Ana Carolina Prohmann e Cyntia Simioni França


PERCURSOS DE DIÁLOGOS COM A HISTÓRIA PÚBLICA NA RELAÇÃO COM OS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA



O itinerário do movimento dialógico
Este texto nasce do desejo de compartilhar algumas reflexões do que está sendo tecido a respeito da presença/ausência das mulheres nos livros didáticos no entrecruzamento com a história pública. O percurso escolhido dessa escrita foi a apresentação de três movimentos dialogais. No primeiro, focalizamos os sentidos e percursos da história pública e, a seguir, discutimos o espaço escolar como possibilidade de fazer a história pública. No segundo, articulamos reflexões sobre livro didático como um produto a história pública, visto que é produzido, muitas vezes, por professores que não são docentes universitários, bem como alcança um público para além do espaço acadêmico. Ao mesmo tempo, problematizamos de forma sucinta a circulação do conhecimento histórico a respeito da presença/ausência das mulheres nos livros didáticos de história. E, por fim, apresentamos um mapeamento de produções relativas à temática da presença/ausência das mulheres nos livros didáticos na relação com a história pública, de modo a delinear um breve balanço do debate acadêmico brasileiro em publicações de eventos, dossiês e livros que têm como mote a reflexão sobre história pública.

Primeiro diálogo: sentidos e percursos da história pública

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
(João Cabral de Melo Neto)

Iniciamos este percurso de diálogo tecendo algumas acepções de história pública, mas sabemos dos riscos que tal caminho nos oferece, visto que a história pública assume diferentes sentidos e itinerários entre os historiadores e em vários países que ela emerge como campo de reflexão e ação. Porém, encontramos na epígrafe do poeta João Cabral de Melo Neto, possibilidade de dilatar algumas imagens sobre história pública. A primeira está vinculada à ideia de que o “galo não tece sozinho uma manhã” e relacionamos com imagem da história pública tecida coletivamente e de modo interativo. A segunda imagem que a poesia nos instiga a pensar é no fragmento em que os galos “se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendo para todos, no toldo”. Essa passagem traz a noção de história pública como acesso irrestrito ao conhecimento, em que todas as pessoas, a partir das suas experiências podem produzir conhecimento histórico e educacional por relações dialógicas.

A poesia, além de abrir brechas reflexivas instigantes com o movimento da história pública, também foi escolhida porque nos sensibilizou, principalmente pelo fato desse texto estar sendo produzido no período em que o mundo vive uma grave crise, por conta de uma pandemia provocada pelo novo vírus Corona, denominado Covid-19 e para vencermos essa fase crítica de contágio estamos vivendo há trinta dias em um isolamento social. Nesse sentido é latente a percepção do quanto a relação com o outro nos constitui e que somente coletivamente podemos vencer esse período sombrio.

Após a reflexão a respeito da epígrafe, enveredamos para compreender os sentidos e itinerários da história pública em diferentes países, já que ela não é exclusividade da historiografia brasileira. O debate remete aos idos anos 1970, em diferentes países como Estados Unidos, Canadá, Itália, Austrália e África do Sul. 

Na Europa, emergiu como prática do uso público da história com fins político-ideológico, preocupados com a busca e manutenção da justiça social. Em cada lugar do mundo assume especificidades diferentes, na Inglaterra desenvolvem uma prática de fazer história pública a partir do trabalho com memórias e narrativas, destacando a preocupação com as identidades coletivas de diferentes regiões do país (ALMEIDA; ROVAI, 2011; FRISCH, 2016; SANTHIAGO, 2016).

Nos Estados Unidos, também a partir da década de 1970, o movimento da história pública está ligado a um período de crise do mercado de trabalho universitário, surgindo para sanar os problemas de empregabilidade bem como oferecer uma carreira alternativa para aqueles que não estavam vinculados  na universidade e nem ligados à área do ensino, trazendo outras possibilidades de espaços de trabalho como os  museus, rádios, arquivos, empresas e outros (SANTHIAGO, 2018).

No Brasil, a história pública tem assumido significados diferentes, tanto ela pode enveredar pelo caminho da difusão científica em espaços não universitários e ambientes virtuais, como também construir projetos com diferentes sujeitos tendo em vista a produção de conhecimentos históricos, tecidos de modo dialógico, colaborativo e coletivo, em diferentes lugares, inclusive na escola.

O movimento da história pública intensifica a partir de 2011 com o surgimento da Rede Brasileira de História Pública e principalmente pela necessidade de colocar em diálogo o conhecimento acadêmico, escolar e comunitário na arena pública; refletir com públicos diversos pelas diferentes mídias; ouvir as experiências vividas de diferentes sujeitos e seus múltiplos discursos para pensar sobre questões socialmente vivas no presente.

A historiadora Marta Rovai (2018) destaca que a “reflexão sobre sua especificidade na academia vem se expandindo nos últimos anos”. Reitera ainda: “Talvez a principal diferença entre o que a história pública propõe e o que a academia produz seja a ampliação do espaço e do seu público, e aos usos do conhecimento” (ALMEIDA; ROVAI; 2011, p. 8-9).

Um dos precursores do movimento da história pública no Brasil é Ricardo Santhiago (2016), fundador da Rede Brasileira de História Pública. O historiador não compreende a história pública como um campo novo com métodos, objetos e temáticas diferentes do campo disciplinar da história, embora, reconhece que existem pesquisadores que defendem essa ideia. No entendimento desse pesquisador estamos alargando os espaços de diálogos com os públicos, intensificando a produção de conhecimentos históricos coletivos para além dos muros acadêmicos e divulgando por diferentes canais de comunicação.

Michael Frisch (2016) traz contribuições para a História Pública ao apresentar o conceito de autoridade compartilhada no campo historiográfico. Defende que o conhecimento pode ser construído pela via de mão dupla, em que pesquisador e públicos são produtores de conhecimento. Embora desenvolva tal conceito a partir de trabalhos que envolvem a história oral, acreditamos que tal perspectiva é promissora para a investigação historiográfica, principalmente, pela potencialidade de trazer modos de produção de conhecimento histórico tecido por relações dialógicas, colaborativas e interativas, rompendo com a hierarquização dos saberes. Tal perspectiva vem ao encontro das contribuições teórico-metodológicas de Edward Palmer Thompson (1981), ao compreender que o conhecimento histórico é construído no diálogo entre sujeito e objeto.

Compreendemos que a História Pública não se encontra separada da operação historiográfica e dos fundamentos da teoria da história. Ao construir diálogos entre os saberes acadêmicos e não acadêmicos, ela amplia a “ideia de acesso e publicização de projetos acadêmicos, e busca a produção e difusão compartilhada do conhecimento” (ANDRADE; ALMEIDA, 2018).

Para Juniele Almeida e Marta Rovai “é um novo caminho de conhecimento e prática, de como se fazer história”, uma possibilidade de “colaborar para a reflexão da comunidade sobre sua própria história, a relação entre passado e presente. Enfim, como tornar o passado útil para o presente” (ALMEIDA; ROVAI; 2011; p.8). Nesse modo de fazer a história pública com o público, o que realmente é significante não é o resultado, mas sim o processo, as mudanças, as tensões encontradas, e como o coletivo compreende sobre a sua própria história e as questões socialmente vivas no presente.

Um dos espaços do exercício da história pública é a escola, pois é o lugar onde a produção de conhecimento histórico e educacional pode ser tecida pela via da autoridade compartilhada (FRISCH, 2016). Nessa perspectiva, alunos e professores são sujeitos ativos no processo de construção (PAIM, 2005, GALZERANI, 2008; FRANÇA, 2015, CUNHA, 2016) entrecruzando saberes profissionais, experienciais, pedagógicos, historiográficos, estudantis, tecidos por meio de relações dialógicas, interativas e coletivas (THOMPSON, 1981; FRISCH, 2016).

A escola é um “lugar onde as relações entre os saberes (docentes, dos alunos, oriundos da sociedade) circulam e tencionam frente aos novos saberes, como também, diante da complexidade dos fenômenos educativos e das incógnitas postas pelo cotidiano” (MOLINA; FORTUNA, 2015, p. 221). A interlocução de saberes entre estudantes e professores, a circularidade do conhecimento e a criticidade do saber histórico são  fundamentais para a história pública. Destacamos ainda a importância de os professores refletirem “com o estudante sobre nosso papel no processo histórico e das capacidades de atuar no contexto, em que estamos imersos. Na sala de aula, portanto, se desenvolvem práticas de história pública com intensa atividade intelectual” (PENNA; FERREIRA, 2018, p. 114).

Segundo diálogo: livros didáticos: “produto” da história pública
Os meios de circular o conhecimento histórico no espaço escolar a partir da renovação historiográfica vão desde as mídias, jornais, a música, literatura, os filmes, livros didáticos até outros meios. Dessa possibilidade, interessa-nos compreender a confluência das temáticas livro didático e história pública, considerando o livro didático como um produto da história pública, visto que é produzido muitas vezes por professores que não são docentes universitários e alcança um público além do espaço acadêmico.

Os materiais didáticos, inegavelmente, desempenham importante papel no interior das culturas escolares no Brasil, por se constituírem em uma das principais referências de leituras para a formação dos estudantes, principalmente em regiões com menor poder econômico e social. (CHOPPIN, 2004). Apesar das críticas realizadas por vários pesquisadores como Alain Choppin, entre outros, nos últimos trintas anos, pelo fato de tais materiais: a) circularem o conhecimento histórico carregado de valores, ideológicos e culturas, participando ativamente do processo de socialização e aculturação; b) estarem relacionados com as políticas públicas educacionais, nesse sentido, evidencia-se a função do Estado nas normatizações, no controle da produção e circulação do conhecimento. Ainda assim, sabemos que esse ainda continua sendo o principal veículo de circulação e divulgação do conhecimento histórico para o público escolar e que leituras plurais podem ser instigadas no diálogo entre professores, alunos e livros didáticos.

Nos últimos vinte e cinco anos, o livro didático vem passando pelo sistema de avaliação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) contribuindo para a melhoria na qualidade desses materiais. Outras mudanças também aconteceram no estado do Paraná como a lei de número 13.381/08, que torna obrigatório, na rede pública estadual, o ensino do conteúdo de História do Paraná; e a lei número 11.645/08 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.

Reconhecemos a importância da legislação e trazemos no bojo das discussões de nosso trabalho, a preocupação em compreender como as mulheres estão sendo representadas nesses materiais. É necessário perceber através de pesquisas fomentadas na área, se as demandas sociais por representação igualitária das mulheres estão presentes nos livros didáticos. Como é possível o público feminino se reconhecer como sujeito da história quando o livro didático circula um conhecimento predominantemente portador de valores patriarcal e masculino?

Simone de Beauvoir (1967), afirma que a mulher não nasce mulher, mas se torna mulher”, em parte, conhecendo a sua história, por isso é necessário incluir as mulheres nas narrativas produzidas pelos materiais didáticos.

No artigo intitulado ‘O ensino de história e os estudos de gênero na historiografia brasileira’, de autoria de Ana Maria Colling e Losandro Tedeschi (2015), questiona: quais os livros de história, usados em salas de aula no Brasil, abordam as histórias femininas”?

É fundamental que os livros didáticos rompam com narrativas pautadas na ideologia dominante, masculina, branca e a do hétero, então sejam construídos com o alicerce das visões plurais, da diversidade, no reconhecimento das múltiplas identidades dos sujeitos que (con)vivem no ambiente escolar, promovendo a desconstrução de estereótipos e rótulos que foram impostos, ao longo do tempo às minorias sociais. Por isso, na busca de uma educação igualitária, inclusiva e democrática acreditamos na importância da presença das mulheres de forma significativa, tanto no passado como no presente nos materiais didáticos.

É tarefa do professor/ historiador despertar no presente as “centelhas da esperança”. Para que essa história seja arrancada do conformismo, precisamos “escovar a história a contrapelo” como nos convida o filósofo alemão Walter Benjamin, o que implica olhar para o passado, não simplesmente para conhecê-lo tal como ele foi, mas para agir no presente, em busca de um futuro mais significativo para a coletividade. (BENJAMIN, 1985).

A seguir, mapearemos os trabalhos relativos à temática da presença/ausência das mulheres nos livros didáticos na relação com a história pública, de modo a delinear um breve balanço do debate acadêmico brasileiro.

Terceiro diálogo: mapeamento dos trabalhos produzidos na área e análise da pesquisa
O desenvolvimento da pesquisa bibliográfica foi de natureza qualitativa e quantitativa através de coleta e análises: 1) nos anais decorrentes dos congressos específicos de história pública; 2) nos artigos científicos publicados em dossiês de história pública; e, 3) nos livros acadêmicos intitulados como história pública.  O recorte temporal para essa investigação foi o período de 2011, um marco para o movimento da história pública com a criação da Rede Brasileira de História Pública (RBHP) até 2019. Geralmente o mapeamento das produções acadêmicas debruça-se, predominantemente, em análises quantitativas, característica desse tipo de abordagem.

O tema História Pública no Brasil ganha visibilidade a partir da obra Introdução à História Pública, das autoras Juniele Rabêlo de Almeida e Marta Rovai, no ano de 2011. Os 14 artigos produzem reflexões que dão o pontapé inicial no campo de reflexão e ação da história pública. Ao nos debruçarmos sobre os trabalhos disseminados, não encontramos discussão sobre livros didáticos e nem pelo viés da presença das mulheres nessas produções.
 
No ano seguinte após essa obra, foi lançado outro germe de debate com a realização do 1° Simpósio Internacional de História Pública na USP com discussões a respeito de questões teórico-metodológicas em torno da história pública em nosso país no diálogo com as perspectivas internacionais. O anais do evento foram compostos por 71 artigos publicados. Analisando minuciosamente tais artigos, encontramos um que perpassava nossa área de investigação, o da autora Erica D. Ezequiel, com o título Esboço para um concerto: música, história e livro didático. O objetivo era o de compreender o formato sob o qual a informação músico-histórico-documental era proposta às estudantes nos exercícios a serem realizados.

Em 2014 a Revista Estudos Históricos (CPDOC-FGV) e a Revista Resgate organizaram dossiês de História Pública, totalizando 25 artigos, mas não encontramos temas relacionados à nossa proposta de investigação, no entanto, são discussões significativas para ampliarmos o debate na área.

Foi realizado o 3° Simpósio Internacional de História Pública na Universidade Regional do Cariri, em 2016, porém os artigos dos anais estavam distantes da nossa temática em questão. Nesse mesmo ano, a Revista Tempo e Argumento organizou um Dossiê de História Pública com o artigo ‘Representação do passado e a História Pública: a História das Mulheres na Internet’ de Gabriela Correa que tangenciou o tema que investigamos, contribuindo para pensar de forma dilatada a presença/ausência das mulheres em outros espaços como os midiáticos.

Ainda no ano de 2016, mais uma obra foi publicada, a História Pública no Brasil Sentidos e Itinerários 2016, organizado por Ana Maria Mauad, Juniele Rabêlo de Almeida e Ricardo Santhiago, com 25 artigos. No eixo específico de debate sobre educação capturamos o artigo da autora Thais Nívia de Lima e Fonseca intitulado Ensino de História, Mídia e História Pública que faz uma abordagem relacionada com a divulgação do conhecimento histórico e perpassa de forma superficial o livro didático, visto que não é o mote de sua reflexão.

A Revista Observatório em 2017 publicou o dossiê de História Pública, dali flagramos o artigo História Pública e Ensino de História: um olhar sobre o filme no livro didático de autoria do Rodrigo de Almeida Ferreira que reflete as narrativas fílmicas nos livros didáticos.

O 4° Simpósio Internacional da Rede Brasileira de História Pública aconteceu em 2018, na USP e ainda não disponibilizou os artigos dos anais do evento.

Nesse mesmo ano foi publicado o livro História Pública em Debate: Patrimônio, Educação e Mediações do Passado, organizado por Juniele Rabêlo de Almeida e Sônia Meneses, com reflexões sobre os seguintes eixos: a) História Pública e Patrimônio; b) História Pública e Educação; c) História Pública e Mediações do Passado. Dos 25 artigos que analisamos, destacamos no último eixo o texto Livros, Leitores e Internautas: Os Guias da História e os embates pelo passado através da mídia de Sônia Meneses. A autora analisa os conteúdos disseminados pelos guias sucesso de vendas em nossa sociedade e os motivos que os públicos estão lendo e comentando tais obras, para essa reflexão perpassa a discussão da relação dos brasileiros com os livros e especialmente o livro didático.

Ainda em 2018 tivemos uma publicação importante na área, organizada por Ana Maria Mauad, Ricardo Santhiago e Viviane Trindade Borges intitulada Que História Pública Queremos?  (What Public History do we Want”?). Ao analisarmos detidamente sobre os 20 artigos, identificamos que não estavam divididos em eixos de discussões e com preocupações distintas das nossas, porém trouxeram debates profícuos a partir de autores internacionais e nacionais para avançarmos no debate sobre história pública.

Outra produção relevante foi disseminada pela Revista NUPEM no ano de 2019, no dossiê História Pública, que acolheu artigos nacionais e internacionais que aprofundaram reflexões teórico-metodológicas a respeito da temática.

Por fim, a Revista História Hoje divulgou o dossiê de História Pública em 2019, apesar de não identificarmos discussões sobre os livros didáticos e história pública, mas, vale destacar que os artigos que compõem esse dossiê trazem significativas contribuições para a área do ensino de história na interface com a história pública.

Um percurso em construção
O mapeamento delineado foi importante para identificarmos a escassez de investigações sobre a temática das mulheres nos livros didáticos no diálogo com a História Pública. Tal levantamento contribuiu para a pesquisa que vem sendo desenvolvida no programa de mestrado em História Pública da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), pois percebemos uma lacuna de investigação sobre a presença/ausência de mulheres nos livros didáticos dentro do debate sobre história pública.

É urgente o fomento a pesquisas com essa temática, pois o livro didático é um dos materiais que circula o conhecimento histórico escolar para além dos espaços da academia e é necessário compreender como esse conhecimento está sendo difundido no público escolar, bem como é promissora a possibilidade de construirmos com as mulheres (professoras) pela via da autoridade compartilhada, materiais didáticos que subsidiem leituras a contrapelo.

Referências
Ana Carolina Prohmann é mestranda no Programa de Pós-Graduação em História Pública (PPGHP) pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). E-mail: prohmann94@hotmail.com

Cyntia Siomioni França é doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é docente no Programas de Pós-Graduação em História Pública (PPGHP) e Profissional em Ensino de História (ProfHistória) na Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). E-mail: cyntiasimioni@yahoo.com.br

ALMEIDA. Juniele Rabêlo; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (Orgs.). Introdução à História Pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011.
ANDRADE, Everardo Paiva de.; ALMEIDA, Juniele Rabêlo de. A construção de um acervo com narrativas de professores. In. ALMEIDA, Juniele Rabêlo & MENESES, Sônia (orgs.) História pública em debate: patrimônio, educação e mediações do passado. São Paulo: Letra e Voz, 2018.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo Sexo. II A Experiência vivida. 2ª Edição. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967.
BENJAMIN, Walter. Sobre o Conceito da História. In: Obras escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1985. (Magia e técnica, arte e política, v. I).
CHOPPIN, A. Le livre scolaire. In: CHARTIER,R. ; MARTIN,H.J. Histoire de L’édition française; v. 4 Le livre concurrencé; 1900-1950.Paris: Fayard, Cercle de la Libraire, 2004.
COLLING, Ana Maria; TEDESCHI, Losandro Antonio. O ensino de história e os estudos de gênero na historiografia brasileira. História e Perspectivas, Uberlândia n.53, p. 295314, jan./jun. 2015, Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/historiaperspectivas/article/viewFile/32777/17719>. Último acesso em:  19/04/2020.
CUNHA, Nara Rúbia de Carvalho. Primaveras Compartilhadas: (re)significando a docência na relação com cidade, memórias e linguagens. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2016.
FORTUNA, Cláudia Prado; Galzerani, Maria Carolina Bovério. Práticas de Memória, Tempo e Ensino da História. In: Ernesta Zamboni; Maria Carolina Bovério Galzerani; Caroline Pacievith. (Org.). Memória, Sensibilidades e Saberes. 1ªed. Campinas: Átomo & Alínea, 2015, v. p. 39-48.
FRANÇA, Cyntia Simioni. O canto da Odisseia e as narrativas docentes: dois mundos que dialogam na produção de conhecimento histórico-educacional. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2015.
GALZERANI, Maria Carolina Bovério; PARDO, Maria Benedita Lima; LOPES, Amélia (Orgs.). Una “nueva” cultura para la formación de maestros: es posible?. Porto, Portugal: Ed. Livipsic/AMSE-AMCE-WAER, 2008a.
In: MELO NETO, João Cabral de. Obra completa: volume único. Org. Marly de Oliveira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. P.345. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira
MOLINA, Ana Heloisa; FORTUNA, Claudia Regina Prado. Caminhos e Reflexões: formação de professores e estágio supervisionado do curso de História da Universidade Estadual de Londrina. OPSIS, Catalão, v. 15, p. 215-234, 2015.
FRISCH, Michael. A história pública não é uma via de mão única. In. MAUAD, A. M. [Org.]; ALMEIDA. Juniele Rabêlo [Org.]; SANTHIAGO, Ricardo [Org.]. História pública no Brasil: Sentidos e itinerários. 1. ed. São Paulo: Letra e Voz, 2016. v. 1. 352p.
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PAIM, Elison Antonio. Memórias e experiências do fazer-se professor. Tese (Doutorado) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas 2005.
PENNA, Fernando de Araújo; FERREIRA, Rodrigo de Almeida. O trabalho intelectual do professor de História e a construção da educação democrática: Práticas de história pública frente à Base Nacional Curricular e ao Escola sem Partido.  In: Juniele Rabêlo de; Meneses, Sônia. História Pública em debate: Patrimônio, educação e mediações do passado. São Paulo: Letra e Voz. 2018
ROVAI, Marta. Publicizar sem simplificar: o historiador como mediador ético. In: ALMEIDA, Juniele R. de; MENESES, Sonia (org.). História Pública em debate: patrimônio, educação e mediações do passado. São Paulo: Letra e Voz, 2018.
SANTHIAGO, Ricardo. Duas palavras, muitos significados: alguns comentários sobre a história pública no Brasil. In: MAUAD, Ana Maria; ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; SANTHIAGO, Ricardo. História Pública no Brasil. Sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016, p. 23-36.
SANTHIAGO, Ricardo. História pública e autorreflexividade: da prescrição ao processo. Tempo e Argumento. Florianópolis. v. 10, n. 23, jan./mar. 2018, p. 286 309.
THOMPSON, Edward P. A miséria da teoria ou um planetário de erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.


16 comentários:

  1. Olá Ana, primeiramente, parabéns pela temática. Por muitos anos a história das mulheres foi ocultada e não foi representada nos livros didáticos, vemos que isso está mudando, mas ainda precisamos de mais pesquisa e inclusão. Sendo sua pesquisa partindo das perceptivas da História Pública, como você irá conduzir o diálogo entre as professoras e o livro didático? Além disso, é possível ampliar e divulgar o material produzido para as demais audiências? Haverá participação de outras mulheres ou apenas professoras?
    Obrigada
    Jocimara Maciel Correia

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    1. Olá Jocimara, muito obrigada pelo apoio e pelas considerações.As oficinas com as professoras de História, vão ser pautadas através das experiências dessas mulheres como professoras trabalhando com livros, que em sua grande parte excluíram as mulheres da história, a partir das práticas de rememoração. Os materiais produzidos nesses encontros serão analisados em conjunto com as professoras, para a produção de um paradidático. A principio a participação das oficinas é apenas com professoras de História.

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  2. Alou Ana e Cyntia. Parabéns pela pela proposta de pesquisa e pelo tema abordado, necessário em tempos de ataques aos direitos conquistados pelas mulheres. A partir do texto apresentado no diálogo da História Pública e livros didáticos, vocês consideraram a possibilidade das representações de mulheres em materiais didáticos em outras plataformas, por exemplo, aquelas disponibilizadas em sites de escolas? Grata

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    1. Esqueci de me identificar. Ana Heloisa Molina. UEL

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    2. Olá Ana Heloisa, obrigada!
      A princípio estamos trabalhando apenas com o livro didático, por ser ainda, o material mais utilizado pelos professores e professoras em sala de aula, e pelo fato das professoras relatarem suas experiências com esses livros durante as oficinas. Mas pode ser uma possibilidade futura.

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  3. Alou Ana e Cyntia. Parabéns pela pela proposta de pesquisa e pelo tema abordado, necessário em tempos de ataques aos direitos conquistados pelas mulheres. A partir do texto apresentado no diálogo da História Pública e livros didáticos, vocês consideraram a possibilidade das representações de mulheres em materiais didáticos em outras plataformas, por exemplo, aquelas disponibilizadas em sites de escolas? Grata. Ana Heloisa Molina. UEL

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  4. Olá Ana Heloisa, obrigada!
    A princípio estamos trabalhando apenas com o livro didático, por ser ainda, o material mais utilizado pelos professores e professoras em sala de aula, e pelo fato das professoras relatarem suas experiências com esses livros durante as oficinas. Mas pode ser uma possibilidade futura.

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    1. Grata Ana. Desejo sucesso na pesquisa. Abraços. Ana Heloisa Molina

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  5. Olá, Ana Carolina e Cyntia! Primeiramente, parabéns pelo artigo e pela temática apresentada. No mais, lendo a proposta de pesquisa, vocês também pretendem englobar as representações femininas já presentes nos livros e, em que medida, elas reforçam esteriótipos? Um abraço
    Anna Lívia Gomes

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    1. Olá Anna Lívia, muito obrigada!
      Sim, nas oficinas com as professoras de História, até pelo fato das mulheres pouco aparecerem nesses livros, mas quando estão presentes, é na figura de uma mulher apenas, e como você escreveu reforçando um esteriótipo. E a participação feminina deve estar presente como parte integral do ensino de história, e não uma história a parte.
      Abraços.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Olá Ana e Cyntia. Primeiro parabéns pelo artigo. Sou encantada com a História pública desde que descobri o quanto ela está intimamente ligada a minha atuação enquanto professora. Me agrada muito a ideia de que a sala de aula é o lugar onde diferentes narrativas aparecem nas histórias de meus alunos. Ainda pouco estava assistindo o I Ciclo Virtual de Debates - Profhistória 2020, onde o professor Nilton Mulleti Pereira trazia essa questão da importância do saber ouvir no processo de ensino aprendizagem, e conversando com meu orientador Bruno, ficou um questionamento que vou colocar aqui para vocês. Por que ainda hoje alguns historiadores tendem a não admitir que outras pessoas tem outras relações com a História? Outras relações com o passado, devido suas histórias de vida.O professor Nilton dizia agora pouco que tudo é possível ser historicizado. Como vocês percebem essas questões sob a perspectiva da História pública?

    Atenciosamente Janaina Piron Branco.

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    1. Oi Janaina! muito obrigada!
      Uma das possibilidades dentro do movimento da História Pública é pensar a partir do conceito do Michael Frisch da Autoridade Compartilhada, com as experiências dos sujeitos que vão colaborar com a pesquisa de forma dialógica. Com produção de conhecimento histórico tecido pelo viés colaborativo, com relações dialógicas, de forma interativas e compartilhada.
      Nessa perspectiva que a pesquisa vai se desenvolver, considerando as experiências dos sujeitos, entendendo eles como produtores também de conhecimento.

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  8. Marli Batista Basseto20 de maio de 2020 às 20:27

    Boa noite Ana e Cyntia. Parabéns por assumirem esse ato político de posicionamento em defesa da presença e valorização das mulheres no livro didático! Como seria desenvolvida esta proposta, no viés da História Pública, para ampliar as vozes do público feminino da e na história apresentada nos livros didáticos e para além das salas de aulas?

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  9. Boa noite Marli, muito obrigada!
    Pretendemos trabalhar com a autoridade compartilhada, com a produção em conjunto. Buscamos sempre trabalhar com e não "sobre" o outro, por isso a proposta de uma produção em conjunto com as professoras a partir das oficinas realizadas.

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