Ayrton Matheus da Silva Nascimento


O[S] USO[S] DA[S] PALAVRA[S] E AS SIGNIFICAÇÕES PARA/NO O OFÍCIO DO HISTORIADOR




O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o uso/emprego das palavras e dos discursos dentro da construção da história, e o seu leque de possibilidades para a operação historiográfica, a partir dos estudos discursivos desenvolvidos Pêcheux [1983; 1993; 2009], Orlandi [2012], etc. Para efetivação deste objetivo, lançamos mão de revisão de literatura, com base no aporte teórico-analítico da análise de discurso francesa [doravante AD], e de alguns diálogos que aproxima a Linguística da historiografia como Koselleck [2006]. E por fim, fazemos a elucidação de uma categoria que pode ser amplamente explorada dentro dos estudos, construção e reflexão historiográfica, que é condições de produção [CP], podendo, então, pensar como algumas categorias propostas pela AD podem nos servir de pontapé inicial para múltiplos caminhos e possibilidades em aberto, que as discursividades podem nos proporcionar. Concluindo, como os teóricos/as nos apontam, que as palavras e os discursos [des]velam os conflitos sócio-histórico e ideológicos frutos da práxis social no desenvolver da trama da história.

A história em curso
A história, no cenário em que March Bloch [2002], Historiador Francês, e um dos fundadores da escola do Annales [1944], problematizou, encontrava-se subjugada as Ciências Sociais, afinal, não havia tanta expressividade, sobre qual o objeto de estudo da história? E mais, quais as questões que o historiador deve[ria] trabalhar? E por uma não objetividade na reposta, a História consequentemente foi, por muito tempo, posta de lado como a menor e menos importante das ciências. Bloch, em resposta a isso definiu a História com a ciência que estuda o homem no tempo, ou melhor, os homens no tempo, destacando, então, além da particularidade no que se refere a objeto de estudo, distinto das outras ciências, ressaltar o caráter múltiplo e subjetivo da História, devido ao objeto no qual se propõe investigar.

Em tese, para o autor, não bastava afirmar que estudamos o tempo, passado ou o homem, pois consistiam em afirmações muito lacônicas, a cerca do nosso objeto de estudo, por isso dizemos que estudamos “os homens no tempo", expressando o caráter de singularidade entre as ciências. Posto como jurados dos tempos antigos.

Nos termos de Bloch [2002, p. 69]: “O historiador, por definição, está na impossibilidade de ele próprio constatar os fatos que estuda”. E que, “As características mais visíveis da informação histórica” adviriam das falas das testemunhas, afinal, diferente do conhecimento produzido no presente, e passível de reprodução em laboratórios [como pesquisar físicas, etc.], o nosso estaria resguardado pelo tipo de aquisição “indireta”, apreendida por meio da inquirição as fontes, dependendo em grande instância que o historiador use a sensibilidade, sem anular ou cair na [im]possibilidade da produção da/s narrativa/s historiográfica/s.

Desta maneira, resta nos perceber que os testemunhos [quando tomados como fontes legitimas para [re]produção da história, ainda que limitada como qualquer vestígio que venha a nos informar sobre o passado] passariam pela classificação, sendo então voluntários, dando-nos a intencionalidade de contar-se sobre personagens, fatos ou épocas, ou não voluntários, quando estes não traziam em si o objetivo de contar sobre questões que o atravessam, mas que nos contam sobre determinada temporalidade.

Das contribuições relegadas a Escola dos Annales, é destacada a renovação e a possibilidade de novos diálogos no que se refere a: fontes, métodos e interdisciplinaridade como destaca o historiador Burke [1997]. Antes recusadas pelo movimento positivista. Mas que agora ofereceria ao historiador múltiplas possibilidades de desvelar o seu objeto de estudo e adquirir o conhecimento sobre os homens no passado. Sendo que para efetivar do ofício a necessidade de multiplicidade de competências, unido a “[...] uma aliança de técnicas praticadas por eruditos diferentes, mas [todas] voltadas para a elucidação de um tema único. [em um] trabalho por equipes. [...] por comum acordo”. [BLOCH, 2002, p. 82. Inserção nossa].

O [dis]curso da palavra
As palavras, antes, na historiografia, poderiam ser apreendidas sem a tamanha importância que hoje é demonstrada pelos estudos Linguísticos e discursivos. Não que para a História elas não possuíssem valor, mas as concepções de fontes, que predominaram na historiografia, tomavam a leitura dos textos escritos como fontes/documentos opacos, e sem a presença explicita de marcas e cargas ideológicas que os mesmos continham, ainda que possuidores de historicidade. O interesse voltava-se a leitura que permitisse ao historiador apenas a descrição dos acontecimentos, e que as palavras, apenas, poderiam dizer algo sobre um tempo histórico em si, mas nunca como se elas mesmas pudessem ser lócus de sentido e de reflexão que nos informa-se sobre os homens no tempo e o seu fazer socio-cultural [BOURDÉ & MARTIN, 1983; BLOCH, 2002; BARROS, 2013].

Por meio delas [as palavras], nos ensina a teoria do discurso, temos as marcas da história, onde os seus sentidos encontram-se ancorados no tempo e no espaço. E está-nos [re]vela, desde os movimentos de sentidos, a errância dos sujeitos, seus trajetos e incertezas. Como um ritual, que se desloca entre a movência e o já cristalizado e assim “[...] os sujeitos e os sentidos se estabelecem” [ORLANDI, 2012, p.10]. Mas, devemos estar cientes que em diversos momentos “[...] os discursos também nos podem surpreender e enganar, mostrando se mais espertos que nós.” [SILVA SOBRINHO, 2012, p.17].

Se por um lado, temos a presença de palavras estruturadas como discursos nas fontes historiográficas, por outro temos o aporte teórico-analítico da análise de discurso que nos permite estabelecer sobre elas gestos de leitura e de interpretação capaz de nos informar sobre os homens e a sua práxis social [ORLANDI, 2012]. Conforme Moreira [2017, p, 63] os discursos: “[...] tem a capacidade de refletir sobre a realidade em que os homens estão ativamente inseridos e conceituar algo pertencente a essa realidade”, informando-nos sobre as dinâmicas sociais que foram estabelecidas sobre determinada época. Como bem nos ensinou Bloch “São os homens que [a história] quer capturar [...] o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está sua caça” [BLOCH, 2001, p. 54]. E é neste empreendimento que nos colocamos, de seguir as palavras e de perceber como elas nos ensinam e nos permite perscrutar a cerca dos homens no tempo e seus aspectos sócio-culturais, mesmo diante do que nos alertou Bloch [2001, p.54] de que: “Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição.” e não um bom historiador.

Segundo Bakhtin [1992], é no discurso em que a palavra manifesta sua função por excelência, apresentando-se como produto das relações e forças sociais que está contem. E que o discurso consiste na materialização das formações, como vemos:

“O discurso é uma materialização das formações: é, por isso, o espaço por excelência de expressão da palavra; a instância em que a palavra por excelência de expressão da palavra: a instância em que a palavra cumpre sua função, manifestando-se como produto das relações e forças sociais” [BAKHTIN. 1992a: 66].

Para o historiador Koselleck [2006], a construção da história se movimenta em dois níveis. Na primeira, ela examina fatos já articulados linguisticamente. Já na segunda, ela reconstrói fatos não articulados linguisticamente no passado, sendo possível de articulação por meio de determinados métodos e a execução de coleta de indícios. Ainda para o mesmo autor, os símbolos linguísticos quando empregados carregam em si, desde momentos de duração, a alteração e futuridade, que se apresentam em uma situação, mas que são possíveis de apreensão quando analisados no nível linguístico. [KOSELLECK, 2006, p.101].

Um dos conceitos desenvolvidos por Pêcheux [1993], e que pode nos auxiliar no perscrutar das palavras e nos jogos sócio-ideológicos em que estas se inserem, consiste em condições de produção, nos permitindo analisar e investigar o contexto sócio-histórico em que os discursos são produzidos e de como o mesmo é atravessado por questões ideológicas que acometem o sujeito consciente ou inconscientemente. Nas palavras de Pêcheux [1993, p. 77]:

“[...] um discurso é sempre pronunciado a partir de condições de produção dadas: por exemplo, o deputado pertence a um partido político que participa do governo ou a um partido da oposição; é porta-voz de tal ou tal grupo que representa tal ou tal interesse, ou então está "isolado" etc. Ele esta", pois, bem ou mal, situado no interior da relação de forças existentes entre os elementos antagonistas de um campo político dado: o que diz, o que anuncia, promete ou denuncia não ter o mesmo estatuto conforme o lugar que ele ocupa; a mesma declaração pode ser uma arma temível ou uma comédia ridícula segundo a posição do orador e do que ele representa, em relação ao que diz”.

Conforme Orlandi [2012], para a constituição da AD, Pêcheux buscou articular o marxismo, como teoria da História, Linguística estruturalista da sua época, e a contribuições da Psicanálise freudiana, advindas da releitura de Lacan, a fim de desvelar os discursos políticos, e compreender o movimento de atribuição de sentidos e das formações ideológicas. Assim, temos a AD, inicialmente definida e desenvolvida por Pêcheux [1998] como a teoria das formas ideológicas, buscando, então, uma teoria que explicasse as ideologias e a "[...] a determinação histórica dos processos semânticos" [SANTOS, 2013, P. 213]. Como nos traz Silva Sobrinho [2017]:

‘Sabemos que a AD iniciou sua caminhada confrontando-se com a linguística, com a Lógica, com a Psicologia Social e, também, com as Ciências Sociais, para mostrar como a linguagem não é transparente e como ela é afetada pela História’ [SILVA SOBRINHO, 2017, p. 13].

Sobre a conjuntura inicial Lemos [2017] nos ensina que:

“O projeto de Michel Pêcheux nasceu na conjuntura dos anos de 1960, sob o signo da articulação entre a linguística, o materialismo histórico e a psicanálise. Ele, progressivamente o amadureceu, explicitou, retificou. Seu percurso encontra em cheio a virada da conjuntura teórica que se avoluma na França a partir de 1975. Crítica da teoria e das coerências globalizantes, desestabilização das positividades, de um lado. Retorno do sujeito, deriva na direção do vivido, e do indivíduo, de outro. Deslizamento da política para o espetáculo! Era a grande quebra. deixávamos o tempo da "luta de classes na teoria" para entrar no do "debate". Neste novo contexto, Michel Pêcheux tentou, até o limite do possível, re-pensar tudo o que o discurso, enquanto conceito ligado a um dispositivo, designava para ele” [MALDIDIER, 2003 apud LEMOS 2017, p. 74].

E é neste campo conceitual, que sempre ao utilizarmos devemos refletir é acerca da formulação e definição, para então efetuarmos a transposição de conceitos da AD para o campo da história, com o intuito de não incumbirmos no erro de não conceder a devida historicidade deles, como nos alerta Brito [2011].

A categoria que nos interessa de maneira particular consiste em Condições de Produção, que conforme Pêcheux [1993, p. 77], ao definir as condições de produção:

“[...] um discurso é sempre pronunciado a partir de condições de produção dadas: por exemplo, o deputado pertence a um partido político que participa do governo ou a um partido da oposição; é porta-voz de tal ou tal grupo que representa tal ou tal interesse, ou então está "isolado" etc. Ele esta", pois, bem ou mal, situado no interior da relação de forças existentes entre os elementos antagonistas de um campo político dado: o que diz, o que anuncia, promete ou denuncia não ter o mesmo estatuto conforme o lugar que ele ocupa; a mesma declaração pode ser uma arma temível ou uma comédia ridícula segundo a posição do orador e do que ele representa, em relação ao que diz”

Para o autor, os discursos não podem ser compreendidos a parte da conjuntura em que os mesmos são enunciados, ou dos sujeitos que os enunciam, sendo, os discursos concebidos como resultados das condições de produção dada, em dada conjuntura. Os discursos se encontram no interior das relações de forças que [co]existem antagonicamente em um mesmo campo político, e que os sentidos e os significados das palavras dependem da posição e do status em que os sujeitos ocupam.

As condições de produção podem ser divididas de duas maneiras: condições estritas e condições amplas. Para o sentido estrito, nos referimos ao contexto imediato em que os discursos são produzidos, levando em consideração o contexto e a conjuntura mais próxima. Já o sentido mais amplo, refere-se ao contexto sócio-histórico e ideológico em que o discurso é produzido, por exemplo: o sistema capitalista.

Em complemento, recorremos a Amaral [1999] ao perceber que:

“As condições de produção do discurso [...] requer que comecemos por compreender o processo das determinações sociais, políticas e econômicas da produção intelectual em geral, designada pela teoria marxista como formas de consciência ou formações Ideológicas. A produção intelectual é concretamente organizada e explicitada em forma de discursos. Isso significa dizer que é como discurso que essa produção intelectual tem efeitos de sentido, atua na realidade e provoca mudanças nas mesmas relações sociais que a originam. Assim, a análise das condições de produção do discurso tanto inclui as determinações históricas desse discurso como os efeitos de sentido que provocam mudanças na realidade em que é produzido.” [AMARAL, p. 12].

Segundo Pêcheux [1998], as posições ideológicas, que constituem os sujeitos, estava diretamente ligado às significâncias no emprego das palavras. Ou seja, o sentido não se encontraria à parte como algo objetivo, ou intrínseco aquela realidade, ou fato cuja escolha lexical busca abarcar, mas ligada aos sujeitos que a empregam, podendo a mesma palavra mudar de sentido de acordo com o emprego dos sujeitos, ou melhor, com os sujeitos que a empregam, e diretamente ligada às condições e dinâmicas sócio-históricas em que as mesmas são produzidas. Como vemos:

“[...] o sentido de uma palavra, de uma expressão, de uma proposição, etc. [...], não existe "em si mesmo" [isto é, em sua relação transparente com a literalidade do significante], mas, ao contrário, é determinado pelas posições ideológicas que estão em jogo no processo sócio histórico no qual as palavras, expressões, proposições são produzidas [...]. Poderíamos resumir essa tese dizendo: as palavras, expressões, preposições, etc., mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam”. [PÊCHEUX, 1998, p. 160].

Todo discurso é o índice potencial de uma agitação nas filiações sócio históricas de identificação, na medida em que ele constitui ao mesmo tempo um efeito dessas filiações e um trabalho [mais ou menos consciente, deliberado, construído ou não, mas, de todo modo, atravessado pelas determinações inconscientes] de deslocamento no seu espaço [PÊCHEUX, 1990, p. 56].

Considerações finais
Como percebemos a própria concepção dos conhecimentos históricos traz consigo a abertura para diálogos outros a fim de possibilitar a melhor compreensão do seu objeto de estudo, o que nos permite dialogar com os estudos do discurso, incorporando categoria e conceitos, mas sem incumbirmos no erro da não historicização e contextualização dos tais. Compreendendo os cursos das AD e da História.

Destacamos também a importância de perceber as aproximações entre a História e a Linguística, como destacado por Koselleck, em que as palavras podem nos indicar conjunturas, transições, ideologias, etc. Ou, acerca dos discursos como nos ressalta Silva Sobrinho [2017], em que esse é sempre posto pelos sujeitos, e estes pertencentes a uma classe, e que “A práxis é o chão onde o discurso emerge e atua, pois ele é atividade humana real e efetiva e, por isso também uma dimensão fundamental do ser social” [SILVA SOBRINHO, 2017, p. 35].

Vimos que nas palavras temos as marcas da história, e as suas ancoras, fincadas aos sujeitos, no tempo e no espaço em que estas são enunciadas. Em outras palavras, sabemos que Onde se empregam as palavras, estas deixam vestígios. Vestígios dos sujeitos, dos conflitos sócio-históricos, e das filiações ideológicas aos quais esses pertencem. No fornecendo caminhos para serem investigados.

Referências
Ayrton Matheus da Silva Nascimento - Graduado em História UFAL-Campus do Sertão, e mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe- UFS.

AMARAL. M. V.B. ANÁLISE DO DISCURSO: LÍNGUA, HISTÓRIA E IDEOLOGIA. leitura-ANÁLISE DO DISCURSO, n. 23; 25-46, 1999.
BARROS, José d'Assunção. Teoria da História. vol.1. Princípios e conceitos fundamentais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1992.
BLOCH, Marc Leopold Benjamin, 1886- 1944. Apologia da História, ou oficio do historiador / Marc Bloch; prefácio, Jacques Le Goff; apresentação á edição brasileira, Lilia Mortiz Schwaecz; tradução Andre Telles. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002.
BOURDÉ, Guy; MARTIN,Hervé. As Escolas Históricas. Lisboa: Publicações Europa/América, 1983.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales [1929-1989]: a Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997, 153 páginas. Tradução Nilo Odalia.
KOSELLECK, R. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Patrícia Maas, Carlos Almeida Pereira. Revisão da tradução de César Benjamin. Rio de Janeiro: Contraponto/Editora PUCRio, 2006.
MAGALHÃES, B. R. C. Linguagem, Discurso, Ideologia: a materialidade dos sentidos. 1ed.Maceió: Edufal, 2017.
MOREIRA. L. A. L. Análise do Discurso no Brasil: reflexões acerca de sua construção teórico-metodológica. LEITURA MACEIÓ, N.50, P.
109-133, JUL./DEZ. 2012
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de Discurso: princípios & procedimentos. 8. ed. Campinas: Pontes, 2012.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 4. ed. Campinas: Pontes, 2009 [1998].
PÊCHEUX, Michel. A análise de discurso: três épocas [1983]. In: GADET, Françoise; HAK, Tony [orgs.] Por uma análise automática do discurso; uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Traduzido por Jonas de A. Romualdo. Campinas, Ed. da Unicamp, 1993.
SANTOS, Sonia Sueli Berti. PÊCHEUX. In: OLIVEIRA, Luciano Amaral [org.].Estudos do discurso: perspectivas teóricas. 1. ed. São Paulo: Parábola, 2013. p.209-233.
SILVA, Giselda Brito. História Política e Análise do Discurso: uma escrita da história em construção. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009.


4 comentários:

  1. Caro Ayrton,

    Primeiramente parabéns pelo seu texto e pelas análises feitas.
    Minha pergunta será feita com base no seguinte trecho: "As condições de produção podem ser divididas de duas maneiras: condições estritas e condições amplas. Para o sentido estrito, nos referimos ao contexto imediato em que os discursos são produzidos, levando em consideração o contexto e a conjuntura mais próxima. Já o sentido mais amplo, refere-se ao contexto sócio-histórico e ideológico em que o discurso é produzido, por exemplo: o sistema capitalista". Quando você menciona o "sistema capitalista" no seu texto você se refere a uma organização específica do sistema capitalista? pois, é sabido que a cada ponto de inflexão ou da chamada crise cíclica do capital tem-se uma reformulação ou adaptação das bases ou mesmo das frações de classe que conduzem o Estado capitalista. A própria noção de projeto em hegemonia (sempre temporária) elaborada por Antonio Gramsci talvez permita você pensar em uma vinculação entre projeto de frações de classe, discurso, defesa de interesse e conjuntura política de enunciação de determinado discurso.
    Novamente parabéns pelo seu texto, é de extrema importância o tema que aborda e suas análises realizadas.

    Abraços,

    Werbeth Serejo Belo

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    1. Olá, Werbeth! Boa noite! Tudo bem? Espero que sim!
      Primeiro gostaria de registar a minha alegria ao ler as suas considerações e gestos de leitura aqui tecidas!
      Me senti brindado ao ter seus contributos, visto que o conhecia de alguns textos!
      Quanto a sua questão espero conseguir responder em alguma medida.
      Mias quando nos referimos ao sistema capitalista, não estamos nos referindo a uma organização específica, mais a ordem (sistema) que rege as nossas relações (desde o fim do feudalismo). Não sei se consegui compreender corretamente, peço desculpas. E também agradeço a sua sugestão de leitura, anotado!!!
      Mais uma vez muito obrigado!

      Respeitosamente um abraço!
      Ayrton Matheus da Silva Nascimento.

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  2. Boa noite senhor Ayrton! Parabéns pelo texto, gostei muito.
    Um dia li uma entrevista Roger Chartier, onde ao discutir o processo editorial de livros, ele aponta para as diferentes traduções de obras consagradas da literatura universal. Nestas obras, ele acompanha diferentes traduções, e analisa a escrita viva da tradução como fontes históricas, onde algumas passagens e palavras evidenciavam o contexto histórico da tradução. Nós historiadores utilizamos a escrita como principal fonte de transmissão do nosso conhecimento, e para transmitirmos o conhecimento de nossas pesquisas (muitas vezes alheias a população) precisamos adotar métodos para facilitação do dialogo, visando expressar e aproximar o passado para nossos interlocutores. Como desempenhar esta função pedagógica sem ser leviano? Seria prudente abandonar a prática de traduzir citações em outras linguás, já que não só as frases, mas também as palavras contidas nelas também são fontes históricas (ou devemos adotar inúmeras notas de rodapé, deixando o texto mais longe dos que não estudam o mesmo que nós, já que rodapé geralmente dificulta a leitura de leigos?)? Enfim, ao ler seu texto, estes e inúmeros outros questionamentos borbulharam na minha mente, gostaria de ouvir sua posição. Torno a parabenizá-lo pelo texto, sua escrita está muito boa!
    Jonatan. Abraço

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    1. Olá, Jonathan, Boa noite! Como está? espero que bem!!!
      Agradeço o seu comentário e leitura! Muito pertinente! Não sei se conseguirei responde-las a altura que elas requerem. Mais tentarei.
      Sobre a primeira questão, destaco que é uma análise bem particular que eu faço, e que precisa ser repensada, refletida e refinada, ainda que com base em algumas leituras, como as dispostas no texto. As mesmas (leituras) tem demonstrado que o sujeito tem a ilusão de pensar que é dono do seu dizer. E que ao empregar as palavras, o mesmo pensa ser o dono do seu dizer, no uso das palavras e controlador dos sentidos. E de que este emprego pode ser totalmente consciente. E essa ilusão é provocada pela ideologia que apaga as marcas da historicidade, nos fazendo pensar sermos conscientes e que temos o domínio 100% da língua(gem) que empregamos, e mais do confronto de sentidos dado aos fatos.
      Sobre a questão da tradução, acredito que depende muito da perspectiva do historiador, pois este seria um pressuposto que eu trabalho, e que diverge em muito dos outros. trata-se de um gesto de se conceber o homem, sociedade, língua(gem),trabalho, estado, etc. Mais, refletir sobre o caminho que o tens posto na sua questão também me é de interesse pensar. Obrigado por trazer questões tão preciosas.
      Me desculpe não poder responder com tanto folego que as próprias questões pediriam. Mais me recolho a reflexão!

      Obrigado por sua leitura tão atenta!
      Respeitosamente um abraço!
      Ayrton Matheus da Silva Nascimento.

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