Ana Carolina Gregol de Barros


HISTÓRIA E LITERATURA: ENTRECRUZAMENTOS DE MEMÓRIA E IMAGINÁRIO NA OBRA ‘OLGA’, DE FERNANDO MORAIS




As primeiras décadas do século XX – década de 20, 30 e 40 – foram marcadas por acontecimentos que abalaram as estruturas do mundo. Na Europa, uma parcela da população alemã, sob a liderança de Adolf Hitler, via no nazismo a esperança da reconstrução da identidade da nação, que vinha tão debilitada após a derrota da Primeira Grande Guerra. A classe trabalhadora, por sua vez, começou a se reunir em sindicatos, para enfim tornar sua voz mais forte e lutar por direitos igualitários. Diante disso, nessas disputas pela conquista do poder, tinha-se na Europa, uma Alemanha de ditadura absoluta, que propagava a dizimação de raças inferiores, que para Hitler constituía-se de judeus, ciganos, opositores políticos, homossexuais; e a União Soviética, que se contrapunha ao capitalismo e a exploração de trabalhadores ao defender uma sociedade em que controla a produção e distribuição de bens, através de um sistema igualitário e cooperativo.

Nesse contexto sócio-político-cultural que Olga Benário Prestes fez a sua história. E essa história foi e ainda é contada por diferentes gerações que de alguma forma conheceram alguns acontecimentos de sua vida. Fernando Morais foi um deles, que publicou uma narrativa biográfica de Olga, lançada em 1985. Logo nas primeiras páginas da obra, o autor expõe que a versão contada ao leitor não é uma criação dele, mas sim daquilo que ele acredita ser a versão real dos episódios, afirmando que todas as informações contidas passaram por diferentes investigações de veracidade [MORAIS, 2008]. Entretanto, ainda que cite todas suas fontes, é difícil atestar uma total fidelidade, pois o autor utiliza-se de memórias, que nesse caso, nem por ele foram vividas.

Partindo desses apontamentos, este artigo tem por objetivo analisar as relações entre história e literatura em Olga [1985], verificando como se dá os entrecruzamentos entre memória e imaginário em alguns trechos da narrativa biográfica. Diante disso, o trabalho está estruturado em 3 partes: na primeira tem-se a apresentação dos conceitos de história e literatura; já na segunda parte os conceitos de imaginário e memória; e por fim, uma análise crítica dos quatro assuntos frente ao objeto de estudo. Vale ressaltar, que este texto faz parte de uma pesquisa mais ampla desenvolvida no grupo de pesquisa Cultura e Memória da Comunidade da Universidade Feevale, vinculado ao programa de pós-graduação em Processos e Manifestações Culturais.

História e Literatura
A história, para Jenkins [2009], é uma forma de discurso a respeito do mundo. O objeto da história é o passado, por isso, é importante não os tomar como sinônimos. Enquanto a história se apresenta como um discurso, o passado já “passou”, e só é possível acessá-lo através de pesquisa em livros, jornais, documentos, entre outros. A história está sujeita a uma construção mental, uma manifestação da perspectiva do historiador, com papel de narrador. Logo, a história está sempre suscetível a interpretações e reinterpretações, construções e desconstruções. Todavia, por mais que os constructos sociais intervenham na construção narrativa e só se possa recuperar apenas fragmentos do passado, Jenkins [2009] afirma que nós de certa maneira sabemos mais sobre o passado do que as pessoas que viveram lá, pois ao utilizar o conhecimento moderno e os recursos tecnológicos, o historiador descobre o esquecido, mas também o reconstitui. Por isso, ao longo da vida, conhecemos o passado interpretado de diferentes formas e não há uma verdade absoluta, pois, o passado passou e o que existe são apenas relatos.

Dessa forma, conforme aponta Lowenthal [2002], a história pode mudar ou exagerar fatos passados, em que o tempo, detalhes, ações são alterados para criar novos significados. E assim, criam-se estruturas narrativas para dar forma ao tempo e ao espaço. Ainda para o autor, os relatos históricos não podem parecer apenas relatos, devem trazer significados. Para se chegar nessa construção de significados, história e literatura caminham juntas. Conforme Priore [2009], a biografia, o gênero que abrange tanto a primeira quanto a segunda, vai além do relatar e descrever, ela conta algo, por meio da ficção e não-ficção, da história de vida de uma pessoa ou de várias pessoas.

Priore [2009] afirma que é impossível relatar e analisar uma situação social e econômica sem pedir auxílio da estrutura narrativa, ou seja, é necessário criar uma trama de histórias, entrelaçar e emaranhar para que assim as obras tornem-se legíveis e coerentes. Diante disso, o gênero biográfico tornou-se um instrumento útil para a história, em que seu ator principal é analisado pelas esferas sociais que está inserido e como ele é influenciado pelo meio em que vive. Todavia, ao escrever sobre o passado, o historiador utiliza-se da imaginação ficcional, pois há lacunas que devem ser entrelaçadas. Para Ricouer [1997], tanto a história quanto a ficção só tornam concretas suas intenções quando se utilizam uma a outra, tendo por base a refiguração do tempo, comum em ambas.

Para se tornarem concretas é necessário transformar o vestígio em signo, ou seja, dar significado, e o imaginário, para Ricoeur [1997], é o ponto fundamental para construção da história, pois é através dele que se concebe os conectores. Assim, esses mecanismos tornam-se signos responsáveis por traduzir e interpretar o tempo. Além disso, o autor idealiza a concepção de rastro, que busca preencher as lacunas do conhecimento, através do imaginário. Dessa forma, o entrecruzamento entre história e ficção se dá na medida que ambas utilizam do imaginário na refiguração do tempo e no preenchimento de lacunas. [RICOEUR, 1997]

Diante disso, aponta Ricoeur [1997, p.323] que “podemos ler um livro de história como um romance”, para isso o leitor entra no pacto de leitura, deixando de lado sua desconfiança, pronto para crer naquilo que lê. O historiador moderno deixa de lado a fantasia, mas “não se proíbe, então de ‘pintar’ uma situação, ‘restituir’ uma cadeia de pensamento e dar a esta a ‘vivacidade’ de um discurso interior” [RICOEUR, 1997, p. 323]. Diante disso, a história é quase fictícia por relatar acontecimentos reais, completados em sua passadidade, pela intuitividade e vivacidade, criadas pela presença narrativa.

Imaginário e Memória
Conforme exposto acima, Ricoeur [1999] aponta que o imaginário se torna uma peça fundamental na reconstrução de fatos passados. Mas o que é o imaginário? Para Maffesoli [2001], é todo o conjunto de atitudes imaginativas que resultam na produção e reprodução de símbolos, imagens mitos e arquétipos pelo ser humano como parte de um coletivo. Ainda para o autor, é uma força social, de construção mental que é perceptível, mas não tangível.

Para Maffesoli [2001], a cultura contém uma parte do imaginário, mas não se reduz a isso, da mesma forma que o imaginário não se reduz a cultura, apesar de que muito deste é cultural. Além disso, o imaginário ultrapassa o indivíduo e torna-se coletivo. O “meu” e o “teu” imaginário, para Maffesoli [2001], tornam-se do grupo em que se está inserido. Dessa forma, ele é um cimento social, um estado de espírito de uma nação, a aura da ideologia de um grupo. Ao aderir a uma ideologia, por exemplo, o indivíduo não só acredita nas ideias concretas e racionais, mas também naquilo lúdico, como o desejo de pertencer, de estar junto, além do lado afetivo.

Além do imaginário, a memória também é coletiva. A memória é um conhecimento do passado guiado pelo presente. Para Halbwachs [2013], a memória individual está sempre marcada socialmente, tudo está conectado com a sociedade que se vive e com seus marcos sociais. Esses marcos sociais carregam representações da sociedade, da moral e dos valores. Ainda para o autor, a memória é coletiva pois as lembranças do indivíduo nunca são apenas suas, e não podem existir sem estarem isoladas de um grupo social. Dessa forma, a constituição da memória individual resulta da combinação das diferentes memórias dos indivíduos que compõem o grupo social que o sujeito se insere. E ainda que somente tenha sido vivida pelo sujeito, elas são lembradas pelos outros, porque o homem pertence a grupos sociais. [HALBWACHS, 2013]

Por isso, o esquecimento, em alguns casos, ocorre devido à perda de contato com o grupo social. A partir do momento que a lembrança deixa de ser compartilhada, ela é esquecida. Podendo voltar à tona quando houver a reinserção no grupo social a que pertence. Sobre o esquecimento e o silêncio, Pollak [1989] aponta que pode ocorrer devido a circunstâncias traumatizantes, vergonha em expor, medo de relembrar, ser punido ou julgado. Todavia, o esquecimento e o silêncio, para o autor, fazem parte da memória coletiva subterrânea, que dominada por uma memória coletiva organizada e dominante, acaba silenciando-se. Dessa forma, a angústia de não se ter uma escuta, de ser punido ou de se expor a mal-entendidos transforma o discurso em não-dito.

Ricoeur [2007], afirma que analisar o esquecimento é fundamental para entender a relação entre memória e história, para o autor “esquecimentos, lembranças encobridoras, atos falhos assumem na memória coletiva, proporções gigantescas, que apenas a história, e mais precisamente, a história das memórias é capaz de trazer à luz” [RICOEUR, 2007, p. 455]. Diante disso, o autor afirma que a memória guarda o rastro material do fato acabado e também é um dever de herança. O historiador deve ser uma espécie de sacerdote da memória, medindo e corrigindo as memórias, partindo do princípio da equidade, logo, sua função não é constituir uma história objetiva, mas sim uma história alimentada pela subjetividade das memórias. E como visto anteriormente, para se construir a história é necessária uma estrutura narrativa, que preencha as lacunas existentes. Por isso, em consonância com os teóricos expostos acima, o próximo capítulo analisa a obra Olga, de Fernando Morais, e como ela se relaciona com a história, literatura, imaginário e memória.

História e Literatura: Uma Análise Crítica em Olga
Quando se inicia a leitura de Olga, logo se percebe o profundo desejo de seu autor, Fernando Morais, em tornar concreto a história oral que ouvia ainda pequeno, de seu pai, sobre a judia comunista entregue a Hitler, grávida de sete meses. Uma memória coletiva, herdada de seu pai, que teve profunda influência na construção da obra literária. Voltando a Halbwachs [2013], ainda que Fernando Morais não tenha vivido na mesma época que Olga, a memória por sempre estar ligada socialmente, sobrevive, desde que relembradas por grupos sociais.

O livro Olga, teve sua primeira publicação em 1985, período em que a ditatura militar no Brasil se desmantelava, e consequentemente, o término da censura à imprensa brasileira. Luís Carlos Prestes foi a primeira importante fonte de Morais. Companheiro de Olga, Prestes sabia com precisão informações que mais tarde guiariam Morais. Além dele, o autor teve como fonte a cunhada de Olga, Lygia Prestes; a filha, Anita Leocádia; colegas ex-militantes comunistas; arquivos e documentos, encontrados na Alemanha, Rússia, China, Argentina, Estados Unidos; dentre outros.

Segundo Jenkins [2009], nenhum pesquisador consegue relatar todos os acontecimentos passados, por que o conteúdo é ilimitado, e em algumas vezes, conforme Pollak [1989], há o esquecimento e o silêncio, que podem ocorrer devido a circunstâncias políticas, vergonha em expor, medo de relembrar, ser punido ou julgado. No caso de Morais, por ter feito ainda a pesquisa na época da censura, ele teve muita dificuldade em obter documentos, por exemplo, da Revolta de 1935. Inclusive teve que obter autorização do Superior Tribunal Militar para poder ter acesso a documentos que deveriam ser de fácil acesso a todos, afinal, nesse caso, o esquecimento e o silêncio, eram do interesse político. Pois aquilo que não é compartilhado é esquecido. [HALBWACHS, 2013]      

O livro Olga é caracterizado como uma biografia, que como aponta Priore [2009], é um meio termo entre a história e a literatura, pois, através de documentos e relatos históricos, se reconstrói a vida de uma pessoa através de estruturas narrativas. Morais [2008], através de suas fontes, construiu um livro que pode ser lido como um romance, que conforme Ricoeur [1997], só ocorre devido ao pacto de leitura, em que o leitor está pronto para acreditar no que lê. Em Olga, o pacto de leitura é firmado no momento que, ao apresentar suas fontes, Morais garante a credibilidade de sua escrita, ainda que, conforme Ricoeur [1997], não deixe de lado recursos narrativos, através da “pintura” de expressões ou situações, por exemplo:

“De madrugada, Olga percebeu sons muito familiares e imaginou que estivesse sonhando: ela ouvia músicas da sua infância em Munique, cantadas em alemão. Levantando-se, entendeu o que se passava: um grupo de marinheiro comemorava a passagem para o hemisfério norte dançando e cantando ao som de uma gaita de boca, no convés principal” [MORAIS, 2008, p. 162].

No trecho acima, Olga, sozinha dentro de sua cela, relembra algumas memórias de quando ainda era criança. Morais [2008], utiliza-se dessa estratégia para contar ao leitor, de forma emotiva, utilizando o ato de sonhar e da lembrança infantil, que o navio estava cada vez mais próximo de seu destino. Afinal, é muito difícil que aquilo sentido por Olga tenha sido contado a alguém, ainda mais que ela estava sozinha. Priore [2009] afirma que é impossível relatar e analisar uma situação social e econômica sem pedir auxílio da estrutura narrativa, ou seja, é necessário criar uma trama de histórias, entrelaçar e emaranhar para que assim as obras tornem-se legíveis e coerentes. Logo, para preencher a lacuna, e tornar a biografia mais fluída, o autor busca no imaginário de Olga, algo para continuar o relato. Segundo Ricoeur [1997], o imaginário é uma das estratégias para preencher esses rastros.

Além disso, através da memória coletiva, verifica-se, através do trecho, que tanto Olga quanto os marinheiros, ainda que estejam em situações opostas, compartilham da mesma memória coletiva, e para ambas, isso remete a felicidade. No caso da Olga, pela lembrança de sua infância, e no caso dos marinheiros, na comemoração de estarem mais perto de casa. Para Halbwachs [2013], a memória coletiva sempre será marcada socialmente, carregando representações sociais, morais e de valores, de um mesmo grupo social.

Para Maffesoli [2001], o imaginário apresenta-se como um cimento social, uma aura de ideologia de um grupo, logo, ao ler-se o trecho “Emocionada por estar ‘entrando em território proletário’, Olga não resistiu à tentação de um aceno carinhoso para aquele soldado do povo. Para sua decepção, o soldado fingiu que não viu” [MORAIS, 2008, p.14], percebe-se que Olga era uma militante comunista apaixonada pelo que defendia, ficando eufórica por apenas pisar no território da União Soviética. Entretanto, ao acenar para o soldado, fica decepcionada, pois em sua concepção, o soldado não poderia negá-la, ao defender o mesmo ideal que ela. Segundo Maffesoli [2001], ao aderir a uma ideologia, o indivíduo não só acredita nas ideias racionais, mas também na face lúdica, ou o imaginário de pertencer aquilo que defende, e no trecho analisado, pode-se perceber isso, através da palavra emocionada, pois Olga, finalmente, pertence, de corpo e alma, ao território soviético.

No trecho “Não chorem, nós vamos apenas mudar para outro campo, onde a vida certamente será melhor. A guerra vai chegar logo ao fim, os nazistas serão derrotados, nós vamos ter paz dentro de pouco tempo. Fiquem tranquilas e firmes, nós vamos comemorar a paz juntos” [MORAIS, 2008, p.201], tem-se Olga acalmando duas senhoras, preocupadas que seriam transferidas a outro campo de concentração, junto dela. Aqui tanto Olga quanto o leitor sabem que a transferência em questão significa a morte, o extermínio da protagonista da história. Dessa forma, o trecho acima, último relato de Olga em primeira pessoa, tem o papel de construir a imagem simbólica de Olga, que mesmo tão próxima da morte, ainda consegue acalmar e confortar duas senhoras. Provavelmente, a frase nunca tenha existido, afinal, tanto Olga como as demais presentes foram assassinadas logo após, entretanto, Morais [2008], a utiliza para fechar o rastro de sua personagem. O rastro, segundo Ricoeur [2007], através do imaginário, é utilizado para preencher as lacunas do conhecimento. Nesse caso, para fechar a narrativa, Morais [2008], no diálogo de Olga reafirma como uma mulher, que mesmo diante do fim, pensa no outro.

Ainda que se utilize muito de estratégias ficcionais a favor da obra, Morais [2008], relata muito dos dramas vividos por Olga e tantas outras pessoas no período da Segunda Guerra Mundial. No trecho “Quando a guerra terminasse, em 1945, teriam sido executados nos porões do Dr. Irmfried Eberl nada menos que quase 30 mil cidadãos judeus, comunistas socialistas e socialdemocratas” [MORAIS, 2008, p. 200], o autor faz uma narrativa das consequências dessa guerra. Segundo Jenkins [2009], o passado sempre chega ao indivíduo através de narrativas, que constituem a realidade, estando suscetível a interpretações e reinterpretações. Dessa forma, no trecho, temos o relato da realidade através de uma biografia.

Considerações Finais
Ainda que Fernando Morais comece a obra Olga afirmando que a narrativa é uma versão real, e não a versão dele dos fatos acontecidos, sabe-se que a biografia, embora seja um relato da vida de uma pessoa real, é uma reconstrução discursiva do autor. E nesse processo de reconstrução, o autor utiliza-se de estratégias para contar sua história. Por isso, ao preencher as lacunas ou rastros, Morais escolhe conectores que exaltem o imaginário de Olga, como uma mulher guerreira e forte, através de passagens que não há uma confiabilidade segura, principalmente, nos momentos que Olga encontra-se sozinha. Mas isso, conforme aponta Ricoeur [1997], é uma prática comum, em que o autor se utiliza de recursos, como o imaginário, a memória e a ficção para preencher as lacunas que darão fluidez a narrativa.

Por isso, no decorrer da obra, percebe-se o posicionamento ideológico do autor, que através da memória coletiva compartilhada por seu pai, quando ainda era criança, leva Morais a idealização de Olga como uma heroína, que teve sua vida injustiçada por um governo ditatorial. Olga é uma biografia, lida como um romance, com caráter histórico. Dessa forma, é um perfeito casamento entre a história e a literatura, ficção e não-ficção, realidade e imaginário.

Referências
Ana Carolina Gregol de Barros é mestranda do PPG Processos e Manifestações Culturais da Universidade Feevale e graduada em Publicidade e Propaganda, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de Porto Alegre.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. 2ª ed. São Paulo: Centauro, 2013.
JENKINS, Keith. A história repensada. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2009.
LOWENTHAL, David. The past is a foreign country. 10. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.
MAFFESOLI, Michel. O imaginário é uma realidade. In: Revista Famecos, Porto Alegre, n 15, agosto 2001, quadrimestral, p. 74-82.
MORAIS, Fernando. Olga. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008.    
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.
PRIORE, Mary Del. Biografia: quando o indivíduo encontra a história. Topoi, v. 10, n. 19, jul.-dez. 2009, p. 7-16.
RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. Tomo III. Trad. Roberto Leal Ferreira. Campinas: Papirus, 1997.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora UNICAMP, 2007.

10 comentários:

  1. Ana Carolina, parabéns pelo texto. Você fez uma interessante discussão teórica. Senti falta de um pouco mais de discussão da fonte de pesquisa, mas compreendo que talvez não tenha sido possível pelo limite de caracteres. Se puder me indicar algo a mais para ler, agradeceria.
    Vamos à pergunta. Em meio à teoria e metodologia de pesquisa, como você compreende a questão dos “tempos históricos”? Isto é, existem três contextos principais no seu texto: o contexto em que se passa a história de Olga, o contexto de 1985, em que Fernado Morais escreve a biografia, e o contexto em que você escreve este texto. Como você compreende a relação entre eles?
    Muito obrigado
    Heraldo Márcio Galvão Júnior

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    1. Olá, professor Heraldo. Obrigado!
      Quanto as fontes de pesquisa, realmente, o limite de caractere acaba por nos limitar um pouco. Todavia, construí meu raciocínio em autores que trazem bons conceitos sobre história, memória e imaginário. Jenkins (2009) traz uma nova perspectiva mais subjetiva da história, em que o historiador considera sua bagagem, sua perspectiva na elaboração de seu estudo, por isso, é correto dizer que nenhum relato histórico é imparcial, sempre há a interpretação do autor. Quanto a memória Ricoeur (1997, 2007) traz excelentes reflexões acerca do papel fundamental do silêncio e esquecimento na historicidade. Por isso, o historiador deve ser uma espécie de sacerdote da memória, além de ser aquele responsável por transformar o vestígio em signo, e preencher as lacunas - rastros, através do imaginário. Sugiro os seguintes livros que complementam esse pensamento: Memória e Identidade Social, de Pollak e O Mundo como representação, de Chartier, além é claro, da bibliografia utilizada no presente trabalho.
      Vamos a sua pergunta: os fatos históricos só chegam até o ouvinte/leitor após passar por alguém, seja quem viveu, quem ouviu falar, quem investigou sobre. Muitos viveram, conviveram ou ouviram falar de Olga, logo, tinham algo a dizer sobre. Fernando Morais, em 1985, foi aquele responsável por ser sacerdote dessa memória, mesmo anos depois do acontecido, ele ouviu falar sobre a vida de Olga e resolveu contar a sua versão da história, por isso, utilizou de diferentes fontes e construiu rastros nas lacunas da narrativa. Cabe ao pesquisador, aluno, professor, como eu e você, traçar esse paralelo entre história, narrativa e teoria crítica. Resumidamente, o fato acontece com alguém, é contato por outros e analisado por demais, e assim a história continua viva.

      Abraços,
      Ana Carolina Gregol de Barros

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  2. Partindo da dualidade entre história e literatura e a relação entre memória e imaginário que toda obra nunca será dada como acabada e finalizada, olhando por outro aspecto podemos sempre fazer uso da memória e imaginário para criar, recriar partindo de um olhar subjetivo sobre as obras, sem alterar a sua forma original?
    Daniel Washington Oliveira da Silva

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    1. Oi, Daniel!
      Nunca teremos a visão do todo da história, afinal, como exponho no trabalho, sempre haverá a subjetividade ou o recorte do pesquisador ou historiador. Por isso, é claro, que sempre o autor utilizará do imaginário para preencher essas lacunas, pois não há o todo completo. Digamos também que não há uma forma original da história, porque até no acontecimento histórico haverá pelo menos dois lados, duas visões, dois pensamentos. Então, a obra se torna original para aquele que a criou, mas sempre deve ser questionada por aquele que a lê. Quanto a memória, esta está suscetível ao tempo, esquecimento ou silêncio e da mesma maneira que a história, não tem uma forma original, pois a memória é um conhecimento do passado guiado pelo presente (Halbwachs, 2013).
      Abraços,
      Ana Carolina Gregol de Barros

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  3. Olá, Ana Carolina.
    Parabéns pelo trabalho.
    A partir da tua análise podemos perceber como se faz necessário a "criação" de rastros para a narrativa, com as passagens inseridas pelo autor a fim de construir uma imagem de Olga. Ainda assim, a narrativa nos ajuda a compreender o momento histórico e o papel de Olga.
    Tendo em vista isto, dê que forma podemos validar a literatura como forma de acesso a acontecimentos históricos? E ainda, como introduzir o uso do literário no ensino de História?
    Giovana dos Passos Colling

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    1. Oi, Giovana! Obrigada!
      A criação de rastros se faz necessário para preencher as lacunas aonde não se tem o relato, tornando assim a narrativa mais fluida. Quanto a validação da narrativa de um momento histórico, precisamos considerar que, independentemente de estarmos falando de um livro de história, de uma biografia ou de uma ficção, há um autor, pesquisador, historiador por trás dessa obra. Dessa forma, a validação de um livro de história ou de uma biografia, vem das fontes da pesquisa, assim como num trabalho científico, as fontes é que dão credibilidade. Todavia, essas fontes são sujeitos, com posicionamentos, ideologias e comportamentos diferentes, e nos estudos sociais, comunicacionais e correlacionados, não há uma forma matemática para autenticar ou não algum depoimento. Por isso, vejo a literatura, no caso biografias, de igual validação assim como um livro de história, que bebe de suas fontes, e preenche lacunas com o imaginário coletivo. Quanto ao uso dessa literatura no ensino de História, é interessante que professores a tomem como uma opção complementar a livros didáticos. A narrativa está sujeita a interpretações e reinterpretações do leitor, permitindo uma interação com o aluno.

      Abraços,
      Ana Carolina Gregol de Barros

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  4. Oi Ana! Parabéns pelo ótimo trabalho!
    A ficção trabalha para que determinados eventos não sejam esquecidos, pois “talvez haja crimes que não se devam esquecer, vítimas cujo sofrimento peça menos vingança do que narrativa. Só a vontade de não esquecer pode fazer com que esses crimes não voltem nunca mais” (RICOEUR, 1997, p. 327). Até que ponto tu achas que a leitura de obras como essa podem evitar a repetição de crimes, como os que são apontados em Olga? Faço essa pergunta considerando que uma mesma mensagem pode gerar diferentes efeitos, dependendo de cada receptor.
    Sabrina Esmeris

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    1. Oi, Sabrina! Obrigada!
      A literatura sempre nos apresenta ao mundo construído por alguém. As vezes esse mundo pode representar acontecimentos reais, como uma biografia, caso de Olga. O papel da biografia, então vai além do relatar e descrever, ela conta algo, por meio da ficção e não-ficção, da história de vida de uma pessoa ou de várias pessoas, ou seja, é uma fonte de conhecimento. A mesma história é contada, mas a subjetividade de cada leitor ressignifica essa história. Logo, o crime para tantos, pode ser banalizado por outros. O mais importante é o não esquecimento de histórias como de Olga, elas não podem ser silenciadas, mas sempre estar presentes na memória coletiva.
      Abraços,
      Ana Carolina Gregol de Barros

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    2. É verdade, Ana!
      Grata pela atenção!
      Um abraço!

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