EDUCAR É EUGENIZAR: UMA VISÃO HISTÓRICA DO DISCURSO EUGÊNICO PENSADO PARA A EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX
A eugenia [eu: boa;
genus: geração], palavra do grego antigo, significando "bom
nascimento" ou "boa geração”, tornou-se a chave de mudança para a
evolução nacional. No início do século XX, com o desenvolvimento do rigor
positivista-científico, e com o pensamento eugênico, se encontravam as
possíveis propostas para reverter a degeneração da população brasileira, tanto
de caráter racial, como moral, educacional e corporal, assim, também, evidentemente,
os argumentos eugênicos se enquadravam num discurso corrente e amplamente
legitimado no meio intelectual, político e social da época [SOUZA, 2006].
Tendo em vista o
período de ebulição de ideais científicos, inúmeros intelectuais imbuídos da
vontade em contribuir para o avanço da nação voltaram-se à reflexão do Brasil
existente, Monteiro Lobato, Renato Kehl, Silvio Romero, Oliveira Vianna, Nina
Rodrigues, Osvaldo Cruz, e mais adiante, Alfredo Ellis Júnior, Plínio Salgado e
Menotti Del Picchia, foram alguns dos principais expoentes dessa onda
intelectual. De forma enfática, a educação eugênica no ambiente escolar parecia
se concentrar em uma das mais efetivas forças dessa ciência de influir na vida
da população brasileira. Ancorada pelo espírito de mudança, de higienização e
de melhoria do corpo, a intelectualidade com o apoio da grande imprensa, tinha
espaço para reforçar seu discurso.
A eugenia na infância,
adolescência e juventude, representava por si só um desafio, envolvia
estabelecer formas práticas de higiene, das mais rudimentares como lavar as
mãos antes das refeições, não escarrar ou cuspir no chão, até modos de
comportamento em coletividade social. Sob tal pano de fundo, em questões
permeadas pelo discurso eugênico, a escola deveria servir ao educar mais amplo.
Em vista dessa assertiva, o que se pretende propor aqui assim é que, a educação
eugênica se dirigia aos alunos dos chamados grupos escolares, e como medida
mais imediata, estava presente nas escolas pelas medidas de higiene e nas aulas
de educação física, como reforço do corpo, pretendendo torná-lo mais saudável e
belo, além de estar direcionada à disciplinarização dos pobres da sociedade em
geral, e mais forçosamente dos jovens, vistos ao mesmo tempo como suscetíveis
para adquirir doenças transmissíveis e demais moléstias, mas que ainda poderiam
ser reeducados [controlados] pelas políticas eugênicas do estado.
Práticas de higiene
eram tidas como referencial de mudança e evolução societária [e de segregação],
portanto, era de imperativa importância que fossem disseminadas pela
intelectualidade e pelo próprio poder público, algumas/muitas vezes em forma de
lei. Aplicar a eugenia na escola seria favorecer o fortalecimento da população
brasileira, o mais nítido nessa questão é que medidas não foram tomadas de
forma aleatória, e sim como resultado de um amplo debate político-jurídico. Um
exemplo, é da Constituição brasileira de 1934, promulgada sob governo de
Getúlio Vargas, que em seu Artigo 138, determinou à União, aos Estados e aos
Municípios: “Estimular a educação eugênica adotar medidas legislativas e
administrativas tendentes a restringir a moralidade e a morbidade infantis; e
de higiene social, que impeçam a propagação das doenças transmissíveis”.
Um dos pontos capitais
de reflexão reside no diálogo da proposta eugênica em abarcar uma ampla
conjuntura funcional das instituições na sociedade, escolas, hospitais,
manicômios, presídios e universidades. As discussões travadas no campo
científico na conjuntura da primeira metade do século XX estavam permeadas
em/por projetos de melhoramento racial, corporal e moral, que se estenderiam às
políticas de expansão dos discursos eugênicos pelos variados ambientes
coletivos da sociedade.
Assim posto, conforme
indica o historiador Vanderlei de Souza: “[...]as ideias eugênicas fascinaram
os homens de ciências de tal maneira que muitos passaram a considerá-la como a
‘nova religião da humanidade’, a ‘ciência do corpo e do espírito’ ” [2019, p.
300]. Insta adicionar que, não só médicos ficaram “enfeitiçados” pela nova
ciência, como homens das letras em geral, jornalistas, advogados, além
inclusive, é claro, de educadores influentes como Fernando de Azevedo
[1894-1974] e Anísio Teixeira [1900-1971], lembremos, que foram alguns dos
responsáveis pelo desenvolvimento da chamada Escola Nova. Nesses termos,
conforme apresentava o próprio Fernando de Azevedo nos Annaes de Eugenia
[1919]:
“[...]Eugenia não é só
intervenção da profilaxia contra o meio biológico, [...] nem é somente a
engenharia sanitária, melhorando o meio físico, dessecando o solo paludoso,
[...] nem é apenas a defesa higiênica contra a perpetuação tenebrosa de taras
hereditárias, na adoção de medidas tendentes a proteger a procriação contra a
degenerescência para privação aos reprodutores doentes dos meios de serem
prejudiciais à raça; a eugenia, com ser tudo isto, é também a aplicação de uma
educação enérgica para a conquista da plenitude das forças físicas e morais,
tirando-nos deste plano inclinado da fraqueza neurastênica, onde pouco a pouco
escorregamos para as deformações somáticas e para as moléstias que mais nos
horrorizavam; é a regeneração física dos povos, por uma completa cultura
esportiva [...]” [AZEVEDO, 1919, p. 116-117].
A
educação eugênica como estratégia de segregação e exclusão
O cerne condutor que
se dirige para a construção do discurso eugênico nos ambientes escolares,
volta-se ao entendimento da necessidade de composição do quadro estrutural
social que se ergue no início do século XX no Brasil, em que, todos os ambientes
eram atravessados por discursos de higiene, civilização, eugenia e
cientificidade. É certo pontuar que, havia impreterivelmente, o pretenso
discurso da preocupação com as novas gerações, além disso, é de imperial
relevância apontar que, na visão dos eugenistas, se um novo Brasil precisaria
ser criado, essa criação passaria pelo crivo educacional na formação das
crianças e jovens.
De fato, na prática, a
busca por uma sociedade eugênica derivaria de esforços coletivos e públicos
para atingir tais anseios, nesse constante, manuais escolares advogavam em prol
da causa. Em decorrência disso que, a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz
em O espetáculo das raças[1993] vai expor que: “Essa é a época dos grandes
projetos de saneamento que invadem dos lares às igrejas, dos portos às escolas.
Nenhum detalhe escapa. Prescrevem hábitos alimentares, indumentárias, costumes.
Buscam a disciplina no uso de lugares públicos, pedem a educação higiênica na
mais tenra idade escolar” [SCHWARCZ, 1993, p.271].
Sem titubear, na
escola encontrava-se um ambiente fértil para discussão dos ideais eugênicos, é
importante notar que, o espaço escolar representaria no imaginário dos
eugenistas um lugar à parte, espaço de mudança e possibilidade de pensar e
colocar em prática outro país com futuros cidadãos capacitados a ocupá-lo,
espaço também em que os discursos científico-eugênicos como forma de jogos de
poder se fariam mais agressivos, quase que similar a um laboratório de cobaias
em que os alunos fossem alimentados com ideais da eugenia e passassem a
professar e praticar a idealização da mesma. Dentro desse quadro, o “aviso” do
risco da miscigenação racial, a moralidade, o civismo, a higiene e a boa imagem
física/moral eram as pautas do momento a serem introduzidas nos discentes.
Tendo em vista essa discussão, criam-se também, concursos de robustez infantil,
manifestando no corpo, e em especial aqui, no corpo jovem, o esplendor da boa
formação científica e racial.
Considerando a
singularidade dessa proposta, segundo a historiadora Simone Rocha [2011,
p.172]: “era preciso educar para os fins eugênicos”, explicar sobre o “perigo
da miscigenação e priorizar a educação dos indivíduos que traziam
hereditariamente um potencial de habilidades comuns a sua linhagem”.
Constituindo claro exemplo de uma política racista, ainda que escondida sob
alicerces das instruções de higiene e condições sanitárias de habitação,
moradia e convivência.
Urge expor que,
ponderando essas informações trazidas por Rocha [2011], que na visão dos
eugenistas, educar seria sinônimo de eugenizar, realizando uma poderosa
campanha nos meios escolares acerca dos problemas sociais, raciais e higiênicos
que o Brasil vivia. Seguindo este fluxo, é nessa orquestração que Vanderlei de
Souza esclarece que “o modelo de ‘eugenia preventiva’, que, no Brasil,
confundia-se com o papel que a educação, a higiene e a medicina social deveriam
desempenhar[...]” [SOUZA, 2019, p. 243]. À luz da perspectiva do historiador
Vanderlei de Souza [2019], o médico paulista Renato Kehl [1889-1974] expôs em
sua obra Por que sou Eugenista[1937] o seguinte pensamento a respeito da
educação eugênica, afirmando que:
“A educação eugênica
deseja que os homens tenham compreensão mais precisa de seus deveres
individuais em relação à prole. Esta educação compreende questões de
hereditariedade, descendência, evolução, influência do meio, do estado
econômico, da legislação, dos costumes, das aptidões físicas, intelectuais e
morais, em suma, de questões ligadas direta ou indiretamente á prolificação” [KEHL,
1937, p. 83].
Ao versar sobre obra e
teoria do médico Renato Kehl, encontra-se um momento ímpar para o desenrolar da
propaganda eugênica, conforme Vanderlei de Souza [2019]: “[...] o pensamento
eugênico brasileiro, ao menos durante os anos 1920, foi profundamente marcado
por um estilo de ‘eugenia preventiva’, muito associada à campanhas médicas e
sanitaristas de caráter reformistas” [SOUZA, 2019, p. 90]. No entanto: “[...]
os eugenistas também incentivaram medidas que visavam racionalizar a natalidade
e orientar a reprodução humana” [Idem, p. 90]. Educar era eugenizar, que por
seu significado e fim, remetia a melhorar, higienizar, sanear, aprimorar. O
sentido educar adquiria um significado amplo e complexo nesse contexto,
representando um melhoramento corporal e das próprias ações no cotidiano. As
práticas de vida mediadas pelas ações do saber médico, propunham uma
reorganização do pensar e do conhecimento científico. E quando pensado o
contexto escolar, a educação eugênica fazer-se-ia pela educação física, o
aprimoramento do corpo entrava em evidência. Assim, ainda nas palavras do
historiador Vanderlei de Souza [2019]:
“Durante os anos 1920,
portanto, a preocupação política e intelectual de Renato Kehl se dirigia,
também, para os cuidados com a educação higiênica das crianças. Em sua
concepção, caberia aos políticos, médicos, pais e mestres a responsabilidade de
cuidar, controlar, vigiar e educar os hábitos alimentares e higiênicos dos
filhos a fim de torná-los saudáveis, robustos e belos. De maneira geral, os
eugenistas entendiam que educação higiênica dirigida às crianças desde a tenra
idade seria o meio mais eficaz de transformá-los nos futuros divulgadores da
‘ciência da boa geração’ ” [SOUZA, 2019, p. 178].
A
formação da “boa geração” pelo belo corpo
Não menos verossímil,
é o cerne da reflexão que recaí sob os discursos corporais e a aplicação dos
preceitos de eugenia nos corpos, de preferência mais jovens. É nesse envolver
que são desenvolvidos os programas de higienização das escolas e concursos Infantis
de Robustez e Beleza, como já mencionado acima, no qual eram classificados e
analisados atributos como cor da pele [a mais branca melhor], tipo de cabelo,
altura, peso, e outros. Era elemento indispensável a beleza corporal e a
educação do corpo. Com efeito, na década de 1910, com a constatação de que a
higiene rudimentar que o povo brasileiro [em especial o mais pobre]
manifestava, a teoria de inferioridade das raças e do racismo científico seria
questionada teoricamente pelos eugenistas, fato é que passa a ser considerado
como problema elementar ao desenvolvimento nacional a má educação e situação
social dos brasileiros.
Além disso, estavam
posicionadas em todo Brasil as missões civilizatórias, comandadas, em
principal, por médicos como o mineiro Belisário Penna [1868-1939] e o baiano
Artur Neiva[1880-1943], no qual visavam educar e mapear os “jecas” pelos
sertões brasileiros. Era claro, que a nova sociedade seria regida pelos
preceitos científicos e pela atuação da medicina. Consoante com esse enfoque, a
higiene [ou a falta dela], emerge enquanto problemática para pensar o Brasil,
de tal modo que as instruções eugênicas e de práticas de higiene passam a
circular pelos espaços da sociedade. O médico Belisário Penna [1997] expõe
assim que:
“[...] fazer ressaltar
a importância capital da educação higiênica e eugênica popular, começada desde
a escola primária, a fim de, por esse ensino fundamental, formarmos a
"consciência sanitária nacional", isto é, um estado de espírito
coletivo consciente, convencido e firme, sobre a importância dos problemas
higiênicos e eugênicos na vida do indivíduo e da sociedade” [PENNA, 1997, p.
29]. Ao trazer à baila a problemática higiênica configurando-se como medicina
preventiva, que era direcionada, como fator essencial, é factível supor que o
processo de hábitos sadios deveria começar ainda na infância, como forma de
combater os costumes e práticas disgênicas. É nesse sentido que o professor de
Higiene da Faculdade de Medicina do Paraná Milton Munhoz vai considerar que:
“A formação de hábitos
bons, hábitos sadios, na criança de tenra idade é o ponto de partida da
educação [...] o empirismo nos aconselha que não há mister esperar que a razão
desperte para se iniciar a educação [...] A educação higiênica cifra-se na
aquisição de hábitos que lentamente incorporados ao automatismo psicológico
formarão mais tarde a consciência sanitária. Quanto mais cedo se a iniciar
tanto mais reais os resultados. A criança registra passivamente as impressões
recebidas” [Munhoz, 1933, p.14-5]. A perspectiva de Milton Munhoz, de um modo
geral, está no bojo do pensamento eugênico que vai de encontro ao que a
medicina passa a ser encarada como a grande reguladora da vida comum,
instruindo práticas de comportamento e medindo o espaço de atuação do sujeito,
tanto em instância particular quanto pública de sua vida, à começar do seu
nascimento, percorrendo a mocidade e transpassando pela vida adulta. Para tal,
no bojo dessa discussão, ao adentrar no campo escolar, a tônica se faria pelo
reforço dos corpos, pela atividade física.
Assim, a singularidade
desse diálogo incluí a disciplina escolar enquanto fator conciliador e como
medida a ser aliada juntamente aos preceitos higiênicos. Parece plausível
pontuar que, a escola era ambiente de desenvolvimento eugênico e de imprimir
ideais higiênicos desde as mais tenras idades. Em vista de criar no Brasil uma
cultura de valorização do corpo pela atividade e reforço físico, tal como os
gregos antigos imaginavam a integralidade entre corpo, moral, perfeição e divindade,
e que mais tarde nas décadas de 1930 e 1940, os nazistas na Alemanha tentaram
impor pela crença da raça ariana. Reforçando, assim, a convicção de que estava
em mente dos eugenistas uma plataforma de mudança humana de condição física e
mental, que começaria pelo trabalho do/no corpo.
Partindo para a
conclusão, mantido o panorama de análise discursivo, impera-se voltar a
refletir a questão envolvendo a presença dos discursos eugênicos na educação
como forma maior de desenvolvimento nacional. O discurso de um aprimoramento
sustentado em um saber médico-científico estruturava-se na condição de
ajustamento dos indivíduos pelas medidas de higiene e pelo reforço corporal.
Era fundamental ao sucesso do ideal eugênico que a nova sociedade fosse
aprimorada desde criança nas escolas. Em
suma, na visão dos teóricos eugenistas, a escola era em real um grande
laboratório de experimentação, “melhoria” e estudo do ser humano, o que pode
ser verificado também numa forte discussão acerca do corpo e sua estrutura sendo
modificada cotidianamente pelo efeito da ciência. Nesse sentido, vê-se um
comportamento médico-científico altamente profundo e de caráter de intenção
disciplinar dos corpos, especialmente dos mais pobres, vistos como mais
vulneráveis ao comportamento impróprio, adquirir moléstias e vícios morais,
como alcoolismo, a vadiagem, a falta de valores cristãos.
Considerações
Finais
À guisa de conclusão,
ao que se constata, evidencia-se, então, que após ser levado em consideração o
discurso eugênico nos mais diversos espaços da sociedade, intelectuais e poder
público tomaram durante a primeira metade do século XX a eugenia como um dos
mais estruturados caminhos de pensamento científico, excluindo variáveis de
ordem social, e outras situações excludentes de desigualdade intrínseca da/na
sociedade. Acima de tudo, a eugenia se mostrara uma ciência excludente, racista
no início quando seus adeptos professavam a existência de raças superiores e
inferiores, e da mesma forma, fora excludente quando destinada a “educar” para
a higiene, voltou suas ações mais concretas de medidas sanitárias para as
camadas mais pobres e frágeis da população.
Referências
Fernando Tadeu
Germinatti é mestrando em história pela Universidade Estadual do Centro-Oeste
[UNICENTRO]. Atualmente é bolsista Demanda Social da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior [CAPES].
AZEVEDO, Fernando de.
O segredo de Marathona. Conferencia sobre Athletica e Eugenia. In: ANNAES DE
EUGENIA. São Paulo: Edição da Revista do Brasil, 1919, p. 113-135.
BRASIL. Constituição
[1934]. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 16 de julho de 1934.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm acesso em
11 /04/2020.
KEHL, Renato Ferraz.
Por que sou Eugenista. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1937.
MUNHOZ, M. A saúde
pela educação. RMP, v.3, n.1, p.11-8, 1933.
PENNA, Belisário. Por
que se impõe a primazia da educação higiênica escolar. In: COSTA, Maria José
Ferreira franco; SHENA, Denílson Roberto; SHIMIDT, Maria Auxiliadora. I
Conferência nacional de educação [1927]. Brasília: MEC: IPARDES, 1997. p.
29-33.
ROCHA, S. A educação
como ideal eugênico: o movimento eugenista e o discurso educacional no boletim
de eugenia 1929-1933. Cadernos de pesquisa: pensamento educacional, Curitiba,
v.6, n.13, p.162-177, 2011.Disponível em:
http://www.utp.br/Cadernos_de_Pesquisa/pdfs/cad_pesq13/11%20_a_educacao_cp13.
Acesso em 7/04/2020.
SCHWARCZ, L. M. O
espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil
[1870-1930]. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SOUZA, Vanderlei S.
de. A política biológica como projeto: A “eugenia negativa” e a construção da
nacionalidade na trajetória de Renato Kehl [1917-1932]. Dissertação [Mestrado
em História], Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz, Rio de Janeiro, 2006.
_____. Renato Kehl e a
eugenia no Brasil: ciência, raça e nação no período entreguerras. Guarapuava:
Editora Unicentro, 2019.
Parabéns pela pesquisa, Fernando Tadeu, contribuiu muito com ideias para desenvolver futuras atividades. Destacaria dois pontos interessantes para pensarmos estratégias de exclusão, o uso perverso da mídia e a tentativa de padronização por meio da escola. No texto em questão, eles aparecem como espaços utilizados para a propagação de discursos, no caso, o da eugenia. Como foi bem apontado em sua escrita, tanto no Brasil, no início do século XX, quanto na Europa, durante o nazismo, a mídia e as escolas foram utilizadas como veículos de transmissão de ideologias. Ao entendemos que se tratou de um projeto político inspirado no discurso de civilidade e também de racialidade, em que valores eurocêntricos eram exaltados em detrimento de outras etnias, percebemos quais relações de poder estavam em jogo na tentativa de implementação dessa teoria. Como você analisa o conceito de educação eugênica no cenário de pandemia em que estamos vivendo atualmente? Você consegue visualizar ou relacionar posicionamentos e/ou atitudes de representantes políticos, intelectuais, profissionais da saúde, entre outros, que se aproximam dos discursos e/ou narrativas da educação eugênica do século XX?
ResponderExcluirLeidiane Lopes de Souza
Boa tarde, Leidiane Lopes.
ExcluirPrimeiramente agradeço pela leitura atenta do texto, é sempre frutífero contar com um olhar externo. Devo deixar claro que foi bem construtiva sua participação, eu inclusive vou trabalhar para pesquisar em artigos futuros tanto a ligação ou participação da escola como da mídia enquanto algo organizado nesse processo. A respeito do pensamento educacional eugênico atual, ele existe enquanto caráter subjetivo, ou seja, não tanto escancarado como foi até o fim da primeira metade do século XX, mas ainda sobrevive, prova disso é que podemos citar a atividade física também voltada ao culto ao "bom corpo" e da virilidade. E mais, nesse contexto de pandemia, esses dias em rede nacional, Arnaldo Lichtenstein, médico diretor técnico de clínicas do Hospital das Clínicas, disse que o presidente Jair Bolsonaro apresenta uma lógica eugenista, ao falar por exemplo de abrir o comércio e deixar explícito que até 70% da população vai pegar o vírus de qualquer jeito, pregando, indiretamente, a morte dos vulneráveis em detrimento de uma geração saudável, jovem e forte.
Agradeço pela leitura, espero ter respondido bem a questão,
Fernando Tadeu Germinatti
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ExcluirBoa noite, Fernando Tadeu.
ExcluirObrigada pela resposta. Eu vi uma reportagem a respeito do posicionamento do Arnaldo Lichtenstein e achei o seu texto muito bom para refletirmos sobre o assunto. É interessante pensarmos o quanto essa subjetividade torna-se complexa em cenários polarizados, em que posicionamentos exacerbados acabam reverberando ideias, discursos de períodos que achávamos já ter superado. Em relação à mídia e a escola como espaços e/ou instrumentos de disseminação de ideologias, associei aos usos desses espaços por líderes fascistas de outrora e a tentativa de representantes atuais fazerem a mesma coisa, é claro que de forma menos intensa e menos direta. O documentário "Por que odiamos" me ajudou a pensar o papel da mídia em contextos polarizados.É muito bom, se ainda não assistiu, deixo como sugestão.
Agradeço pela resposta!
Leidiane Lopes de Souza
Bom dia, Leidiane.
ExcluirConcordo totalmente, e agradeço a sugestão, outra perspectiva para pensar o eugenia ou o pensamento eugênico, é que ele aflora em momentos de crise, sejam elas sociais, econômicas ou sanitárias, como a atual. Renasce com novas formas, discursos e características particulares à sua época.
Fernando Tadeu Germinatti.
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