Marta Francisco de Oliveira


PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS NO ENSINO DE LITERATURA E OUTRAS ARTES EM INTERSECÇÃO COM A HISTÓRIA: UMA PROPOSTA DE PERCEPÇÃO TEÓRICA E CRÍTICA




O professor, através de suas leituras, constrói uma memória, uma representação de si em relação à percepção de mundo, a partir de fatos e acontecimentos passados e atuais, como sua história pessoal. Deste modo, segundo o raciocínio, imprime a si mesmo naquilo que lê, estuda e comenta, reconstruindo sua vida – sua história – no interior destes textos. Por extensão, o compartilhamento dos conhecimentos através do processo de ensino pode permitir aos alunos iniciar um exercício semelhante, a construção de uma percepção gradual, ampliada ao longo do tempo.

Nossa intenção, primeiramente, é estabelecer um necessário diálogo que, acreditamos, deve ser constante entre linguagens em interação pensadas de acordo com as exigências contemporâneas. Assim, na relação entre a literatura ou outras narrativas tendo como coadjuvantes aspectos históricos ou tópicos mais estritamente ligados ao ensino da disciplina de história, ou ao contrário, convém estabelecer algumas considerações teóricas para propor a inscrição do professor e do historiador, como o intelectual que se inscreve na história que ajuda seus alunos a conhecer ou nos estudos de linguagem que os auxilia a desenvolver.

É este o aspecto que busco destacar ao pensar nas questões concernentes ao ensino, às disciplinas e aos conhecimentos desde a perspectiva trans. Como abordagem que visa contemplar a intersecção entre história e linguagens, dentre as quais se destaca a literatura, focamos a figura do intelectual atuante à luz de teorias críticas contemporâneas, para projetar os caminhos possíveis do ensino em nosso século.

História da literatura, históra e literatura: embasamentos e entrelaçamentos
Na literatura, na criação ficcional, podemos compreender que:

“a escrita se faz com o corpo, e daí sua pulsação, seu ritmo pulsional, sua respiração singular, sua rebeldia, às vezes domada pela força da armadura da língua, pela sintaxe, freios e ordenamentos. Assim, nunca são puras ideias abstratas que se escrevem e por isso, quando se lida com a escrita alheia do escritor ou do escrevente comum, como leitor ou crítico, toca-se em textos, com as mãos, com os olhos, com a pele.” [BRANDÃO, 2006, p. 34].

Como material a ser trabalhado, a linguagem é meio e objeto, princípio e fim, tanto de produções criativas, ficcionais, como dos relatos e registros variados de preservação da memória.  No ensino, quando os conteúdos pertinentes à história são tratados junto com outros conteúdos de linguagem, pode haver certo apagamento ou confusão do que seja histórico para favorecer outras formas de abordagem. Não esquecemos, obviamente, que a história não é o foco dos estudos voltados para produções artísticas, culturais e estéticas; entretanto, a mescla realidade/fiçcão resulta na [in]certeza dos dados do ponto de vista do leitor/espectador, o que impacta na construção pessoal e social de conhecimentos, desembocando em equívocos que podem ser construídos ou desconstruídos, destruídos, adaptados, [re]adequados, [re]inventados, [re]produzidos, manipulados, de acordo com os resultados mais ou menos efetivos de propagação e a receptividade mais ou menos passiva de informações.

Essa via de acesso precisa ser melhor trabalhada como aliada do ensino, aguçando percepções e gerando reflexões. Neste aspecto, também performances e atos aparentemente do cotidiano podem ser ‘encenados’ sem a perspectiva estética, apenas carregados de intenções simbólicas, repetidos e propagados, como o ato de romper uma placa com um nome em meio ao deboche contra o sujeito representado via nome, via linguagem. Perceber e ler essas significações a serviço de algo, de uma intencionalidade, é uma forma de compreensão narrativa e histórica importante para ser uma capacidade ou habilidade desenvolvida através do ensino das humanidades.

Por um lado, assentar por escrito determinados fatos históricos é assentar a escrita de um corpo, ou de corpos, involucrados nos sentidos da realidade, da experiência, da vivência e da percepção dos acontecimentos. É um contar, recontar, rever, resgatar e ressignificar determinados momentos considerados significativos. Nos meandros da memória, isto pode resultar em ficcionalizar o vivido, a experiência própria e alheia. Porém, qualquer história, literária ou não, é feita por seleções e exclusões, presenças, ausências e juízos [SARLO, 1991].

Uma história contada desde o ponto de vista da diferença colonial [MIGNOLO, 2019] reside no pensamento descolonial, um pensamento fronteiriço, ‘afiançado em existências e experiências fronteiriças de todos os tipos’, incluindo o que antes ficava pelas bordas, desprezado e invisível. Avisa-nos Walter Mignolo que ‘pensar nas fronteiras é viver nas fronteiras’, portanto o pensamento se expande para as histórias periféricas, para as escritas do corpo como narrativas pessoais e de grupos, compondo um fluxo maior e mais expressivo de vozes e memórias que narram o território, a nação, as identidades, a América Latina, outros continentes. Para os espaços de fronteira literal, geográfica e linguística, como algumas no Brasil, repensar essas questões significa abordar os territórios simbólicos do ponto de vista histórico, cultural, social, bem como os domínios das construções discursivas.

A tendência contemporânea que buscamos incentivar, quer no ensino quer na formação intelectual [entenda-se, por extensão, ‘do’ intelectual], inclinada à ordem multipolar, rompendo com a unipolaridade de pensamento, contribui para a geração do pensar, da reflexão – enquanto ação e resultado – e do fazer, enquanto prática, rumo a uma “cura descolonial, paralela e ao mesmo tempo dessemelhante à cura psicanalítica. A cura descolonial é a auto-afirmação nos processos de nos refazermos a partir do desprendimento das promessas não cumpridas da modernidade”   [Mignolo, 2019, contra-capa]. Portanto, é o des-prender, ou des-aprender, para re-aprender e re-fazer a nós mesmos, com base nas lições ensinadas e aprendidas pela história, ‘nossa’ história, com tudo o que possui de imposição, de subtração, de esquivamento, mascaramento e, a partir disso, construir outra história.

Que história preservar, que vozes ouvir, quais corpos agora permitimos falar e ser vistos, quais territórios se integram na nova multipolaridade da episteme e como proceder o necessário desprendimento para reagrupar o que cabe na nova cartografia do pensamento fronteiriço – eis algumas questões que se impõem como proposta de percepção teórica e crítica para a contemporaneidade e para o ensino das humanidades. Se, por um lado, a história, ficcional ou não, como território/corpo intrincado, multifacetado e complexo, às vezes desconexo, está em formação e se compõe ao longo dos anos – e o tempo foi uma das grandes questões da modernidade e do século passado – a atualidade do século XXI se depara com a noção de espaço, de território, se sobressaindo. Territórios que coexistem, relatos e narrativas simultâneas, esfaceladas, em um corpo a corpo pelo local da cultura, da memória, do pensamento, da preservação. Embate que adentra, ademais, os espaços de ensino, questionando os profissionais da área e os impulsionando a fazer, eles também, suas seleções e exclusões, mas que não é novo, aliás.

Há 42 anos, Silviano Santiago compôs uma série de ensaios e os publicou sob o título de Uma literatura nos trópicos, colocando em evidência o interessante conceito de entre-lugar; aplicado ao discurso latino-americano e à nossa produção literária, foi se expandindo para as ciências humanas de modo geral. Utilizando suas ideias, uma analogia pode ser interessante. Diz o autor, retomando um período de nossa história:

“Entre os povos indígenas da América Latina a palavra europeia, pronunciada e depressa apagada, se perdia na sua imaterialidade de voz, e nunca se petrificavaem signo escrito, nunca conseguia instituir em escritura o nome da divindade cristã. Os índios só queriama aceitar como moeda de comunicação a representação dos acontecimentos narrados oralmente, enquanto os conquistadores e missionários insistiam nos benefícios de uma conversão milagrosa, feita pela assimilação passiva da doutrina transmitida oralmente. Instituir o nome de Deus equivale a impor o código linguístico no qual seu nome circula em evidente transparência”. [SANTIAGO, 2019, p. 14]

Como, então, aprender um novo pensamento, livrando-nos do modelo de origem copiado e plasmado em nossa própria ideia de nós mesmos, América Latina, se meramente repetimos a história contada e repassada, sem des-aprender para depois re-aprender, como nos ensina Mingnolo? Afinal, não se trata de mergulhar no esquecimento de uma história contada e registrada, ou apenas revisá-la, mas se trata da percepção de uma outra possível história de nós e de nosso território, talvez à base da imaginação criativa, pois muito do que se descobre, como registro, se converte em ‘objeto mágico’, uma chave para o conhecimento das significações culturais, espaciais e temporais para grupos e povos, podendo ou não chegar às gerações seguintes, com mais ou menos marcas de modificação.

Neste sentido, voltemo-nos para alguns registros que nos contam uma história outra, o resultado da lição do des-aprender para re-aprender que, reforço, não implica em esquecimento, mas tampouco em mera deglutição, como queriam alguns modernistas no Brasil do início do século XX.

Deste modo, o modernismo latino-americano, principalmente nas letras hispânicas, representou um divisor de águas, um “retorno das caravelas”, cujo representante ou porta-voz pode ter sido o poeta nicaraguense Rubén Darío. Mas este foi um movimento de múltiplas vozes [GUIMARÃES, 2010], abrindo caminho para o boom latino-americano e já demonstrando, timidamente, a inclinação para a multipolaridade a que a nova compreensão da cartografia mundial, na contemporaneidade, precisa reconhecer.

Do ponto de vista histórico, é interessante analisar como os movimentos sociais em toda a América de herança linguística espanhola e portuguesa foram ocorrendo em uma sucessão tal que a inversão cultural começasse a se fazer presente, enviando de volta as caravelas com objetivo semelhante a realizar, ou seja, (re)colonizar o colonizador. Obviamente, a discussão acerca do alcance de tais objetivos se estende pelo longo período posterior, até nossos dias, exigindo uma observação acurada e reflexão sólida.

Hoje, relembrando e voltando os olhos para o passado, nossa perspectiva privilegiada pelo tempo e pela compreensão do território, próprio e/ou alheio, possibilita a percepção da transformação total que exige o processo do des-aprender para reaprender, o pensamento descolonial e seus projetos de vozes múltiplas, de multipolaridade.

É neste respeito que reavaliamos os fatos e documentos que temos à disposição para, via linguagem e interpretação, dar sentido aos mesmos, avaliar seu lugar nos espaços físicos e simbólicos de esforço de construção e de preservação da memória, dos monumentos, de uma identidade. Na intersecção entre os usos da linguagem e a história propriamente dita, os significados daquilo que compõe a realidade, documentados de alguma forma, registrados e preservados, não são exatamente concretos porque sua leitura e interpretação podem abarcar ideias abstratas e percepções mais sensíveis, com e no corpo, linguístico e pessoal, próprio e alheio, mas compartilhado, como depreendemos do que afirma Brandão [2006].

 Um aspecto relevante para se considerar a relação interdisciplinar ou, de modo mais amplo, lançar um olhar transdisciplinar aos conteúdos e à intersecção das disciplinas da linguagem com a história é a correlação entre os conhecimentos e as formas de abordar os temas e assuntos específicos. Por um lado, novas abordagens dos documentos, fatos, acontecimentos, entre outros, em geral concernentes à história, mostram que a disciplina ganha o suporte de outros veículos, meios e suportes, aproximando-os das narrativas atuais que atraem a atenção do público escolar. Por outro, a relação autor/dados/receptor também gera uma história própria de interpretação que, semelhante à história oral, se constrói “em torno de pessoas” [THOMPSON, 1992, p. 44], conectando os ‘textos’ e as ‘mãos, olhos, pele’ de quem os toca.

Nos meandros desta relação entre os termos ‘história’ e ‘literatura’, a crítica argentina Beatriz Sarlo comenta que:

“el tema tiene la ventaja de la ambiguedad. Bajo la apariencia de una conjunción fuerte, la dupla ‘historia y literatura’ puede ser interpretada, por una parte, como una alusión al problema de la historicidad de la literatura ...; por otra parte, el tema pude leerse como sugerencia a considerar los problemas del uso histórico de la literatura, con lo que las cuestiones quedan abiertas a los servicios que la literatura puede prestar a la historia. Finalmente, a mitad de camino entre ambas perspectivas, está la idea de que la literatura, como una de las dimensiones de lo simbólico en la vida social, tiene una historia que no es sólo historia de textualidades, sino también de funciones y de instituciones. La literatura como fuente o la literatura como objeto: en ello reside la ambiguedad...” [SARLO, 1991, p. 25]

Pensar nessa ambiguidade, como vantagem, pode se revestir dos valores simbólicos que escritores e historiadores conseguem compartilhar no desenvolver de sua profissão, reconhecendo-os como uma construção, constante – exatamente o que o termo ‘história’ pode propor de significado mais imediato, como sucessão contínua, seguindo a inexorável passagem do tempo, sem chance de um retorno para uma reconstrução. No entanto, voltar os olhos para outras compreensões do passado tem sido um exercício necessário e revigorante; se, por um lado, não se pode fazer uma reconstrução da história vivida, narrada, oficialmente preservada, pois suas marcas pemanecerão e sempre conviveremos com essas versões, compondo elas mesmas uma parte inegável desta história, por outro o exercício do des-aprender pode promover o deslocamento desses registros e dados históricos para dar visibilidade a formas outras de preservação, de memória e de compreensão do passado e da construção do presente.

Neste aspecto, reconhecemos que cabe a cada campo de estudo, voltado para seus interesses e para os objetos e objetivos que os sustentam e nos quais sua importância reside, buscar, produzir, descrever e preservar os diferentes tipos de dados que mais se conformam a seu próprio modelo. Alimentar-se, quer a literatura da história, quer a história da literatura e outras formas de uso da linguagem, implica uma adequação de princípios, métodos, objetivos e resultados, compreendendo a natureza e a função de cada área do conhecimento, para evitar os equívocos e excessos.
  
Projetos de outras histórias e outras leituras na relação história e literatura: algumas considerações finais inconclusas
Conforme proposto por nosso tema, as perspectivas contemporâneas para o ensino transdisciplinar, colocando a literatura em intersecção com a história e até mesmo outras artes, acarreta uma postura teórica e crítica atenta aos projetos de compreensão histórica e todas as suas implicações, bem como a necessidade, imposta pelo avanço científico, de des-aprender e re-aprender nossa herança epistêmica. Não basta meramente colocar história e literatura, ou outras formas de uso da linguagem e das artes, em paralelo e instar que uma se apoie na outra. A reflexão exige um esforço consciente, trans, no sentido de que os conhecimentos sejam perpassados uns pelos outros, e aprofundados pela pesquisa.
 
Assim, Sarlo afirma que:

“aquí aparece otro problema que abriría una discusión ciertamente no saldada en las disciplinas sociales: nuevamente la cuestión del sujeto, no como función textual de autor, sino como productor histórico de textos, es decir como figura cuya definición es colectiva, cuyo lugar en la vida social cambia, cuyas relaciones con el poder [político, religioso] es variable, cuya autonomía respecto del mercado o del patronazgo es también una construcción histórica. Desde este punto de vista, se podría hacer [como lo hizo Paul Bénichou, 1981] una historia del autor como figura social, o del autor como productor textual que no mantiene invariables sus relaciones con los medios de producción literarios, ni con los actores sociales que son el marco de la literatura. En esta perspectiva, una historia podría ordenar los lugares que el autor ha tomado en diferentes momentos de una sociedad: el profeta, el apóstol, el visionario, el marginal, el dandy, el bohemio, el profesional. Estos lugares son producto de un reconocimiento social y de la adjudicación de responsabilidades y derechos a los escritores, que, al mismo tiempo, no pueden dejar de relacionarse con transformaciones textuales.” [SARLO, 1991, p. 28]

As diferenciações nos papéís ou no entendimento dos papéis do sujeito social, como construção histórica, são dadas ao longo do tempo, no decorrer de uma história social e cultural que tem um viés político definidor. Na literatura, o autor/escritor é o produtor textual inserido em um determinado espaço e tempo, sob circunstâncias que o ajudarão a compor sua visão de mundo a ser representada no texto, assim como os personagens também serão uma voz dessa forma de representatividade. Por fim, também o público leitor fará inferências acerca do texto que se converte em documento histórico, cultural, social, passível de interpretações variadas. Apesar do elemento ficcional, o texto em si, tomado como documento, constitui-se uma fonte parcial que denota a ação social e histórica do sujeito autor, conforme o que podemos depreender dos comentários de Sarlo.

Portanto, para finalizar estas considerações ainda inconclusas, à espera de vozes múltiplas, à espera da possibilidade de multipolaridade, retomo algumas leituras que marcam a intersecção literatura e história, como um convite ao compartilhamento de outras experiências estéticas que aprofundam nossa percepção. No que diz respeito à literatura, não podemos esquecer tudo o que pode se configurar, em sua gênese e desenvolvimento, em aspecto histórico. Considerando essas múltiplas formas de observação, aplicando-as a alguns exemplos de textos narrativos, podemos pensar em obras escritas como literatura de testemunho, em geral a partir de eventos traumáticos e de repercussão social, ou a chamada prosa de costumes, funcionando como uma espécie de fotografia e um relato que prima pela fidelidade às ações e costumes de um determinado período. Há, ademais, as narrativas desenvolvidas a partir de determinados fatos marcantes, relatos que mesclam fatos e pessoas reais com uma história ficcionalmente desenvolvida.

Assim, conexões precisam ser feitas, uma reflexão consciente e desenvolvida pelo exercício de análise, pensando os modos de emergência dos textos, a proveniência do narrado, as rupturas e nexos da dimensão simbólica que podem concatenar o histórico, o social, o cultural, o político e suas formas de representação. Pensar nas perspectivas contemporâneas no ensino de literatura, outras artes e história, ou colocando o ensino de história em intersecção com estas outras formas e fontes de acesso à percepção do real e de sua representação exige uma postura crítica e teórica necessária a qualquer intelectual latino-americano.

Os embasamentos críticos se expandem e se entrelaçam, aliados a projetos de histórias e leituras outras, como interpretação, que não descontroem a história preservada, mas que impulsam novas posturas de des-aprender e re-aprender, promovendo o ensino sob outros paradigmas, em outras possíveis direções. Os caminhos de acesso se multipolarizam, convidam ao debate amplo, incluindo vozes e narrativas que, se não tem inicialmente o mesmo valor ou poder de negociação de espaço de preservação, começam a se desenvolver para inscrever o intelectual latino-americano na nova cartografia mundial. Um novo caminho descolonial parece possível; basta-nos ampliar seus atalhos.  
  
Referências
Marta Francisco de Oliveira é doutora em Letras, professora do quadro permanente da Pós-graduação em Estudos de Linguagens da FAALC, professora do curso de Letras do CPCX/UFMS, pós-doutoranda do PPGEL/FAALC-UFMS e coeditora da Revista Rascunhos Culturais CPCX/UFMS.

BRANDÃO, Ruth Silviano. A vida escrita. Rio de Janeiro: 7Letras, 2006. [livro]
ECHEVERRÍA, Esteban. El matadero. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Editorial Fundación Alon, 2006. [livro]
GUIMARÃES, José Ferreira. Modernismo hispano-americano: trajetória e o “retorno das caravelas”. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Londrina. Centro de Letras e Ciências Humanas. Curso de pós-graduação em Letras. Londrina, UEL, 2010. Disponível em
http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000123863 [internet]
LIMA, Damaris Pereira Santana. Xirú: uma leitura cultural da tríplice fronteira Brasil, Paraguai e Argentina. In: Revista Rascunhos Culturais – Revista do Curso de Letras do campus de Coxim – UFMS.V. 1º, nº 20. Campo Grande: Editora UFMS, jul-dez, 2019. [artigo]
MIGNOLO, Walter. Desobediencia epistémica: retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialidad. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Del Signo, 2014. [livro]
SARLO, Beatriz. Literatura e história. In: Boletín de Historia Social Europea (3). La Plata, Memoria Académica, Universidad de La Plata, n. 3, 1991, p.25-36. [artigo]
SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos trópicos. Edição ampliada. Recife: Cepe, 2019. [livro]
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1992. [livro]

8 comentários:

  1. Gostei bastante do texto, também sou formada em Letras e atualmente faço meu doutorado na área de História trabalhando com crônicas. Esse gênero, por ser um híbrido da relação entre jornalismo e literatura, às vezes guarda armadilhas para a análise histórica, pela tendência à identificação simples do autor com o narrador. Sabemos, porém, que há diversas formas de construção da crônica onde essa identificação não é possível e, na realidade, não seria sequer possível separar os tipos em que isso ocorre. Luiz Simon criou, inclusive, o termo "eu do cronista", para evitar a simplificação, o que tenho adotado, pois considero que essa seja a melhor maneira de não tornar imprescindível reconhecer onde estaria o real (autor) e o ficcional (narrador), trabalhando, então, no aspecto que você comenta a respeito de compreender as múltiplas representatividades sociais que ecoam na construção literária, afinal, real e ficcional não são uma dicotomia, e o texto aparece, assim, como um produto sociocultural complexo. Como você coloca, as possibilidades da literatura são muitas, e muitas devem ser as formas de observá-la na intersecção com a história, e, como trabalho com a crônica, tratei a questão a partir desse ponto de vista. Acredito que essa é uma relação cujo grau pode se alterar a depender do gênero e dos objetivos históricos pretendidos, não havendo, portanto, um modelo ideal, e pelo que entendi, seu texto reflete também sobre esse espaço aberto que o historiador deve explorar. Você considera que hoje esse campo tem sido bem explorado, ou que pelo menos há um horizonte sinalizando nesse sentido? Se sim, quais seriam? Estariam aí desenhadas a literatura de testemunho, a prosa de costumes, que você cita?
    Larissa Leal Neves

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    1. Prezada Larissa, bom dia! Tudo bem? Obrigada por suas ótimas considerações... acho muito importante essa inserção do profissional, e os meios e suportes de hoje aumentam em muito nossas possibilidades. Como na crônica, em geral um espaço ocupado por alguem respeitado e respaldado nos veículos de comunicação, hoje podemos nos concentrar nos 'modos de fazer', através das tecnologias, e aí ate mesmo o 'eu' do leitor se insere. Nossa relação com os fatos, acontecimentos, narrativas, foram alterados. Mesmo a narração de minha vida em determinado momento ou a criação de stories em sites respondem a esse movimento que é também criativo, ficcional. Muitos gostam de ler diários, veja como o mercado editorial ampliou os títulos desse tipo, assim como outras formas de abordar a realidade. Livros ou blogs e oitras paginas de memórias, testemunho, costumes... não acho que percam força, mas podem conversar com a geração atual que se identifica com o relatar - sempre um pouco além do vivido, aceitando também o imaginado, nas narrativas visuais, imagéticas, orais e escritas. O que vc acha?

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    2. Obrigada pela resposta, Marta. É realmente muito interessante pensar em como essa relação tem se alterado, não tinha visto ainda por essa ótica. Penso que abre possibilidades riquíssimas para professores de Letras e de História. Tudo que tenho feito na pesquisa eu tento também refletir para o ensino, e achei seu texto muito importante na construção permanente desse elo, para nós que gostamos de trabalhar com essa interrelação na direção da transdisciplinaridade. Vejo isso como algo ainda muito frágil na academia, mas reflexões como a sua ajudam realmente a fortalecer esse campo. Abraço.

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  2. Boa tarde, Marta. Parabéns pelo texto excelente e provocador. Sou professora de História e tenho trabalhado bastante com textos literários, além de iniciar pesquisas sobre o tema. Percebo que temos carência de textos que contemplem a literatura e o ensino de História, por isso, teu artigo é muito valioso, iluminando aspectos essenciais neste trabalho.
    Me chamou a atenção o seguinte trecho no teu texto:
    "No ensino, quando os conteúdos pertinentes à história são tratados junto com outros conteúdos de linguagem, pode haver certo apagamento ou confusão do que seja histórico para favorecer outras formas de abordagens".
    Assim, pergunto: como podemos trabalhar essas duas áreas do saber em sala de aula sem promover o apagamento uma da outra, ou, em especial, da História? Abraço
    Daniela de Campos

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    1. Bom dia, Daniela! Tudo bem? Obrigada por sua participação e colaboração. Considerei, de fato, minha experiência pessoal. Acredito que cada proposta de atividade tenha sempre seus riscos, pois nunca sabemos como será o efetivo desenvolvimento e envolvimento dos alunos, bem como sua inclinação no.momento da atividade: podem se concentrar em detalhes ou em temas tão periféricos que o objetivo principal pode ser esquecido. Porém, em geral a boa preparação nos ajuda a contornar isso. Objetivos bem definidos podem - e talvez devam - contemplar os aspectos ampliados de cada material, para não esquecer que é um documento com elementos históricos, linguísticos, artísticos, e outros, e todos desempenham um papel no resultado; às vezes não tão acertado, do nosso ponto de vista, mas a percepção do leitor, espectador ou interlocutor também e elemento importante a se levar em conta, independentemente se quisermos ou não pensar na valoração do material. Se trago tal material, até que ponto se correlaciona com o tema abordado ou o ponto de vista que quero perceber? E para os alunos, sera necessária uma explicação previa destes pontos, como um roteiro, um caminho interpretativo para que percebam o que proponho? Acho que é muito rica uma abordagem mais completa, ou seja, não ficar apenas em um aspecto, mas chamar a atenção para todo o conjunto e o modo como todos estes elementos foram empregados para resultar no produto final. Por exemplo, o que justificaria a escolha de um ou outro supprte? Ppr que tal ou tal firma de narrativa, de selecão de imagem, de ponto de vista? Posso definir intencionalidade na obra, no autor, em.mim ao selecionar, e nos alunos? Como professora, sempre percebo que há sempre uma tendência a uma aproximação, pelos alunos, através de aspectos muito pessoais. E fico até sem saber, muitas vezes, exatamente em qual.ponto interceder para evitar as divagações que me parecem desnecessárias e que servem apenas para distração. Obviamente a interferência é necessária, ou iremos 'apagar' os elementos que importam em.nissa discussão e reflexão. Mas penso que na História, por exigir maior restrição que a ficção, talvez precise haver maior controle. Contudo, cada material e objetivos de aula ppderão permitir maior ou menor liberdade nesse sentido. Qual sua opinião?

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    2. Desculpe os erros de digitação...

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    3. Obrigada pela resposta, Marta. Concordo contigo quando dizes que é necessário ter clareza nos objetivos que queremos desenvolver com o trabalho, além de ter um roteiro de trabalho que seja explicitado aos alunos. Penso que isso pode diminuir o risco mencionado. Além disso, acredito que o trabalho com o professor da área parceira também é fundamental e ajuda a demarcar os espaços. Abraço

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  3. Muito interessante o texto e a proposta estabelecida. Acho fascinante estudar e pensar o uso da literatura no Ensino de História e vice-versa.
    No texto refere-se a ver o ensino como questão transdisciplinar, de modo mais amplo que a interdisciplinaridade, mas isso poderia ser visto também como uma proposta de pensar a educação como uma tarefa multidisciplinar, onde a área do conhecimento é uma questão menor que pode ser desconsiderada se considerarmos conhecimento apenas conhecimento, onde todas as áreas estão intrinsecamente conectadas. Dessa forma, minha questão é relacionada a isso e a ambiguidade existente entre história e literatura que colocas. Assim, considerando que no passado história e literatura foram vistas como uma só, essa perspectiva de interligação entre elas nunca foi perdida totalmente e pode ser vista nas obras de ambos os lados, então, poderíamos entender a memória e a escrita dela tanto como história quanto como literatura, dependendo do ponto de vista do sujeito que as analisa ou escreve? Ou, se entendermos as escritas da memória apenas como conhecimento construído e significado pelo sujeito, a transdisciplinaridade poderia ser vista enquanto meio de significação educacional dessas memórias dentro do âmbito do ensino, tanto pelos sujeitos que trabalharão com essas memórias quanto pelos sujeitos a quem elas pertencem?
    Agradeço a atenção.
    Sandiara Daíse Rosanelli

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