O ENSINO DA HISTÓRIA CULTURAL COMO INSTRUMENTO DE SALVAGUARDA PATRIMONIAL: USOS E ABUSOS DOS GOVERNOS DE JOSÉ E ROSEANA SARNEY, COM AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS POPULARES DO MARANHÃO
O presente artigo tem
como objetivo debater os usos e abusos dos governos de José Sarney [1966-1970]
e Roseana Sarney [1995-2002; 2009-2014], com as estruturas culturais populares
maranhenses entre os anos de 1966 a 2014. A manipulação de determinadas
organizações culturais será problematizada neste trabalho, a partir do
conceito, do filósofo Antonio Gramsci, intitulado de “Aparelhos Privados de
Hegemonia”, que são instrumentos de construção de consenso, utilizados na
sociedade civil para a legitimação de projetos de hegemonia [GRAMSCI, 1988].
Este conceito será didaticamente explanado pela obra “Gramsci: Um estudo sobre
seu pensamento político”, do autor Carlos Nelson Coutinho, de 1989. Vale
ressaltar que, o conceito gramsciano só pode ser aplicado no contexto em que a
cultura é transformada em produto, ou seja, quando é comercializada, e
utilizada para fins financeiro e político [SILVA, 2005]. Além disso, busca-se debater a influência de
tais questões no processo de assimilação, e auto afirmação do sujeito maranhense,
acerca de suas ações culturais no contexto social em que vive. Analisando,
nesse sentido, determinados parâmetros curriculares nacionais [PCNs,1997] e
orientações curriculares nacionais [OCNs, 2006] dos ensinos fundamental e
médio, para o ensino de História.
Consenso
e coerção. Brincadeiras populares e alianças políticas
As medidas que foram
tomadas para consolidar a dominação da família Sarney, foram projetadas através
de mecanismos de construção de consenso, e do aparelhamento burocrático do governo.
Sarney pai não só misturava-se com o lúdico de determinadas manifestações
culturais, tidas para a classe dominante, como “coisas de pobre, e do demônio”,
como também articulava trocas de favores no plano material, através de apoio
financeiro, ou favores políticos, com agentes do cenário político-partidário,
e, intelectuais que queriam projetar um novo modelo de Cultura Popular no
Maranhão. Sendo tudo isso, inicialmente, financiado pelo molde governativo da
coerção da Ditadura Empresarial Militar brasileira [1964-1988], na qual
possibilitou a ascensão de José Sarney nas disputas eleitoreiras locais. Nesse
sentido, ele silenciosamente mergulhava-se em dois mundos que, para muitos eram
díspares, mas, que logo seriam essenciais para a modelagem estrutural de todos
os seus sucessores [COSTA, 2015].
Dessa forma, como
salienta Coutinho [1989], utilizando o conceito de “Estado Ampliado”, de
Gramsci, sobre a construção de projetos hegemônicos, a partir das sociedades
civil [exemplificada com a aproximação de José Sarney com o povo, e suas
manifestações culturais] e política [exemplificada, pelo jogo de alianças com
políticos e empresários]:
“Ambas [as sociedades
civil e política] em conjunto, formam ‘o Estado [no sentido integral: ditadura
+ hegemonia]’; o Estado que, em outro contexto, Gramsci define também como
‘sociedade política + civil’, isto é, hegemonia revestida de coerção [...] A
sociedade civil formada precisamente pelo conjunto de organizações responsáveis
pela elaboração e/ou difusão das ideologias, compreendendo o sistema escolar,
as Igrejas, os partidos políticos, os sindicatos, as organizações
profissionais, a organização material da cultura (revista, jornais, editoras,
meios de comunicação de massa, etc.)” [COUTINHO, 1989, pp. 76-77, grifos nossos].
Com isso, percebe-se
que, embora as raízes da governabilidade de tal oligarquia estivessem
profundamente atreladas ao regime ditatorial instaurado em 1964, portanto,
através de uma macroestrutura coerciva, José Sarney conseguiu fincar fortes dominações políticas que se
perpetuam até os tempos atuais, a partir da utilização de mecanismos que
permitiram a sua ascensão e manutenção ideológica no imaginário do povo
maranhense, como foi o caso do projeto de reafirmação da cultura popular do
Maranhão, principalmente com a ressignificação do Bumba Meu Boi e de outros
festejos juninos [BARROS, 2005].
A
reinvenção das tradições no governo de José Sarney
Na tese de
doutoramento “O ‘urrou’ do boi em Atenas: instituições, experiências culturais
e identidades no Maranhão”, de 2004, Lady Albenaz enfatiza no dualismo que
marcava a contraditória e harmônica imagem de José Sarney. Enquanto para uns
ele tornava-se defensor das elites, para outros era considerado o amigo dos
pobres. Essa magnitude ampliada em sua personalidade deu-lhe portas para
acessar o imagético de grande parte da população maranhense.
A figura do
ex-presidente da república conseguiu juntar simbologias que permitiram uma
interligação da classe erudita com as camadas populares, a partir do enaltecimento
dos aspectos singulares de determinados esferas da cultura local, que logo
tornar-se-iam um atrativo para a classe acadêmica ludovicense em meados das
décadas de 1970 e 1980. Foi a partir da primeira metade do século XX, que o
movimento modernista maranhense tentou reconstruir a imagem de uma São Luís
[capital do Maranhão] que seria sinônimo de modernização, intelectualidade e
progresso. Nesse período, buscou-se restaurar o título de “Atenas Brasileira”,
para uma cidade economicamente atrasada, mas, que queria reconquistar o
prestígio que tivera na segunda metade do século XVIII, período de inauguração
do título ateniense, quando esta havia se tornado umas das maiores cidades
exportadoras de algodão do Brasil. A reapropriação da expressão [“Atenas Brasileira”], buscava construir um novo movimento
artístico-literário para o enaltecimento da cultura popular do Maranhão. No
entanto, assim como em tempos oitocentistas, o uso dessa titulação serviu para
embranquecer e inferiorizar a espontaneidade das manifestações populares
locais. [BARROS, 2005].
O ex-governador do
Maranhão, de fato, possibilitou uma abertura para as tradições culturais
locais, que outrora eram esquecidas pela comunidade política. Principalmente
aquelas que faziam referência à extensa ligação das brincadeiras, festejos e
cultos religiosos, com as matrizes africanas. No entanto, aquilo que deveria
ser um enaltecimento da espontaneidade cultural, transformou-se em uma
mecanização, que tentou reinventar as significações do produto coletivo, dos
fazedores de cultura local. Como salienta Aldanez [2004], Sarney tinha
intenções profundas com a corrente modernista de sua época, e almejava
reconstituir uma nova cultura, a partir, da criação de novos espaços de
vivência cultural, e do apoio de escritores, estudiosos, e outras
personalidades importantes do cenário intelectual maranhense, das décadas de
1940-1950:
“Entre seus
assessores, um dos principais, está Bandeira Tribuzi, que também é poeta de
renome no Maranhão, além de ser filho de um artista plástico. Outro importante
colaborador no seu mandato foi Domingos Vieira Filho, intelectual que integrou
o Movimento Folclórico Nacional, reconhecido localmente pela defesa, pesquisa e
delimitação dos estudos sobre folclore no Maranhão. Josué Montello também
figura entre seus correligionários. No campo da política cultural, Sarney,
diretamente ou a partir dos seus sucessores que chegaram ao poder com o seu
apoio, iniciou a fundação dos primeiros museus públicos do Estado do Maranhão.
Museus que são espaços fundamentais para reverenciar identidade. Dessa forma,
Sarney cumpriria a proposta de renascimento do Maranhão a partir das letras,
conforme o projeto dos atenienses de 1950, a geração modernista da cultura
local que ele integrou.” [ALBANEZ, 2004,
p. 68-69].
De acordo com Ferreti
[1998], em vários festejos e cultos a santos e divindades, como por exemplo, no
Tambor de Crioula [uma das maiores e mais importantes manifestações culturais
do Maranhão, de matriz africana, transformada em patrimônio imaterial nacional
em 2007], perpetuava-se em meados de 1970, um embranquecimento nas oficinas de
ensino de percussão das “parelhas” [conjunto de tambores, utilizado no Tambor
de Crioula], indumentárias, e outras características das tradições populares.
Ressalva-se que a tradição tornava-se de bom grado para as camadas eruditas da
sociedade maranhense, “quem tocava bem o tambor, era visto como uma pessoa
descolada”, afirmava Nelson Brito no documentário produzido pelo Instituo de
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [IPHAN] [Ver
https://www.youtube.com/watch?v=yhtHsZniyIE. Acessado em 01/07/2019].
Dessa forma, o projeto
que foi iniciado em 1950 com a ideia de ressaltar uma cultura singularizada em
modelagens eruditas e afirmativas para as classes dominantes, com uma
caracterização “ateniense” , foi, em certa medida, de simplória valia para a
visibilidade de determinados valores das classes dominadas que até então eram
silenciadas e esquecidas, enquanto sujeitos e grupos capazes de possibilitar
autor-afirmações indentitárias. No entanto, a real afirmação de tais riquezas
culturais somente começou a desabrochar a partir dos finais do século XX,
quando o movimento negro e outras instituições ativistas maranhense começaram a
apropriar-se de suas próprias significações
socioculturais. [FERRETI,1998].
A
herdeira dos sonhos atenienses? O governo de Roseana Sarney
Com Roseana Sarney,
foi iniciado um novo tipo de resgate à determinadas esferas culturais do
Maranhão. A partir do artigo “Cultura Popular no Maranhão: Uma indústria
política?” [2005], de Letícia Cardoso, pôde-se perceber que houve uma grande
estatização nos projetos de incentivo à cultura local. A autora perceberá que,
a partir do “Plano de Cultura” do governo estadual, de 1995-2000, o Maranhão
passou por uma forte transformação no campo político-cultural.
Para entendermos esse
processo, precisamos discutir a própria ideia de cultura enquanto simbolismo de
ações coletivas [não sendo o conceito em si, reduzido a essa simplória
apresentação]. De acordo com Thompson [2000], a troca de saberes e vivências
podem ser dinamizadas a partir de traços simétricos, ou seja, quando existe a
espontaneidade nas ações individuais e coletivas, ou, assimétricas, quando a
dinâmica humana é financiada de forma institucionalizante, através de ações que
transformam a própria cultura como sendo um produto da mecanicidade. Como
sugere Thompson [2000]:
“[...] as formas
simbólicas estão também inseridas em contextos e processos sócios históricos
específicos, dentro dos quais, e por meio dos quais, são produzidas,
transmitidas e recebidas. [...] Podem estar caracterizados, por exemplo, por
relações assimétricas de poder, por acesso diferenciado a recursos e
oportunidades e por mecanismos institucionalizados de produção, transmissão e
recepção de formas simbólicas” [Thompson, 2000, p. 181].
Será a partir de tal
concepção que ficará visível a ideia de industrialização da cultura, como forma
de intensificar a dominação de determinadas frações de classes dominantes nas
múltiplas esferas sociais. E no contexto da sociedade maranhense, nada mais
certeiro do que promover a aproximação das estruturas burocráticas do Estado
restrito [ou seja, da sociedade política], com os indivíduos pertencentes às
classes mais pobres. Sendo tal estratégia, um dos grandes pilares de
sustentação da oligarquia Sarney, ao longo de 50 anos governando o estado
[COSTA, 2015].
Para Cardoso [2005], o
governo de Roseana Sarney promoveu um forte arranjo na padronização e
ressignificação da cultura popular. Tal compreensão será melhor explicada
através de alguns conceitos que a autora utiliza para problematizar as ações da
ex-governadora.
Primeiramente
precisa-se pontuar o conceito de “serialização” das ações dos indivíduos, que
podem se tornar potenciais consumidores. Como o mercado não pode atender as
demandas singularizadas dos sujeitos, ele reproduz a classificação,
hierarquização e padronização dos produtos, para que se tenha uma generalizada
mobilização em prol do consumo. No caso dos festejos juninos maranhenses, o
governo de Roseana criou os famosos “Vivas”, que consistia na criação de
circuitos padronizados pela Secretaria de Cultura do Estado, com a intenção de
fixar valores e prestígios para determinados grupos de brincantes, de acordo
com as localidades e personalidades que estariam envolvidas no desenrolar de
tais apresentações. Como explica Cardoso [2005]:
“ [...] o governo Roseana
Sarney seleciona as atrações para os circuitos culturais nos períodos festivos
(carnaval e festejos juninos), a partir de determinados fatores. Um deles é o
critério socioeconômico da recepção e a subjetividade do processo de seleção
[...] A classificação dos arraiais também está diretamente relacionada à classe
social da recepção, pois a própria Kátia confirma que o nível socioeconômico do
público influencia na programação: ‘geralmente, os grupos Tipo A e B iam logo
para os maiores Vivas’. Os arraiais menos importantes também recebiam atrações
dessas categorias, mas numa escala muito menor. Portanto, eram preenchidos por
contingência” [CARDOSO, 2005, p. 5].
Além disso, o conceito
de “Sujeito Industrial” é de grande valia para pensarmos tal estrutura
industrializante. A mecanização que é orquestrada pelo próprio funcionamento do
produto cultural, amplia a potencialidade do brincante enquanto consumidor.
Suas ações espontâneas tornam-se enfraquecidas ao perceber que a magnitude dos
festejo está vinculada a um sistema que capitaliza e hierarquiza as concepções
de diversão. Uma das formas de orquestrar tal prática foi a utilização de ações
cadastrais que inviabilizava toda e qualquer ação espontânea de receber
incentivo pelo governo:
“Um exemplo disso é a
criação do cadastro oficial das
manifestações. No primeiro mandato de Roseana Sarney [1995-1998], o governo
instituiu a obrigatoriedade do registro jurídico das manifestações populares em
troca de cachês pelas apresentações festivas [São João, Carnaval e outros].
Aquele que não estivesse devidamente registrado ficava excluído do circuito
cultural oficial” [CARDOSO, 2005, p. 6].
A
importância do Ensino de História Cultural como instrumento de salvaguarda
patrimonial
O ensino de história
cultural, para alunos do ensino básico, potencializa ações afirmativas para a
preservação de patrimônios históricos materiais e imateriais. Compreender as
dinâmicas das manifestações culturais, e a relevância que elas possuem no
processo de autoafirmação do indivíduo, deve ser um importante fundamento, a
ser ministrado por professores das ciências humanas, em especial para o ensino
de história. Nesse sentido, como, orienta os Parâmetros Curriculares Nacionais
do Ensino Fundamental [1997], no que se refere ao que os alunos sejam capazes
de entender e discutir:
“conhecer
características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e
culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade
nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País” [PCNs, 1997].
Nesse sentido,
generaliza-se a ideia indenitária nacional, o que é de grande relevância, na
medida que, ao juntar os particularismos culturais de cada região, acaba por
construir um grande mosaico pluralizado, incorporando os vários significados
socioculturais dos sujeitos e grupos entrelaçados pelo plano indenitário
brasileiro. Por isso, torna-se necessário ressaltar a definição de cultura, na
disciplina de história do ensino médio, colocado pelo plano de Orientações
Curriculares Para o Ensino Médio [2006]:
“A cultura, que
confere identidade aos grupos sociais, não pode ser considerada produto puro ou
estável. As culturas são híbridas e resultam de trocas e de relações entre os
grupos humanos. Dessa forma, podem impor padrões uns sobre os outros, ou também
receber influências, constituindo processos de apropriações de significados e
práticas que contém elementos de acomodação–resistência. Daí a importância dos
estudos dos grupos e culturas que compõem a História do Brasil, no âmbito das
relações Interétnicas” [OCNs, 2006].
Considerações
Finais
Com isso, percebemos
que as práticas desenvolvidas no governo de José Sarney e Roseana Sarney foram
dois importantes marcos para o início e intensificação de novas perspectivas
sobre as esferas das tradições culturais do Maranhão. Ao passo que também
potencializou uma dominação erudita e assimétrica, com traçados positivistas e
etnocêntricos no incentivo, que acabou por promover ressignificações aos
diversos patrimônios culturais locais. O ponto crucial utilizado para articular
tais feitos dos governos de José e Roseana, foi a mecanização e
industrialização da cultura, através de dois pilares: o plano de consumo, e o
plano eleitoreiro. Assim como o brincante consumia, ele também construía uma
dependência indireta, na relação social que lhe fora imposto, transformando-se
em um eleitor em potencial:
“O indivíduo na
indústria cultural é considerado um objeto, é alienado e visto apenas como um
consumidor em potencial. No Maranhão, além de consumidor em potencial, o
indivíduo também é visto como um eleitor em potencial. Entretanto, esse
processo se dá através de uma interação dialética entre os grupos
socioculturais dominantes, que é elaborada, mantida e dinamizada a partir de
negociações com os demais grupos sociais. No consumo, portanto o, as relações
de poder encontram-se diluídas. Nele, as ações e reações dos grupos sociais são
estabelecidas dentro das possibilidades permitidas pelo grupo que dita às
regras do jogo no plano simbólico e econômico” [CARDOSO, 2005, pp. 5-6].
Portanto, as ações que
institucionalizaram as estruturas de mecanização dos complexos culturais,
promoveram aquilo que Gramsci conceituava como “Aparelho Privado de Hegemonia”.
Ou seja, na utilização de ferramentas que permitem a construção de consenso em
torno da sociedade civil, com o intuito de possibilitar a hegemonização do
projeto político em vigência. No caso de José Sarney fica nítido a construção
de um “Maranhão Novo” e de uma assimetria com os valores fora da classe
dominante, a partir de uma ideia modernista que se intitulava de “Atenas
Brasileira” [COSTA, 2015].
No caso de Roseana
Sarney a potencialidade de tais ações culturais buscava dar sentido de
continuidade e permanência de poder, a partir da esfera burocrática do Estado,
e com as abstrações da sociedade civil, principalmente com o uso do imaginário
coletivo, tão praticado através dos idosos, em suas lembranças de juventude, na
qual sempre retratam um saudosismo e gratidão pelos “favores” promovidos pela
oligarquia Sarney [ALDANEZ, 2010].
Assim sendo,
precisamos perceber que a produção e reprodução de valores culturais precisam
ser mediados através daqueles que detém o conhecimento dos festejos, como os
donos de bois [referência à quem pratica
o Bumba Meu Boi], tambores, e de outras ações culturais. Quando se possui uma
vinculação da sociedade civil no fazeres das festas, a própria dinamicidade
torna-se menos assimétrica, não homogeneizando as dimensões que existem nas
manifestações. Ou seja, a inserção da classe que promove a brincadeira no
processo de organização que os governos promovem, institui uma prática positiva
e que consolida uma ação saudável para a sociedade.
Dessa forma, o ensino
de história, sobre a preservação patrimonial, torna-se de extrema necessidade
para a melhor compreensão do sujeito educando, no que se refere ao seu papel
social, enquanto indivíduo detentor de direitos e deveres comunitários.
“A constituição do
patrimônio cultural diverso e múltiplo e sua importância para a formação de uma
memória social e nacional, sem exclusões e discriminações, são abordagens
necessárias aos educandos. É necessário chamar a atenção dos alunos para os
usos ideológicos a que a memória histórica está sujeita, que muitas vezes
constituem ‘lugares de memória’, estabelecidos pela sociedade e pelos poderes
constituídos, que escolhem o que deve ser preservado e relembrado e o que deve
ser silenciado e ‘esquecido’” [OCNs, 2006]
Ao passar tais
questionamentos e afirmações aos alunos, os valores e significados culturais
acabam sendo preservados, e transformados a partir de ações diretas da
comunidade que organiza e dissemina tais valores e significados.
Referências
Victor Gabriel de
Jesus Santos David Costa é graduando do curso de Licenciatura em História pela
Universidade Estadual do Maranhão [UEMA]. Membro do Núcleo de Pesquisa em
História Contemporânea [NUPEHIC]. Estagiário do Centro de Referência e Vivência
Casa do Tambor de Crioula. Orientando da Profa. Dra. Monica Piccolo.
ALBANEZ, Lady Selma
Ferreira. “O ‘urrou’ do boi em Atenas: instituições, experiências culturais e
identidade no Maranhão. Tese [Doutorado em Ciências Sociais] – Universidade
Estadual de Campinas, 2004.
BARROS, Antônio
Evaldo. “A terra dos grandes bumbas: a maranhensidade ressignificada na cultura
popular [1940-1960]”. Caderno Pós Ciências Sociais - São Luís, v. 2, n. 3,
jan./jun. 2005
BRASIL. “Parâmetros
Curriculares Nacionais [PCNs]. Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL. “Orientações
Curriculares para o Ensino Médio : Ciência Humanas e suas tecnologias” [OCNs].
Médio. Brasília: MEC/SEB, 2006.
CARDOSO, Letícia
Conceição Martins. “A Cultura popular no Maranhão: Uma indústria política?”
VIII Conferência Brasileira de Folkcomunicação, 2005.
COSTA, Wagner Cabral
da. “Do ‘Maranhão Novo’ ao ‘Novo Tempo’: trajetória da oligarquia Sarney no
Maranhão’”. São Luís, UFMA. 1997.
Disponível em
http://www.fundaj.gov.br/geral/observanordeste/cabral2.pdf
Acesso em: 20 jan. 2011.
COUTINHO, Carlos
Nelson. “Gramsci: Um estudo sobre seu pensamento político”. Rio de Janeiro:
CAMPUS, 1989.
FERRETI, Sérgio.
“Sincretismo afro-brasileiro e resistência cultural”. Horizontes
Antropológicos, Porto Alegre, ano 4, n. 8, p. 182-198, jun. 1998
GRAMSCI, Antonio. “Os
intelectuais e a organização da cultura”. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1988.
SILVA, N. M.
“Comercialização e Produtos Culturais: pontos para reflexão. Estudos de
Sociologia”, Rev. do Prog. De Pós-Graduação em Sociologia da UFPE, v. 11, n.
1,2, 2005, p. 31-48.
THOMPSON, John B. “O
conceito de cultura”. In: Ideologia e
cultura moderna. Petrópolis: Vozes,
2000.
Olá, Victor. Belo texto.
ResponderExcluirGostaria de saber se, em seus estudos, foi identificado algum movimento de contracultura, de matriz africana, seja no período modernista, seja no momento atual que busca ou buscou suas raízes na ancestralidade, a fim de fazer frente à vertente modernista ou para estabelecer um embate à valorização de determinadas práticas culturais, tendo em vista o viés mercadológico, que você pontuou?
Luciano Araujo Monteiro
Olá, Luciano, a sua ideia de contracultura parte do pressuposto de que existem ações diretas ou indiretas que possibilitem a continuidade de determinados valores tradicionais, em detrimento do avanço de ações industrializantes que visam a desconfiguração de determinados laços culturais, em prol do mercado? Se sim, toda manifestação que viabiliza a permanência de seus valores poderia ser considerada um tipo ação contracultural, independente de levantar ou não bandeiras afirmativas em prol de suas lutas, pois só o fato de existirem e continuarem a exercerem suas práticas já lhes tornam instituições que viabilizam a salvaguarda de seus saberes. Precisamos lembrar que a sociedade civil maranhense só vai estruturar um tipo frente de defesa das tradições populares, a partir do final do século XX, com a organização de Núcleos de Pesquisas da Universidade Federal do Maranhão, e a progressiva luta do Movimento Negro local. A ação pedagógica de entidades de matrizes africanas, por mais que tenham sido balizas importantes para a permanência dos valores ancestrais, não tiveram um tipo organização moldado de acordo com os seguimentos de protesto que conhecemos hoje, mas, isso não significa dizer que não foram importantes para o estabelecimento de direitos conquistados na atualidade.
ExcluirAtt, Victor Gabriel de Jesus Santos David Costa
Graduando do Curso de Licenciatura em História pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Membro do Núcleo de Pesquisa em História Contemporânea (NUPEHIC). Estagiário do Centro de Referência e Vivência Casa do Tambor de Crioula.
Obrigado pelas informações
ExcluirLuciano Araujo Monteiro
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ResponderExcluirOlá Victor,
ResponderExcluirParabéns pelo seu trabalho, de fato, relevante para o ensino de história no Brasil.
Na verdade minha pergunta vai mais no sentido da curiosidade: Gostaria de que você nos falasse como encontrou seu objeto de pesquisa? Ou foi ele que te encontrou? Como ocorreu esse processo de interesse por essa tematica?
Muito obrigada e ótimo evento pra você!
Camila de Brito Quadros Lara.
Olá, Camila, obrigado pela pergunta. Essa pesquisa surge a partir da minha inserção nas instâncias burocráticas da cultura maranhense, através do meu estágio no Centro de Referência e Vivência sobre o Tambor de Crioula do Maranhão, que é uma manifestação cultural importantíssima para a nossa gente. Após fazer algumas investigações sobre tal temática, percebi que o Tambor de Crioula era extremamente silenciado pelas instâncias governamentais da família Sarney, no momento em que praticamente não existiam políticas públicas que enaltecessem tal manifestação. A hipótese que tirei sobre isso foi a respeito do racismo estrutural enraizado na sociedade maranhense, no momento em que o Tambor tem sua origem nas matrizes africanas. Comparei com as ações afirmativas feitas pelo governo acerca de outra importante manifestação cultural do estado; o Bumba-meu-boi, que, por se tratar de uma tradição de origem indígena acabou sendo acoplada aos valores “modernistas” desde o primeiro mandado de José Sarney. A partir daí, resolvi fazer uma análise introdutória sobre essa questão, para posteriormente contemplar as especificidades sobre o Tambor de Crioula.
ExcluirAtt, Victor Gabriel de Jesus Santos David Costa