Jacqueline Ferreira Dias


LITERATURA COMO FONTE E SUAS POSSIBILIDADES DIDÁTICAS: O PODER DAS REPRESENTAÇÕES NA OBRA ‘O CONTO DA AIA’ DE MARGARET ATWOOD [1985]




O conto da Aia trata-se de uma obra distópica, ou seja, uma representação de um lugar ou estado imaginário na qual vive-se sob estado de opressão. Essa distopia é passada nos Estados Unidos numa conjuntura bastante trágica, na qual um grupo religioso derruba o governo e assume o poder fundando a República de Gilead. A Obra foi nos apresentada na disciplina de Teoria da História do curso de História da universidade de Pernambuco. E ao longo da leitura do livro notamos que os conceitos históricos poderiam ser analisados na obra.

O livro foi escrito por Margareth Atwood que nasceu em 1939 em Ottawa, Canadá. Professora, poeta, ensaísta, crítica literária e romancista das mais destacadas na literatura canadense. Cursou artes, inglês, filosofia e francês na Universidade de Toronto. Atwood é ativista ecológica e feminista o que explica a temática das suas obras, sendo esses mais de 25 livros publicados alguns traduzidos em mais de 30 países.

Neste artigo analisaremos o livro ‘O conto da Aia’, pois percebemos que a sociedade descrita pela escritora se fundamenta a partir de vários conceitos e noções trabalhados na Teoria da História, como: Ideologia, Representação e práticas culturais, bem como: feminicídio, religião, opressão feminina temáticas recorrentes nas discussões das sociedades atuais.

Através disto, mostraremos como o governo de Gilead usa os conceitos teóricos principalmente de representação para se manter no poder e como essas estratégias são comuns em grupos radicais como o Nazismo. E para isso, utilizamos o conceito de análise sociológica da literatura para trabalhamos com a história, pois só assim, consideramos os aspectos que podem apresentar uma visão social de uma determinada época. E então possibilitar uma discussão relevante para o ensino da história.

Análise sociológica e a ideologia Fundamentalista de Gilead entra em vigor
A sociologia literária é o conceito trabalhado por Antônio Candido que permite analisar a literatura considerando seus aspectos externos a obras. Desse modo podemos considerar a literatura [em certos casos] como um reflexo de uma determinada sociedade. Mas, considerando que as obras são fruto da criação do autor. Com isso, análise histórico-social será o cunho desta análise, segundo Candido:

“As modalidades mais comuns de estudo[...]sociológicos em literatura[são] primeiro tipo seria formado por trabalho que procurou relacionar o conjunto de uma literatura, um período, um gênero com condições sociais. [...]um segundo tipo poderia ser formado pelos estudos que procuram verificar a medida em que as obras espelham ou representam a sociedade[...] o terceiro [..] estudo da relação entre obra e o público[...]” [CANDIDO, 2006, p 18-20]

Sendo assim, consideramos a sociologia literária como meio que tornar plausível trabalhar a literatura como fonte histórica. Com isso, a discussão sobre os conceitos trabalhados na teoria da história e o conto da Aia, só são possíveis se considerarmos os aspectos externos a obra, ou seja, as informações que refletem algo da realidade. Como o fato da própria autora ter como espiração eventos do século XX, como a guerra fria; a construção do Estado Islâmico; os testes nucleares que mataram pessoa em Hiroshima e Nagasaki, o extermínio de judeus, gays e negros na Alemanha Nazista. O que aumenta as possibilidades da discussão, desse modo qualquer semelhança com a república de Gilear com esses eventos não é mera coincidência.

Neste caso, analisaremos o conceito de ideologia presente na conquista dos filhos do Jacó. Sobre ideologia Jose D’Assunção Barros [2003] diz que:

“A ideologia, de fato, é produzida a partir da interação de subconjuntos coerentes de representações e de comportamentos que passam a reger as atitudes e as tomadas de posições dos homens nos teus inter-relacionamentos sociais e políticos. [...] podemos dizer, corresponde a uma determinada forma de construir representações ou de organizar representações já existentes para atingir determinados objetivos ou reforçar determinados interesses.” [BARROS, 2003, 163-164].

Ao criar e organizar representações a ideologia rege a sociedade afins de determinados interesses. E isso constrói o poder de Gilead, pois ao criar representações de todos na sociedade passa a dominar em função disto. Assim, ocorreu com a Alemanha Nazista, após a consolidação da ideologia cria representações, na qual quem não fosse Ariano [Branco, alemão de nascença ou descendente] era considerado inferior e punido por isso. Segundo Bertonha:

“O estado Nazista [...] haveria povos que seriam mais ou menos tolerados, como os europeus ocidentais, e outros destinados, a escravidão como os poloneses, além, é claro, da eliminação pela migração ou morte dos judeus”. [BERTONHA, 2009, p 242]

A Alemanha Nazista tinha seu governo inspirados em padrões coloniais europeus do século XVII. O mesmo fez a república de Gilead depois de tomar o poder, logo após os ataques a Casa Branca e ao Pentágono instaura novo regime pautada em valores religiosos antigos. O primeiro decreto foi o consolidar a nova ideologia e romper as representações e práticas culturais da velha sociedade, fazendo com a antiga civilização fosse desconstruída e esquecida. As identidades das pessoas foram apagadas e ressignificadas de acordo com os valores propostos.

Através disto, as mulheres perderam a liberdade, os direitos, empregos, autonomia, até o próprio corpo tornando-se propriedade dos homens em nome dos preceitos religiosos. Os filhos de Jacó destruíram toda e qualquer representação que resgatasse a antiga identidade da mulher, ou seja, a ideia de liberdade de escolha criando assim, uma nova representação que reforçar o seu ideal religioso. A mulher submissa, inferior e tendo como única função a reprodução, ou seja, a mulher a qual foi resgatada da constituição puritana do século XVII, na qual as mulheres não tinham mais direitos.

Diante das referências dos eventos históricos usados pela autora, podemos fazer contra ponto da República de Gilear ao também estado Islâmico por exemplo, no tocante as questões religiosas. O termo fundamentalismo religioso é o ideal para tratarmos desse assunto, uma vez que, ambos usam de preceitos religiosos para explicar seus atos. Gilead baseia seus preceitos em temas bíblicos, tomando como base doutrinária o Velho Testamento, especialmente, o Gênesis, na qual contrapõe a “modernidade” antes em vigor. Segundo Panasiewicz:

“Enquanto a modernidade é uma reação à estrutura de organização medieval, centrada na autoridade, ela centra-se na razão humana e na ciência, carregando a bandeira da autonomia do sujeito histórico. Em contrapartida, o fundamentalismo religioso é um movimento crítico às inovações trazidas pela modernidade a partir de uma narrativa sagrada e de um monopólio de interpretação balizado pela religião.” [PANASIEWICZ, 2008, p.02]

Ao consideramos a ideologia fundamentalista dos filhos de jacó como um conjunto de ideias que criam uma conjuntura de mundo, então as práticas e representações tem por fins o interesse de dominar, baseado na opressão feminina. Sendo assim, a ideologia repugnada pelo Regime Teocrático Militar, era o modelo de sociedade baseada na “liberdade” e na autonomia, visto que as mulheres trabalhavam, escolhiam ter ou não filhos, imponha sua posição nesta sociedade. Como relata Aia [personagem principal do livro, e que nos apresenta ambas as sociedades], ao relembrar a antiga sociedade, mostrando a ideia de liberdade presente nesta época. Segundo Atwood:

“Penso a respeito de lavadeiros de autoatendimento. O que eu vestia para ir a elas, shorts, jeans, calças de malha de corrida. O que eu punha nas máquinas: minhas próprias roupas, meu próprio sabão, meu próprio dinheiro, dinheiro que eu mesma ganhava” [ATWOOD, 2017, p.28].

O estado se finda em sentido contrário ao pensamento de liberdade adotado no regime anterior, principalmente a liberdade feminina de usar anticoncepcional, de trabalhar, de casar com quem queria ou não casar como “[...]Diz Tia Lydia de um excesso de escolhas” [ATWOOD, 2017,p.29]. A liberdade dada era a “a liberdade de: que significava de estar livre de alguma coisa[...]” [ATWOOD, 2017, p 28], neste caso de práticas mundanas e das punições do regime.

Com isso, a ideologia transforma a sociedade, ao criar formas de ver o mundo e pensar as questões sociais, culturais e políticas. E ao implantar representações em nome da religião, hierarquiza cada pessoa na sociedade. Podemos atribuir o pensamento a Alemanha Nazista, pois a estratégias de separação de grupos foi adotado na época. Segundo Bertonha: “haveria uma hierarquização geral dos povos europeus com base na doutrina racial e todos os recursos desse espaço de guerra alemã e, ao seu final, para o engrandecimento desse império” [BERTONHA, 2009 p 241]. Desse modo a Alemanha Nazista e os filhos de Jacó segregaram para dominar e impedir a organização dos grupos opositores o que funcionou por muito tempo para ambos.

Representação e prática cultural os conceitos do poder: Os filhos de Jacó e a sua mulher ideal
Partindo da noção que, a ideologia seria o agrupamento das representações, tomamos aqui como representação o “modos de pensar e de sentir [...] [BARROS, 2003, p.161]. Neste caso, representação será o modo como a República de Gilead transformara a mulher.

A transformação envolvia até padronização das vestimentas, tanto nos homens como nas mulheres. Logo após romper com antiga sociedade o sistema criou novos elementos que contribuíram para o controle das pessoas, sendo as vestimentas o principal elemento que reforça as representações criadas.

Após passarem por a separação entre as inférteis e férteis, as mulheres eram representadas e classificadas por grupos e cada uma tem função social. As Esposas [as mulheres dos comandantes do regime, cuidam do lar e usam roupa azul]; as Marthas [são as empregadas das casas dos comandantes, usam a cor verde]; as Tias[são as mulheres responsáveis por instruir as Aias para sua função]; as Aias [é a categoria da narradora do livro como já citado, estas tem como função procriar, são propriedade do regime, e usam vermelho]; as Econoesposas [são as mulheres dos homens pobres, usam roupas listradas de vermelho , azul e verde ], não-mulheres [esta categoria que refere-se  às mulheres que não podem ter filhos ou punidas pelo o regime e vivem nas colônias, local de trabalho escravo]; e, por fim as ‘Jezebel’, mulheres jovens e bonitas  que eram usadas como forma de entretenimento pelos comandantes. Estas viviam reclusas em um bordel chamado Casa de Jezebel e sua existência era ignorada pelas outras mulheres.

O ato de escolher a própria vestimenta não existe mais em Gilead e as representações atribuídas a estas também não. Com isso, novas vestimentas, novas representações foram atribuídas e consequentemente outra formar de olhar o outro e a si mesmo foram instauradas. As roupas definiam a posição social, pois nesta sociedade não era o modelo da roupa que seria levado em consideração tanto que as mulheres usavam “o vestido comprido escondendo as formas” [ATWOOD,2017, p. 13] e o véu cobrindo todo o rosto. Neste caso a cor da vestimenta feminina não estava atrelado somente ao lugar social e a função desta, mas também a estratégia dos Filhos de Jacó para desestruturar as mulheres e promover a rivalidade, conflito e a desunião entre elas.

No decorrer da narrativa a Aia relata vários casos que reforça a ideia de que, a discriminação sofrida por elas é oriunda das representações dadas para cada cor de roupa. Sobre isso a narradora identifica este fator ao dizer que as Marthas não são cordiais pois “[...] é o vestido vermelho que ela desaprova, e o que ela representa. Ela acha que pode ser contagioso, como uma doença ou qualquer forma de má sorte” [ATWOOD, 2017. p. 13]. Ou seja, não é a cor da roupa em si, mas o que ela que dizer.

As cores das vestimentas representam o fardo que as Aias carregam, a de categoria inferior que só serve para procriar. Com isto, [assim como todas as mulheres], não possuem identidade própria, pois foi roubada pela representação das cores das roupas, que agora representa tudo que é. Sendo assim a representação feminina ideal para o regime é a mulher submissa que concorde com os preceitos religiosos dos filhos de Jacó e continua exercendo sua função sem se opor e de certo modo alimente a inimizade para com as outras. Esta representação, ou seja, a forma como a república cunhou a mulher gerou práticas que mantinham onde os filhos de Jacó queriam.

Sendo assim a ideologia cria a representação que corrobora na prática cultural. Isto é reforçada pelo fato das representações das mulheres [principalmente das Aias], proporcionar a disputa entre elas. As Aias eram um dos grupos que mais sofria discriminação e desprezo [exceto os das não-mulheres], estas eram obrigadas a viver com os comandantes e suas esposas em nome da procriação. Esse fator contribui para inimizade entre a esposa e a Aia, pois estas são obrigadas a participar da cerimônia sexual envolvendo os três.

As mulheres não deveriam, se “Confraternizar [que]significa comportasse como um irmão” [ATWOOD, 2017, p15], visto que todas as normas contribuíam para que não houvesse esta confraternização. Uma vez que, as estratégias de poder utilizadas pelo regime teocrático desde da punição [com a morte ou mandando para as colônias], á vigilância eram oriundas das representações que manipula e articula as pessoas. Barros [2010] afirma que as representações criam práticas culturais, e essas pautadas na ideologia reforça o interesse do regime de controlar.

No que tange às práticas, estas beneficiavam de várias formas pois as práticas culturais segundo Barros[2003] são “os modos como, uma sociedade, os homens falam e se calam, comem e bebem”[...], ou seja, como a sociedade se comporta em relação as representações estabelecidas. Sendo assim, o governo de Gilead ao criar as representações das mulheres tem o domínio das práticas, e assim da forma como a sociedade reagirá em relação as representações. Tomando assim, o poder absoluto, pois: “A ideologia, de acordo com este uso, tem haver com ‘poder’, com ‘controle social’ exercido sobre os membros de uma sociedade, geralmente sem que estes tenham consciência disto[...]” [BARROS, 2003, p. 164].

O sistema panóptico é nutrida pelo medo da punição, e isso acaba impedindo que haja um laço de confiança, pois as pessoas se vigiam e vigiam os outros. Através disto, os filhos de Jacó barram a retomada da ideologia feminista, que contém valores divergente da propagada pelo governo de Gilead. O que impede que a representação feminina antiga entre em vigor e reviva o feminismo defendido por Moira [amiga da Offred antes do golpe, personagem que representa a resistência feminina ao regime] traria outra reestruturação da sociedade e descontruiria a ideologia criada pelo sistema, e criaria outra representação visto que este:

“[...]assumiu e criou uma identidade coletiva de mulheres, indivíduos do sexo feminino com um interesse compartilhada no fim da subordinação, da invisibilidade e da impotência, criando igualdade e ganhando um controle sobre seus corpos e sobre suas vidas.” [SCOTT,1991, p. 68]

O feminismo representar a classe mais desfavorecida nesta sociedade, e promoveria o espirito de união das mulheres contra a opressão, com isto acordar o ideal feminista seria o impulso que as mulheres precisavam para lutar contra o regime. Neste caso, seria a ideologia capaz de combater a ideologia machista propagada pelos filhos de Jacó, pois cria as representações que traria de volta para mulher a autonomia perdida.

Portanto, os mecanismos idealizados pelo governo tinham por objetivos, manter seu poder consolidado e forte, através da criação das representações femininas que promoveria práticas de discórdia entre os grupos. Para não ser possível o fortalecimento e a retomada do espirito feminista. Com isso, O Conto da Aia é uma fonte para analisar conceitos como os padrões femininos imposto ao longo dos séculos, fundamentalismos religiosos, relações de poder e eventos históricos [guerra fria, Nazismo, Estado Islâmico]. Não queremos aqui propor anacronismo, mas mostrar a possibilidades do trabalho com essa obra na sala de aula.

Conclusão
Diante disto, a partir da discussão aferida, a sociedade imaginada por Atwood [2017], não se trata de uma criação totalmente fantasiada, visto que a obra possui elementos que estão presentes na sociedade atual. Então a análise de contrapor  grupos radicais com o republica de Gilead é um meio de trabalho na sala de aula. E a literatura permite esses diálogos com a História e com conceitos teóricos como Jose D’Assunção Barros e Joan Scott, noções construídas em contraste com a sociedade não ficcional e trabalhadas nas salas de aula.

A obra de Margaret Atwood é relevante para o trabalho histórico na medida em que os vínculos com a civilização são gritantes. Temas como religião, opressão, feminismo, machismo [que criam representações que buscam excluir e tomar da mulher o seu direito de cidadã] são de extrema importância trabalhar na sala de aula, pois não são pautas somente da obra de Atwood e sim da sociedade. Com isso, vimos o poder da representação, uma vez que, os filhos de Jacó conseguem manter-se no poder em detrimento disto.

Desse modo, tratar da obra o Conto da Aia é tratar de assuntos atuais como: o feminicídio, genocídio, e entre outras violências que ocorrer em detrimento ao gênero. É abordar assuntos vivenciados na contemporaneidade, como a desigualdade de gênero de forma criativa e impactante, é evidenciar o que muitas vezes é camuflado na sociedade atual. É analisando a literária junto com a história que pleiteamos um estudo interdisciplinar, pois através da literatura podemos analisar conceitos históricos cunhados a partir da análise ficcional.

Referências
Jacqueline Ferreira Dias é graduando de Licenciatura em História na Universidade de Pernambuco–UPE [Campus Petrolina].

Fontes
ATWOOD, Margaret. O conto da Aia. Tradução, Ana Deiró. Rio de Janeiro: Rocco, 2017. 271 p.

Bibliografia
BARROS, José D’Assunção. História Cultural: um panorama teórico e historiográfico. Revista Textos de História, vol. 11, n°1/2, 2003.
BARROS, José D’Assunção. A escola dos Annales e a crítica ao historicismo e ao positivismo. Revista Territórios e Fronteiras V.3 N.1 – Jan/Jun 2010 Programa de Pós-Graduação – Mestrado em História do ICHS/UFMT.
BERTONHA, Fábio João. O império de Hitle: “A nova ordem” Nazista na Europa 1939-1945.2009, p 11. Disponivel em:
http://www.scielo.br/pdf/tem/v14n28/a11v1428.pdf. Acesso: 15 de abril 2020.
PANASIEWICZ, Roberlei. Fundamentalismo Religioso: História e presença no cristianismo. 2008, p 11. Disponivel em:
http://www.abhr.org.br/wp-content/uploads/2008/12/panasiewicz-roberlei.pdf, acesso em: 15 de Abril 2020.
SCOTT, Joan. História das Mulheres in BURKE, Peter. A escrita da História. São Paulo: Unesp, 1991.

11 comentários:

  1. Bom dia, Jacqueline. Parabéns pelo belo texto. Foi uma leitura agradável.
    Utilizando um autor que você cita no texto, mas que não consta na bibliografia, Antônio Candido, este coloca no livro “Literatura e Sociedade” que a base do historiador é a análise do texto em conformidade com o contexto, ou o contrário, mas que ao historiador também é interessante promover uma análise da forma de escrita, isto é, da estética.
    Partindo desta perspectiva, vem a pergunta: como a estética da escritora a relaciona ao seu contexto? Você já pensou em indicar em suas análises de “O conto da Aia” esta perspectiva? Se sim, como?
    Heraldo Márcio Galvão Júnior

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    1. Bom dia, Prof Heraldo Galvão. Obrigada por lê meu texto.
      Sobre as perguntas, bom, a estética não só de Etwood, mas de outros escritores estar ligada com o contexto social na qual viveram ou conheçam. Com isso, Atwood adota muitos estilos de escrita desde de romances a ficção científica. Nesses obras as característica adotadas nelas mostram a caracteristica da autora é justamente o fato de remeter a sociedade e temáticas sociais. No caso de o conto da aia a autora traz em entrevista que o seu interesse na obra era mostrar como seria uma ditadura e/ou regime totalitária no EUA, inspirada no contexto do anos 70 quando estava escrevendo o livro, na qual os direitos das mulheres estava sendo tirado com o recuo de leis sobre incluir a igualdade de gênero na constituição dos EUA, sendo isso barrado por argumentos paltados na religião. Com isso ela escreveu esta obra que mostrar como seria um regime totalitária nos EUA paltado na religião. Além disso, outros fatores levaram a escrita desse livro, como, Governos como de Hitler , Mussolini todos governos que tiraram da mulher e da sociedade os seus direitos.
      Sobre o segundo questionamento, se entendi bem, o senhor se referiu se já pensei em indicar características estéticas na minha análise. Bom, penso em trabalhar a obra buscando trazer caractristica da obra traçando uma analise com a sociedade porque entendo que se não trazer aspectos históricos torna-se um trabalho de crítica literária, não sendo um trabalho de história. No entanto, busco trazer nas minhas analises históricas sociológicas da obra evidenciar ao máximo a obra no seu contexto interno, ou seja, a estética. Pois trabalho o externo sem o interno não caracteriza em uma analise sociológica histórica da literatura.

      É isso, espero ter respondido..qualquer dúvida a mais é só se manifestar.

      Jacqueline Ferreira Dias

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  2. Boa Noite, Jaqueline. se atendo um pouco a literatura enquanto fonte para o ensino de História tem-se em evidência uma grande maioria de narrativas envolvidas pela ficção ou misticismo (que de fato constituem uma forma de pensar o mundo através do período em que se insere o desenvolvimento da narrativa, constituindo assim uma identidade cultural) e esse "pensar" evidenciado através da narrativa literária pode causar alguns problemas caso o educador não saiba utiliza-lo de forma correta, acarretando em um enorme anacronismo. dito isso, como você analisa os limites que devem-se respeitar entre a narrativa literária envolta de ficção e a da narrativa histórica (que objetiva nos mostrar um "retrato" mais próximo possível da realidade) atreladas ao ensino em sala de aula?
    Alexandre Luiz da Silva

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Bom dia, Alexandre. Obrigada pela pergunta e por lê o meu texto.
      Bom, é verdade a literatura é uma grande fonte para trabalharmos com questões históricas através das narrativas propostas.
      Como uso o termo de sociológica literária, uma dos limites que esta prega é justamente analisar se a obra traz aspectos da sociedade, isto, através da análise da temática e principalmente através do estilo do autor. No conto da Aia Atwood apresenta uma obra Ficcional, mas tanto na análise da obra como em depoimentos da mesma traçamos aspectos que são retirados na sociedade. Como a questão da retirada dos direitos das mulheres através de palta religiosa(isso, a autora remete ao próprio EUA do anos 70, que revogou leis de garantia de igualdade de gênero) . Sendo assim, para pensarmos essas obras literárias para o ensino devemos pensar atrelar a analise da obra/contexto/ autor, para assim apresentarmos para o aluno. Pois uma visão dissasociada desses três pontos pode trazer uma analise equivocada da obra. Sendo assim, para trazer essa fonte para sala de aula, devemos pensar esses fatores para não promover anacronismo.

      Jacqueline Ferreira Dias


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  3. Ana Flávia Crispim Lima20 de maio de 2020 às 16:17

    Boa Tarde Jacqueline. Gostaria de parabenizá-la pela exposição de uma obra do qual tenho grande admiração. Fiquei muito empolgada em ler seu texto desde que saiu a lista com os títulos dos trabalhos.
    Minha pergunta seria em relação a aplicação dessa obra em sala de aula: Em que turma você lecionaria e qual seria sua abordagem?

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    1. Bom dia Ana Flávia, muito obrigada por lê e pelas suas considerações e pergunta.
      Bom, considerando que o livro e seu enredo , suguro apredenta-lo no terceiro ano do ensino médio, ou seja, para alunos que já estão a caminho da faculdade. A abordagem que usaria tenho varias sugestões que penso. Primeira a questão das desingualdades de gênero, funfamentalismo regilioso, mas se tratando da sequência didática do terceiro ano, abordaria a questão dos governos totalitários ao correlacionar os aspectos da obra se tratando do governo de gilear com o governo totalitário de Hitler, como citado no texto. Mostrar aos alunos atrás do livro as fazes do governo totalitário, mas claro considerando o fato da obra ser uma ibra ficcional. No entanto, abordaria trazendo essa questão do poder ligado a ideologia, representação e prática social e mostrar aos alunos como esses conceitos estão ligados a ambos gobernos seja idealizado ou não.
      Espero ter ajudado e respondido seu questionamento.
      Jacqueline Ferreira Dias

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  4. Olá Jacqueline , parabéns pelo belo texto. Bastante instigante e reflexivo!
    Jacqueline meu questionamento surge a partir do uso da literatura em sala de aula, sabendo-se que muitos alunos apresentam um desinteresse pela leitura.

    Você acredita que o uso da série The Handsman Tale ( O Conto da Aia), adaptação televisa do livro pode ser positiva em sala de aula???
    Quais mecanismos um professor pode usar para chamar a atenção para uma leitura crítica e reflexiva do livro?
    Mais uma vez parabéns.

    Marcos de Araújo Oliveira

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  5. Bom dia Marcos, brigada pela leitura e considerações.
    Bom , sim, acredito que poderia ser exposta na sala de aula, claro com recortes considerando as cenas que não podem ser mostradas aos alunos. No entanto, uma das maneiras creio eu, de impulsionar a leitura dos meninos da obra, seja, sustamente fazer esse contraponto da sociedade com os aspectos do livro e a própria serie, mostrar aos alunos que o conteúdo do livro é um assunto debatudo na sociedade e que eles podem fazee ligação com a própria vida deles. (Sugiro isso, pois, para os alunos a História é uma disciplina que não tem nenhuma utilidade na vida deles, e propor uma reflexão contra esse pensamento é uma maneira de trazer o aluno para interacção com a disciplina.
    A aplicação da série e livro, a princípio poderia pensar em apresentar a serie para instiga-los a lê, mas isso seria um tiro pelo culatra , tendo experiência com alunos do 3 anos eles assistiram a serie e não leriam o livro. Então promover atividade que busque contrapor o livro da série seja um meio para fazer le-lo, além do debate sobre os aspectos da obra com a realidade.

    Att, Jacqueline Ferreira Dias

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