FOUCAULT: O DESENHO DE UM PROFESSOR
Em um artigo pensado
para o ensino de História convocar Foucault pode suscitar a seguinte questão:
Por que este pensador? Alguns diriam que ele não era exatamente um historiador
(no sentindo da especialização das áreas que deixa cada qual no seu nicho).
Questão que responderíamos com François Hartog: “Vamos pressupor que, para nos
questionarmos sobre a história – não só a dos historiadores, nem unicamente a
dos últimos cinquenta anos –, um bom método poderia ser não apenas reservar
espaço para as questões, as objeções e as críticas enunciadas por autores
externos à disciplina ou ao domínio, mas assumi-las como ponto de partida. Em
poucas palavras, os outsiders são, às vezes, mais importantes que os insiders; de
qualquer modo, há outsiders que exerceram maior influência que várias gerações
de insiders, mesmo que reconheçamos o mérito desses últimos” [Hartog, 2013,
p.187]. Ademais, como disse uma vez Fernand Braudel: “Há mil maneiras de
penetrar em uma obra, mesmo quando se é o seu autor. Pode-se entrar pela
janela, por uma porta discreta, [...] pela porta principal” [Braudel, 1989].
Portanto, entremos naquela que nos apresenta o desenho de Foucault como
professor.
Na nossa concepção, o
trabalho de Foucault se dá no meio, entre a história e a filosofia.
Consideramos que
procurar nele respostas e, na verdade, encontrar novos e diferentes problemas
passa pela relação com a História como área, como ensino e como experiência. É
atravessada pela singela questão: o que somos nós hoje quando almejamos
pesquisar, escrever e ensinar uma história? É a partir dessa reflexão – do que
esconde essa questão como problema – que se insere, para nós, estar na
companhia de Foucault. No entanto, formulada nessa clareza imediata essa pergunta
esconde um laborioso processo. Ela pode ser e é: uma simples pergunta que nós
fazemos desde o momento que decidimos fazer o curso de História; é também uma
pergunta fundamental que muitos historiadores têm em mente ao fazer o seu
trabalho; é, ainda, uma pergunta que mesmo ficando à margem inquieta em algum
nível da pesquisa e do seu resultado; e, finalmente, é uma pergunta que nos
acompanha diariamente na sala de aula, mesmo quando não formulada
explicitamente.
Então, para dialogar
com Foucault sobre o ensino, no seu caso, o filosófico-histórico, descreveremos
suscintamente sua atividade de docência. Sobre ela, temos diversas imagens de
Foucault de acordo com onde e em que período ele lecionava. Eribon relatou que
os testemunhos que entrevistou deram imagens diferentes do professor ao longo
dos anos: em Lille, nos anos de 1952-1955, em que tinha o cargo de assistente
de psicologia, a imagem era de um docente que explicava, passava em revista
autores, apresentava teorias, testes e, por vezes, desorientava seus alunos e
encaminhava as aulas por temas que iam da psicanálise, passava por Nietzsche e
ia até os trabalhos de orientação marxista [Eribon, 1990, p. 74-75]. Em
Uppsala, nos anos 1955-1958, onde tinha um cargo de leitor de francês, a imagem
era de um docente que, segundo vários alunos dos cursos regulares, muitos sem
domínio da língua francesa, praticava um longo discurso hermético, com
eloquentes e difíceis interpretações de obras literárias que afastavam vários
dos estudantes que não o entendiam e, reverso da moeda, atraia uma grande
quantidade de pessoas interessadas nos cursos públicos [Eribon, 1990, p.
89-90]. Em Clermont, nos anos 1960-1966, a imagem era de um docente
extremamente pedagógico, que obedecia ao programa estabelecido e apresentava
noções, teorias e resumos de uma maneira que fascinava os alunos [Eribon, 1990,
p. 145-146]. Quase sentimos sua presença na cadência da composição que Eribon
fez dos relatos das testemunhas:
“Caminha de um canto a
outro do estrado, fala sem parar e raramente recorre às fichas que coloca sobre
a mesa: uma olhadela, e sua voz se ergue de novo, retoma o ritmo rápido,
entrecortado, finaliza as frases como que elevando na curva melódica de uma
interrogação para retomar as inflexões seguras da resposta aos problemas
levantados. Foucault gostava de desconcertar os alunos. Durante a aula
interrompe-se de repente e pergunta: "Querem saber o que é
estruturalismo?". E como ninguém se atreve a responder espera alguns
instantes e apresenta uma longa explicação que deixa a plateia perplexa. Depois
retoma a meada que largara vinte minutos antes”. [Eribon, 1990, p. 145]
Em Túnis, entre
1966-1968, dava cursos de licenciatura em filosofia, em que discorria sobre
Nietzsche, Descartes, psicologia, mas também transmitia um curso de estética
sobre a pintura do quattrocento e Manet; sem contar as conferências públicas
sobre cultural ocidental muito frequentadas às sextas-feiras à tarde [MACEY,
1995, p. 250]. Em Vincennes, nos anos 1969 e 1970, dentro da efervescência de
maio de 68, Foucault era professor e chefe do departamento Filosofia dessa
universidade experimental. Lugar de vários confrontos com a polícia e onde o
professor tomava parte na resistência física aos agentes policiais quando da
ocupação dos prédios pelos alunos.
Finalmente, de 1971 a
1984, lecionava no Collège de France, que é tão diferente das outras
instituições universitárias francesas. Nos deteremos no período da sua docência
no Collège de France para elaborar o nosso desenho. Segundo o próprio Foucault,
nesta instituição não se tem alunos e sim ouvintes – não se sabe ao certo a
quem se dirige, pois o público é flutuante e sem vínculos –, os quais não obtêm
diploma, não precisam passar por exames e com os quais não se tem diálogo. Nela
a função e a obrigação do professor é de apresentar na aula (na época 24 horas
na forma magistral e, se quisesse, metade no máximo na forma de seminário) a
pesquisa que está fazendo, expor os materiais e formular as hipóteses, sem
nunca reiniciar no próximo ano o mesmo tema. Logo, nela a função de professor é
pareia com a de pesquisador.
Um tipo de atividade
magistral (o professor na figura de conferencista da sua pesquisa e o estudante
sem possibilidade do diálogo) que Foucault considerava absolutamente solitária,
em que sentia que não podia discutir adequadamente o que propunha. Ele deixou
isto claro numa entrevista de 1975: "Às vezes, quando a aula não foi boa,
pouca coisa bastaria, uma pergunta, para pôr tudo no devido lugar. Mas essa
pergunta nunca vem" [Foucault, 2010, p. x]. Consideramos que ele realmente
se preocupou com essa função docência. Começava uma aula de 1976 da seguinte
maneira: “uma ou duas semanas atrás, colocaram-me certo número de perguntas e
de objeções, orais e escritas. Gostaria muito de discutir com vocês, mas é
difícil neste espaço e neste clima. De qualquer forma, depois da aula, vocês
podem vir me ver em meu escritório se tiverem perguntas para fazer. Mas há uma
que eu gostaria ainda assim de responder um pouquinho [...]” [Foucault, 1999,
p. 99]. Ainda naquela entrevista, continuou a falar sobre o isolamento de um
professor no Collège de France: "E como não há canal de retorno, o curso
se teatraliza [na primeira aula do curso de 1983 Foucault falou de possíveis
encontros fora do curso como sendo off-Broadway]. Eu tenho com as pessoas que
estão aqui uma relação de ator ou acrobata. E, quando termino de falar, uma
sensação de total solidão [...]" [Foucault, 2010, p. x]. A respeito dessa
função-docente, ele traçou as seguintes considerações na primeira aula do curso
de 1976:
“[...] eu acho que a
atividade de ensino, no limite, não teria sentido se não lhe déssemos, ou se
não lhe atribuíssemos, em todo o caso, o significado que aqui vai, ou pelo
menos que sugiro: já que se é pago para fazer pesquisa, o que pode controlar a
pesquisa que se faz? De que maneira se pode manter a par aqueles que podem se
interessar por ela e aqueles que têm alguns motivos de estar ligados a essa
pesquisa que se faz? Como é que se pode fazer, senão finalmente pelo ensino,
isto é, pela declaração pública, a prestação de contas públicas, e
relativamente regular, do trabalho que se está fazendo?” [FOUCAULT, 1999, p. 3]
Apesar das reclamações
sobre seu tipo de prática docente – como conferencista – dentro do Collège de
France, disse, em outra entrevista de 1975, que aquilo que o agradava nela era
que não tinha a impressão de exercer sob o auditório uma relação de poder do
tipo: “Escutem, há uma quantidade de coisas que vocês ainda não sabem, mas que
deveriam saber” [Foucault, 2011, p. 2011]. Segundo ele, o tipo de ensino
tradicional universitário francês implicava na culpabilização do aluno, na
posição fixa do professor como sendo aquele que sabe e vai ensinar este saber e
no processo de verificação que valida o aprendizado do ensino dado. Foucault –
apesar dos pesares que lhe recaiam aquele tipo de aula-apresentação que era a
conferência – entendia que nela havia uma honestidade bruta que proclamava não
uma verdade, mas hipóteses e experimentações. Sobre o que fazia como
professor-conferencista dizia:
“[...] devo fabricar
minha conferência ou meu curso um pouco como se fabricaria um sapato, nem mais,
nem menos. Concebo um objeto, tento fabricá-lo da melhor forma que posso. Isso
me dá muito trabalho (nem sempre, sem dúvida, mas com frequência); levo esse
objeto à sala de conferências, mostro-o e, em seguida, deixo o público livre
para usá-lo como lhe convier”. [Foucault, 2003, p. 23]
Eis apontado nesta
fala um dos aspectos que percebemos ao ouvir e ler os cursos, pois alguns deles
parecem aquilo que no curso de 1976 Foucault disse, se dissociando ao mesmo
tempo que enunciava esse tipo de procedimento que tinha sido o seu, ser um
trabalho à maneira do cachalote: “Eu me sentia um pouco como um cachalote que
salta por cima da superfície da água, deixando nela um pequeno rastro
provisório de espuma, e que deixa acreditar, faz acreditar, ou quer acreditar,
ou talvez ele acredite efetivamente, que embaixo, onde não o vemos mais, onde
não é mais percebido ou controlado por ninguém, ele segue uma trajetória
profunda, coerente e refletida” [Foucault, 1999, p. 7]. Associando os dois
trechos – fabricação e mergulho – a concepção das conferências no Collège de
France aparece como sendo uma pesquisa (profunda) que prepara as aulas e das
quais elas são o resultado preparado (superfície). Entretanto, em outros cursos
é requisitado a ideia de um lagostim que procede horizontalmente, que vai de um
lugar a outro, pois a pesquisa é mais próxima da sua apresentação, o curso se
move com a pesquisa em andamento. De fato, mesmo que seja possível descriminar
cursos mais próximos de uma ou de outra dessas imagens pelas quais o próprio
pensador fez cobrir seu trabalho, é necessário dizer que em um mesmo curso
algumas aulas podem estar ligadas a uma ou outra delas, o que muito tem a ver
com o tipo de fontes, o manejo delas. Trata-se de todo o trabalho de se
familiarizar com elas e se desfamiliarizar de uma leitura que se tem delas.
Uma fabricação que não
deixava de atormentá-lo na medida em que ele apresentava um resultado: “Em todo
caso, eu, quando vou dar minhas aulas no Collège, tremo nas bases. Tremo nas
bases, completamente, como quando fazia meus exames, porque tenho a impressão
de que, no fundo, as pessoas, o público vai ali verificar meu trabalho, mostrar
se estão ou não interessados. E quando não se mostram interessados, eu fico
muito triste [...]” [Foucault, 2011, p. 327]. Uma concepção do trabalho docente
como obrigação para com os outros e diante de si mesmo que, por isso mesmo,
passava por um cuidado com a apropriação do seu trabalho. Foucault entendia o
uso de sua pesquisa como sendo inteiramente livre, no sentido de que não era
ele que devia determinar os termos dessa utilização, mas essa liberdade era
carregada de preocupação de sua parte. Ele se interessava por estes usos à
proporção que isto se relacionava com seu trabalho em andamento.
Ainda sobre esse
desenho de Foucault como professor, temos a seguinte imagem a partir da
resposta de quando lhe perguntaram sobre o que achava da acusação feita ao Lacan
de "terrorismo intelectual": "Lacan não exercia nenhum poder
institucional. Os que o escutavam queriam exatamente escutá-lo. Ele não
aterrorizava senão aqueles que tinham medo. A influência que exercemos não pode
nunca ser um poder que impomos" [Foucault, 2006, p. 2006a]. Dada a própria
posição singular de um professor no Collège de France, esta era uma colocação
que dizia respeito a si mesmo. Além disso, pode-se perceber nele um cuidado com
a recepção:
“Gostaria de dizer
antes de mais nada quanto me sensibiliza a presença fiel de vocês. Gostaria de
lhes dizer também que muitas vezes é um pouco duro dar um curso assim, sem ter
possibilidade de retornos, de discussões, sem saber tampouco se o que digo pode
encontrar eco nos que estudam, que fazem teses, mestrados, se lhes proporciona
possibilidade de reflexão, de trabalho”. [Foucault, 2010, p. 3]
Os problemas do
diagnóstico, da crítica e da preocupação andaram juntos em Foucault. Quando,
nos seus últimos cursos, estudava os textos antigos, ele deu grande valor a uma
das tarefas importantes do cuidado de si, o de desaprender (de-discere). Essa
desaprendizagem era usual no método de Foucault e se apresentava como sua forma
de fazer mover o solo sobre o qual andava e, ao mesmo tempo, estar atento ao
outro. Mobilidade explicitada, por exemplo, quando o professor começava as
aulas não pelo assunto da sua explanação – era algo habitual para Foucault
andar pelos descaminhos do saber – e o que era para ser o mote da aula desviava
para outros caminhos: "E depois, claro, contava e conto concluir. Mas,
vocês me conhecem, eu corria o risco de me arrastar indefinidamente e não
concluir" [Foucault, 2010, p. 307]. Atenção demonstrada, por exemplo,
quando a aula de 3 de fevereiro de 1982 foi iniciada pela questão que algum
ouvinte colocou e a qual Foucault respondeu detidamente. Antes de respondê-la,
disse: "[...] alguém me colocou uma questão. Infelizmente, as questões não
ocorrem frequentemente, talvez porque não tenhamos oportunidades de nos
encontrar" [Foucault, 2006b, p. 209]. No segundo horário da mesma aula
abriu o curso para questões e indagou: "[...] há pessoas que gostariam de
colocar questões, sejam elas puramente técnicas, sejam questões gerais acerca
do sentido da minha exposição?" [Foucault, 2006b, p. 231]. Em seguida,
podemos ouvir algumas questões, que ele respondeu.
Uma relação que era de
preocupação para com os ouvintes e passava por toda essa mecânica da exploração
– na acepção de busca –, da solidão e da recepção que eram elementos que
compunham o cenário dos cursos do Collège de France. Acreditamos que essa
mecânica não deixava de ter relação com o devir artista de Foucault: na maneira
que fazia experimentação teórica e histórica e na maneira que sua fala lançava
luz sobre a atualidade. Esse devir artista deve ser visto também no fato de
que, apesar de reclamar das exíguas trocas com quem o assistia, ele mesmo se
colocava à distância do público, como um ator em um palco. Por isso avento a
possibilidade de respirar uma imagem do meio artístico, da cantora-intérprete
Elis Regina, na distância dela de um meio acadêmico, para descrever sua prática
docente:
“[...] a minha
mecânica é ir para o Canecão, fazer a maquilagem, pentear o cabelo, eu tenho
que não-sei-quê, mas na hora que a gente começa a cantar, nunca faz igual todos
os dias...tem o que aconteceu com você naquele dia, tem a rapaziada em volta,
tem os circundantes, tem os circunstantes, tem tudo o que faz com que a coisa
em si se diversifique sempre, senão, realmente ninguém aguentaria. Tem o dia
que você faz melhor, tem a vez que você faz pior, tem a vez que você faz
maravilhosamente, tem a vez que você quer se matar de ódio por que fez uma
porcaria...quem está na plateia pensa que é a mesma coisa, mas no fundo, não é
...”. [Arashiro, 1995]
A mecânica de Foucault
era ir, por anos a fio, ao Collège de France todas as quartas, primeiro pelas
manhãs, depois no final da tarde, ter em mãos o manuscrito que lhe permitia ter
a base para suas análises, entrar na sala e afastar os gravadores e,
finalmente, começar a pronunciar o seu discurso, que encontrava certos eixos
recorrentes, mas que nunca era o mesmo. Fazer do denso, do detalhe erudito,
versos e reversos apaixonantes, eis o talento de Foucault. Usando uma linguagem
deleuziana: do lado de Elis (percepto-afecto) e do lado de Foucault
(conceito-afecto). De fato, o próprio Foucault escreveu sobre esse pensar do
artista sobre sua própria obra (um pensar bem peculiar, pois era armadilha no
escritor em questão) e, mais importante, pensado dentro da própria obra quando
dedicou um livro em 1963 a Raymond Roussel. Ainda sobre Roussel falou em uma
entrevista em 1983: “[...] sua obra principal é, finalmente, ele próprio
escrevendo seus livros” [Foucault, 2001, p. 408]. É possível que aqui esteja um
dos pontos de apoio do nosso interesse de trazer o Foucault-professor, ou seja,
o de correlacionar o trabalho com os posicionamentos que se assume em sala de
aula e pensar uma estilística de vida que deles surge insinuada, um modo de
vida que põe a prova o que se sabe ou que acha que se sabe constantemente.
Como se vê, este
traço-professor compõe a forma que uma vida toma, no caso a de Foucault, um
traço que abre a possibilidade de repensar a aprendizagem e o ensino. O
intelectual transdisciplinar que Foucault era – cruzando livremente vários
campos, exercitando um pensamento transversal, desestabilizando o chão para que
outro pensamento pudesse vir à tona, como, por exemplo, desnaturalizando o
sujeito ao mostrar como ele foi produzido por diferentes tipos de saberes, relações
de poder e relações que se estabelece consigo mesmo – serve de crítica
constante as nossas naturalizações. Sua atitude de pensamento e de docência
recusava a “certeza pronta”, as “verdades inquestionáveis”, “os princípios
universais” e refletia sobre nossa relação com a verdade, deslocando-nos para
pensar de outra maneira, para desaprender, e, a partir desse movimento, se
reinventar, nos conduzir de outra forma, identificarmos nossas possibilidades
de reflexão e de ação.
Referências
Dr. Leandro Mendanha e
Silva é doutor em História pela UnB e pós-doutor em Sociologia pela
Universidade do Porto. Trabalha, entre outras, com a área de Teoria e
Metodologia da História e tem trabalhos sobre Foucault.
ARASHIRO, Osny (org.).
Elis Regina por ela mesma. São Paulo: Martin Claret, 1995.
BRAUDEL, Fernand. Uma
lição de história de Fernand Braudel. Trad. Lucy Magalhães. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1989.
ERIBON, Didier. Michel Foucault, 1926-1984. Trad. Hildegard Feist. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
HARTOG, François.
Regimes de historicidade: presentismo e experiência do tempo. Vários
tradutores. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
FOUCAULT, Michel. Em
defesa da sociedade: curso do Collège de France (1975-1976). Trad. Maria
Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
________.
Problematização do sujeito: psicologia, psiquiatria e psicanálise. Trad. Vera
Lucia Avellar Ribeiro. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006a.
(Ditos e escritos; I)
________. Estética:
literatura e pintura, música e cinema. Trad. Inês Autran Dourado Barbosa. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2001. (Ditos e escritos; III).
________. Estratégia,
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________. Arte,
epistemologia, filosofia e história da medicina. Trad. Vera Lucia Avellar
Ribeiro. Rio de Janeiro; Forense Universitária, 2011.
________. A
hermenêutica do sujeito (1981/1982). Trad. Márcio Alves de Fonseca, Salma
Tannus Muchail. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006b.
________. O governo de
si e dos outros: curso no Collège de France (1982-1983). Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2010.
MACEY, David. Las
vidas de Michel Foucault. Trad. Carmen Martínez Gimeno. Madrid: Ediciones Cátedra S. A.,
1995.
Gostei muito do seu texto. Para você em que medida e oportunidades, podemos incorporar um pouco desse "devir artista" na prática docente atual?
ResponderExcluirKenia Gusmão Meedeiros
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirAcho que o devir artista se apresenta quando o professor se propõe a desterritorializar o que se pensa que se sabe em sala de aula, ao mostrar para os alunos que as coisas são mais complexas do que parecem ser, que o que parecia tão consolidado não é tão compacto assim e apresenta fissuras. Apresenta-se também quando mostra que a atualidade traz novas luzes às analises históricas, as ressituam e ressignificam, assim não se deixando armadilhar por posições como: "Agora que desconstruí o que sabiam vou lhes dizer a verdade".
ExcluirMuito obrigada, Leandro.
ExcluirKenia Gusmão Medeiros.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEm seu texto percebemos em Foucault um questionador, inclusive de seu papel como professor e pesquisador. A preferência pela hipótese à verdade apresenta o conhecimento como algo móvel e inclusive instável. Estava aí a chave para mostrar o processo de elaboração do conhecimento aos alunos ao invés de se deixar iludir por certezas, aquelas em que sobressaem os resultados ao invés dos processos. Em seu texto, apresenta-se ainda certo incômodo de Foucault diante de uma plateia sempre calada, justamente uma política interna da instituição em que ele trabalhava. Foucault ali é uma persona, uma persona que reverbera seu pensamento em outras esferas, uma espécie de celebridade acadêmica. A aula toma aspecto de um acontecimento performático. Gostaria de saber se você, Leandro, tem informação sobre o perfil do público dessas aulas, do quanto eram buscadas, ou mesmo como era a lida de Foucault nessa fronteira entre ser professor e uma espécie de artista.
ResponderExcluirMateus de Andrade Pacheco
Pois então, Mateus. Essas aulas eram incessantemente buscadas. A platéia era variável, desde alunos de outras instituições que acompanhavam todo o curso ou uma aula quando podiam até artistas e personalidades. Além do auditório principal, auto-falantes eram colocados em outro auditório para que os demais "alunos" que não podiam vê-lo, ao menos o escutassem. Ademais, havia uma espécie de "comércio" pirata das fitas-cassetes, elas passavam de mão em mão. Quanto ao próprio Foucault, ela considerava a feitura dessas aulas com grande seriedade. É conhecida as horas e horas que despendia na Biblioteca para pesquisar, muito dessa pesquisa utilizada para prepará-las.
ExcluirLeandro Mendanha e Silva
Bem interessante poder imaginar essa ambiência tão efervescente, mas não menos intimidadora. Obrigado!
ExcluirMateus de Andrade Pacheco
Provocativo texto. Gostei muito. Obrigado, professor. Remeteu-me àquilo que Montaigne chamava de “pintura de si” ao descrever o intuito da construção dos seus "Ensaios" (inclusive, o método ensaístico aproxima bastante Montaigne e Foucault, dois gigantes da filosofia francesa e da crítica ao dogmatismo).
ResponderExcluirAs reflexões trazidas no seu texto ajudam a problematizar a complementaridade entre ensino e pesquisa na atividade docente, especialmente no ensino superior. A Universidade não é só o espaço da comunicação/partilha/ensino dos saberes historicamente constituídos pela humanidade, mas também, e especialmente, o espaço de produção/problematização/conceituação desses saberes.
1) Como efetivar melhor, na prática, esse papel da universidade como lugar de pesquisa e despertar mais efetivamente nos discentes o espírito pesquisador, sem haver prejuízo aos conteúdos básicos a serem ensinados, bem como diante de um cronograma e de um calendário curricular que parecem não querer, conscientemente, favorecer isso?
2) Para Foucault, muito além das “tecnologias do eu” e dos limites que nos são impostos pela “sociedade disciplinar”, importa o convite para o “cuidado de si”... Em que medida o método do Foucault-professor auxiliava seus estudantes para a vivência dessa experiência de subjetivação (e não sujeição) emancipadora e desnaturalizante?
Elvis Rezende Messias.
Então, Elvis. Quanto a primeira questão, considero que qualquer problematização precisa colocar claramente o que está problematizando. Então, se um professor trata o espaço de sala de sala de aula como lugar de desconstrução de certas narrativas e perspectivas, ele precisa mostrar o porquê seria mais enriquecedor partir de outro ponto de vista e, nesse jogo, acaba tendo que assumir um pouco a linguagem daquele solo que ele está problematizando. De certa forma, Foucault fazia isso. Basta lembrar que ele começa a História da Sexualidade assumindo a hipótese repressiva para, em seguida, em uma reviravolta, mostrar os problemas decorrentes de assumi-la.
ExcluirQuanto a segunda questão, Foucault deixava aos estudantes a liberdade de fazer o que quisessem com as pesquisas que ele apresentava, de utilizá-las como ferramentas úteis, no sentido de que não cabia a ele organizar essa apropriação. Além do mais, todo o seu esforço reflexivo evitava naturalizações e universalizações. Nesse sentido, podemos dizer de um ceticismo que ao colocar as nossas certezas em parênteses, ao mostrar que elas não eram tão necessárias assim, deixa aberto o espaço para novas possibilidades, novas formas de vida.
Leandro Mendanha e Silva
Obrigado, professor, pelo retorno.
ExcluirJeniffer Gore, no texto "Foucault e educação: fascinantes desafios" (Vozes, 1994), também acena para a presença do ceticismo em Foucault, que nos impulsiona a continuar na luta por identificar regimes de verdade, por questionar a verdade de nossos próprios e cultivados discursos, bem como superar a ideia de necessidades universais na existência humana, contestando asserções de verdade e asserções de inocência dos discursos educacionais. Em síntese, evitar o dogmatismo, (re) fazer-se, (re) inventar-se. Para a perspectiva geral da história e da filosofia, isso é imperativo, pois convida à consciência histórica de si e à criticidade quanto a ela.
Riqueza seu texto, amigo.
Obrigado.
Elvis Rezende Messias.
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ResponderExcluirParabéns pelo texto Leandro, além de situar a atuação docente de Foucault você situa como sua filosofia foi se construindo quase como uma arte de si ou "dele próprio escrevendo seus livros". O que possibilita uma dimensão de aprendizado sobre a filosofia pelo autor, pensando nesta questão da arte de si ou da escrita de si como você percebe a biografia como um meio de compreender tanto a história quanto a filosofia?
ResponderExcluirÁlvaro Ribeiro Regiani
Então, Álvaro. Considero que as relações entre a história e a filosofia sejam interessantes e ricas, desde que não seja de maneira simplificada, desde que não supunha que exista uma clareza imediata entre vida e obra. Entendo que as experiências sem dúvida modificam os pensamentos, mas também o pensamento ressignifica essas experiências e é uma forma de experimentar.
ExcluirLeandro Mendanha e Silva
Muito obrigado pelos esclarecimentos!
ExcluirÁlvaro Ribeiro Regiani
Prezado Leandro Medanha e Silva,
ResponderExcluirParabéns pelas reflexões deste texto!
Este texto me provocou a pensar sobre a concepção ocidental sobre o trabalho docente e o trabalho científico. Geralmente, o trabalho docente é considerado como um trabalho de cuidado que requer um trabalho emocional. Por exemplo quando neste texto Foucault fala sobre o sentimento de interesse dos alunos, representado pelas atitudes de fazerem perguntas sobre os discursos do professor. Este trabalho emocional exige ao docente interpretar as emoções dos alunos que podem comunicar pertencimento ou não àquele processo de ensino e aprendizagem e, desta forma, demandar ao docente construir estratégias para adaptar os conteúdo da aula a estas demandas.
Já a concepção ocidental de trabalho científico é representada como um trabalho impessoal e solitário, como se não envolvesse uma relação interpessoal que integra este desenvolvimento científico. Muito interessante perceber que o filósofo Foucault, nestes relatos sobre sua experiência enquanto docente, já problematiza esta concepção ocidental de trabalho docente e científico, apresentando ambos como interdependentes. Por exemplo, quando Foucault diz que o ensino é fundamental para divulgar o trabalho científico e permitir que o público possa ter interesse em desenvolver e compartilhar os conhecimentos e práticas deste trabalho.
Gostaria de saber se Foucault apresenta alguma definição específica de trabalho docente e trabalho científico e como o senhor interpreta o papel da subjetividade/emoções nesta performance do Foucault enquanto professor-pesquisador.
Muito obrigada por toda a atenção!
Bruna Navarone Santos
Sobre a docência, creio que em Foucault temos mais uma postura ética, um modo de ser professor, do que uma reflexão sobre o ensino e a aprendizagem. Quando às relações de afetos que passam entre o ensino e a aprendizagem, lembro de uma entrevista em que Foucault diz que a primeira coisa que se deveria aprender nas instituições de ensino é que o saber estava profundamente ligado ao prazer. Que havia um esforço muito maior em tornar o saber triste, cinza, pouco erótico, do que se, pelo contrário, o ensino suscitasse o prazer do saber.
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ResponderExcluirCaro, parabéns pelo texto.
ResponderExcluirO professor Roberto Machado, estudioso sobre Foucault e organizador do livro "Microfísica do Poder", costumava dizer que o filósofo francês não era sistemático no seu pensamento. Isto é, na sua filosofia se poderia encontrar algumas contradições que traduziriam, talvez, transformações na sua forma de pensamento. A questão é: em suas aulas você também identifica essa ausência de um sistema e métodos bem definidos?
Diogo Luiz Lima Augusto
Olá, Diogo. Pois então, nesse ponto não acompanho totalmente o professor Roberto Machado, apesar de considerar seu trabalho maravilhoso e talvez um dos melhores, a nível internacional, sobre Foucault. Com certeza, Foucault não tinha a sistematicidade que Deleuze lhe atribuiu, mas acho que se pode falar em certos eixos que foram se configurando (saber, poder e subjetivação) e lhe deram, ao final (e para ele mesmo), mais sistematicidade do que a imagem que o Machado quis passar. Essa, pelo menos, é minha leitura e considero que se vê isso ao lermos os últimos cursos. De qualquer forma, em relação as aulas, considero que certas práticas são recorrentes em todos os cursos, por exemplo, as inversões das questões comuns a certa tradição filosófica, pensar sempre os processos de objetivação e subjetivação, ao invés de objetos e sujeitos prontos, colocar claramente seus procedimentos durante o curso. Espero que tenha, pelo menos parcialmente, respondido sua questão.
ExcluirLeandro Mendanha e Silva
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