. Também sustenta que a floresta tóxica tem um papel importante no que diz respeito as árvores que absorvem as toxinas na superfície e os insetos que atuam como protetores desta floresta [Coelho e Meira, 2017].

O contraponto das atitudes desta princesa Nausicaä é uma outra liderança chamada Kushana, pertencente ao grupo Torumekia. Ela representa a floresta e seus insetos como inimigos, quando revela que perdeu uma das mãos num combate com um inseto, buscando convencer os membros do Vale do Vento a se unirem para dizimar a floresta e seus insetos integrantes. Nesta cena se percebe a ambiguidade dos valores e condutas que são típicas dos Mangás e Animês: Kushana e os outros indivíduos que representam e tratam a floresta como inimigo não são definidos como maus, mas apenas como pessoas que temem e não buscam a compreensão sobre as condições de vida dos seres com quem também convivem [Coelho e Meira, 2017].

Neste enredo se percebe a crítica ao modo de produção fundamentado no tipo de desenvolvimento científico, tecnológico, importado dos Estados Unidos e que exerceu controle sobre o cotidiano dos japoneses neste período pós-Segunda Guerra. Um modo de intervenção e de produção que preza pelo consumo dos recursos no ambiente, sem reflexão sobre os possíveis impactos para o seu bem-estar e de sua biodiversidade.

É preciso ressaltar que nesta tentativa de compreensão do Animê, enquanto um potencial veículo de difusão de informação em ciência, não há intenção de buscar correspondência entre os fatos e as representações imagéticas, mas expressar possíveis ideias, concepções de mundo, da sociedade japonesa diante deste processo desenvolvimentista. E, desta maneira, possibilitar um modo de conhecer estas ideais e concepções na forma como sociedades as produzem visualmente [de Lima Moura, 2011].

Considerações finais
A partir desta contextualização histórica e sociopolítica dos possíveis enunciados dos Mangás e Animês se compreende a importância de desnaturalizar e problematizar a ideia das suas imagens e enunciados, quando são tratadas como ingênuas e somente para entretenimento.

É interessante notar que Nausicaä tem uma forte representação na figura feminina e na contextualização de seu empenho na pesquisa científica ao tentar defender a floresta e seus habitantes dos humanos que a destruíram. Ao lado disso, a face da proteção ecológica que encontramos na protagonista nesta ação, vem ao encontro do preconizado pela Base Nacional Comum Curricular [BNCC, 2018] como citado no início deste estudo, ao objetivar a responsabilidade coletiva em relação aos cuidados do ambiente.

Sustenta-se que as representações imagéticas no Mangá e Animê fazem parte de contextos históricos e ideológicos.  Para entendê-las é preciso considerar estas representações como objeto de conhecimento que pode evidenciar as relações políticas, históricas, e sociais, de uma dada realidade onde estão inseridas [de Lima Moura, 2011].

Referências
Bruna Navarone Santos é Bacharel e Licencianda em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro [UERJ]. Mestranda em Ensino em Biociências e Saúde pelo Instituto Oswaldo Cruz/ Fundação Oswaldo Cruz [PGEBS/IOC/Fiocruz]. E-mail: bnavarone@gmail.com.
Anunciata Sawada é Licenciada em Educação Artística e Bacharel em Museologia pela UNIRIO, Especialista em Ciência das Artes pela Universidade Municipal de Artes de Kyoto, Japão, Mestre e Doutoranda em Ensino em Biociências e Saúde pelo Instituto Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz [PGEBS/IOC/Fiocruz]. Atualmente é Tecnologista Sênior em Saúde Pública no Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos [LITEB/IOC/Fiocruz] e Docente da Pós-Graduação Lato Sensu Ciência, Arte e Cultura na Saúde [IOC/Fiocruz]. E-mail : sawada@ioc.fiocruz.br.

A presente pesquisa tem sido construída em colaboração com os membros do grupo de pesquisa Animê, Mangá e SciFi no Ensino de Ciências no Instituto Oswaldo Cruz/ Fundação Oswaldo Cruz, sob coordenação da pesquisadora Anunciata Sawada.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. Brasília: Governo Federal, 2018. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=85121-bncc-ensino-medio&category_slug=abril-2018-pdf&Itemid=30192 . Acesso em: 10 jan. 2020.
COÊLHO, C. T.; NASCIMENTO, E. L. Mangá: uma ferramenta didática para multiletramentos. In: Seminário de Pesquisa em Ciências Humanas, 8., 2010, Londrina, PR. Anais XVIII Seminário de Pesquisa em Ciências Humanas. Londrina: UEL, 2010. p.389-408.
COELHO, C. J. H.; MEIRA, R. A. Educação Ambiental Crítica e a filmografia de Hayao Miyazaki como recurso pedagógico de sensibilização à atitudes sustentáveis. In: ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA - DF, 26., Brasília, DF. Anais do XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF. Brasília: CICB, 2017, p.61-80.
CASTRO, J. P. M. Desenvolvimento e tecnologia de controle populacional. Gestar e Gerir: estudos para uma antropologia da administração pública no Brasil, p. 229-258, 2002.
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33 comentários:

  1. Sobre a representatividade feminina nos filmes do diretor Hayao Miyazaki, acho interessante que a protagonista seja uma garota interessada em preservar o meio ambiente e que também é envolvida em pesquisas científicas. Haveria alguma mudança no enredo se ela tivesse algum interesse amoroso? Isso mudaria algo na história?
    Assinado Mariana Bahia Barboza Sousa

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    1. Prezada Mariana,

      Muito obrigada pela pergunta!

      Essa é uma pergunta complicada pois o enredo é obra do autor, do roteirista, e fazer uma previsão de como se daria o desfecho da personagem caso houvesse um envolvimento amoroso é prever no vazio como se a obra fosse de nossa autoria. Tentando acompanhar o perfil que a personagem tem durante a história, podemos supor que, mesmo havendo algum envolvimento deste gênero, ela não se desviaria do seu propósito original. A figura feminina na obra de Miyazaki se mostra sempre muito forte e determinada. Basta voltar os olhos para personagens como a Princesa Mononoke e mesmo Kiki. Ambas são fortes, em diferentes momentos e mundos, mas firmes em seus propósitos apesar de um envolvimento emocional.

      Realmente, no senso comum, existe a ideia sobre as mulheres na área científica terem sua carreira profissional/acadêmica afetada negativamente por relacionamentos amorosos. Diferente da representação dos profissionais e cientistas homens que, quando têm um relacionamento amoroso, são caracterizados como aqueles que optam por se dedicar mais ao trabalho do que a relação amorosa. Como se o relacionamento amoroso exigisse mais dedicação por parte da mulher, por ser socialmente convencionado que o papel da mulher é cuidar da relação com o outro enquanto o papel do homem é ser o provedor da casa.

      Esta ideia do senso comum também supõe que os homens são as pessoas mais adequadas para exercerem práticas científicas, por estas práticas exigirem impessoalidade e objetividade característica do gênero masculino. Enquanto as emoções que caracterizam o gênero feminino têm sido retratadas de modo negativo na atuação em áreas científicas.

      Neste filme e também no 1º volume do mangá, a princesa Nausicaä supera estes estereótipos de gênero, pois ela mostra como é capaz de lidar com as incertezas e consequências de frequentar a floresta tóxica. Este é um lugar onde a princesa investiga e utiliza os recursos desta floresta para produzir os armamentos utilizados na Aldeia.

      Por fim, a princesa Nausicaä também revela que suas emoções de preocupação em promover o bem-estar das pessoas da Aldeia, quando relata querer curar as pessoas que já adoeceram por causa da floresta tóxica, também a motiva para investigar as causas desta toxicidade. Por exemplo, quando a própria princesa constrói um laboratório onde ela replantou plantas e fungos, observando como o meio influencia nesta toxicidade.

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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  3. A história se passa num cenário pós apocalíptico, e a Terra está está destruída e cheia de toxicidade. Isso de certa forma, nos faz pensar no nosso momento atual, que estamos vivendo por causa da pandemia. Países mais desenvolvidos e avançados em termos de ciência, já estão numa situação melhor do que a do Brasil e muitos já estão inclusive saindo da quarentena. Se nosso país investisse mais em ciência, estaríamos numa situação melhor agora?
    Assinado Mariana Bahia Barboza Sousa

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    1. Prezada Mariana,

      Muito obrigada pela pergunta!

      Sem dúvida !!! Já não se medem e comparam os países somente por suas condições econômicas, mas também por suas ciências e tecnologias. Tania Araujo-Jorge, ex-diretora e pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz cita em um artigo sobre Ciência e Arte que “na Universidade Harvard, Jeffrey Sachs conclui que "ciência e tecnologia são hoje mais excludentes que o capital", e "o mundo de hoje é dividido não pela ideologia, mas pela tecnologia", destacando que ciência e tecnologia definem hoje o futuro de um povo, sua capacidade de inovar e de adaptar as tecnologias desenvolvidas em outros lugares.” (http://www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=123&sid=32)
      O filme Nausicaä também permite pensar sobre como os conhecimentos e práticas científicas podem produzir tecnologias que têm impactos no ambiente e, além disso, podem ser desenvolvidas e utilizadas de acordo com os interesses construídos socialmente. Por exemplo, Nausicaä é uma personagem que lidera a Aldeia do Vento e que busca compreender o fenômeno da floresta tóxica a partir da investigação científica, sobre o que pode estar causando esta toxicidade, tendo como interesse utilizar recursos desta floresta para melhorar a qualidade de vida das pessoas da Aldeia e dos demais seres vivos daquela floresta. Enquanto a liderança Kushana do grupo Torumekia busca construir uma tecnologia que possa extinguir a floresta tóxica e submeter outras regiões ao comando do grupo, não apresentando interesse em investigar e conhecer científicamente as causas da toxicidade da floresta e os possíveis impactos desta tecnologia no ambiente.

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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  4. Cara Bruna Navarone, é um grande prazer reencontrá-la e ler outra publicação sua e da coordenadora do grupo de pesquisa, Anunciata Sawada. No decorrer da leitura, me ocorreram algumas questões concernentes à discussão feita e outras que poderíamos considerar paralelas.
    Como percebe-se pela filmografia (e biografia) de ambos, o fenômeno da guerra é um marco individual em Miyazaki e Takahata, visto a questão estar presente na maioria de seus trabalhos. Ou seja, são fragmentos do passado estancados nas águas do tempo. E embora sempre tratada com a devida seriedade, o espaço para o entretenimento do público e demonstração da banalidade do belicismo com toques de humor (algo evidente em “Pom Poko. A Grande Batalha dos Guaxinins” e carente em “Tumulo dos Vagalumes”) nem sempre é marginalizado. Ainda assim, ao menos Takahata permitia-se ao fluir do vento na condução dos fatos passíveis de mera previsão. Dissera ele que sua primeira animação dentro do Studio Ghibli não é um manifesto antibélico, por ser incapaz de impedir a ocorrência de outras guerras. O que não é sinônimo de ausência de preocupação.
    E com relação as suas consequências em âmbito ambiental, não há longa distância. Mas, além de 風の谷のナウシカ ser um veículo de crítica à política desenvolvimentista empreendida no Japão do Pós-Guerra, ela igualmente pode servir de aparato reflexivo aos processos de desertificação em inúmeras regiões do globo. Tirante isso, alguma outra possibilidade interpretativa pode ser apontada, em se tratando do Japão? Nos anos em que o anime foi feito, o país passava por alguma polêmica ambiental?
    Paralelamente à linha principal de abordagem feita, não se pode ignorar o caráter alegórico das animações de Miyazaki, nem as fortes referências à mitologia nipônica e de outros povos. Studio Ghibli: Reino de Sonhos e de Loucura; sonhos e fantasias com os pés no chão, possibilitando um esvaziar da monotonia cotidiana (não ao anti-cinema), sem deixar de incitar o desenvolvimento humanístico e o senso crítico; loucura marginal a escapar do centro, rumo à consolidação do sucesso e lançamento de uma âncora de salvação, em termos financeiros. É do inconsciente fábrica (não ao contra-consciente) que emerge uma protagonista estereotipada no arquétipo de messias, que o bem e o mal se relativizam nas ações dos personagens, que flores de hálito renovador e estimulantes crescem vigorosas no charco fértil. Então, nesta múltipla e criativa criação de conceitos, eu gostaria de saber se, aos vossos olhos, os personagens deuses-soldados dizem respeito a algum elemento da escatologia ou cosmogonia do xintoísmo.

    João Antonio Machado.

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    5. Prezado João Antonio Machado,

      Muito obrigada pela dedicação a essas reflexões e perguntas!

      No que diz respeito a alguma polêmica ambiental nesta época do lançamento do filme e mangá Nausicaä, não conseguimos encontrar alguma fonte. Você saberia onde podemos encontrar? O mangá de Nausicaa é de 1982 e neste ano não temos nenhum registro, pelo menos no mundo ocidental, de algum impacto marcante no meio ambiente.

      Todavia, em 1984 quando o animê foi lançado no Japão, tivemos um terrível vazamento químico em Bhopal na Índia que liberou isocianato de metila e causou a morte de mais de 4000 pessoas. Que coincidência triste, não é ?

      Ao lado disso, notamos que todo o panteão religioso oriental povoa fortemente o imaginário de artistas em categorias diversas de produção, pela sua riqueza e profundidade filosófica. Repare que as obras que vão desde Hokusai, dos artistas do Ukiyo-e, até Kurosawa ( chegando até os que vieram depois dele) são repletas de referencias a este conjunto soberbo de histórias e narrativas. Você citou Pom Poko : reveja e perceba o desfile de criaturas mágicas que os guaxinins criam para assustar os humanos.

      Acreditamos que ambas as produções culturais representam as consequências deste modelo desenvolvimentista, não só investido por recursos americanos no território japonês, mas também apoiado pelo governo japonês diante dos protestos de muitos sobreviventes do ataque das bombas atômicas. Estes protestos considerados um movimento antinuclear também perduraram no período considerado Milagre Econômico japonês, momento em que este modelo desenvolvimentista é valorizado como responsável pelo desenvolvimento industrial e econômico do Japão. Quando a energia atômica também está sendo defendida pelo governo japonês como parte deste desenvolvimento, enquanto fonte de energia elétrica.

      Desta forma, tanto o animê e mangá Nausicaä podem estar problematizando não só os impactos deste modelo desenvolvimentista, como também as consequências deste desenvolvimento relacionado ao uso da energia atômica na sociedade japonesa, atuantes tanto no ataque estadunidense pelas bombas atômicas, como também na produção de energia nuclear sustentada pelo governo japonês como fonte de energia elétrica necessária para a modernização do Japão. Podemos supor que no filme e no mangá, a arma utilizada pelo grupo Torumekia para destruir a floresta tóxica e submeter os outros grupos a sua liderança, faz referência ao potencial do uso da energia atômica para subjugar territórios no intuito de impor a estes um modelo desenvolvimentista que preza apenas pela utilização dos recursos naturais sem considerar os impactos ambientais.

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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    6. Prezado João Antonio Machado,

      A questão sobre se os personagens deuses-soldados dizem respeito a algum elemento da escatologia ou cosmogonia do xintoísmo, acreditamos que estes personagens fazem referência ao uso de uma tecnologia científica. Por exemplo, no filme, apresentam os deuses-soldados como uma arma construída pelo próprio ser humano para dominar territórios e utilizar seus recursos naturais.

      Caso tenha alguma referência sobre a cosmogonia do xintoísmo, gostaríamos muito que compartilhasse conosco!

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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    7. Prezado João Antonio Machado,

      Segue as referência onde você pode também acessar esta discussão do sobre o movimento anti-nuclear desde os anos 50, o desenvolvimento científico e tecnológico no Japão, e o período do Milagre Econômico no Japão:

      ALDRICH, D. Antinuclear movement in Japan. The Wiley-Blackwell Encyclopedia of Social and Political Movement, 2013, p.1-6.
      LEMOS, J. V. B. Milagres Econômicos: uma comparação entre Brasil e China. Rio de Janeiro, 2012. Monografia – Departamento de Economia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
      SASAKI, C. Introdução à teoria da ciência. São Paulo, EdUSP, 2010.

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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    8. Caras Navarone e Sawada, agradeço imensamente pelas delongadas e meticulosas respostas.
      No tocante a desastres ambientais da época, não me recordo de quaisquer uns. Do mesmo modo desconhecia sobre o vazamento em Bhopal. Todavia, outras ocorrências infelizes me vieram a mente, conforme a leitura de suas respostas. Por um lado, durante esse período de desenvolvimentismo no Japão, houve o Desastre de Minamata e, ainda em fins da década de 1950, casos de vítimas pelo uso de Talidomida já vinham sendo registrados. Certamente que as vítimas de Talidomida dizem respeito à área da Saúde. Mas até que ponto não pode ser estabelecida uma textura entre História da Saúde e História Ambiental? Outro caso relevante (este muito grave – ao menos assim se quer por sua repercussão. E as ocorrências gravadas em palimpsestos?) fora o Desastre de Chernobil, que aconteceu dois anos após o lançamento do anime de Miyazaki. Obviamente que, como evento “a posteriori”, não poderia entrar no rol direto de hipóteses criticadas em “Nausicaä do Vale do Vento”. Ademais, o incidente nuclear de Chelyabinsk, em 1957, também na URSS, quem sabe. E a citação destes dois últimos se deve a uma abordagem mais universal da parte de Miyazaki. O cenário não é um Japão pós-apocalítico, mas sim de um planeta todo. Segundo algumas interpretações, esta poderia ser uma referência às mitologias de Dilúvio. Inclusive, trata-se de um olhar válido, visto Miyazaki não se circunscrever apenas aos mitos japoneses. A personagem Nausicaä é um bom exemplo. Ela encarna o arquétipo de Salvador, com sua morte no fim do anime.
      A título de curiosidade, décadas mais tarde, a região de Chelyabinsk serviu de cenário para as filmagens de “Stalker” (1976), dirigido por Andrei Tarkovsky. Se comparado a Miyazaki, faz-se presente um abismo. Porém, é um trabalho relevante a se conhecer. Quanto a Talidomida, existem pesquisas feitas no Japão sobre o assunto. Há um site que reúne um bando de dados das pesquisas acerca do assunto realizadas ao redor do mundo: http://www.thalidomideglobalproject.com/. Por fim, para encerrar esta questão, uma referência bastante plausível para Miyazaki pode ter sido os trabalhos de Osamu Tezuka. Em “O Grande Livro dos Mangás”, de Alfons Moliné, são citados alguns de seus títulos. Vale a pena dar uma conferida.
      Sobre as correlações com as bombas atômicas e a energia nuclear, bem como a sutil associação dos torumekianos com a política norte-americana, parabéns pela abordagem! Acerca das consequências dos ataques nucleares, não se pode deixar passar “Chuva Negra”, de Masuji Ibuse, publicado na década de 1960. Cinco anos depois de “Nausicaä do Vale do Vento”, Shohei Imamura traz o tema à baila, com a adaptação homônima do romance para o cinema. O próprio Kurosawa, citado em vossas respostas, resvala pelo assunto (e por questões ambientais) em ”Sonhos” (1990).
      A respeito das referências sobre xintoísmo, conheço apenas “As Melhores Histórias da Mitologia Japonesa”, de Carmen Seganfredo. Tirante este, há um livro teórico de prestígio que pode ser muito útil: “Tempo e Espaço na Cultura Japonesa”, de Shuichi Kato.
      Muito obrigado pelas referências compartilhadas. Guardarei elas com muito carinho! Espero que possamos continuar compartilhando saberes e dialogando sobre as pesquisas. Nos vemos em eventos futuros.
      Meus sinceros votos de felicidades e muito sucesso!

      João Antonio Machado.

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  5. Parabéns pelo texto e pela análise. Como fã de mangás e animes fico muito feliz em observar discussões como esta. Observo cada vez mais tais obras adentrando as plataformas de streaming, tal como os diversos filmes do Studio Ghibli que adentraram na Netflix, por exemplo. Tenho muito interesse em representações que retratem eventos históricos, para utilizar em sala de aula, assim, observando que vocês sabem bastante do assunto e provavelmente conhecem outras obras que podem ser articuladas em sala de aula, minha pergunta é quais outros animes que trazem representações históricas vocês podem nos indicar para trabalharmos em nossas aulas?


    Glauber Paiva da Silva.

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    4. Prezado Glauber Paiva da Silva,

      Muito obrigada pelo apoio e pela pergunta!

      Realmente existem referências de animês e até mesmo alguns mangás com viés histórico, embora muitos ainda estejam traduzidos somente em inglês. Quando nos detemos na produção japonesa isso se deve ao fato de que é ela quem nos inspira pela sua riqueza e por ser o berço desses formatos. Certamente outros países e culturas também tem uma produção rica. Existem animês muito específicos sobre a área da história tais como A Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら - Berusaiyu no Bara) que se passa dentro da época da Revolução Francesa; O diário de Anne Frank (アンネの日記 - Anne no Nikki) sobre a história tão triste do judeus em seu refúgio; Gen Pés Descalços (はだしのゲン Hadashi no Gen) sobre um menino e sua sobrevivência, logo após a bomba atômica, e muitos outros animês que podem ser encontrados na web já traduzidos em português.

      É importante que o professor seja capaz de contextualizar os discursos presentes nos enredos dos animês e mangás, discursos que são historicamente e culturalmente construídos, mesmo que estes não tenham diretamente explicitado esta ligação histórica. È preciso sair da “caixa” onde nossa educação e ensino está inserida. Pensar criativamente é fundamental nos nossos dias pois nossos alunos têm acesso, de alguma forma, mesmo os que têm dificuldades com conexão com a web, a um número enorme de informações. Essas informações são aquelas que darão “liga” às nossas propostas. Os animês e mangás trazem em si a fascinação da imagem, do movimento e da possibilidade de um olhar mais criativo e plural para o mundo e seus fenômenos sociais.

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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  6. Boa tarde, parabéns pelo texto. Gostei muito, pois além de trabalhar a questão do mangá em si, vocês conseguiram fazer algo que vejo como muito deficitário nos trabalhos sobre mangá: relacionar o estudo com uma problemática "maior", no caso a questão ambiental e o uso para o ensino. Digo isso, pois tenho a impressão de que muitos trabalhos com animes, mangás, ou até mesmo filmes tem uma "abordagem de fã" em que a pesquisa é feita como que por uma curiosidade individual, sem dar atenção para a importância social da própria pesquisa, gostaria que comentassem sobre isso e se tem essa mesma impressão...
    Grato.

    Leonardo Henrique Luiz.

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    1. Prezado Leonardo Henrique Luiz,

      Muito obrigada pelo apoio e pela pergunta!

      Nossos educadores, apesar de tudo o que Paulo Freire pregou, ainda se veem presos a um sistema muito duro. Alguns ainda ignoram, sejam pela falta de experiência, seja pela falta de tempo, ferramentas que podem se constituir num aliado importante do ensino.

      Foi exatamente com esta ideia e com interesse pelo mundo dos animês, mangás e scifi que decidimos mergulhar neste assunto para que, com uma análise mais criteriosa, pudéssemos trazer aos nossos alunos e a nós mesmos, uma possibilidade exploratória importante no ensino.

      Já existem vários trabalhos publicados sobre o assunto, não é difícil achar na internet, mas maioria está escrita em inglês. O animê, quase sempre derivado do mangá, é uma ferramenta que atinge especialmente a um publico jovem pelo seu apelo visual e de conteúdo. Assuntos que podem ser tratados numa abordagem transdisciplinar encontram nas histórias, enredos e imagens dos animês e mangás, campo fértil para sua exploração.

      Por exemplo, a abordagem transdisciplinar apresentada por Akiko Santos (2008) considera que o processo de ensino e aprendizagem abrange a compreensão de conteúdos abstratos, as emoções que surgem no seu decorrer e se relacionam aos conteúdos que se aprende, como se aprende e quem ensina. Neste contexto, a abordagem transdisciplinar permite realizar uma reflexão que integra a subjetividade e as emoções provocadas pelos enredos do animê e mangá com os saberes disciplinares. A partir de uma discussão mais aprofundada dos animês e mangás, seremos capazes de proporcionar uma formação, uma capacidade de aprendizado para a vida. Quanto às temáticas, como já dissemos anteriormente, devem ser criativamente exploradas pelo professor e seu sucesso será garantido!

      Segue a referência para abordagem transdisciplinar:
      SANTOS, A. Complexidade e transdisciplinaridade em educação: cinco princípios para resgatar o elo perdido. Revista Brasileira de Educação, v. 13, n. 37, p. 71-83, 2008.

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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  7. Olá, Bruna. Gosto de pensar que com os textos que lemos nós pensamos juntos. O seu texto me suscitou a seguinte questão: como você pensa a transposição dos mangás e animes para a sala de aula levando em conta ao menos dois desnivelamentos que o caso que apresentou permite extrair, ou seja, as diferenças entre os períodos históricos (no caso apresentando, o Japão de ontem e o Brasil de hoje) e os contextos nacionais e internacionais, e as diferenças de realidades, particularmente as sociais e culturais, entre os dois países? Sabemos que o mundo está globalizado e existe uma cultura de recepção e apropriação de animes consolidada no Brasil, que certas sensibilidades e condutas se internacionalizaram, mas você considera que isso é o bastante para em sala de aula essa segunda diferença não ser mais pertinente - sociais e culturais, de sensibilidades e de comportamentos - ou, pelo contrário, elas ainda apontam para diferenças significativas que precisam ser explicitadas nessa transposição?
    Leandro Mendanha e Silva

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    2. Prezado Leandro Mendanha e Silva,

      Muito obrigada pelas reflexões e perguntas!

      Sim, entendemos que a proposta de utilizar os animês e mangás em sala de aula pode provocar os alunos a terem dúvidas sobre as proximidades e diferenças entre os períodos históricos dos contextos da sociedade japonesa e brasileira.

      Por isto é importante ressaltar aos alunos que não há intenção de buscar correspondência entre os fatos históricos nacionais e internacionais e as representações imagéticas nos animês e mangás, mas expressar possíveis ideias, concepções de mundo, da sociedade japonesa diante deste processo desenvolvimentista. E, desta maneira, possibilitar um modo de conhecer estas ideias e concepções na forma como sociedades as produzem visualmente. Neste exercício, pode-se perguntar aos alunos quais destas ideias se diferenciam da concepção de desenvolvimentismo também praticado na sociedade brasileira durante o pós-Segunda Guerra Mundial?

      Para abordar estas possíveis proximidades entre o contexto histórico brasileiro e japonês, os professores podem apresentar fatos históricos de ambos os contextos para discutir como a ideia de desenvolvimentismo representada em alguns animês e mangás, fortemente divulgada pelo governo americano, também condicionou políticas de desenvolvimento industrial na sociedade brasileira e japonesa.

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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  8. Boa tarde, Bruna. Parabéns pelo seu texto, acredito que pensar as produções culturais está relacionado diretamente a pensar a sociedade. Muitas vezes a porta de entrada para o estudo da cultura japonesa e de sua língua vem do consumo da animação e dos mangás. Como grande apreciadora das produções japonesas fico muito feliz pelo seu trabalho e pelas suas colocações. Como você vê o uso de animes e mangás tanto para o ensino de história, como para se pensar nas questões sociais e politicas do Japão?
    E há outros estudos seus relacionados a animações e questões sociais? Gostei muito da sua abordagem neste texto.

    Ass. Victoria Regina Borges Tavares Melo

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    1. Prezada Victoria Regina Borges Tavares Melo,

      Muito obrigada pelo apoio e pela pergunta!

      No que diz respeito ao uso de animês e mangás para o ensino de história, considerando questões sociais e políticas do Japão, realmente é possível!

      Existem várias análises que buscam abordar estas questões em animês e mangás, embora muitas destas estejam escritas em inglês. Tivemos acesso aos estudos que abordam estas questões em Astro Boy (鉄腕アトム, Tetsuwan Atomu) Túmulo dos Vagalumes (火垂るの墓, Hotaru no Haka) e Gen Pés Descalços (はだしのゲン, Hadashi no Gen).

      Por exemplo, o animê e mangá Astro Boy produzido pelo médico e mangaká Osamu Tezuka apresenta cenas muitos interessantes para falar sobre as representações da ideia de desenvolvimentismo durante a Segunda Guerra Mundial e pós-Segunda Guerra Mundial, como esta concepção também influenciou historicamente na utilização de conhecimentos e práticas científicas na produção de tecnologias tanto no Japão como também em países do ocidente.
      Também permite problematizar a ideia de ciência como algo natural, mostrando que o investimento em desenvolver conhecimentos e práticas científicas depende dos interesses que estão em disputa quanto ao modelo de sociedade que se pretende realizar.

      Também o filme O Túmulo dos Vagalumes, dirigido por Isao Takahata, permite representar como as consequências humanas e ambientais do uso de tecnologias científicas, como a energia atômica, possibilitaram o reconhecimento da importância da questão ética como norteadora dos desenvolvimentos científicos, que devem prezar pelo bem-estar das pessoas.

      É importante mencionar que para escolher quais cenas serão abordadas em sala de aula, para esta reflexão sociopolítica e histórica, os professores precisam considerar como os alunos podem reagir diante daquelas consideradas sensíveis e lidar com estas emoções geradas.

      Segue as referências dos estudos que já analisam algum destes animês e mangás:

      BUDIANTO, Firman. Representation of Science, Technology, and Memory of Postwar Japan in Japanese Anime. Lingua Cultura, v. 12, n. 3, p. 215-220, 2018.
      FULLER, Frank. Why the Japanese Did Not Complain about Crimes Against Humanity Perpetuated by the US in World War II: Evidence from Japanese Anime and Manga. Journal of Social and Political Sciences, v.2,
      n.1, p.106-131, 2019.
      FULLER, Frank. The deep influence of the A-bomb on anime and manga. The Conversation, p.1-4, 2015. Acesso em: 20 abr. 2020. Disponível em: https://theconversation.com/the-deep-influence-of-the-a-bomb-on-anime-and-manga-45275
      GIBSON, Alicia. Out of Death, an Atomic Consecration to Life: Astro Boy and Hiroshima's Long Shadow. Mechademia, v. 8, p. 313-320, 2013.
      GIBSON, Alicia. Atomic Pop! Astro Boy, the Dialectic of Enlightenment, and Machinic Modes of Being. Cultural Critique, v. 80, p. 183-205, 2012.
      NOVAES, V. D. P.; VADICO, L. A. ANIMAÇÕES JAPONESAS DURANTE E APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: CARACTERÍSTICAS E INFLUÊNCIAS. Revista Debates Insubmissos, v. 2, n. 5, p. 79-106.


      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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    2. Prezada Victoria Regina Borges Tavares Melo,

      Como exemplo destas cenas que podem ser sensíveis aos alunos, a imagem da capa do filme Túmulo dos Vagalumes colocada em contraste pode representar um avião bombardeiro. Assim, podemos interpretar que não são vagalumes desenhados na capa, mas são as bombas atômicas sendo lançadas.

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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  9. Boa noite. Gostei muito da sua analise, mostrando que os animes e mangas são mais que meras fontes de entreterimento, e que algumas histórias, como a que você abordou que no caso é o "Nausicaä do Vale do vento" no Brasil atualmente, esses conteúdos são consumidos diariamente por jovens do ensino fundamental e médio, muitos deles tem grandes repertórios sobre os animes e suas questões sociais dentre outras, e vários profissionais da educação até mesmo em formação acompanha os animes e mangas. A minha pergunta é a seguinte: O profissinal de ensino de historia poderia usar de maneira frenquente animes ou mangas que retratam de forma direta determinado assunto de reflexão historica, ou cotidiana, voltado para o conteúdo ministrado em sala de aula, para atrair a atenção do aluno? Dessa forma estaria se adequando a realidade de consumo cultural do aluno de maneira correta? Pois sabemos como é dificil conquistar a atenção dos alunos.
    Att. Adolfo Mateus Souza de Carvalho

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    1. Prezado Adolfo Mateus Souza de Carvalho,

      Muito obrigada pelas reflexões e perguntas!

      As respostas às suas perguntas podem ser acessadas nos comentários acima! Principalmente nas pergunta do Glauber, Leonardo, Leandro e Victoria

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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  10. Os Mangás possui uma grande importância, do cenário cultural tanto do Japão como no mundo atualmente, entretanto os professores ainda possui muita resistência em aceitar o gênero como literatura, nesse sentido como você ver a utilização do manga como ferramenta pedagógica ?

    Carlos eduardo ferreira alves

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    1. Prezado Carlos Eduardo Ferreira Alves,

      Muito obrigada pela reflexão e pergunta!

      A resposta à sua pergunta está nos comentários acima! Principalmente nas perguntas do Glauber, Leonardo, Leandro e Victoria!

      Realmente, eu, Bruna, vivenciei esta resistência quando estava no ensino fundamental. Quando alguns professores diziam em sala de aula que não reconheciam a leitura de mangás como equivalente a leitura de livros... não reconhecendo o potencial de ensino desta produção cultural. Neste sentido, acreditamos que é fundamental os professores terem acesso a essas discussões que abordam o potencial de ensino a partir dos discursos presentes nos animês e mangás, considerando que estes discursos são importantes para problematizar e desnaturalizar concepções de mundo abordadas por disciplinas como Sociologia, História, Geografia e Filosofia... que a princípio são encaradas pelos alunos como algo natural.

      Bruna Navarone Santos e Anunciata Sawada

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