EM TEMPOS DE CRÍTICA: DOCÊNCIA, CIÊNCIA E FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO
O atual momento
histórico do Brasil é desafiador para a atuação docente. Há certo tempo existem
movimentos que perseguem e tentam censurar os professores em nome do combate a
uma suposta doutrinação nas escolas. Através de ameaças e constrangimentos, procuram
limitar a pluralidade de visões nos ambientes escolares, colocando na prática a
liberdade de ensino e pensamentos sob constantes cerceamentos. Se forem
bem-sucedidos, o conhecimento dos estudantes se restringirá àquilo que os pais
lhes transmitem ou ao que aceitam e consideram como verdade.
Nosso zeitgeist está
imerso num caldo ideológico fortemente marcado por movimentos inspirados em um
conjunto pouco definido de ideias e valores que podemos caracterizar como
religiosos, especialmente de matriz cristã. Isso é válido, ao menos, pelos
discursos enunciados pelos agentes do poder. Propomos aqui analisar as relações
entre ciência e religião no contexto atual, em que se destacam a emergência da
pós-verdade, com a consequente disputa de narrativas, e o aparecimento de
respostas autoritárias e fundamentalistas. Isso é importante porque, no Brasil,
o governo federal é influenciado – ou mesmo guiado – pelo autoritarismo e pelo
fundamentalismo cristão.
O principal desses
movimentos, em confronto direto no campo educacional, é o Escola sem partido
(ESP), fundado e coordenado por Miguel Nagib. Em seu site o movimento afirma
que:
“foi criado para dar
visibilidade a um problema gravíssimo que atinge a imensa maioria das escolas e
universidades brasileiras: a instrumentalização do ensino para fins políticos,
ideológicos e partidários. E o modo de fazê-lo é divulgar o testemunho das
vítimas, ou seja, dos próprios alunos.” (“Objetivo”, ESCOLA SEM PARTIDO, 2020).
O ESP assegura que a
“doutrinação político-ideológica (...) sistemática e organizada” que ocorre no
Brasil é sempre promovida pela “esquerda”. A organização reconhece a existência
de professores doutrinadores de direita, mas assegura que “são
franco-atiradores, trabalham por conta própria.” (“FAQ”, ESCOLA SEM PARTIDO, 2020).
Fora a menção ao PT
(Partido dos Trabalhadores), não há nenhum esforço de identificação ou
definição do que seriam essas “esquerda” e “direita”. Isso é bastante
conveniente para o movimento: sem uma conceituação clara, o ESP fica livre para
atribuir os rótulos “esquerda” ou “direita” conforme lhe for oportuno. É um
exercício de arbitrariedade, que remete ao totalitarismo (GUILHERME; PICOLI,
2018).
Parece-nos bastante
claro que as acusações de doutrinação dos alunos costumavam incidir sobre os
professores das Humanidades, especialmente os de História. No entanto, mais
recentemente o cenário de cerceamento se expandiu. Emergiram movimentos de
contestação de consensos científicos que se caracterizam por forte teor
conspiracionista.
Podemos falar do
terraplanismo, que vem ganhando destaque, mas preferimos sublinhar o
“Criacionismo da terra jovem”. Esses criacionistas negam que a terra tenha
milhões de anos, rejeitam a evolução como mecanismo de desenvolvimento da vida
e o big bang como explicação para o surgimento do universo (HAM et al., 2019).
Aqui chegamos às disciplinas escolares de Biologia, Física, Geografia e
Química, antes menos suscetíveis a ataques, mas que agora se tornam alvo.
O fundamentalismo
cristão ganha destaque nesse cenário. Originários dos Estados Unidos e muitas
vezes vinculados à extrema-direita (Alt-right), os fundamentalistas se apegam a
uma interpretação literal da Bíblia e insistem que sua leitura é a única
correta. Defendem que suas posições merecem ser ensinadas nas escolas ao lado
daquelas consideradas consensos científicos (HAM et al., 2019). Dessa forma,
questionam a primazia da ciência no currículo escolar. De maneira ampla se
institui a fórmula proposta por Harari: no mundo presente “Deus serve a nação”
(HARARI, 2018, p. 164).
Movimentos
conspiracionistas encontraram na internet um terreno fértil, especialmente nas
redes sociais e no Youtube. Ali é possível difundir facilmente notícias falsas
com estética alarmista, bem como encontrar outras pessoas que compartilham das
mesmas ideias. Ao que parece, os algoritmos favorecem a propagação de
comportamentos “como o racismo, a misoginia e a homofobia” e “robustecem a
discriminação e a intolerância”, ainda que essa questão permaneça controversa
(TUNES, 2020, p. 63).
Tudo isso coloca os
professores diante de um cenário complexo: por um lado, devem ensinar os
consensos científicos, mostrando também a possibilidade de dissenso e ruptura;
por outro lado, precisam dialogar respeitosamente com seus alunos, aceitando
que possuem crenças e conhecimentos prévios, bem como reconhecendo-os como
sujeitos produtores de conhecimento. Assim, impõe-se uma reflexão tanto ética e
profissional quanto epistemológica. Que tipo de resposta o saber histórico e o
ensino de história podem dar a esses desafios? É para esse debate que
pretendemos contribuir.
Espaço
público, fundamentalismo e demagogia
Há inúmeras definições
para o conhecimento histórico. Sem aprofundar essa longa discussão,
compactuamos aqui com a definição de Paul Veyne (1998) para a história:
narrativa de fatos verídicos. A afirmação impõe outro debate conexo, com imensa
repercussão no mundo Ocidental: a questão da verdade. Basta, por ora, deixar
claro que não aderimos à ideia de que “tudo é discurso”, na linha de Hayden
White, bem como recusamos o ultrarrelativismo que nega a existência de qualquer
tipo de verdade. No entanto, reconhecemos que o saber histórico também se
define por alguma visão de mundo, ou seja, por um determinado olhar sobre a
realidade na perspectiva do tempo e do seu devir.
Nosso tempo vive uma
corrosão dos espaços públicos e sua conversão em esferas híbridas marcadas por
instâncias típicas da vida privada, freando o avanço irregular dos valores
democráticos e republicanos. A tecnologia contribui e acelera essa dissolução.
Portanto, estamos num processo em andamento, com vínculos mais ou menos
explícitos com os movimentos totalitários do século XX, que coloca em xeque a
própria política e, dessa maneira, a nossa organização e coexistência coletiva.
Dentre tantos pensadores que se debruçaram sobre esse amplo problema,
intensificado nas democracias ocidentais neste novo milênio, destacamos a
filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975). Ela se debruçou sobre a definição de
esfera pública, o que é um tema muito relevante para nossa discussão.
Em A condição humana,
de 1958, Arendt retorna ao mundo clássico para definir os espaços público e
privado, bem como para compreender os efeitos que a modernidade produziu neles.
De modo mais preciso, fala da modernidade produzida a partir das Grandes
Navegações e a chegada dos europeus às Américas, que desemboca nas Revoluções
Industrial, Francesa e Americana. No interior das tensões entre esferas pública
e privada, está a relação entre os indivíduos e a sociedade a qual pertencem.
Segundo Marc Augé (2012, p. 110-111):
“A ideia de indivíduo
continua subversiva porque significa que o mundo nasce comigo e morre comigo.
Todas as culturas foram construídas contra esse solipsismo, e é o que as
fortalece, pois a alteridade está no cerne da identidade; a identidade
individual só pode ser definida, pensada e vivida em relação a outro. Mas,
reciprocamente, o sentido social se perde se o indivíduo se dissolve no
conformismo, na semelhança, no alinhamento. A individualidade se realiza na
solidariedade, mas sabemos também que essa realização, em suas formas mais
elevadas (o amor, a amizade), não precisa do quadro institucional. A forma
social ótima (que reconciliava sentido e liberdade) seria aquela em que todos
os indivíduos pudessem se realizar livremente sem se isolar”.
Por fim, Augé (2012,
p. 111) conclui que: “a vida individual permanece a medida de todas as coisas.
Muitos religiosos, declarados ou mascarados, muitos revolucionários, muitos
conservadores concordam em negar essa evidência íntima que, em todos os
regimes, alimentou e continua a alimentar o desejo de resistência”.
Em síntese, Augé faz
eco às ideias de Arendt de reconstrução do espaço público, portanto político. O
que Augé soma é a preponderância do indivíduo no mundo atual. Esse lugar do
indivíduo se torna mais intenso com as redes sociais e a facilidade na difusão
de informações, inclusive falsas ou tendenciosas.
Do ponto de vista
religioso, o Cristianismo, especialmente os primeiros cristãos, têm um papel
fundamental na transformação do espaço público. Nas palavras de Arendt (2001,
p. 88):
“A única actividade
que Jesus ensinou, por palavras e actos, foi a bondade; e a bondade contém,
obviamente, uma certa tendência em ser vista e ouvida. A hostilidade cristã em
relação à esfera pública, pode também ser entendida como consequência evidente
da devoção às boas obras, independentemente de qualquer crença ou expectativa.
Pois é claro que, no instante em que uma boa obra se torna pública e conhecida,
perde o seu caráter específico de bondade, de não ter sido feita por outro
motivo que não o do amor à bondade”.
A rejeição à esfera
pública mencionada por Arendt está relacionada à ética da humildade presente no
Sermão da Montanha (Mateus 5-7). As boas obras não devem ser feitas para serem
vistas já que seu objetivo não é auferir vantagens individuais. Não é um culto
ao individualismo, mas um valor necessário para a vida comunitária conforme a
moral cristã.
O individualismo
contemporâneo encontra suas raízes no Renascimento e na ética burguesa (HELLER,
1982). Diversas filosofias políticas, como o Liberalismo e o Utilitarismo
permitiram o desenvolvimento desse ambiente tóxico que hoje perpassa o tecido
social e se amplifica nas instituições. Percebemos isso com maior intensidade
nos ambientes preferenciais escolhidos para serem atacados pelos grupos
fundamentalistas, como é o caso das escolas e universidades. Porém, de modo
mais amplo, é o próprio conhecimento racional e científico que está sob ataque.
O conflito não teria
surgido agora, conforme expôs Marinoff (2008, p. 235):
“Historicamente
falando, o crescimento e a soberania da civilização ocidental desenvolveram-se
através de conflitos amargos, mas, em última análise, frutíferos, entre dogmas
religiosos do filamento judaico-cristão e investigações científicas do filamento
aristotélico de seu DNA cultural”.
Muitos, como Richard
Dawkins, defendem que o conflito entre ciência e religião é historicamente
perene. Peter Harrison (2014, p. 17–18), por outro lado, sustenta uma posição
diferente:
“Entretanto, quando
visto de perto, o registro da história simplesmente não sustenta esse modelo de
estado bélico eterno. Para começar, o estudo das relações históricas entre a
ciência e a religião não revela nenhum padrão simples. Porquanto exista uma
tendência geral, ela diz respeito, na verdade, ao fato de que a religião
facilitou o esforço científico de várias maneiras. Destarte, as ideias
religiosas informam e sustentam a investigação científica, que se dedicou à
ciência, na maioria das vezes o fez motivado por impulsos religiosos. As
instituições religiosas frequentemente foram as principais fontes de apoio para
os empreendimentos científicos e, em sua infância, a ciência se estabeleceu
apelando a valores religiosos. Isso não quer dizer que não houve conflitos, mas
sim que esses momentos de conflito devem ser entendidos a partir de um contexto
maior.”
Há outro aspecto em
que o antagonismo entre ciência e religião se intensifica e prejudica os pontos
de contato e as possibilidades de diálogo e convergência entre ambas as visões
de mundo. Nos discursos autoritários da extrema direita, associada aos
fundamentalistas, há um descolamento entre os valores religiosos primordiais,
como o princípio da fraternidade, e suas ações e discursos políticos. Em Como
as democracias morrem (2018) Steven Levitsky e Daniel Ziblatt analisam as
crises nas democracias ocidentais a partir da subversão feita por líderes
demagógicos. Os múltiplos processos de corrosão das democracias são realizados
por dentro, a partir de suas próprias instituições e regras.
A figura do líder
demagógico é um elemento central nesse processo. E, muitas vezes, verifica-se a
tentativa de corromper a laicidade do estado, não só pela invocação de motivos
religiosos, mas pelo privilégio dado a determinados grupos que apoiam o projeto
de poder vigente. É claro que o contexto principal de Levitsky e Ziblatt é a do
governo Trump nos Estados Unidos, mas eles também analisam outros contextos
nacionais, como Peru, Venezuela, Chile e o próprio Brasil. Nas palavras dos
autores:
“Embora analistas
muitas vezes assegurem que os demagogos são ‘só falastrões’ e que suas palavras
não devem ser levadas demasiado a sério, um rápido exame dos líderes
demagógicos mundo afora sugere que muitos deles de fato cruzam a fronteira
entre palavras e ação. é por isso a ascensão inicial de um demagogo ao poder
tende a polarizar a sociedade, criando uma atmosfera de pânico, hostilidade e
desconfiança mútua. As palavras ameaçadoras do novo líder têm um efeito
bumerangue. Se a mídia se sente ameaçada, pode abandonar o comedimento e
padrões profissionais, num esforço desesperado para enfraquecer o governo. e a
oposição pode concluir que, pelo bem do país, o governo tem que ser afastado
através de medidas extremas – impeachment, manifestações de massa, até mesmo golpe”
(LEVITSKY; ZIBLATT, 2018, p. 79).
Parece-nos que esse
trecho se aplica perfeitamente ao Brasil atual. Verificamos em nosso país os
seguintes processos: crescimento do individualismo, inclusive nas práticas
religiosas, com a consequente erosão dos espaços públicos; a existência de um
líder demagógico que nega elementos centrais da moral cristã ao mesmo tempo em
que se vincula a um grupo cristão específico, os neopentecostais; a associação
do poder com grupos conspiracionistas e negacionistas, que se soma às
perseguições aos cientistas e professores já consolidadas anteriormente. Tudo
isso está no ar, bem como a atmosfera de golpe.
O que podemos fazer,
então? Como reverter esse quadro e garantir a autoridade da ciência, valorizar
o conhecimento acadêmico e os saberes produzidos e difundidos nas escolas e
universidades? Temos apenas apontamentos.
É
possível dialogar em sala de aula?
A atuação em sala de
aula muitas vezes requer o uso de simplificações e modelos explicativos,
sobretudo quando estamos construindo panoramas introdutórios. Na maior parte
das vezes nosso público não é de especialistas, nem mesmo de aspirantes a tal
condição. Isso não significa que sejamos pouco rigorosos, mas que reconhecemos
a importância de um conhecimento geral sólido acessível a todos os estudantes.
Assim, o diálogo entre
ciência e religião feito em sala de aula pode se beneficiar de modelos
elaborados por especialistas na área. Um breve texto de Denis R. Alexander
(2017) intitulado “Modelos para relacionar ciência e religião” é bastante
esclarecedor e útil, pois enumera quatro formas de entender a questão: 1)
Conflito; 2) Magistérios não-interferentes; 3) Fusão; 4) Complementaridade.
Nós já deixamos claro
que não adotamos o modelo do conflito, pois aceitamos o diálogo entre ciência e
religião. Alexander (2017) defende o modelo da complementaridade que:
“não dá conta de todas
as interações entre a ciência e a religião, mas é válido para muitas delas,
reconhecendo que a realidade é multifacetada. Aqueles que pensam que o
conhecimento fornecido por sua própria especialidade é o único conhecimento que
importa deveriam abrir suas mentes e ser menos paroquiais.”
A mera apresentação
desta tipologia pode produzir bons frutos, já que não é dicotômica e permite
nuances. Os estudantes, religiosos ou não, podem encontrar nelas o incentivo
para avançar no conhecimento científico sem negar as cosmovisões que professam.
Ademais, podem aprender a respeitar visões diferentes das suas, o que é
essencial para o diálogo.
Quando tratamos das
origens dos seres humanos e dos processos evolucionários, é comum surgirem
resistências de alunos religiosos, especialmente aqueles defensores do
Criacionismo, geralmente entendido como a interpretação literal do texto de
Gênesis 1. O modelo da complementaridade permite apresentar aos estudantes, por
exemplo, o Criacionismo evolucionário – uma forma de ler o texto bíblico em
harmonia com a teoria da evolução (HAM et al., 2019).
Assim, os religiosos
mais relutantes são apresentados a visões diferentes das suas, mas que
respeitam a sua fé. Descobrem a existência de cientistas de alto nível que
também são religiosos. Podem, com isso, rever a forma como praticam a sua
religião e, simultaneamente, aprofundar seus conhecimentos científicos. Parece
uma opção salutar em tempos em que o fundamentalismo religioso se mostra
poderoso e contrário a consensos científicos. É também uma forma de conduzir
nossos esforços na superação e um falso antagonismo insolúvel: fé e ciência
pertencem à mesma realidade concreta.
Referências
Aruanã Antonio dos
Passos é doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e
professor do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR), Câmpus Pato Branco.
Geraldo Witeze Júnior
é História pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e professor do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), Câmpus Anápolis.
ALEXANDER, D. R.
Modelos para Relacionar Ciência e Religião. Disponível em:
<https://www.cristaosnaciencia.org.br/parturient-egestas-vehicula/> .
Acesso em: 17 mar. 2020.
ARENDT, H. A condição
humana. Lisboa: Relógio d’Água, 2001.
AUGÉ, M. Para onde vai
o futuro? Campinas, SP: Papirus, 2012.
ESCOLA SEM PARTIDO.
Escola sem partido. Disponível em: <http://escolasempartido.org/>. Acesso
em: 7 mar. 2020.
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PICOLI, B. A. Escola sem Partido – elementos totalitários em uma democracia
moderna: uma reflexão a partir de Arendt. Revista Brasileira de Educação, v.
23, p. 1–23, 2018.
HAM, K. et al. A
origem: quatro visões cristãs sobre criação, evolução e design inteligente. Rio
de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.
HARARI, Y. N. 21
lições para o século 21. São Paulo: Companhia Das Letras, 2018.
HARRISON, P. Introdução. In: HARRISON, P. (Ed.). Ciência e religião. São Paulo:
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HELLER, A. O homem do
Renascimento. Lisboa: Presença, 1982.
LEVITSKY, S.; ZIBLATT,
D. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
MARINOFF, L. O caminho
do meio. Rio de Janeiro: Record, 2008.
TUNES, S. Algoritmos
parciais. Revista Pesquisa Fapesp, n. 287, p. 62–67, jan. 2020.
VEYNE, P. Como se
escreve a história e Foucault revoluciona a história. 4. ed. Brasília: Editora
da UnB, 1998.
Caros colegas
ResponderExcluirPrimeiramente parabenizo pelo texto aqui apresentado e confesso que meu texto aqui apresentado vem na minha linha de pensamento com relação as religiosidades e que em certo momento abordo essa questão do fundamentalismo religioso Eu tenho feito pesquisas sobre Jesus Histórico e percebo o quão se tem criado fundamentos baseados na ignorância religiosa e que com relação a História e ao próprio contexto politico vemos mesmo a ideia de um radicalismo religioso e de uma construção de um estado fundamentalista. Nessa discussão gostaria de questiona -los se diante desse contexto em que vivemos num estado quase proto fascista em que se usa a religião e o próprio cristianismo para atacar e criar preconceitos com as minorias. como nos professores poderemos atuar nessa luta contra esse estado que tenta silenciar a história e também a ciência? Qual será as alternativas para se ensinar em sala de aula e abordar o ensino religioso para os alunos, um ensino de consciência histórica que visa o respeito e a cidadania com relação as diferenças religiosas ?
OBRIGADO
ELOIS ALEXANDRE DE PAULA
Elois Alexandre de Paula, obrigado pela questão e pela leitura de nosso trabalho!
ExcluirDe fato, podemos tentar responder sua questão de duas maneiras: uma idealista e outra pragmática. Comecemos pela segunda. Como professores entendemos que a prática do docente no processo de ensino-aprendizagem é o leitmotiv de uma possível ressignificação de tudo que acreditamos ser uma boa educação, libertadora, plural e humanista. Isso não significa transformar o professor hum super herói, como muito filmes sobre docência fazem. Trata-se, apenas, de uma postura mais otimista e digna da função do professor na vida de seus alunos e na sociedade como um todo. O professor deve dialogar com os estudantes, deve estar disposto a aprender com eles e isso inclui compreender suas crenças religiosas. O diálogo é sempre de mão dupla, caso contrário deixa de existir. Compreender não é o mesmo que concordar ou aderir, ainda que isso seja possível. Assim, um professor bem informado ou interessado sobre as visões dos alunos poderá iniciar um diálogo respeitoso e frutífero, cujos resultados serão o aprendizado de saberes científicos, mas também de experiências de vida e visões de mundo. De um ponto de vista que podemos considerar idealista, podemos pensar e projetar a construção de sentidos e significados - como você vem fazendo com sua pesquisa sobre Jesus histórico - que podem ser iluminados no presente pela análise do passado. Assim, a formação de uma consciência histórica fundamentada na dignidade humana, uma vez mais, seria o meio de aos poucos modificar as epistemologias consolidadas e alterá-las à luz dos desafios do presente. Sobre o aprendizado de ciências, o respeito às crenças dos estudantes e a disposição para conhecê-las pode ser um elemento importante. Como dissemos no fim do texto, a apresentação de modelos de diálogo entre esferas diferentes (fé, ciência, saber histórico) permite uma abertura à compreensão de visões de mundo diferentes e a possibilidade de ressignificação das crenças e valores - e isso inclui estudantes e professores. Por fim, gostaríamos de deixar uma última mensagem: pensar os saberes (discursos sobre o mundo) humanos exige antes a capacidade de aceitar a condição humana em sua completude, algo tão fora de catálogo hoje
Bom dia, amigos.
ResponderExcluirGostaria de dar os parabéns pela pesquisa, esclarecedora e atual. Dito isto, uma questão veio em minha mente, quando tocou no ponto do "radicalismo religioso" e no contexto político que vivemos, suscitou -me uma indagação que gostaria de passar a vocês. O quanto o momento político passando pelo "Bolsonarismo", influencia, "prejudica" ou motiva o tema da pesquisa de vocês ?,
Grato.
Fernando Tadeu Germinatti.
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ExcluirCaro Fernando, obrigado pela leitura e pela questão.
ExcluirO momento político é determinante no desenvolvimento dessas reflexões. Nossas pesquisas anteriores não se concentravam na religião, até podemos dizer que esse assunto era evitado. No entanto, a eleição de 2018 mudou tudo, especialmente pela adesão massiva dos evangélicos à candidatura de Bolsonaro. Cremos que não é exagero dizer que o apoio dos evangélicos foi fundamental para a eleição, estimando que 70% deles tenham votado em Bolsonaro. Mais surpreendente que o voto, porém, foi a adesão a valores e práticas contrários às bandeiras evangélicas históricas, tais como a defesa do armamentismo, a anulação da separação entre igreja e estado, o ataque aos direitos humanos, enfim, a falta de compaixão. É surpreendente ver um grande contingente populacional que professa uma religião cujo principal mandamento é amar a Deus e ao próximo passe a advogar ideias e práticas tão contrárias, como a defesa da ditadura e da tortura. Entender como isso aconteceu é uma pergunta-chave para nós, especialmente porque as principais teses explicativas - sem demérito algum a qualquer desses estudos - nos parecem insuficientes para explicar e compreender esse processo múltiplo e complexo. Em outras palavras, parece-nos que a tese do reacionarismo inerente as ideologias religiosas não lança luz aos dilemas do nosso presente. Tampouco, se trata de uma defesa da religião ou da ciência, em contraste, mas sim de se dimensionar as nuances, contradições, interesses e virtudes de cada posição diante de cada acontecimento (aqui num sentido histórico, não jornalístico). Pode ser que haja prejuízos, ataques? Talvez, mas a ameaça à democracia e mesmo à própria religião nos compelem a tentar, pelo menos, entender o que acontece. É uma tarefa dura, mas vamos juntos, de mãos dadas, como dizia Drummond.
Este comentário foi removido pelo autor.
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