Caroline Trapp de Queiroz e Flavio de Souza


CRIME E [DES]HONRA: UMA LEITURA DO CONTO “A CARTOMANTE”




A literatura machadiana como espelho da sociedade brasileira do século XIX
“É mais fácil lidar com uma má reputação do que com uma má consciência”.
Friedrich Nietzsche

Camilo anda a passos largos rumo à casa do casal de amigos Rita e Vilela. Ao bater na porta, a cena que vê lhe dispara o coração. Rita ensanguentada no chão anuncia: ele será a próxima vítima desse triângulo amoroso mal resolvido.

Esse poderia ser mais um dos tantos casos de feminicídio de que temos conhecimento no país em que, em média a cada 3 horas, uma mulher é assassinada [CATRACA LIVRE]. No entanto, se trata de um conto escrito no final do século XIX. Nele, Machado de Assis narra a história de três amigos cujos destinos se entrelaçam inexoravelmente pela tragédia – como entrega, quase que num spoiler, com o início aberto por Shakespeare: “HAMLET observa a Horácio que há mais causas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia” [MACHADO DE ASSIS, 1884].

A literatura é uma das muitas fontes que nos permite conhecer diferentes fatos e períodos históricos, tanto pelo que narra, quanto pelas condições em que é produzida. Um registro que se constitui por meio da arte, trazendo em prosa e verso indícios de como a sociedade se organizava em determinado contexto, que questões circulavam entre os sujeitos que nele viviam e como a cultura ia se estabelecendo na relação desses sujeitos com o mundo, a vida e o outro.

Em “A Cartomante”, não é diferente. Mais uma vez, Machado de Assis consegue explorar as questões da sociedade brasileira com um conto aparentemente despretensioso, de modo que a história, quase que sem querer, nos abre muitas perspectivas de análise do período – demandando uma leitura afeita aos detalhes. Nesse texto, no entanto, enfocamos como categorias de reflexão os dois crimes trazidos pelo autor, que nos propiciam uma leitura sobre as mulheres a que dá vida. Nosso objetivo é, portanto, dar acabamento histórico e também interpretativo à narrativa da complexa relação vivida pelos personagens – destacando que se trata de apenas um dentre tantos outros acabamentos possíveis [BAKHTIN, 1992].

Cartomancia
A mentira é o principal fio condutor da narrativa desse triângulo amoroso, afinal, o adultério necessariamente desenvolve-se a partir de uma rede de intrigas. Nesse sentido, de modo geral, podemos mesmo afirmar que todos os personagens valem-se de máscaras, já que nenhum deles faz qualquer esforço para ser transparente nas suas relações interpessoais. Além disso, o autor flerta sabiamente com o leitor ao atribuir esse título à obra. Segundo a definição do Dicionário Aurélio, cartomante é a “pessoa que, supostamente, adivinha o futuro, o presente e o passado, através da interpretação das cartas de baralho” [DICIONÁRIO AURÉLIO, 2020. Grifo nosso].

A suposição aqui figura como descrédito à atividade da cartomancia, uma prática socialmente posta em xeque no interior do nosso próprio léxico – diferente do que acontece com a definição do verbete “deus”, por exemplo: “o ser que está acima de todas as coisas; o criador do universo; ser absoluto, incontestável e perfeito” [DICIONÁRIO AURÉLIO, 2020. Grifo nosso]. No entanto, essa suposição é, ainda assim, fruto de uma contemporaneidade mais flexível a atividades espirituais e ritualísticas, bem distinta da sociedade do final do século XIX, no interior da qual o Governo Provisório de Deodoro da Fonseca promulga o Código Penal e estabelece a prática da cartomancia como crime “contra a saúde pública”:

“Art. 157. Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilegios, usar de talismans e cartomancias para despertar sentimentos de odio ou amor, inculcar cura de molestias curaveis ou incuraveis, emfim, para fascinar e subjugar a credulidade publica” [BRASIL, 1890].

É importante compreender que esse período traz consigo uma série de medidas que visa lidar com a situação até então inédita que a abolição da escravização inaugura no país, ou seja, a elite agora está diante de um grande contingente de negros libertos que buscam inserção na dinâmica socioeconômica, o que significa repensar o mundo do trabalho reorganizando sua estrutura sem os mecanismos de controle e repressão outrora existentes na relação entre senhores e escravizados.

É nesse cenário que o referido Código se insere, uma vez que a responsabilidade por manter a posição de submissão das classes consideradas “perigosas” [CHALHOUB, 1990], nesse contexto, era obrigatoriamente transferida  para o Estado. O próprio atrelamento entre raça, classe e criminalidade – até hoje tão forte em nossa sociedade, constando inclusive como diretriz de formação das instituições policiais – se sustenta nesse processo.

No entanto, no conto machadiano, a cartomante se trata de uma mulher italiana de aproximadamente 40 anos, provavelmente uma imigrante. A imigração também ocupa lugar de destaque no período em que o autor cria seu conto. Na verdade, desde 1870, a política de incentivo à imigração cresce, sobretudo impulsionada pela necessidade de ocupação das áreas ao sul do país e também pelo crescimento da lavoura de café, grande atrativo para europeus empobrecidos, que chegavam em busca de melhores condições de vida.

Não se deve esquecer, contudo, que o incentivo do Estado em relação à imigração estava também diretamente ligado ao projeto de branqueamento da sociedade, no interior da preocupação quanto à necessidade de estruturar uma identidade brasileira civilizada, o que significava dar ao Brasil um ar mais europeu – e menos africano [FORMIGA; PAULA; MELO, 2019]. O Brasil da época – então proibido de usufruir do tráfico negreiro – vale-se de trabalhadores desterrados europeus de diversas regiões, etnias e culturas variadas, como, dentre outros, praticantes da cartomancia. 

Forte indício de que possivelmente se tratava de uma imigrante pobre é o adjetivo, no mínimo peculiar, que Machado de Assis usa para descrever sua cartomante de origem italiana: magra! Ora, a magreza – cultuada exageradamente no século XXI –, para a época em que se passa o conto, não é tida como padrão estético a ser valorizado socialmente, mas sim o contrário. A pessoa magra era vista como alguém pobre e de poucos recursos. Da mesma forma, a descrição do lugar em que a mulher morava parece reforçar seu lugar de classe:

“A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; […] Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio” [MACHADO DE ASSIS, 1884].

Assim, junto da necessidade de organizar e controlar a nova classe de negros libertos, surge também a necessidade de criar parâmetros para as práticas culturais desses imigrantes, de modo que “o espiritismo, a magia [...] talismans e cartomancias” [BRASIL, 1890], explicitados no Código Penal, abarcam tradições e ritos de origem africana e também aqueles historicamente disseminados na Europa e trazidos ao Brasil como meio de sustento de imigrantes pobres.

Adultério
O adultério é socialmente configurado como uma prática de infidelidade conjugal, fortemente relacionada a uma ruptura do compromisso do matrimônio cristão. Etimologicamente, “a palavra deriva da expressão latina ad alterum torum que quer dizer ‘na cama do outro’” [SANTOS, 2015, p. 04], sentido encontrado também no dicionário, que o define como “infidelidade conjugal; traição de um dos cônjuges” [AURÉLIO, 2020].

Na Idade Média, a Igreja passa a parametrizar as regras centrais do matrimônio cristão, pautando-o em valores como a monogamia, a indissolubilidade e a heterossexualidade. A ideia do casamento que chega ao século XIX, além de herdar a cultura dos princípios cristãos, se sustenta na estabilidade de uma vida a dois, que teoricamente propiciaria a fuga dos impulsos sexuais e, por consequência, a prevenção de doenças de caráter venéreo[ SANTOS, 2015, p. 04]:

“Sendo assim, o adultério era visto como uma invasão destruidora do amor lascivo no universo estável do amor conjugal. Além disto, era um ataque ao direito masculino sobre o corpo de sua esposa” [BORELLI, 2002, p. 02].

No Código Penal de 1890, mais que um pecado condenado pela Igreja ou um atentado ao amor conjugal,  o adultério também é tipificado como crime, mais precisamente como crime “contra a segurança da honra e honestidade das famílias e do ultraje público ao pudor”:

“Art. 279. A mulher casada que commetter adulterio será punida com a pena de prisão cellular por um a tres annos.
§ 1º Em igual pena incorrerá:
1º O marido que tiver concubina teuda e manteuda;
2º A concubina;
3º O co-réo adultero.
§ 2º A accusação deste crime é licita sómente aos conjuges, que ficarão privados do exercicio desse direito, si por qualquer modo houverem consentido no adulterio.
Art. 280. Contra o co-réo adultero não serão admissiveis outras provas sinão o flagrante delicto, e a resultante de documentos escriptos por elle.
Art. 281. Acção de adulterio prescreve no fim de tres mezes, contados da data do crime.
Paragrapho unico . O perdão de qualquer dos conjuges, ou sua reconciliação, extingue todos os effeitos da accusação e condemnação.”

O Código é explícito ao considerar o adultério como crime cuja queixa deveria partir do cônjuge “traído”, queixa que perdia validade caso ele viesse a perdoar o adúltero.  Esse fator caracteriza o adultério, nesse contexto, como crime de esfera particular, não incidindo qualquer interesse pela ordem pública a nível macro [DINIZ apud BORELLI, 2002, p. 05]. Além disso, é importante a informação quanto ao fato de a punição prevista pelo crime não ter sido efetivada, uma vez que “o marido que recorresse a semelhante meio para punir a infidelidade da mulher incorreria no desprezo da sociedade e tornar-se-ia objeto de ridículo…” [DINIZ apud BORELLI, 2002, p. 05].

Da parte da mulher também cumpre refletir sobre a ineficiência da lei, considerando que o divórcio nesse período não se tratava de uma realidade comum na vida dos casais, de modo que o primeiro projeto divorcista tenha sido apresentado ao Parlamento brasileiro apenas em 1893 [BELTRÃO, 2017]. Portanto, sair de um casamento não dependia exclusivamente de uma decisão subjetiva.

Outra questão importante que o Código traz acerca do adultério é o fato de só a mulher o cometer. O homem, nesse caso, cometia algo cujo nome simplesmente inexistia. Ou seja, se a pena prevista na legislação era a mesma para os dois, o peso moral socialmente atribuído à prática do adultério diferia bastante, considerando o gênero do adúltero. É quase como se, na letra da lei, o crime fosse atribuído à mulher, enquanto ao homem só se atribuísse a possibilidade de retratação – em forma de pena –, sem a força da culpa e da responsabilidade pelo ato em si. 

Se pensar nas estruturas socioculturais do Brasil desse período nos ajuda a compreender a diferença dos lugares sociais ocupados por homens e mulheres, maridos e esposas, nos ajuda também a relembrar que o sistema do patriarcado definia, de acordo com esses papéis, direitos e deveres bem específicos e distintos entre si:

“Com a instauração do patriarcado no Brasil, e a instituição da família monogâmica, o controle masculino sobre o corpo e a sexualidade da mulher ficou ainda mais evidente, através da divisão sexual e social do trabalho, e a manutenção das riquezas familiares através de casamentos estabelecidos a partir de interesses financeiros. Não obstante, estabelecida a propriedade privada e conhecida a participação do homem na reprodução, as relações passaram a ser predominantemente monogâmicas, visando garantir as heranças dos filhos legítimos [MACHADO, 2000]” [STRUCKER; MAÇALAI, 2016].

A necessidade de disciplinar a mulher, mantendo controle sobretudo de seu corpo, se insere na perpetuação de uma mentalidade medieval e renascentista que atribuía como sendo de natureza da mulher a inferioridade – já que ela é criada da costela de Adão –, bem como a inclinação ao mal – já que ela é seduzida pela serpente e expulsa do paraíso. Não à toa, a figura da mulher a ser temida, combatida e curada será, a princípio, a da feiticeira – a cartomante? – e, posteriormente, a da histérica – Rita? [RODRIGUES, 2008.p. 63].

Todos esses elementos nos ajudam a compreender o conto de Machado de Assis sob a perspectiva da sociedade em que a narrativa se desenrola, uma vez que o grande medo de Rita – como de qualquer outro adúltero – sempre foi a desconfiança do marido. Por outro lado, sendo Vilela magistrado e proprietário de um escritório de advocacia, não é exagero pensar que sua formação e seus conhecimentos técnicos o tenham munido da certeza de que mais valia acabar com a vida de Rita e de Camilo a ver acabada sua reputação de homem pela infidelidade de uma mulher – como bem nos adverte Nietzsche na epígrafe desse texto.

Ironia de um destino
“O destino baralha as cartas, e nós jogamos.”
Arthur Schopenhauer

Uma esposa infiel presa em um matrimônio de aparências. Um marido abastado, bem sucedido, proporcionalmente violento e com sede de sangue. Um amigo de infância que cobiça, deseja e tem relações íntimas com a esposa de seu amigo. Uma cartomante estrangeira que ganha a vida vendendo aquilo que o cliente precisa e quer ouvir. Eis os ingredientes, com a diversidade que o Brasil possui, para uma trama de mentiras, traições e mortes.

“A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
- Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
- E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma cousa ou não...
- A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez das cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
- As cartas dizem-me…” [MACHADO DE ASSIS, 1884].

O humor, a sagacidade e a perspicácia com que Machado desenvolve o conto, explícitos no trecho acima, demonstram o refino do autor para nos contar uma excelente história com personagens profundos e verossimilhantes. Nele, Camilo comporta-se, perfeitamente, como alguém desesperado por ouvir palavras que acalentem o seu coração e lhe tragam paz de espírito, diante do medo e da culpa. A cartomante, por sua vez, usa de frases genéricas, sempre muito vagas, que acabam se encaixando por completo na atual situação do rapaz, afinal, não se vai consultar a cartomante senão para saber se “acontecerá alguma cousa”. A ironia e o humor presentes na frase “a cartomante não sorriu” trazem para o leitor a ideia de que ela já havia feito uma leitura rápida, porém minuciosa de Camilo, motivo pelo qual fisga mais um cliente.

Ainda que o conto coloque a cartomante no lugar de quem erra a predição, são de fato as cartas que determinam o futuro de Rita e Camilo, no caso, as cartas anônimas que testemunham o crime do casal. Isso porque, sem a existência das cartas, talvez os personagens tivessem chegado vivos ao final da história. São também registros escritos o que nos alinha à triste ironia de um destino ainda hoje quase sempre machadiano. Tais registros são o principal recurso que as mulheres possuem contemporaneamente para se defender de maridos com a mesma sede de sangue de Vilela, no caso, o registro de ocorrência e a letra da lei. Infelizmente tão eficazes quanto as cartas da cartomante...

De modo geral, como é característico na obra de Machado, o conto deixa diversas questões em aberto para os leitores: Por que a cartomante não previu o futuro do casal? Quem estava por trás das cartas anônimas entregues a Vilela? Seria a amiga provinciana que sedia sua casa para os encontros dos amantes? O que a teria motivado? Teria Vilela, em algum momento, recebido tais bilhetes – ou os encontrado, já que Rita os levara para casa? Do contrário, como o marido teria chegado à descoberta em relação ao caso extraconjugal? Por fim, o que acontece com Vilela, magistrado rico, após o ponto final que sua arma coloca na história? Enfim, o conto expressa quanto a literatura emula a realidade brasileira com personagens fictícios, mas reais, como Rita, Eliza Samudio, Mércia Nakashima, Amanda Bueno,  Sandra Gomide, Luiza Nascimento Braga, entre tantas outras.

Referências
Caroline Trapp de Queiroz é doutoranda em Educação [UERJ] e professora do Colégio de Aplicação da UFRJ.
Flavio de Souza é graduando em Letras [UERJ] e professor do Pré-Vestibular Social do SINTUPERJ.

BAKHTIN, Mikhail M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
BELTRÃO, Tatiana. Divórcio demorou a chegar no Brasil. Senado Federal. Arquivos. 2017. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/divorcio-demorou-a-chegar-no-brasil>. Acesso em: 17 abr. 2020.
BORELLI, Andrea. Adultério e a mulher: considerações sobre a condição feminina no direito de família. 2002. Disponível em:<https://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1676-5834/v2n4/doc/05-Andrea_Borelli.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2020.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 2013.
BRASIL. Decreto Nº 847, de 11 de Outubro de 1890. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d847.htm>. Acesso em: 17 abr. 2020.
CATRACA LIVRE. Cidadania. “Brasil registra um caso de feminicídio a cada 7 horas”. Disponível em:
<https://catracalivre.com.br/cidadania/brasil-registra-um-caso-de-feminicidio-a-cada-7-horas/>. Acesso em: 17 abr. 2020.
CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade. São Paulo: Cia. Das Letras, 1990.
DICIONÁRIO AURÉLIO. Dicionário de Português Online. Verbete Cartomante. Disponível em:
<https://www.dicio.com.br/cartomante/>. Acesso em: 17 abr. 2020.
DICIONÁRIO AURÉLIO. Dicionário de Português Online. Verbete Cartomante. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/adulterio/>. Acesso em: 17 abr. 2020.
FORMIGA, Dayana de Oliveira; PAULA, Ana Beatriz Rodrigues; MELO, Charles Aparecido Silva. “O Pensamento Eugênico e a Imigração no Brasil [1929-1930]”, Intelligere, Revista de História Intelectual, nº7, p. 75-96. 2019. Disponível em:
<http://revistas.usp.br/revistaintelligere>. Acesso em: 17 abr. 2020.
MACHADO DE ASSIS. A Cartomante. Jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, 1884. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1965>. Acesso em: 17 abr. 2020.
RODRIGUES, Carla. “Traidora”. In: SCHPREJER, Alberto. Quem é Capitu? Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
SANTOS, Priscila Teixeira Moraes dos. Possibilidade Jurídica de Reparação Moral em caso de Adultério. Trabalho de Conclusão de Curso [Pós-Graduação Lato Sensu]. Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. 2015.
STRUCKER, Bianca; MAÇALAI, Gabriel. 'Bela, recatada e do lar': os novos desdobramentos da família patriarcal. In: XIII Seminário Internacional de demandas sociais e políticas públicas na sociedade contemporânea. Santa Cruz do Sul: UNISC, 2016. Disponível em: <http://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/article/view/15880/3777>. Acesso em: 17 abr. 2020.

13 comentários:

  1. Achei interessante a abordagem do texto e fiquei com uma questão, se vocês perceberam que, bem mais do que emular a realidade, o conto A Cartomante também mantém um diálogo direto com o direito e seu fenômeno.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Thiago!

      Então, a gente entende que a escrita de Machado tem como característica esse pé nas questões próprias de seu tempo mesmo. Nesse sentido, há sim um repertório que é mobilizado a partir do que circula socialmente e nisso se insere o direito como discussão, disputa, contradição, etc.

      Abç,
      Caroline Trapp de Queiroz.

      Excluir
  2. Com base no texto acima, percebemos que o feminicídio é recente apenas em nome, mas a sua prática vem de longa data. O que levou os autores a fazer essa comunicação entre a obra “A cartomante” de Machado de Assis com a crítica e denúncia social sobre o feminicídio nos dias atuais?
    Atenciosamente,
    Daniel Washington Oliveira da Silva

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde, Daniel Washington!
      Nossa escolha se deu pelo fato de ser um conto que coloca em evidência duas personagens femininas muito complexas, bem exploradas e com detalhes riquíssimos para a trama. Vale ressaltar também que o autor é - na nossa humilde opinião - a maior referência quando falamos sobre literatura brasileira. Lembre-se também que Machado foi crítico antes de ser romancista e mesmo em seus romances mais conhecidos como "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas" as críticas sobre sociedade, racismo, desigualdade social e papel da mulher se fazem muito presentes.

      Flavio de Souza

      Excluir
  3. Boa noite a todos!
    Parabéns pelo artigo, muito enriquecedor. Os autores indicam a leitura do livro como ferramenta de discussão sobre o feminicidio em sala de aula?

    Ana Clara Fernandes da Costa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde, Ana Clara!
      Certamente indicamos para a sala de aula. Para a discussão sobre o feminicídio, trouxemos em nosso artigo três fontes que se correlacionam: A literatura (o conto de Machado de Assis), as leis e alguns casos de feminicídio conhecidos da nossa sociedade - que soubemos por meio de notícias de jornais - que não trouxemos aqui mas sugerimos trabalhar em sala de aula, caso queira. Ressalto também que não só esse conto, mas diversos outros da nossa literatura, até mesmo literatura mais recente do que a de Machado, que dialogam ainda (infelizmente) com a nossa época, tais como:

      "A língua do P" de Clarice Lispector e "Feliz Ano Novo" de Rubem Alves.

      Flavio de Souza

      Excluir
  4. Gosto muito dos textos de Machado de Assis, especialmente do modo como ele faz emergir as questões sociais. E apesar, do período, ainda com questões bastante atuais. Senti falta, mesmo ainda breve de um debate sobre a relação entre História e Literatura. Além das aproximações, há uma linha tênue entre a ficção e a realidade, no qual a literatura traz a verossimilhança. De que modo vocês poderiam trabalhar o texto para que o leitor além de querer buscar ler o conto, também tivessem informações básicas para situar que não o conhece?

    Mariani Bandeira Cruz Oliveira

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Oi, Mariani!

      Entendo que tenha sentido falta dessa discussão. Essa foi uma escolha que fizemos respeitando o limite de caracteres para esse evento e o desejo de provocar o leitor a mergulhar a partir do conto em si. Quanto à questão de munir o leitor das informações básicas que você coloca, pensamos que depende do contexto, se estamos falando da sala de aula, de um evento acadêmico ou de um texto científico. De toda forma, gostamos muito de como a linguagem artística provoca discussões por meio da estética. Walter Benjamin, inclusive, vai falar dessa história que faz sentido porque afeta, e que esse afeto chega não pela teoria, mas pela experiência direta com o que se vê, ouve, lê e sente. Como ponto de partida, então, esse afeto é fundamental. A intertextualidade advinda daí, que vai correlacionar leitura de mundo e de textos, é um trabalho que está para além do que quisemos fazer aqui - e que, em geral, arriscamos dizer que também não dão conta aqueles que se propõem a fazê-la.

      Abç,
      Caroline Trapp de Queiroz.

      Excluir
  5. Olá, Caroline e Flavio!
    Parabéns pelo trabalho desenvolvido!
    A cartomante é meu conto preferido de Machado de Assis, e acho lindo como ele, com seus narradores, conta histórias como quem não quer nada e do restrito vai pro amplo, fala revolucionariamente sem falar da revolução.
    Mas ainda fico na dúvida se a cartomante vendeu o que Camilo queria ouvir ou se era apenas uma charlatã.
    Vocês escolheram esse conto e trabalharam sobre seu conteúdo ou tinham um corpus de análise maior e optaram por ficar apenas com A cartomante? Se o corpus era maior, que outras obras trabalharam com esse tema?
    Sucesso!
    Letícia Mayer Borges

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Letícia! Muito obrigado pela participação. Não comentaremos sobre a sua dúvida quanto à credibilidade da cartomante para que não se perca exatamente aquilo o que Machado mais gostava de deixar para os seus leitores: a dúvida. Como já comentamos em outra pergunta, existe uma vasta literatura nacional que aborda essa temática, o feminicídio. Mas optamos por ficar com apenas este conto, em especial por conta de todas as camadas sociais que transcendem a obra. Óbvio que o modo como a criminalidade e a legalidade são trabalhadas pelo autor, nessa obra especificamente, facilitou o processo de criação do nosso artigo que tinha como humilde finalidade fazer um leve paralelo entre ficção e realidade.

      Flavio de Souza

      Excluir
  6. Em primeiro lugar, parabenizo os autores pelo texto e pela interessante comparação do conto de Machado com nossos problemas atuais. Gostaria de saber como vocês veem a possibilidade de abordar estes e outros temas sociais e contos de Machado de Assis, no diálogo com o ensino de história?
    Ass: Andréa Camila de Faria Fernandes

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Andréa!

      Pra gente o entrelaçamento de história e literatura é muito potente, sobretudo quando esses campos se encontram com o objetivo de colocar questões sociais em discussão, o que a obra de Machado sempre nos possibilita e o que o ensino de história muito almeja. Nesse sentido, o diálogo é interessantíssimo, tomando-se os cuidados metodológicos que a literatura perspectivada como fonte demanda, como a compreensão das condições de produção de cada obra, a biografia do autor, o contexto histórico, a narrativa construída, os argumentos mobilizados, bem como a composição historiográfica advinda da comparação com outras tipologias de fontes, etc. 
      Além disso, trazer a literatura para junto do ensino de história é uma possibilidade de convidar estudantes a debaterem temas que os tocam não só pela materialidade da vida, mas pela linguagem estética também, que inaugura modos próprios de abordagem, modos dos quais esses mesmos estudantes podem, inclusive, se apropriar na tessitura de histórias suas. 
      Não sabemos se demos conta de responder o que você perguntou, mas pensamos que uma regra é importante na aproximação dos campos: que a história não mate a literatura ao desmembrá-la em partes que não encontram o todo da obra, transformando narrativas potentes em quesitos de formulário, e que a literatura não mate, com sua licença poética, o rigor científico de que depende uma compreensão histórica e historiográfica calcada em fontes e na tessitura das conexões que delas nascem.

      Abç,
      Caroline Trapp de Queiroz

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.