Tatiane Kaspari e Letícia Mayer Borges


POÉTICAS DO DESLOCAMENTO: MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS EM COMPOSIÇÕES CONTEMPORÂNEAS




Migração: cultura e identidade em trânsito
O sujeito nômade, a despeito das diferentes faces que assume, desde o povo tribal, o ermitão, o viajante ou mesmo o cigano, oferece à cultura ocidental um ponto de questionamento quanto aos limiares espaciais e sociais que caracterizam uma identidade nacional. O filósofo e crítico literário Walter Benjamin [2012] associa à prática nômade a essência da narrativa, cuja potência está relacionada às experiências que o narrador-viajante é capaz de assimilar no intercâmbio realizado com diferentes povos e em diferentes espaços. Essa perspectiva visualiza a migração como movimento voluntário, atávico do indivíduo, em busca da construção de sua narrativa de vida.

Entretanto, desde que se tem registro de vida em sociedade, o ser humano migra por diversas motivações. Elas incluem motivos biológicos de busca por lugares mais férteis, menos frios e menos perigosos; disputas e cisões entre grupos; a simples curiosidade e exploração. Assim, “a imigração e o refúgio podem ser compreendidos como efeitos das condições históricas e sociais em que vivemos” [SANTOS, 2017, p. 156] e, por isso, podem tanto representar uma pulsão natural quanto adquirir contornos dramáticos da luta pela sobrevivência.

A busca pela compreensão da dinâmica do movimento migratório mobiliza diferentes campos epistemológicos, cujos atravessamentos podem ser visualizados em produções artísticas. Nas palavras do pesquisador alemão Ottmar Ette:

“De fato, acredito que não existe caminho melhor ou mais complexo de acesso a uma comunidade, a uma sociedade, a uma cultura do que a literatura. Ao longo de milênios ela colecionou, nas mais distintas áreas geoculturais, um saber sobre o viver, o sobreviver, o conviver, especializado em não se especializar, tanto em termos discursivos, como disciplinares ou como dispositivo de saber. Sua capacidade de disponibilizar aos leitores e leitoras um saber, um conhecimento implícito na vivência, passível de ser apropriado, permite à literatura chegar a muitas pessoas, para além das distâncias espaço-temporais, e produzir seus efeitos” [ETTE, 2016, p. 195].

O presente trabalho compreende o campo literário como concepção abrangente, que permite a inserção de diferentes produções de natureza artística. Por conseguinte, elege como corpus duas canções latino-americanas: “Diáspora”, do trio brasileiro Os tribalistas e “Movimiento”, do artista uruguaio Jorge Drexler, abordando-as em seu estrato verbal. A partir de um estudo qualitativo, objetiva-se visualizar a representação de movimentos migratórios nas composições contemporâneas, concebendo-os em suas implicações socioculturais. Na base das discussões propostas está a concepção de que as relações estabelecidas pelos sujeitos com o espaço mobilizam e são mobilizadas por questões culturais e identitárias, que emprestam à transfiguração poética seu dinamismo, seu hibridismo e sua ambiguidade.

Em um viés histórico, a transformação de povos primitivos em grupos sociais sedentários é, muitas vezes, tido como um marco do processo de desenvolvimento civilizatório do ser humano. Nessa perspectiva, o instinto que movia a busca por locais mais favoráveis à sobrevivência é transformado por uma necessidade de ‘criar raízes’, de pertencer a um povo, a um local e, ainda que inconscientemente, de erigir determinada cultura. Todavia, quanto mais forte o desejo de pertencimento em alguns grupos sociais, maior a exclusão dos indivíduos que de alguma forma destoam desses grupos. Assim, junto com a predominância da vida sedentária, fortalece-se a problemática em torno da forma como se constitui a identidade de quem migra, seja por imposição ou por vontade própria.

Conforme a antropóloga Janaina Santos, a identidade “é vista como um tornar-se, um vir a ser relacional e contextual” [SANTOS, 2017, p. 156], ou seja, a constituição da identidade do indivíduo se dá de maneira ambígua e antagonística, fundamentada na relação interpessoal. Nesse ponto, Tomaz Tadeu da Silva se vale das concepções bakhtinianas ao considerar que a definição da identidade só se dá mediante um processo de diferenciação: aquilo que eu sou é determinado em contraste com aquilo que não sou. Segundo Silva, identidade e diferença partilham uma característica fundamental:

“elas são o resultado de criação linguística. [...] A identidade e a diferença têm que ser ativamente produzidas. Elas não são criaturas do mundo natural ou de um mundo transcendental, mas do mundo cultural e social. Somos nós que as fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais. A identidade e a diferença são criações culturais e sociais” [SILVA, 2000, p. 76].

Sob esse prisma, o processo de diferenciação que rege o funcionamento linguístico e a instabilidade desse sistema – em permanente mudança – lançam sua sombra sobre a identidade, imprimindo nela os traços do antagonismo e da permeabilidade. Assim, a alteridade – em que o eu se define em relação a um outro – embasa e permeia todo o processo de identificação.

Dessa maneira, é possível entrever que subjaz à identidade um hibridismo, ou seja, ela é constituída a partir do confronto e do mimetismo de diferentes fatores culturais. Para o estudioso:

“a importância de hibridismo não é poder traçar dois momentos originários a partir dos quais surge um terceiro; ao invés disso, o hibridismo [...] é o ‘terceiro espaço’ que possibilita o surgimento de outras posições. Esse terceiro espaço desloca as histórias que o constituem, e estabelece novas estruturas de autoridade, novas iniciativas políticas, que são mal compreendidas através da sabedoria normativa” [RUTHERFORD, 1990, p. 211].

O hibridismo constitui, assim, na visão de Homi Bhabha, o fator que confere dinamicidade à cultura. Esta, concebida como “produção desigual e incompleta de significação e valores, muitas vezes composta por demandas e práticas incomensuráveis, produzidas no ato de sobrevivência cultural” [BHABHA, 1995, p. 48], abandona sua natureza substantiva para assumir seu caráter verbal.

Potencial símbolo do hibridismo, o migrante, durante seu deslocamento, preserva e difunde sua bagagem cultural de origem, sua experiência de vida, seus aprendizados durante a viagem, mas, concomitantemente, os submete aos intercâmbios e às vicissitudes do contato com um novo local e uma nova percepção cultural. A migração, “portanto, constitui-se como um fenômeno social liminar, político e poético, que articula passado e presente através de temporalidades e espacialidades múltiplas” [SANTOS, 2017, p. 159]. A identidade do ser humano que migra não se define por seu lugar de partida ou por seu lugar de chegada, mas sim pelos movimentos e por sua vivência:

“Os migrantes, tendo deixando de ser de seu país de origem, tampouco pertencem imediatamente a outro país. Estão numa zona liminar, num interstício experiencial que provoca múltiplas reflexividades. Estar presente não corresponde a permanecer, é antes parte de um processo, de um fluxo, de um descobrir-caminho através do qual as experiências são transformadas continuamente” [SANTOS, 2017, p. 160].

Além disso, o movimento migratório não enriquece o indivíduo apenas por conhecimentos de locais, de povos e de culturas, mas promove também o autoconhecimento, e “‘conhecer’ neste sentido assume o significado de uma experimentação. Trata-se de um processo através do qual o movimento de deslocar-se de um lugar a outro gera, além de novas possibilidades, novas percepções” [SANTOS, 2017, p. 160]. Da mesma forma, que o migrante não pertence a um local absoluto, pertence a todos com que se relacionou, falando diversas línguas, experimentando diferentes costumes, vivenciando distintas culturas, logo:

“O migrante, como sujeito social, torna-se um sujeito liminar, que não pertence a nenhum lugar definitivamente mas que está transnacionalmente conectado, falando diversas línguas e em contato com diferentes culturas, afetos e países quase simultaneamente” [SANTOS, 2017, p. 160]

O espaço limiar do migrante demonstra a natureza de constructo das limitações territoriais que sustentam as nacionalidades, uma vez que “espaços somente surgem por meio de movimentos. Estes só produzem um espaço com seus modelos e figuras, com seus cruzamentos e travessias específicos” [ETTE, 2016, p. 197]. Portanto, “os deslocamentos humanos, para além dos trânsitos de pessoas, práticas e saberes, nos fazem refletir sobre a fixidez, as fronteiras, a permeabilidade, e a transformação dentro um fluxo constante de movimento” [SANTOS, 2017, p. 162].

Ao contrário do que pode supor, porém, as transformações não se limitam ao migrante, estendendo-se, também, aos sujeitos que, em seu local de origem, se veem confrontados com novas perspectivas:

“As migrações [...] atuam como construtoras de espelhos que refletem e transformam o real, informando que migrantes e não-migrantes estão irremediavelmente inseridos em um processo dialógico de liminaridade e transformação. Este processo articula-se uma poética e uma política da migração, através da compatibilização e fricção entre as múltiplas dimensões da vida social, percebidas e atravessadas em suas pontes e fronteiras reais ou metafóricas” [SANTOS, 2017, p. 163].

As fronteiras geográficas são, também, simbolicamente erigidas por estruturas ideológicas e políticas, como o imperialismo e o capitalismo. Elas organizam a sociedade por classes, definindo o valor do indivíduo de acordo com seu capital, seu conhecimento e o grupo ao qual ele pertence. Elas centralizam como elite uma parcela ínfima da população e relegam à margem o restante. Nesse cenário:

“Migrantes, voluntários ou involuntários, insistem em se deslocar pelos espaços, em criar novas formas de existir, constituindo um movimento que além de político é poético, na medida em que articula novos sentidos e sensibilidades, mas também é performativo na medida em que é transformador de contextos e relações” [SANTOS, 2017, p. 158].

A poética do movimento revela-se em produções cujo sentido também é instável, movente, ambivalente. Ainda que venham à tona em um contexto cultural específico, transcendem as fronteiras linguísticas para instaurarem reflexões sobre o indivíduo: sujeito biológico, histórico, social e, sobretudo, simbólico.

Análise das canções
Por não serem um fenômeno inédito na contemporaneidade, os fluxos migratórios têm ocupado a agenda de discussões políticas e humanitárias há tempos. Entretanto, a relevância desses debates se torna mais aguda diante de um cenário que registra uma tendência de crescimento do contingente de migrantes. Em 2019, a Organização Internacional para as Migrações contabilizou 272 milhões de migrantes internacionais, ou seja, 3,5% da população mundial, o que significa um adicional de 23% em relação a 2018 [2019, on-line]. Com os impactos socioeconômicos da pandemia da Covid-19, as projeções não são otimistas para migrantes e refugiados, que integram a camada mais vulnerável da sociedade.

Desse substrato real, emergem produções artísticas que perseguem a natureza poética do movimento. Nesse trabalho, destacam-se duas composições lançadas em 2017, “Diáspora” e “Movimiento” [ambas em anexo]. Ambas as canções latino-americanas centralizam a temática da migração, sensibilizando o interlocutor para a análise de sua própria temporalidade e espacialidade.

Uma das formas de agenciamento do interlocutor ocorre por meio do emprego da primeira pessoa em ambas as canções: “Atravessamos o Mar Egeu” e “Apenas nos pusimos en dos pies/Comenzamos a migrar por la sabana”. Essa escolha linguística insere o interlocutor em um processo migratório duplo: ele se torna um migrante que trilha os caminhos simbólicos do texto poético, ao mesmo tempo em que visualiza diferentes fluxos migratórios evocados pelas canções e que o impelem à reflexão sobre a realidade.

Integrado aos movimentos textuais, o interlocutor continua sendo interpelado ao longo das composições. Em “Diáspora”, o questionamento “You, where are you?” coloca em xeque a percepção do espaço do interlocutor e, por extensão, de sua própria identidade movente. O tempo presente empregado na pergunta explicita o “agora” do espaço ocupado por cada indivíduo e permite visualizar a efemeridade das posições de sujeito que ele ocupa.

Essa percepção transforma-se em advertência em “Movimiento”: “Yo no soy de aquí, pero tú tampoco”. Esse verso, que reafirma a natureza nômade de cada ser humano, é precedido, na canção, por um histórico poético das migrações, que iniciam com a transformação dos primatas em bípedes. Para a voz lírica do poema, “Somos una especie en viaje”: progressivamente, os instintos [Los ojos en alerta, todo oídos/ Olfateando aquel desconcertante/ Paisaje nuevo, desconocido] são substituídos por uma pulsão [Es más mío lo que sueño que lo que toco] que move o ser humano ao transformá-lo em um ser simbólico.

Também “Diáspora” recorre a referências histórico-culturais para inserir o interlocutor em diferentes fluxos migratórios. A menção ao “Rio Vermelho do mar sagrado” mobiliza a memória bíblica da travessia do Mar Vermelho por Moisés, mas concomitantemente, chama atenção sobre a cor vermelha, que tinge o rio, em uma possível analogia com a morte de migrantes durante seu deslocamento forçado. A mescla de identidades na canção [“Atravessamos o mar Egeu/ O barco cheio de fariseus/ Como os cubanos, sírios, ciganos”] dilui referências temporais e geográficas, cotejando os fluxos contemporâneos predominantes na Europa [como os de sírios] com o tráfico de escravos para o Brasil. A paráfrase de versos de Castro Alves, autor de Vozes d’África, poema datado de 1868, acentua a dramaticidade da migração forçada:

“Ó Deus onde estás
Que não respondes
Em que mundo
Em qu’estrela
Tu t’escondes
Embuçado nos céus
Há dois mil anos te mandei meu grito
Que embalde desde então corre o infinito
Onde estás, Senhor Deus”

Os versos românticos retomam, indiretamente, a Maldição de Caim [“Há dois mil anos te mandei meu grito”], que transporta novamente às menções bíblicas, evidenciando a circularidade das diásporas, ou seja, das migrações incentivadas ou forçadas por fatores políticos, econômicos ou por guerras. Dessa forma, a composição de Os tribalistas evidencia as repercussões negativas da movimentação de contingentes humanos, representadas no isolamento dos indivíduos [“dando a mão para ninguém”] por meio da dissolução dos laços familiares [“Meu irmão/ Sem Irmã/ O meu filho sem pai/ Minha mãe/ Sem avó”]. Nessa perspectiva, a identidade é associada a uma comunidade, cujo percurso histórico-social está consolidado em um tempo e espaço [“Como romanos sem Coliseu”]. Com a perda das referências geográficas originais, o indivíduo é delegado a um não-lugar, é marginalizado concreta e simbolicamente [“Sem lugar/ Pra ficar/ Os meninos sem paz”]. O símbolo dessa espacialidade esvaziada são os “center shoppings lotados de retirantes refugiados”: localizados nos centros urbanos, para onde convergem os fluxos migratórios, eles congregam os indivíduos de diferentes culturas, mas apagam ou massificam referências culturais.

De maneira diferente, “Movimiento” enfoca a migração como tendência biológica, que deve ser satisfeita sob pena da anulação da cultura e da própria existência humana, como exemplificam os versos: “Lo mismo con las canciones, los pajaros, los alfabetos/ Si quieres que algo se muera, déjalo quieto”. Sob este prisma, a cultura é a própria dinamicidade dos encontros de identidades, é o processo imaterial de criação artística. Por isso, a cultura não se circunda a um território, não remete ao passado, mas projeta uma temporalidade futura: “Cargamos con nuestras guerras, nuestras canciones de cuna/ Nuestro rumbo hecho de versos de migraciones, de hambrunas/ Y así ha sido desde siempre, del infinito”.

Na canção uruguaia, o interlocutor é confrontado com uma presença ambígua. Por um lado, a advertência da efemeridade e da imaterialidade do ser [“No tenemos pertenencias”] dilui os pontos de apego em que se podem firmar uma identidade cultural. Por outro lado, a inclusão do interlocutor na dinâmica histórica das migrações [“Somos padres, hijos, nietos y bisnietos de inmigrantes”] confere-lhe uma posição de sujeito localizado histórica e socialmente. Em suma, nessa tônica poética do movimento, não se torna incoerente afirmar que o ser humano não pertence “De ningún lado del todo y, de todos/ Lados un poco”.

Movimento em sala de aula
No fechamento deste trabalho, é conveniente salvaguardar a distância entre o conhecimento histórico e o saber poético que circunda nas canções analisadas. Procedimentos metodológicos e finalidades distintas geram discursos que não substituem um ao outro em ambiente escolar. Todavia, acredita-se que o movimento, como ação vital e natural do ser humano, pode infiltrar-se nas práticas pedagógicas.

Dessa forma, análises contextualizadas das composições podem complementar o ensino de história, ao possibilitarem visualizar problemáticas inerentes à migração, como o apagamento de identidades, a desterritorialização, a perda de referências culturais. Adicionalmente, o engajamento afetivo no discurso poético favorece o reconhecimento da identidade como processo permanentemente em trânsito e inconcluso. Entre o saudosismo, a crítica e a utopia, a poética do movimento recorda ao ser humano sua natureza fugaz. Pôr-se em movimento é assumir riscos, por vezes, incalculáveis. Mas pode ser, também, a única forma de manter-se vivo, concreta e simbolicamente.

Referências
Tatiane Kaspari é doutora e mestra em Processos e Manifestações Culturais, pela Universidade Feevale, e graduada em Letras - Português, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Suas pesquisas voltam-se à análise de aspectos socioculturais em obras literárias e às questões relacionadas ao ensino de literatura no Ensino Médio. Atualmente, é professora substituta do IFRS, câmpus Feliz.
Letícia Mayer Borges é graduanda em Letras - Habilitação Português, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC-CNPq, Universidade Feevale.

BHABHA, Homi K. “Freedom’s Basis in the Indeterminate. The Identity in Question.”  Ed. John Rajchman.  London: Routledge, 1995. Disponível em: <http://www.jstor.org/pss/778784>. Acesso em 28 abr. 2011.
BENJAMIN, Walter. O narrador – Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: BENJAMIN, Walter. “Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura”. 8 ed. revista. São Paulo: Brasiliense, 2012.
ETTE, Ottmar. Pensar o futuro: uma poética do movimento nos Estudos de Transárea. “Alea”, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 192-209, agosto de 2016. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-106X2016000200192&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 14 abr. 2020.
OIM: migrantes internacionais somam 272 milhões, 3,5% da população global. In: NAÇÕES Unidas Brasil, [S.l.], 27 nov. 2019. Disponível em
<https://nacoesunidas.org/oim-migrantes-internacionais-somam-272-milhoes-35-da-populacao-global>  Acesso em 12 abr. 2020.
RUTHERFORD, Jonathan. The Third Space. Interview with Homi Bhabha. In: Ders. [Hg]: “Identity: Community, Culture, Difference”. London: Lawrence and Wishart, 1990, 207-221. Disponível em
<http://www.wsp-kultur.uni-bremen.de/summerschool/download%20ss%202006/The%20Third%20Space.%20Interview%20with%20Homi%20Bhabha.pd>. Acesso em: 28 abr. 2011.
SANTOS, Janaina. As migrações recentes como possibilidades poéticas e políticas de transformação do mundo social. “Áskesis”, v.6, n.2, Julho/Dezembro - 2017, 155-165. Disponível em
<http://www.revistaaskesis.ufscar.br/index.php/askesis/article/view/233>. Acesso em 08 abr. 2020.
SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In SILVA, Tomaz Tadeu da. [org]. “Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos Culturais”. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

ANEXO A
Diáspora
Tribalistas

Acalmou a tormenta
Pereceram
Os que a estes mares ontem se arriscaram
E vivem os que por um amor tremeram
E dos céus os destinos esperaram

Atravessamos o mar Egeu
O barco cheio de fariseus
Como os cubanos, sírios, ciganos
Como romanos sem Coliseu
Atravessamos pro outro lado
No Rio Vermelho do mar sagrado
Os Center shoppings superlotados
De retirantes refugiados
You, where are you?
Where are you?
Where are you?
Onde está
Meu irmão
Sem Irmã
O meu filho sem pai
Minha mãe
Sem avó
Dando a mão pra ninguém
Sem lugar
Pra ficar
Os meninos sem paz
Onde estás
Meu senhor
Onde estás?
Onde estás?
Deus
Ó Deus onde estás
Que não respondes
Em que mundo
Em qu’estrela
Tu t’escondes
Embuçado nos céus
Há dois mil anos te mandei meu grito
Que embalde desde então corre o infinito
Onde estás, Senhor Deus
Atravessamos o mar Egeu
O barco cheio de fariseus
Como os cubanos, sírios, ciganos
Como romanos sem Coliseu
Atravessamos pro outro lado
No Rio Vermelho do mar sagrado
Os Center shoppings superlotados
De retirantes refugiados
You, where are you?
Where are you?
Where are you?
Where are you?
Where are you?
Onde está
Meu irmão
Sem Irmã
O meu filho sem pai
Minha mãe
Sem avó
Dando a mão pra ninguém
Sem lugar
Pra ficar
Os meninos sem paz
Onde estás
Meu senhor
Onde estás?
Onde estás?
Where are you?
Where are you?
Where are you?
Where are you?
Where are you?
Where are you?

ANEXO B
Movimiento
Jorge Drexler

Apenas nos pusimos en dos pies
Comenzamos a migrar por la sabana
Siguiendo la manada de bisontes
Más allá del horizonte, a nuevas tierras lejanas

Los niños a la espalda y expectantes
Los ojos en alerta, todo oídos
Olfateando aquel desconcertante
Paisaje nuevo, desconocido

Somos una especie en viaje
No tenemos pertenencias, sino equipaje
Vamos con el polen en el viento
Estamos vivos porque estamos en movimiento

Nunca estamos quietos
Somos trashumantes, somos
Padres, hijos, nietos y bisnietos de inmigrantes
Es más mío lo que sueño que lo que toco

Yo no soy de aquí, pero tú tampoco
Yo no soy de aquí, pero tú tampoco
De ningún lado del todo y, de todos
Lados un poco

Atravesamos desierto, glaciares, continentes
El mundo entero de extremo a extremo
Empecinados, supervivientes
El ojo en el viento y en las corrientes
La mano firme en el remo

Cargamos con nuestras guerras
Nuestras canciones de cuna
Nuestro rumbo hecho de versos
De migraciones, de hambrunas

Y así ha sido desde siempre, desde el infinito
Fuimos la gota de agua, viajando en el meteorito
Cruzamos galaxias, vacío, milenios
Buscábamos oxígeno, encontramos sueños

Apenas nos pusimos en dos pies
Y nos vimos en la sombra de la hoguera
Escuchamos la voz del desafío
Siempre miramos al río, pensando en la otra rivera

Somos una especie en viaje
No tenemos pertenencias, sino equipaje
Nunca estamos quietos, somos trashumantes
Somos padres, hijos, nietos y bisnietos de inmigrantes
Es más mío lo que sueño, que lo que toco

Yo no soy de aquí, pero tú tampoco
Yo no soy de aquí, pero tú tampoco
De ningún lado del todo y, de todos
Lados un poco

Los mismo con las canciones
Los pájaros, los alfabetos
Si quieres que algo se muera
Déjalo quieto

4 comentários:

  1. Olá, Tatiane e Letícia!
    Primeiramente, gostaria de parabenizá-las pelo texto e pela iniciativa de abordar assuntos tão importantes e delicados da contemporaneidade, a migração e a constituição de identidades.
    Em relação ao texto, tenho duas perguntas:
    1. Por quê vocês optaram por utilizar a letra em espanhol da canção uruguaia ao invés de uma tradução?
    2. Durante o texto, vocês afirmam, a partir da perspectiva teórica de um autor, que a migração é tanto um movimento poético quanto político. Nas canções que vocês analisam, é possível encontrar traços de movimentos políticos?
    Atenciosamente,
    Márcia Rohr Welter

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    1. Olá, Márcia!
      Obrigada por ler e gostar do nosso texto.
      1. Durante a realização do trabalho eu tinha, num primeiro momento, colocado a versão traduzida da canção espanhola, mas conversando com a Tatiane e visando às análises que pretendíamos fazer a utilização da letra de Movimiento em sua língua original garantiu que pensássemos em reflexões acerca do que o autor da canção realmente quis compor, pois, muitas vezes, em traduções, perde-se o sentido pretendido.
      2. A letra da canção Diáspora está repleta de menções a movimentos de caráter político, pensando que a referência à própria diáspora judaica já é um exemplo. Em Movimiento, o caráter político é mais implícito, no ato dos imigrantes carregarem consigo suas guerras e suas fomes, como parte constituinte de sua identidade.
      Agradeço novamente sua interação!
      Letícia Mayer Borges

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  2. Boa noite a todos!
    Gostaria, primeiramente, de parabenizar as autoras pela excelente comunicação. Transformar uma problemática em música é um ótimo jeito de torná-la acessível, usá-la como uma ferramenta aliada ao ensino é comprovadamente proveitoso, as autoras aconselham esse uso a partir de qual ano escolar?

    Ana Clara Fernandes da Costa

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    1. Olá, Ana Clara!
      Agradecemos pelo diálogo. O trabalho com músicas pode estar presente em toda a trajetória escolar, contanto que haja uma adequação dos temas e da complexidade textual. Em relação às canções que propusemos no trabalho, pensamos que o mais adequado seria abordá-las no Ensino Médio, quando já há maior proficiência leitora e amadurecimento dos alunos. Especialmente no caso da letra em língua espanhola, é conveniente um trabalho interdisciplinar ou a discussão com os estudantes acerca dos significados transmitidos. Outras canções que poderiam abordar os movimentos migratórios de maneira mais acessível ao ensino fundamental são Eu (Palavra Cantada), Asa Branca, Lamento Sertanejo, Ponta de Areia, Desgarrados (esta na linguagem gauchesca).

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