Gláucia Soares Nogueira e Walace Ferreira


RAÇA E GÊNERO NAS REDAÇÕES DO ENEM, O ENSINO DE HISTÓRIA E SOCIOLOGIA E A DEFESA PELOS DIREITOS HUMANOS




Introdução
Esse trabalho analisa como duas redações do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), a de 2015 e a de 2016, trazem à tona assuntos fundamentais para as disciplinas de História e Sociologia na Educação Básica, a saber, gênero e raça, assim como encontram-se em plena sintonia com a defesa dos direitos humanos.

“Gênero” e “raça” são temáticas abordadas no currículo da Educação Básica, cuja análise reivindica tanto um repertório conceitual e histórico do candidato quanto uma reflexão crítica, subsídios que História e Sociologia têm muito a oferecer.

A redação de 2015, intitulada “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, remete a uma variável do tema gênero adaptado a uma realidade ainda persistente na sociedade brasileira. Por sua vez, a redação de 2016, intitulada “Caminhos para combater o racismo no Brasil”, propõe uma argumentação no sentido do enfrentamento de importantes problemas sócio-raciais do país.

A motivação deste artigo se deu a partir da inserção da autora na pesquisa ICJr, voltada para estudantes do ensino médio do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ), intitulada “A Sociologia e o ENEM”, cujo orientador é coautor no trabalho. Nesta pesquisa houve intenso estudo das redações do ENEM procurando relacioná-las com conteúdos estudados na educação básica, o que levou as reflexões aqui propostas.

A História e a Sociologia na Educação básica
História e Sociologia lidam com assuntos e bases teóricas que envolvem a produção de uma leitura de mundo que reafirma sua historicidade e sua materialidade. A História está presente no currículo desde o Ensino Fundamental até o Médio. Já a Sociologia tem presença menor, encontrando-se apenas nas três séries do Ensino Médio. Ambas, contudo, propõem a problematização das dinâmicas sociais, estimulando o aluno ao desenvolvimento de uma orientação crítica sobre a maneira como a realidade é contada.

Estas disciplinas dialogam entre si numa variedade de temas, se não bastasse a Sociologia basear-se na História para a construção de muitas de suas análises. História e Sociologia trabalham com leituras de mundo e interpretação crítica dos fenômenos sociais, despertando no aluno uma reflexividade que os levem a entender os fenômenos históricos como produto das transformações da realidade política, econômica e social.

Da maneira como os currículos são praticados, estudamos gênero a partir das desigualdades históricas em decorrência direta do patriarcalismo advindo da nossa herança escravista. Por sua vez, trabalhamos o racismo em decorrência da escravidão no Brasil colonial, expondo a sociedade brasileira marcada por traços discriminatórios velados e explícitos, o que se confirma por meio de dados estatísticos desiguais entre brancos e negros e de práticas criminosas de injúria racial. Decorre da origem patriarcal e patrimonialista das relações sociais brasileiras e de chagas históricas de exploração a permanência até hoje da desigualdade de gênero (e da violência contra a mulher como um subtipo dessa desigualdade) e do racismo.

A defesa e a importância dos direitos humanos na educação brasileira
Em primeiro lugar devemos reconhecer que a educação não é neutra [Freire, 1977], estando imersa em intenções políticas e guiadas por concepções e valores materializados na história. Possui uma função social alinhada a um projeto de transformação, o que significa, no Brasil das últimas décadas, vincular-se à promoção da democracia.

Nessa direção, Neves [2018] sublinha que a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação [LDB nº 9394/1996] evidenciam a preocupação da legislação brasileira numa educação voltada para a cidadania.

Assim diz o artigo 205 da Carta Magna: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” [Brasil, 1988, art. 205]. Igualmente, segundo a LDB de 1996: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” [Brasil, 1996, art. 2].

Essas referências legais sinalizam o embasamento de um Estado Democrático de Direito, cuja cidadania é entendida como um conjunto de direitos e deveres que implica a participação dos indivíduos na vida pública e política [Neves, 2018]. Como veremos abaixo, ambas as redações tiveram a intenção de despertar nos candidatos argumentações dessa natureza.

De igual maneira, o currículo escolar de História e de Sociologia também são voltados para a promoção cidadã, o que é garantido pelas Orientações Curriculares Nacionais, as OCNs [Brasil, 2006]. No que tange ao ensino de História, o documento diz:

“Atualmente, o conjunto de preocupações que norteia o conhecimento histórico e suas relações com o ensino vivenciado na escola leva ao aprimoramento de atitudes e valores imprescindíveis ao exercício pleno da cidadania, tais como: atenção ao conhecimento autônomo e crítico; valorização de si mesmo como sujeito responsável pela construção da História; respeito às diferenças culturais, étnicas, religiosas, políticas, evitando-se qualquer tipo de discriminação; busca de soluções possíveis para problemas detectados na comunidade, de forma individual e coletiva; atuação firme e consciente contra qualquer tipo de injustiça e mentira social; valorização do patrimônio sociocultural, próprio e de outros povos, incentivando o respeito à diversidade; valorização dos direitos conquistados pela cidadania plena, aí incluídos os correspondentes deveres, seja dos indivíduos, dos grupos e dos povos, na busca da consolidação da democracia. É de se ressaltar o papel central da História em alicerçar a prática da cidadania, especialmente ao colocar em evidência a diversidade das culturas que integram a história dos povos” [Brasil, 2006, p. 79].

Já a parte de Sociologia assegura que:

“Muito se tem falado do poder de formação dessa disciplina, em especial na formação política, conforme consagra o dispositivo legal (LDB nº 9.394/96, Art. 36, §1o, III) quando relaciona “conhecimentos de Sociologia” e “exercício da cidadania”. Entende-se que essa relação não é imediata, nem é exclusiva da Sociologia a prerrogativa de preparar o cidadão. No entanto, sempre estão presentes nos conteúdos de ensino da Sociologia temas ligados à cidadania, à política em sentido amplo (quando, muitas vezes no lugar da Sociologia stricto sensu, os professores trazem conteúdos, temas e autores da Ciência Política) e mesmo contrastes com a organização política de sociedades tribais ou simples (quando, então, é a Antropologia que vem ocupar o lugar da Sociologia), ou ainda preocupações com a participação comunitária, com questões sobre partidos políticos e eleições, etc. Talvez o que se tenha em Sociologia é que essa expectativa - preparar para a cidadania - ganhe contornos mais objetivos a partir dos conteúdos clássicos ou contemporâneos – temas e autores” [Brasil, 2006, p. 104].

No entanto, devemos frisar, de forma preocupante, que nem sempre a educação na sociedade brasileira tem atuado numa perspectiva de defesa de direitos humanos. Na realidade cotidiana, existem desafios sociais e choques de ordem política que inviabilizam a efetivação desses direitos no dia a dia das escolas brasileiras, levando-nos a uma constante necessidade de implantação desses valores em âmbito educacional.

Como salientado por Fernandes e Paludeto [2010], em momentos de crise de valores públicos e privados e da sociedade como um todo, torna-se imperativo que as temáticas da igualdade e da dignidade humana não estejam inscritas apenas de textos legais, mas que sejam internalizadas e trabalhadas por todos que atuam na educação. A importância de uma educação em direitos humanos é notória para uma sociedade que se pretende civilizada e que visa expandir esses valores objetivando a superação do ódio e das segregações/discriminações/desigualdades marcantes da sociedade brasileira. Nessa linha, Benevides [2007], defende que os direitos humanos:

“É a formação de uma cultura de respeito à dignidade humana através da promoção e da vivência dos valores da liberdade, da justiça, da igualdade, da solidariedade, da cooperação, da tolerância e da paz. Isso significa criar, influenciar, compartilhar e consolidar mentalidades, costumes, atitudes, hábitos e comportamentos que decorrem, todos, daqueles valores essenciais citados – os quais devem se transformar em práticas” [Benevides, 2007, p. 1].

Nesse horizonte, as redações do ENEM têm prestado um importante serviço na luta pela defesa dos direitos humanos numa sociedade que carece desses valores para garantir a democracia e assegurar princípios fundamentais do Estado de Direito.

Como salientado por Culau, Lira e Sponchiado (2015):

“A educação em Direitos Humanos tem um papel significativo, pois a mesma é um dos direitos fundamentais do ser humano. Embora se encontrem ainda muitos desafios, é de extrema importância que os Direitos Humanos se fixem na sociedade, sendo reconhecidos como prioritários para a construção da cidadania e da democracia, tendo, no entanto, a Educação como sua aliada. A Educação em Direitos Humanos é, na atualidade, um dos mais importantes instrumentos dentro das formas de combate às violações de Direitos Humanos, já que se educa na valorização da dignidade e nos princípios democráticos” [Culau; Lira; Sponchiado, 2015, p. 3950].

Dessa maneira, é inegável a relevância do ENEM como parte de uma política pública de avaliação da educação básica em torno dos principais documentos que norteiam a nossa educação.

Devemos lembrar, porém, que até 2016 tirava nota zero o candidato que violasse os direitos humanos durante a dissertação, numa interpretação que consideramos positiva. Ou seja, abarcava o período das redações analisadas neste artigo. Entretanto, o movimento conservador Escola sem Partido [ESP] questionou na justiça esse entendimento do MEC, tendo sua reivindicação acolhida pelo TRF1 e corroborada pelo STF às vésperas do ENEM de 2017. Na atualidade, a violação aos direitos humanos zera apenas um dos itens de avaliação da redação, a parte que exige uma intervenção do candidato na realidade social, equivalente a 20% de toda a nota atribuída a esta prova.

Em apoio aos direitos humanos na redação, ainda que esta não seja mais totalizante nesta parte do exame, Neves [2018] salienta:

“A supervalorização desse item não é gratuita. Ela responde diretamente aos documentos oficiais que regem as políticas públicas de Educação no Brasil. (...) Isso significa dizer que respeitar os direitos humanos não é simplesmente uma “invenção” da prova de redação do ENEM. Trata-se, antes de tudo, de um exercício de cidadania que não deve se restringir ao ambiente escolar (como um simples letramento em direitos humanos), mas sim transcender a ele e abarcar o todo: a sociedade, o sertão, o mundo (uma cultura em direitos humanos)” [Neves, 2018, p. 747].

As redações do ENEM e a defesa dos direitos humanos
No que tangue ao perfil das redações do ENEM, o tamanho máximo do texto deve ser de até 30 linhas, sendo do tipo dissertativo-argumentativo, cujo objetivo é convencer o leitor da veracidade e da substância do ponto de vista defendido. A argumentação é um dos principais aspectos trabalhados na História e na Sociologia, seja pela natureza crítica e histórica dos temas presentes nos currículos, seja pela forma como geralmente as aulas das disciplinas são conduzidas, estimulando a escrita, o debate, a interpretação de fatos históricos e a construção de argumentos.

Além de a maioria das temáticas das redações serem de ordem social, há evidente defesa dos direitos humanos tanto na escolha dos temas, o que é evidente nos dois casos selecionados, quanto na maneira como os mesmos são apresentados nos textos-base desta avaliação. Os textos de apoio apresentam, de modo geral, partes de leis que procuram combater desigualdades, sendo acompanhados de dados quantitativos organizados por instituições oficiais do Estado que revelam a dissonância entre legislação e realidade social.

Todos os candidatos precisam obrigatoriamente apresentar soluções na vida social que possam resolver o problema brasileiro abordado na edição daquele ano, o que deve ocorrer principalmente no último parágrafo, destinado às intervenções sociais. Neste, o aprendizado das aulas de História e Sociologia são de grande valia, tanto pelas ideias conceituais e os exemplos históricos estudados, como pela linha de direitos humanos arraigada nestas disciplinas. 

Redação 2015: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”
Na redação de 2015, são apresentados quatro textos motivadores. O primeiro é proveniente do mapa da violência de 2012, apresentando dados numéricos sobre o homicídio de mulheres no Brasil, que triplicou entre 1980 e 2010. O texto dois consiste num gráfico do balanço de 2014 dos tipos de violência relatados pelas mulheres no Disque 180 da Secretaria de Políticas para as Mulheres, com amplo destaque para a violência física e a violência psicológica. O terceiro texto é uma espécie de propaganda pedindo o fim do feminicídio. Trata-se de uma imagem de mão aberta com um alvo ao centro e embaixo escrito a palavra “basta”. Já o texto quatro apresenta dados sobre os impactos da Lei Maria da Penha. Aqui há o número de processos abertos com base na lei, o número de processos julgados, as prisões em flagrante e prisões preventivas decretadas. Abaixo o espelho da prova:


Imagem 1: Redação ENEM 2015 - Violência contra a mulher
Fonte: ENEM, 2015.

Os currículos de História e Sociologia, nessa redação, podem contribuir ao tratar historicamente e conceitualmente os papeis de gênero e suas desigualdades, o feminismo e suas ondas, além dos tipos de violência a que as mulheres estão submetidas e de sua organização em movimentos sociais visando o combate a violações sistemáticas de direitos das mulheres no país. Conceitos como patriarcalismo e fenômenos históricos oriundos do Brasil escravagista são fundamentais para auxiliar a argumentação.

Ainda sobre a importância do tema gênero e destacando a necessidade de ser estudado de forma interdisciplinar, bem como lastreando-se nos direitos humanos, Leao e Barwinski [2018] explicitam:

“Gênero é uma categoria de análise das relações sociais. Esses estudos embora se localizem nas ciências sociais não se restringem a uma única área do conhecimento, são interdisciplinares; por isso, falar de gênero também se relaciona com pensar os direitos humanos ou defende-los e torna-se difícil o seu isolamento ou proibição. Em resumo, a palavra gênero começou a circular porque as análises sobre as relações de gênero na sociedade são úteis conhecimentos para entender a exclusão de pessoas, a experiência da violência e a comunicar sobre as desigualdades na sociedade. Por conta disso, chegou às políticas educacionais o reconhecimento de que existem discriminações e desigualdades de gênero” [Leão; Barwinski, 2018, pp. 59-60].

Redação 2016: “Caminhos para combater o racismo no Brasil”
Este tema foi apresentado na segunda aplicação de 2016, já que o exame foi reaplicado para quem perdeu a primeira versão por conta da ocupação estudantil de centenas de colégios pelo país. Lembramos que a primeira versão do ENEM trouxe como tema: “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. A segunda aplicação seguiu a linha crítica da primeira.

O tema do combate ao racismo apresentou no primeiro texto um questionamento à chamada democracia racial pós-abolição, visto que os índices de analfabetismo, criminalidade e mortalidade são maiores na população negra. O texto dois apresenta um artigo da Lei 7.716 de 1989 que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. O terceiro texto traz uma imagem que diferencia racismo de injúria racial, sendo racismo a conduta discriminatória dirigida a determinados grupos, enquanto a segunda consiste em ofender a honra de uma pessoa com a utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. O texto quatro, numa tomada de posição implicitamente favorável, explica o que são as políticas afirmativas e como essas ações procuram reverter a representação social negativa, promover a igualdade de oportunidade e combater o preconceito e o racismo. Abaixo o espelho da prova:


Imagem 2: Redação ENEM 2016 - Combate ao racismo
Fonte: ENEM, 2016.

As relações étnico-raciais no Brasil vêm sendo tratadas nos currículos de História e Sociologia do ponto de vista do combate às discriminações raciais que a população negra historicamente é alvo em solo brasileiro, revelando cuidadosamente as origens patrimonialistas dessa história, assim como valorizando aspectos culturais de origem africana. Ademais, para desnaturalizar o racismo impregnado na sociedade brasileira, desenvolver esse fenômeno como um “fato social” durkheimiano é fundamental visando a compreensão de que ninguém nasce racista e que este comportamento consiste numa construção social reproduzida por meio de coações sociais. Inclusive Gilberto Freyre, abordado criticamente nas aulas de Sociologia, pode ser recuperado para tratar do mito da democracia racial, ideia suscitada pela clássica historiografia da sociedade do açúcar do Brasil Colônia intitulada “Casa Grande e Senzala”.

Mais especificamente, sobre a necessidade de se trabalhar o tema interdisciplinarmente, o que certamente compreenderia num melhor desempenho no candidato nas argumentações da redação, Goiz [2019] destaca:

“A Educação para as Relações Étnico Raciais é uma temática que necessita percorrer todos os campos do saber de forma interdisciplinar com ênfase em seu amplo conteúdo mas também nos processos de ensino e aprendizagem com o propósito de se construir pedagogias antirracistas que ressignifiquem a  experiência escolar de milhares de estudantes que tiveram suas histórias e a de seus ancestrais silenciadas nos sistemas educacionais” [Goiz, 2019, p. 127]. 

Considerações finais
Consistindo na principal prova de acesso ao ensino superior brasileiro, o ENEM vem se caracterizando como uma importante política pública de valorização dos direitos humanos, da cidadania e da democracia. São valores essenciais para a preservação do Estado Democrático de Direito e que estão alinhados aos princípios fundamentais da Constituição de 1988.

A conclusão-intervenção exigida pelas redações do ENEM é um diferencial em relação a outras provas desta natureza, o que permite ao aluno, segundo Marcuschi [2006], que se extrapole os argumentos já trabalhados ao longo do texto para elaborar algo novo, criativo, uma intervenção de engajamento social, que valorize a cidadania, a liberdade, a solidariedade e a diversidade cultural.

Tanto “Violência contra a mulher” como “Combate ao racismo” são marcos importantes dentre várias temáticas de cunho social defendidas pelas redações do ENEM. Ambas representam questões caras aos direitos humanos, estando em clara consonância com a defesa da diversidade e da pluralidade, exigindo do candidato não apenas conteúdos interdisciplinares, de modo que História e Sociologia oferecem significativas contribuições, mas também representando um exercício de direitos humanos presente no eixo estruturante destas disciplinas da educação básica. 




Referências
Gláucia Soares Nogueira é estudante do Ensino Médio do CAp-UERJ e bolsista do projeto ICJr “A Sociologia no ENEM”.
E-mail: glauciasoaresn04@gmail.com
Walace Ferreira é doutor em Sociologia pelo IESP/UERJ. Professor Adjunto e coordenador de Sociologia do CAp-UERJ. Também coordena o projeto ICJr “A Sociologia no ENEM”. E-mail: walaceuerj@yahoo.com.br

BENEVIDES, Maria Victória. “Educação em direitos humanos: de que se trata?”. In: Programa Ética e Cidadania: construindo valores na escola e na sociedade. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Etica/9_benevides.pdf
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Org. Yussef Said Cahali. 9.ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.
BRASIL. Orientações curriculares para o Ensino Médio. Vol. 3. Ciências humanas e suas tecnologias/ Secretaria de Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação, 2006.
CULAU, Julia; LIRA, Daiane; SPONCHIADO, Denise Aparecida Martins. “Educação em Direitos Humanos: Um desafio da sociedade e da escola”. In: Anais do EDUCERE – XII Congresso Nacional de Educação, PUC-PR, 26 a 29 de outubro de 2015. Disponível em:
https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/18221_7983.pdf
ENEM, 2015. Exame Nacional do Ensino Médio. Prova azul. 2º dia. Disponível em: 
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2015/CAD_ENEM%202015_DIA%202_07_AZUL.pdf
ENEM, 2016. Exame Nacional do Ensino Médio. Prova azul. 2º dia. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2016/CAD_ENEM_2016_DIA_2_07_AZUL_2.pdf
FERNANDES, Angela Viana Machado; PALUDETO, Melina Casari. “Educação e Direitos Humanos: Desafios para a escola contemporânea”. Cadernos Cedes, Campinas, vol. 30, n. 81, mai./ago., 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
GOIZ, Juliana de Almeida Martins. “A Educação para as relações étnico raciais sob a perspectiva da interdisciplinaridade”. In: Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades, vol. 2 n. 3, São Paulo, 2019.
LEÃO, I. V.; BARWINSKI, S. L. L. B.. “Direitos humanos e igualdade de gênero no Brasil: tensões no direito à educação na ONU e OEA”. In: Cadernos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, v. 3, n. 8, São Paulo, 2018.
MARCUSCHI, B. O que dizem o SAEB e o ENEM sobre o currículo de língua portuguesa para o ensino médio. In: BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. (Orgs.) Português no ensino médio e formação de professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
NEVES, Cynthia Agra de Brito. “Direitos Humanos e Educação: A polêmica em torno da prova de Redação do ENEM 2015 e 2017”. Trab. Ling. Aplic., Campinas, vol. 57, n. 2, mai./ago., 2018.


20 comentários:

  1. Como a abordagem dos Direitos Humanos nas temáticas do ENEM poderiam contribuir para uma aprendizagem histórica que possa desenvolver a noção de auto pertencimento das mulheres e das comunidades principalmente indígena e negra no âmbito da sociedade, educação e política brasileiras?

    Matheus Mendes Bomfim Marques

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    1. Prezado Matheus, primeiramente obrigado pela pergunta. A presença dos Direitos Humanos nas provas do ENEM ajuda a chamar atenção para a exclusão histórica desses grupos, e destaca como diversas condições de segregação pelas quais passaram e passam determinados grupos sociais precisam ser abordados no currículo escolar e considerados pelas ações políticas. A visibilidade nacional do ENEM cumpre tanto o papel de denunciar injustiças quanto valorizar aspectos das culturas particulares dos grupos mencionados. O ENEM de 2019, por exemplo, trazia uma questão que valorizava a produção artesanal de uma comunidade quilombola. Ou seja, valorizar questões culturais, assim como exigir o cumprimento dos direitos humanos nas provas de redação por parte de milhões de candidatos, pode ajudar a criar uma percepção mais ampla na sociedade de respeito e valorização à diversidade e à pluralidade. Se esses grupos sentem esse respeito, no âmbito do cumprimento dos direitos humanos na prática, certamente eles terão reforçados seus vínculos de pertencimento.
      Gláucia Soares Nogueira e Walace Ferreira.

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  2. Boa noite!
    Em primeiro lugar, gostaria de parabenizar os autores pelo excelente texto!
    Vocês acreditam que o ensino de História em sala de aula está alinhado com estas questões abordadas pelo ENEM, isto é, os alunos possuem um ensino que abrange temáticas como estas? O que nós, enquanto discente, podemos fazer para melhorar nossas aulas nesse sentido?
    Att. Nathália Moro.

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    1. Bom dia, Nathália. Agradecemos pela questão.

      Falar do ensino de História nas escolas brasileiras envolve muitas diferenças referentes a realidades locais. Em geral, esses temas estão presentes no currículo de História, contudo trabalhá-los com êxito nem sempre é tarefa viável. Se fosse fácil não teríamos uma sociedade que insiste em ações de preconceito, segregação e violência de diversas naturezas. Pensamos que para ter maior alcance junto aos alunos da educação básica é fundamental que os professores primeiro conheçam o que seus alunos pensam sobre esses temas. A partir daí deve desenvolver o ensino e a intervenção considerando a realidade que se quer atingir. Recorrer a métodos lúdicos também é muito importante para sensibilizar os estudantes. Eventos de amplitude desenvolvidos na escola que combatam o preconceito e denunciem a violência contra a mulher, inclusive atentando para as legislações existentes, também pode ser de grande valia.

      Cordialmente,
      Walace Ferreira e Gláucia Soares Nogueira.

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  3. Boa noite.
    Vocês acreditam que o ensino de história e da sociologia no âmbito da interdisciplinaridade sobre a questão dos direitos humanos, além de contribuir para desenvolver habilidades argumentativas nas redações do ENEM, fortalece as lutas dos educandos por políticas afirmativas étnico-raciais e de gênero dentro e fora do espaço escolar?
    Luciano Almeida da Silva

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    1. Boa noite, Luciano. Agradecemos pela pergunta.

      Sim, é indiscutível a contribuição de ambas as disciplinas nas redações do ENEM, tanto para compreensão do tema, quanto para a própria utilização de conceitos nos argumentos e na proposta de intervenção, ainda mais sabendo que a prova tem a violação dos Direitos Humanos como um dos critérios que pode acarretar em perda de pontos (atualmente a violação perde 20% da nota, até 2016 zerava a redação). Além de que, a abordagem de tais temas, em uma prova de alcance nacional, incentiva que adquira-se conhecimento crítico voltado à defesa das políticas de ação afirmativa. A expectativa é que o ENEM colabore para uma visão de enfrentamento às desigualdades, de modo que as ações afirmativas são um caminho importante nessa direção.

      Cordialmente,
      Gláucia Soares Nogueira e Walace Ferreira.

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    2. Boa tarde. Obrigado pela atenção e, por terem esclarecido o meu questionamento. E, aproveitando ao ensejo parabéns pela produção textual.

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  4. Olá, Gláucia Soares Nogueira e Walace Ferreira
    Como as propostas de redação do ENEM se relacionam com a Lei 10.639 que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas? Como essa lei pode ser trabalhada interdisciplinarmente pensando nas matérias de História e Sociologia? E como a História e a Sociologia podem contemplar as discussões sobre o feminismo intersecional tratando de raça e gênero simultaneamente?

    Eloara dos Santos Cotrim

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    1. Bom dia, Eloara! Primeiramente muito obrigado pelas perguntas, bastante interessantes!
      Pensamos que o trabalho interdisciplinar deve ser sempre estimulado, principalmente ao se tratar de um tema dessa importância. Vamos tentar direcionar nossas respostas em partes: 1) As propostas de redação do ENEM têm seguido a linha de temas urgentes da sociedade brasileira, sempre ressaltando a relevância da valorização de direitos de diversas naturezas, cujo guarda chuva são os direitos humanos. A escolha do INEP/MEC tem sido a de dar voz a debates sociais que denunciam preconceitos e violências marcantes da sociedade brasileira e que estimulem o candidato a propor uma intervenção positiva apontando propostas. Vamos ver como vai ficar com o avanço desse governo. Em 2019 a prova não sofreu retrocessos. Mas certamente a Lei 10.639/2003, que reforçou a importância de defesa da cultura e da história africana nos currículos e na escola brasileira, criou um ambiente favorável para que o ENEM abraçasse o tema na redação de 2016. 2) Um licenciando em Ciências Sociais realizou, certa vez, no âmbito do PIBID, um trabalho interessante que poderia gerar uma iniciativa comum entre as duas disciplinas. Foi passado aos alunos do ensino médio um questionário no google forms com questões referentes ao continente africano e sobre a presença da cultura africana no Brasil. Após o resultado, que revelou amplo desconhecimento por parte dos discentes, a professora de Sociologia das turmas cuidou de desmistificar a visão equivoca e simples manifestada nas respostas. Pensamos que essa atividade, ou outra parecida, poderia ser realizada num projeto interdisciplinar entre as disciplinas, de modo que o docente de História se responsabilizaria pela história da África e o de Sociologia pela cultura afro-brasileira. Trabalhar esse tema em perspectiva lúdica também poderia ajudar muito. 3) A importância do feminismo interseccional é não trabalhar o feminismo em tom universal, como nos ensina Djamila Ribeiro. Ou seja, é importante considerar preconceitos e desigualdades tanto de raça como de gênero, observando suas intersecções, para que o aluno seja levado a entender que os problemas de preconceito são mais avançados e complexos que a simples percepção da existência do racismo e do machismo. Mais uma vez trabalhos interdisciplinares seriam relevantes para mostrar, por exemplo, que a mulher negra é mais atingida pela desigualdade/preconceito de gênero que a mulher branca. Se não, corre-se o risco de haver opressão dentro de grupos sociais que combatem as opressões. A História pode contribuir com o relato histórico dessa estrutura brasileira, baseada no patriarcalismo e no patrimonialismo, e a Sociologia com o aprofundamento teórico das profundidades dessa estrutura, inclusive abordando nas aulas autoras como Djamila Ribeiro.

      Cordialmente,
      Walace Ferreira e Gláucia Soares Nogueira.

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  5. A Declaração Universal dos Direitos Humanos aborda a questão da moradia, o artigo 17 diz que “todo ser humano tem direito à propriedade, individualmente ou em sociedade com outros”. Poderíamos discutir na matéria de História se isto é uma realidade na nossa sociedade ou se é negligenciado, e o contexto social que resultou?

    Ana Beatriz da Silva Pinheiro

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    1. Olá, Ana! Apesar da lei que garante tais direitos a todo ser humano, podemos afirmar que há uma negligência grande por parte dos governos, já que observamos enorme pobreza na nossa sociedade, que torna inclusive o Brasil um dos países mais desiguais do mundo. Acreditamos que a discussão no tema na disciplina de História seja muito importante, já que a disciplina no ensino médio revela o passado histórico de grupos segregados e/ou explorados. Um dos papeis da História, sem dúvida, é denunciar as desigualdades em nosso país, geradas pela concentração de renda, pela força dos latifúndios, pelo persistente patrimonialismo e pela promiscuidade entre valores públicos e privados.
      Gláucia Soares Nogueira e Walace Ferreira.

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  6. Achei o texto de vocês muito instigante! Ressaltaram a importância do Enem e em especial das redações do Enem, que trazem temáticas diversas para serem expostas, questionadas e argumentadas. As temáticas citadas do racismo e da violência doméstica são realidades complexas da sociedade, que tem origem histórica e que interferem negativamente no respeito aos direitos humanos. Temáticas que estão presentes nos noticiários e no cotidiano de parentes, amigos e de alunos que estão prestando o Exame. O engraçado é que, por estar tão presente, muitas pessoas estão anestesiadas, tratando essas realidades como invisíveis. Gostaria de refletir essa temática sob um viés de um documentário que se chama “DNA da Justiça” onde pessoas que foram acusadas de crimes nos anos 80 e 90 eram condenadas através do reconhecimento de testemunhas, ou de mordidas e outras provas superficiais e que lutavam para provar a sua inocência para fazer o teste de DNA (que não era disponível na época). Pessoas que ficaram 10, 20, 30 anos na prisão por um crime que não cometeram e a maioria dos casos do documentário eram de negros, negros que eram acusados por morarem próximo ao local do crime ou por estar passeando com um carro parecido ao que as testemunhas tinham falado, ou simplesmente por serem negros. É nítido que pra resolver esses casos o mais rápido possível a promotoria fazia um espetáculo no tribunal para apontar o réu como culpado, mesmo com provas extremamente duvidosas. Ou seja, o que importava não era colocar a pessoa certa na prisão, o que importa é “tirar o negro da sociedade” porque qualquer negro faz mal a sociedade e isso fere com brutalidade os direitos humanos. Através dessa reflexão faço a seguinte pergunta: como o ensino da História e da Sociologia contribuem para que as temáticas expostas não sejam consideradas invisíveis ou tratadas com superficialidade e indiferença?

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    2. Prezado (a), agradecemos a reflexão e a questão.

      Muito instigantes as suas palavras. História e Sociologia são disciplinas ancoradas na defesa dos direitos humanos, o que significa dizer que tem no seu radar o combate aos preconceitos, a denúncia às injustiças sociais, a valorização das pluralidade cultural e a preservação da democracia. O esforço por levar os alunos à essa visão ampla dos direitos humanos é fundamental para dar visibilidade às opressões às desigualdades explícitas e veladas do Brasil.

      Cordialmente,
      Walace Ferreira e Gláucia Soares Nogueira.

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    3. Mariana Silva Mancilha22 de maio de 2020 às 10:49

      Agradeço muito! De fato, essas disciplinas desistalam automaticamente a indiferença. Meu nome é Mariana Silva Mancilha, eu esqueci de assinar!

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  7. Os Direitos Humanos são uma agenda oriunda da Declaração Universal dos Direitos Humanos, carta convencionada no âmbito das Nações Unidas, a qual o Brasil é signatária. A Declaração representa a defesa de garantias mínimas, algo sensível a todo projeto democrático. Pergunto aos autores: É possível afirmar que o espaço escolar é o espaço da disputa, do enfrentamento?

    Meus parabéns aos autores!

    Anderson Ribeiro da Silva

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    1. Sim, a escola sempre foi um espaço de disputa no que tange ao currículo, e a diversos outros aspectos internos acerca do seu funcionamento. Deveria haver consenso, no entanto, na aplicação dos valores defendidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, que encontram guarida numa sociedade democrática. No entanto, diversos aspectos relativos à valorização da diferença, proteção das minorias, enfrentamento das injustiças sociais, dentre outros, tem sido combatido por entidades como o Escola sem Partido, que encampam o projeto de uma escola acrítica e que reduzem o ensino-aprendizagem a uma relação de mercado. Portanto, mais do que nunca, a defesa pelos direitos humanos deve estar na pauta de docentes e das escolas brasileiras.

      Cordialmente.
      Walace Ferreira e Gláucia Soares Nogueira.

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  9. Parabéns pelo trabalho, Walace Ferreira e Gláucia Soares Nogueira. De fato temas extremamente relevantes, ainda mais no contexto atual.

    Cordialmente, Rodrigo de Souza Pain.

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    1. Obrigado, Rodrigo.

      De fato são temas relevantes no currículo escolar das Ciências Humanas e que dizem respeito à luta por uma sociedade mais justa, menos violenta e que respeite à diversidade e a pluralidade.

      Cordialmente,
      Walace Ferreira e Gláucia Soares Nogueira.

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