O LUGAR DA PRÉ-HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E NAS LICENCIATURAS EM HISTÓRIA
O conteúdo de
Pré-história começou a ser introduzido de forma regular nos livros didáticos do
Ensino Básico entre os anos de 1980/1990. Até então pouco se discutia sobre o
tema, e, no que diz respeito aos primeiros hominídeos e ao processo evolutivo
humano, esse era, normalmente, um assunto fora das discussões escolares. De
modo geral:
“A periodização, ainda
construída com base no currículo francês, continuou a privilegiar o estudo da
Antiguidade do Egito e da Mesopotâmia, momento histórico relacionado, no novo
contexto à gênese da Civilização e associado ao aparecimento do Estado forte e
centralizado e à invenção da escrita.” [BRASIL, 1997, p. 21]
No Brasil, esse modelo
tradicional de pensar a História no âmbito escolar foi moldado no século XIX e
seguiu até a República, e desde então, “Nas salas de aula ainda era prática
comum os alunos recitarem as lições de ‘cor’, com datas e nomes dos personagens
considerados os mais significativos da História” [Idem, p. 23]. Neste caso, o
problema é que na pré-história não se tem datas precisas e nem nomes para
relacionar a algum feito histórico, ou seja, não há batalhas registradas que
indiquem nomes de heróis.
Essa visão de
enaltecimento das figuras heroicas da história no Brasil foi mais presente
durante o período militar, cujo sentimento nacionalista deixava claro que o
Estado era a referência de uma organização social, e, mais uma vez, o
entendimento da pré-história não se enquadrava no modelo da ordem social e
religiosa cristã estabelecidos pelos padrões vigentes [Idem, p. 26].
No contexto da
organização curricular os anos de 1980 ainda é marcado por uma estrutura de
conteúdo amplo, em que o ensino de Ciências Sociais abrangia os assuntos de
História, Geografia e Organização Social e Política do Brasil, segundo prezava
a LDB de 1971 [MARTINS, 2015]. Porém, conforme analisa Cinthia Martins [2015],
é a partir da abertura política no Brasil e do crescimento dos programas de
pós-graduação, que se iniciam as discussões pautadas no ensino de História e
aponta-se a necessidade de se implantar conteúdos direcionados para cada área
do conhecimento. E, neste momento a ANPUH foi o elo crítico sobre o modelo
vigente, trazendo debates que conduziu a inserção de novos paradigmas, e assim,
passou a ser um dos principais protagonistas na transformação do ensino de
História na rede básica.
Com os debates
seguindo um curso de mudanças que ultrapassaram o âmbito acadêmico deu-se
espaço para que novos conteúdos fossem abordados em sala de aula, e, por
consequência, os livros didáticos e os cursos de formação docentes necessitaram
também de adequações. É neste momento que os conhecimentos acadêmicos se
aproximaram do Ensino Básico. Entretanto, a Pré-história ainda não ocupava seu
lugar como conteúdo sobre origem da humanidade nas aulas de História, e sim,
surgia de forma superficial nas aulas de Biologia durante o Ensino Médio. E a
questão que nos coloca a pensar a Pré-história é porque, atualmente, apesar
deste conteúdo ter uma ênfase nos anos iniciais da formação básica, depois é
negligenciado nos anos seguintes.
Refletindo e
trabalhando com o ensino de Pré-história, esse artigo tratará da discussão do
lugar deste tema, a partir das perspectivas do Ensino Superior nos cursos de
licenciatura e seu respectivo desempenho no Ensino Básico. Para tanto, o debate
aqui apresentado partirá de uma análise breve sobre o ensino de Pré-história em
duas diferentes instâncias: primeiro nas estruturas curriculares dos cursos de
licenciatura em História e da educação básica; segundo, de como o ENEM e o
ENADE têm pautado esse conhecimento nos seus processos avaliativos ao longo das
últimas décadas.
As discussões sobre a
evolução humana, durante muitos anos, ficaram restrita aos espaços acadêmicos e
científicos, mas, ao chegar o assunto no Ensino Básico, conceitos como
adaptação humana, glaciação, grafismos rupestres, instrumentos líticos e outros
tornaram-se mais comuns. Com isso, a temática ficou mais acessível e a antiga
percepção do senso comum de “homens das cavernas” passou a ser vista por
classificações mais adequadas, como a identificação de Australopitecos,
Neandertais, Homo habilis, e assim por diante.
A forma tardia em que
se implantou o conteúdo de Pré-história no Ensino Básico pode ser interpretada
a partir de algumas questões, e aqui podemos discutir duas. Uma delas, como
dito acima, refere-se sobre a visão do ensino de História na educação básica,
que no Brasil, só foi possível após a abertura política. A segunda hipótese se
dá ao fato de que as discussões sobre a Pré-história como produto de intensas
pesquisas arqueológicas, só tornaram-se conhecidas do público em geral pelos
idos dos anos 1980, quando trabalhos feitos por pesquisadores brasileiros como
Niède Guidon, ou por equipes de grandes museus como o Emílio Goeldi, que já
realizavam seus trabalhos em épocas bem anteriores, passaram a ser
publicizadas. Neste mesmo ínterim, os cursos de graduação e pós-graduação
começam a se estabelecer no país, dando assim ênfase ao tema da antiguidade
humana não apenas pelo viés da chamada sociedade clássica.
Nos anos 1990 ocorrem
consideráveis mudanças nos currículos escolares, mas essas, de acordo com Circe
Bittencourt [2008, p. 101], são fruto de um molde econômico que pretende
adequar os países a uma lógica capitalista excludente, sendo a sociedade
educada para o mercado. Deste modo, assuntos que não gerem reflexão imediata
sobre os espaços de trabalho, são naturalmente descartáveis dos interesses de
formação básica.
A mais recente mudança
no plano curricular no Brasil foi implantada pela BNCC em 2017, e aponta para a
discussão sobre as origens da humanidade no 6º ano, segundo o qual, o aluno
deverá compreender sobre o processo de evolução humana a partir de
“[...] seus
deslocamentos e os processos de Sedentarização; [...] Identificar as hipóteses
científicas sobre o surgimento da espécie humana e sua historicidade, e,
analisar os significados dos mitos de fundação. Conhecer as teorias sobre a
origem do homem americano.” [BRASIL, 2017]
Podemos dizer que essa
inserção já nos primeiros anos do ensino Fundamental II é um grande passo, e
que deverá permitir aos alunos uma percepção sobre as questões que permeiam a
Pré-história. Entretanto, cabe ainda uma análise mais aprofundada dos livros
didáticos frente a esse contexto, visto que, em grande parte, eles abordam o
conteúdo de forma superficial, alguns chegando a apenas fazer referências à
Pré-história do Brasil. Por outro lado, temos que observar, também, como tem
sido a formação dos professores nos cursos de Licenciatura.
A questão da formação
dos docentes é um adendo a essa discussão. Em 2013 realizamos um levantamento
de 30 cursos de licenciatura em História em instituições públicas [Federal e
Estadual] do Brasil. Os dados em questão apresentaram que “a disciplina não faz
parte do currículo de 64% das instituições. Em 36% delas, a disciplina é
ofertada, sendo que, em apenas uma, a UFS, a disciplina tem caráter eletivo,
nas demais ela é obrigatória já para o primeiro semestre” [BORGES; RODRIGUES,
2013, p.6].
Refazendo o mesmo
levantamento agora em 2020, os dados permanecem os mesmos, e considerando as
universidades por região brasileira, a região Nordeste é a que apresenta maior
número de instituições a oferecer a disciplina como obrigatória na sua grade
curricular. Se considerarmos que se passaram sete anos entre esses
levantamentos, percebe-se claramente o pouco interesse das instituições em
inserir o tema em seus currículos. E, assim como nos questionamos em 2013,
repetimos a mesma pergunta: como os professores do Ensino Básico trabalham o
conteúdo em sala de aula, se não tiveram a administração da disciplina em seus
cursos de formação?
A resposta poderia ser
a da autonomia das universidades e das instituições em definirem seus
currículos a partir das suas demandas. Mas, como ficam então os alunos do
Ensino Básico? Com que segurança e domínio de ensino o professor vai ter em
trabalhar o assunto em sala de aula? Como consequência, há a necessidade que
esses busquem outras fontes de pesquisa sobre o assunto para que possam assim
abordá-los em sala de aula ou simplesmente seguir o programado, conforme propõe
o livro didático, perpetuando assim um ensino de Pré-história deficiente e
limitado.
Em parte, esse descaso
com o ensino de Pré-história tanto no Ensino Básico com no Superior se reflete
nos dois processos avaliativos mais importantes do país: o ENEM e o ENADE. O
primeiro consiste no Exame Nacional do Ensino Médio, que vem sendo aplicado
desde 1998. Com um formato de 63 questões objetivas de caráter avaliativo, que
abrangem as demais áreas de conhecimento trabalhadas no Ensino Médio, apenas em
2004, a prova passou a valer para ingresso em algumas universidades
brasileiras, além de, através de sua nota, trazer a possibilidade dos
candidatos se inscreverem para bolsas de estudo, por meio do programa
governamental PROUNI [Programa Universidade para Todos].
Todavia, em 2009 a
prova passou por modificações, assumindo um novo formato, com 180 questões.
Esse modelo tinha por objetivo unir os vestibulares específicos das
universidades federais brasileiras. Além disso, a partir de então passaria a
substituir antigos vestibulares pelo país e seria a forma de ingresso no Ensino
Superior. Instituições como a Universidade Federal da Paraíba, passou a aceitar
essa nova forma de ingresso a partir de 2011, através do sistema do Sisu
[Sistema de Seleção Unificada].
Durante as 21 edições
da prova [1998-2019], nas edições de 2006, 2007 e 2008, houve apenas uma
questão de Pré-história para cada período citado; já após as modificações, os
anos 2009, 2014 e 2015 continham também uma questão sobre o assunto. Ou seja,
durante esses 21 anos, o exame teve apenas seis questões [em anos diferentes],
sendo a maioria delas referente a evolução humana ou pinturas rupestres.
Já o ENADE foi criado
em 1993 como o nome de PAIUB [Programa de Avaliação Institucional das
Universidades Brasileiras] e em 1996 passou a ser considerado como Exame
Nacional de Cursos, conhecido na época como Provão. Até 2007, o ENADE tinha o
objetivo de avaliar o desempenho dos cursos de graduação, sendo que, a partir
de 2017, ele passou a ser também utilizado para fins censitários. Atualmente, é
um sistema que
“avalia o rendimento
dos concluintes dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos
previstos nas diretrizes curriculares dos cursos, o desenvolvimento de
competências e habilidades necessárias ao aprofundamento da formação geral e
profissional, e o nível de atualização dos estudantes com relação à realidade
brasileira e mundial” [http://portal.inep. gov.br/enade. Acesso em 27/03/2020].
Neste processo, os
cursos de História [licenciatura e bacharelado] passaram por quatro avaliações
referente aos anos de: 2008, 2011, 2014 e 2017
[http://portal.inep.gov.br/educacao-superior/enade/
provas-e-gabaritos.
Acesso em 27/03/2020]. Diante da análise das provas dessas etapas, em nenhuma
delas foi apresentada questões relacionadas à Pré-história, nem mesmo do
Brasil, assunto esse que vem sendo abordado de forma recorrente nos livros
didáticos nas últimas décadas. Ou seja, esse resultado é fruto da escassez da
disciplina, na maioria das universidades do país; afinal, como cobrar o assunto
em um exame, se os discentes não tiveram contato com o mesmo?
Em uma análise geral,
começando pela comparação dos dados sobre os currículos de licenciatura das
Instituições de Ensino Superior, esperava-se que houvesse uma maior preocupação
por parte das universidades em discutir o tema em seus cursos de História. Isso
considerando a formação do professor e sua atuação no Ensino Básico.
Ao que tudo demonstra,
prevalece ainda a ideia de que a Pré-história não faz parte do conjunto da
História Geral da humanidade, mas se encontra no âmbito exclusivo da
Arqueologia, da Antropologia e da Biologia. Deste modo, foge-se a concepção da
Nova História ao reconhecer que a produção de estudos e pesquisas de outras
áreas do saber, dentre eles a Arqueologia, cujos objetos de estudos, seus
resultados e a própria habilidade dos arqueólogos, remetem e resultam do e no
conhecimento histórico. Como afirmou Schnapp, “[a Arqueologia] coloca em
situação privilegiada a análise e a elaboração de conceitos numa atividade em
que os fatos sempre ocuparam e ocupam um lugar excepcional” [SCHANPP, 1976, p.
18].
Deste modo, devemos
pensar qual o lugar da Pré-história no Ensino Básico e nos cursos de
Licenciatura, sendo este valoroso e indispensável para o pensar e o conhecer
dos processos históricos, das culturas e das práticas cotidianas de diversos
grupos humanos. Ao vermos o crescimento de discursos sobre a História do tempo
presente, devemos buscar sim a História das antiguidades a partir dos primeiros
humanos, quando estes estavam no seu engatinhar cultural, social e intelectual.
Devemos nos desvencilhar da tradicional concepção de que a humanidade só se
tornou como tal a partir da escrita ou do que, de forma extremamente
conservadora, se condicionou a adotar de “civilização”.
Da mesma forma que
entendemos a História contemporânea a partir das múltiplas relações, como a
economia, a política, as relações de poder e de trabalho, entre outros, as
áreas de ensino que compreendem tanto a educação básica, quanto os cursos de
Licenciatura em História, precisam empreender sobre os aspectos que
contextualizam a origem da humanidade. É a partir de segmentos da chamada
evolução humana, e suas diretrizes como ocupações e adaptações ambientais,
sistemas tecnológicos, organizações sociais e culturais, que as “primeiras
civilizações” conseguiram moldar e construir seus processos históricos.
Entender todo o processo
evolutivo humano, que começa desde a Pré-história, não é prender-se ao campo da
Arqueologia, mas perceber e transmitir ao aluno do Ensino básico que, do mesmo
modo que não existe uma linearidade histórica, também não existem rupturas
abruptas, em que a existência humana se rompeu em algum momento de sua evolução
enquanto caçador nômade morador das cavernas, e subitamente surgiu em regiões
orientais, dominando a agricultura, arquitetura, ciências, artes, etc.
Assim, trabalhar a
Pré-história na educação básica e nos currículos dos cursos de História é
corrigir uma falha no pensar sobre a evolução humana, e perceber que esta
evolução não se encerrou ao nos tornarmos biologicamente Homo sapiens, mas que
ainda estamos neste processo, e de diversas formas.
Referências
Cláudia Cristina do
Lago Borges é doutora e professora de Pré-história da Universidade Federal da
Paraíba.
Maria Luisa Soares
Marcolino é graduanda em História pela UFPB e monitora da disciplina de
Pré-História.
BITTENCOURT, Circe
Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. 2 ed. São Paulo:
Cores, 2008.
BORGES, Cláudia
Cristina do Lago; RODRIGUES, Katharine Suelen do Nascimento. Teoria, método e
produção didático-pedagógica no ensino de pré-história. Anais do XXVII
Simpósio Nacional da ANPUH. Natal, 2013. Disponível em:
http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1385662781_ARQUIVO_ArtigoAnpuh2013-1.pdf.
Acesso em: 16 mar. 2020.
BRASIL. Ministério da
Educação - MEC, 2010. Educação Básica: Exame Nacional do Ensino Médio.
BRASIL. Portal INEP.
http://portal.inep.gov.br/enade. Acesso em 27 de março de 2020.
BRASIL. Reformulação e
Ampliação do Exame Nacional do Ensino Médio [Enem]. Educação. 2010. Disponível
em:
https://i3gov.planejamento.gov.br/textos/livro3
/3.2_ Educacao.pdf. Acesso em 17 fev.
2020.
BRASIL. Secretaria de
Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História. Secretaria
de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
Exame Nacional do
Ensino Médio. INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira. Ministério da Educação. Disponível em: http://portal.
inep.gov.br/provas-e-gabaritos. Acessado em 21 mar. 2020
FTD: Sistema de
ensino: Todo ENEM 2015. - 1.ed. - São Paulo: FTD, 2015.
MARTINS, Cinthia
Cristina de Oliveira. O ensino em debate: os anos de 1980 e o embate acadêmico
sobre o ensino de História. Anais do XXVIII Simpósio Nacional da ANPUH.
Florianópolis, 2015. Disponível em:http://www.snh2015.anpuh.org/resources
/anais/39/1434423780_ARQUIVO_OENSINOEMDEBATEfinal.pdf. Acesso em 16 mar. 2020.
SCHNAPP, Alan. A
arqueologia. In: LE GOFF, Jackes; NORA, Piere. História: Novas abordagens. Rio
de Janeiro: F. Alves, 1976, p. 1-20.
Parabéns pela reflexão professora. Eu gostaria de questionar a manutenção dessa expressão "pré-história", por que ela se mantém? As críticas ao termo parecem consolidadas, mas o que ocorre que não cai em desuso?
ResponderExcluirOlá Ernesto
ResponderExcluirDe fato, o termo Pré-história parece consolidado, mas há falhas na compreensão do contexto que cerca essa temporalidade. Se pensarmos no processo de evolução humana, a primeira ideia é sobre a questão biológica. No entanto, o processo evolutivo perpassa de forma muito mais ampla, especialmente no que concerne a evolução cultural e social.
Assim, se pensarmos na questão da Antiguidade do Homem, ela poderia remeter desde as primeiras espécies hominídeas até a formação do que se considera civilização.
O problema que se pauta neste caso, é a apropriação do termo História Antiga para referir o início da História. Aí vemos o conflito conceitual, pois os povos que deram início a História da humanidade não começaram de simples instintos biológicos, há por trás toda uma formação social, cultural e tecnológica provinda de processos anteriores.
Didaticamente, falar da antiguidade humana a partir do primeiros hominídeos é permitir uma reflexão sobre os processos evolucionários, é permitir uma compreensão de como as sociedade partiram de grupos de caçadores-coletores ao uso da inteligência artificial.
Obrigada por dialogar conosco.
Cláudia Cristina do Lago Borges
O ensino brasileiro, possui dificuldade em pesquisa e ensina o estudo da pré-história, por ainda estar pautado nos moldes tradicionais da historiografia europeia?
ResponderExcluirCarlos eduardo ferreira alves
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ResponderExcluirPensando o estudo da pré-história no continente americano, qual seria a importância do Brasil, no desenvolvimento de pesquisas atualmente?
ResponderExcluirCarlos eduardo ferreira alves
Oi Carlos,
ExcluirRespondendo as suas duas perguntas, de fato os marcos temporais da História seguem uma proposição europeia, não apenas teórica, mas pelo espelhamento de seus próprios contextos. No caso da Pré-história, a maior parte das classificações técnicas são baseadas nos padrões europeus, a exemplo disso é a classificação das indústrias líticas. Só a partir da década de 1960 que o Brasil e pesquisadores de outros países passaram a determinar suas classificações específicas, baseadas nas suas realidades locais, e aí podemos citar as classificações das pinturas rupestres no Brasil.
De modo geral, podemos dizer que, de certo modo, a popularização da arqueologia e a divulgação das pesquisas para além dos meios acadêmicos têm tornado o conhecimento mais amplo e mais próximo de públicos leigo.
A parte que cabe ao Brasil no contexto da pré-história da América é tão importante quanto sítios como os mais conhecidos Clóvis. As áreas do Piauí e da Amazônia são de extrema representatividade para se conhecer a ocupação do homem americano, sem falar no sítios de Lago Santa e de São Leopoldo, que com o crânio de Luzia, deu mais sustentabilidade e autoridade junto aos acadêmicos norte-americanos em negar a antiguidade do povo americano anterior aos 12 mil anos do povo Clóvis.
Obrigada por participar do debate.
Att. Cláudia Cristina do Lago Borges
Boa noite, primeiramente gostaria de parabenizar as autoras pelo artigo. Gostaria de saber a opinião de vocês sobre como devem ser abordadas as sociedades indígenas no Brasil na sala de aula?
ResponderExcluirDesde já agradeço a atenção,
Atenciosamente,
Avelino Gambim Júnior
Olá Avelino
ExcluirA questão indígena tem uma particularidade quanto ao ensino. Algumas vezes o tema é discutido lá nos capítulos sobre a pré-história, mas depois o assunto desaparece, e só retorna no período da colonização. A impressão que dá é que esses povos entrarão num vácuo temporal ou de extinção e ressurgem repentinamente.
É importante tratar o tema no ensino básico fora dessa ruptura, mas que as sociedades indígenas encontradas pelos colonizadores são descendentes dos primeiros grupos humanos a ocuparem o território americano.
Então a minha sugestão é mostrar como esses grupos se encontram culturalmente, apesar da diferença temporal.
Att
Cláudia Cristina do Lago Borges
Boa tarde. Muito bacana o seu trabalho. Agora, o termo pré-história não cabe mais e assim, quando nos referimos aos povos indígenas, Qual periodização poderíamos usar em sala de aula para não cair no erro de compara-los aos europeus que possui sua periodização já estabelecida?
ResponderExcluirGrato,
Marlon Barcelos Ferreira
Olá Marlon
ExcluirNa verdade não tem como estabelecer um marco cronológico, mas demonstrar como os processos culturais seguem numa continuidade. Por exemplo: os primeiros grupos humanos a ocuparem o território brasileiro eram basicamente caçadores-coletores, e alguns desenvolvem sistemas agrícolas. As técnicas utilizadas por esses grupos iniciais se perpetuam em sua grande parte pelos grupos indígenas do período de contato.
Pensar em cronologia ou marcos divisórios para essas culturas, simplesmente não se aplica porque não há rupturas registradas para que pudéssemos criar classificações. Isso só ocorre com a chegada dos europeus.
Att
Cláudia Cristina do Lago Borges
Olá, a leitura da comunicação foi muito importante pra mim. Sou acadêmica de Licenciatura em História da Federal do Amazonas, e aqui, bem como os 64% apontados, não possuímos Pré-História na grade do curso. Dessa forma, minha dúvida é como abordar tal período com alunos do 6 ano, onde é mais fácil trabalhar a consciência histórica a partir de exemplos locais e próximos?
ResponderExcluirAgradeço desde já,
Victoria Katarina Cardoso Lima.
Olá Victória
ExcluirVocê está numa área em que a arqueologia e a pré-história estão muito presentes, e, no caso da ausência dessa formação na graduação, o professor da rede básica tem um espaço físico de aula viva, e aí as aulas de campo são os principais suportes de complementação do que está no livro didático.
O que cabe ao professor, e especialmente aos cursos de formação, é pensar no aluno e nas demandas presentes próprias do conhecimento histórico.
Então o que eu posso dizer, vá ao sítio e aos museus. A aula fora da sala traz uma vivência única.
Att
Att
Cláudia Cristina do Lago Borges