UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO E A PRÁTICA DOCENTE A PARTIR DO PENSAMENTO NIETZSCHIANO
A obra “Escritos sobre
educação” do filósofo alemão Friedrich Nietzsche nos conduz à reflexão sobre a
realidade educacional a partir de alguns dos seus aspectos constitutivos, a
exemplo dos estabelecimentos de ensino, dos objetivos que norteiam a educação e
da prática docente dos/as professores/as. A mencionada obra traz textos
póstumos [duas conferências] de Nietzsche sobre a educação, dando-nos a
oportunidade de conhecer alguns dos pontos do pensamento do filósofo sobre o
assunto, bem como obter subsídios para [re] pensar, criticamente, o modelo
educacional vigente em nossa sociedade.
Preliminarmente,
faz-se necessário esclarecer que apesar de as reflexões de Nietzsche,
aprioristicamente, não se referirem ao cenário educacional brasileiro e muito
menos às conjunturas que definem o momento histórico em que vivemos hoje, uma
vez que o filósofo trata dos estabelecimentos de ensino alemães no século XIX,
é fácil verificar que existe uma relação de correspondência entre o pensamento
de Nietzsche e a situação educacional corrente em nosso País; fato esse que,
inclusive, comprova a extemporaneidade do pensamento nietzschiano.
Seguindo o mesmo
caminho percorrido por Nietzsche, salientamos que com o presente artigo, não se
objetiva apontar regras gerais, soluções definitivas ou mesmo encerrar as
discussões a respeito deste tema. Na realidade, o que se pretende é fomentar
reflexões, à luz do pensamento nietzschiano, sobre a educação dos nossos dias,
contemplando desde os objetivos do modelo educacional à atuação profissional
do/a professor/a.
Educação
como via de acesso à verdadeira cultura
Antes de analisar as
reflexões de Friedrich Nietzsche sobre a atividade docente, vale apresentar,
ainda que em linhas gerais, o que esse filósofo entende por educação. O cerne
da obra de Nietzsche [2011] é que a educação deve, antes de tudo, possibilitar
o acesso à cultura – não a qualquer cultura, mas sim à verdadeira cultura. A
prova disso está na afirmação de Nietzsche [2011] de que a escola deve está
voltada: “[...] para a verdadeira cultura [...]”. [NIETZSCHE, 2011, p. 101] O
que Nietzsche [2011] entende por verdadeira cultura – também chamada por ele de
cultura aristocrática – corresponde à formação integral dos indivíduos, assim
como ao seu aperfeiçoamento pessoal, cujas bases estão nas tradições latina e
helênica.
Como se vê, no
pensamento educacional de Nietzsche [2011] há uma ligação muito estreita entre
educação e cultura; e essa ligação é confirmada quando esse filósofo tratando
sobre os estabelecimentos de ensino do seu País no período oitocentista diz
que: “Basta que sejam escolas onde adquirimos a cultura”. [NIETZSCHE, 2011, p.
51] Isso é importante, porque segundo Nietzsche [2011] no desvio dessa
finalidade dos estabelecimentos de ensino institui-se o que ele chama de
barbárie, a qual está associada à alienação cultural processada no âmbito
escolar e repercutida nas práticas cotidianas.
Nietzsche [2011] nos
diz ainda que o Estado se apropriou da cultura, instrumentalizando-a em
benefício dos seus próprios interesses. Conforme ele, processo semelhante de
apropriação e instrumentalização foi feito com a educação, que em consequência,
tende a servir aos interesses do Estado. Por isso: “[...] quanto mais houver
conhecimento e cultura, mas haverá necessidades, portanto, também mais produção
[e] lucro [...]” [NIETZSCHE, 2011, p. 216] Segundo o filósofo, subverter essa
ordem faz-se necessário, visto que esta educação apropriada e instrumentalizada
se caracteriza por ser uma: “[...] educação rápida, para se tornar logo um ser
que ganha dinheiro [...]”. [NIETZSCHE, 2011, p. 217] Como resultado disso: “Não
se atribui ao homem senão justamente o que é preciso de cultura no interesse do
lucro geral e do comércio mundial [...]”. [NIETZSCHE, 2011, p. 217]
Ao nos dizer isso,
Nietzsche [2011], a um só tempo, denuncia e condena o caráter
utilitário-mercadológico da educação alemã do seu tempo. Isso porque, como se
disse, para esse filósofo a educação deve proporcionar aos jovens uma elevação
cultural e não uma capacitação para ganhar dinheiro. Assim, salta-nos aos olhos
a aversão de Nietzsche [2011] ao caráter utilitário-mercadológico atribuído à
educação. Isso fica patente quando o
filósofo critica dizendo que na sua época o: “[...] objetivo e fim da cultura é
a utilidade, ou, mais exatamente, o lucro, o maior ganho de dinheiro possível”.
[NIETZSCHE, 2011, p. 72]
No seu livro,
Nietzsche [2011] trabalha com a categoria dos estabelecimentos para a cultura,
a qual ele confronta com a categoria dos estabelecimentos para as necessidades
da vida. Segundo ele, na segunda metade do século XIX, os estabelecimentos
alemães de ensino se enquadravam nesta segunda categoria, haja vista que eles
se tornaram:
“[...] instituições
que se propõem a superar as necessidades da vida, assim, portanto, podem
prometer formar funcionários, comerciantes, oficiais, atacadistas, agrônomos,
médicos ou técnicos”. [NIETZSCHE, 2011, p. 122]
Na perspectiva do
pensamento de Nietzsche [2011], seguindo na contramão da lógica mestra da
sociedade do capital, os estabelecimentos de ensino precisam se preocupar,
prioritariamente, com a elevação cultural dos educandos, em vez de proporcionar
a instrumentalização para o mercado de trabalho. Sem dúvida, esse aspecto do
pensamento de Nietzsche [2011] sobre educação abre margem para reflexões sobre
o quadro educacional da sociedade brasileira e os princípios orientadores do
nosso modelo de educação nos tempos hodiernos.
Ainda, a partir da
valorização do ginásio, Nietzsche [2011] destaca a importância da educação
básica quando diz que:
“[...] todas as outras
instituições devem medir-se pelo objetivo cultural que é visada pelo ginásio,
pois elas sofrem com os desvios de sua tendência, e assim serão também
purificadas e renovadas com sua purificação e renovação. Nem mesmo a
Universidade pode pretender esta importância de centro motriz, já que, na sua
constituição atual, ela não é pelo menos num aspecto essencial, senão a
culminação da tendência do ginásio”. [NIETZSCHE, 2011, p. 80]
Com base nesse argumento
do filósofo, percebe-se que a Educação Básica é - como o próprio nome sugere -
a base da educação, pois é nela que ocorre a formação intelectiva inicial dos
indivíduos. Por ser tão importante, é necessário que um olhar especial seja
lançado sobre a Educação Básica. Vale esclarecer que com isso não se quer
reduzir a importância da educação de nível superior, e nem tampouco dar apoio
aos discursos em voga em nosso País que tentam legitimar cortes de
investimentos no ensino universitário. O que se pretende com o presente
argumento é destacar a necessidade de se olhar para a Educação Básica como a
etapa mais importante da educação, merecedora de investimentos que possam de
fato agregar em todo o sistema de ensino.
Prática
docente segundo o pensamento nietzschiano
De acordo com
Nietzsche [2011], o/a professor/a no exercício da sua prática docente não pode
forjar obstáculos ao pensamento dos seus estudantes; ao contrário, cabe a
esse/a profissional agir em sala de aula não apenas como um transmissor de
conhecimento, mas também, e, sobretudo, como agente motivador de reflexões.
Essa ideia fica expressa quando o filósofo alemão diz que: “[...] teus
educadores não podem ser outra coisa senão teus libertadores”. [NIETZSCHE,
2011, p. 165] Nesse sentido, nota-se que a atividade docente, na perspectiva de
Nietzsche [2011], é uma função libertadora, uma vez que o/a professor/a pode
conduzir seus alunos a um pensamento autônomo e crítico.
Com isso, torna-se
notório que Nietzsche [2011] defende o caráter libertador da educação, o qual,
segundo ele, é indispensável para a formação como um todo dos discentes. Essa
reflexão nos faz pensar que motivar o alunado a enxergar a realidade para além
das suas próprias circunstâncias é uma das mais importantes atribuições do/a professor/a.
É verdade que isso deve ser proporcionado por todos/as os/as professores/as,
mas em especial pelos/as docentes de História, visto que a estes/as cabe à
função de ajudar os alunos a enxergarem além do óbvio, por descosturar verdades
estabelecidas, preconceitos e tudo que é naturalizado na e pela sociedade.
[SCHMIDT, 2004]
Desse modo, os
estudantes em sala de aula devem se sentir à vontade para pensar, refletir,
questionar sobre o que quiserem, sem enfrentarem impedimentos ou recearem
represálias. Nesse sentido, Nietzsche [2011] destaca a importância do/a
professor/a cultivar um espírito autônomo em seus alunos ao dizer que este/a
profissional deve: “[...] ensiná-los [seus alunos] a falar, a estetizar por si
mesmos [...] levá-los ao fervor diante da obra de arte, a filosofar por si
mesmos [...]”. [NIETZSCHE, 2011, p. 94] A razão que justifica isso está no fato
de que:
“[...] a pedagogia de
Nietzsche está mais voltada para a tarefa de potencializar a ação, a
originalidade, a criação, despertar, fazer eclodir e explodir as forças e
características mais singulares”. [ZUBEN; MEDEIROS, 2013, p. 85]
Possibilitar isso em
sala de aula demanda a ação dos/as professores/as em ajudar seus alunos a se
enxergarem e a se comportarem como protagonistas da elaboração do seu próprio
conhecimento; o que impõe a necessidade de reavaliar a figura do aluno em sala
de aula. Também, faz-se necessário que os/as professores/as tenham um olhar
sensibilizado para identificar quais as potencialidades dos seus alunos que
precisam ser estimuladas através da sua prática docente. Certamente, isso
envolve valorizar a individualidade dos alunos, o que por sua vez, ajuda os/as
professores/as a romper com a “[...] mediocridade uniformizada [...]”
[NIETZSCHE, 2011, p. 85] que tenta sufocar a individualidade dos discentes no
ambiente escolar. Fazer isso é importante, porque segundo Nietzsche [2011] a
educação só se torna libertadora quando consegue proporcionar as condições para
os estudantes conhecerem o seu próprio “eu”. E ao proceder dessa maneira, o/a
professor/a humaniza a sua prática docente.
Nietzsche [2011]
também reconhece que a docência tem suas dificuldades, quando diz que:
“Imagine como seria
vão mesmo o trabalho mais renitente de um mestre que quisesse, por exemplo,
levar seu aluno ao mundo helênico, tão infinitamente longínquo, tão difícil de
compreender, por considerá-lo como a verdadeira pátria da cultura: tudo isso
seria inútil, quando o mesmo estudante, um minuto antes, tenha pego um jornal,
um romance da moda ou um destes livros doutos, cujo estilo já traz consigo os
brasões repugnantes da barbárie cultivada que está em curso hoje em dia”.
[NIETZSCHE, 2011, p. 77]
Esse argumento do
filósofo nos faz pensar nos distratores - elementos que desviam a atenção dos
alunos e dificultam sua aprendizagem. É em função da existência desses
distratores que os/as professores/as precisam conquistar a atenção dos alunos,
despertar seu interesse e canalizá-lo para o conteúdo ministrado. Em vista
dessa necessidade, Nietzsche [2011] orienta aos professores a dar o exemplo
para os alunos no que diz respeito à atribuição de importância aos conteúdos
que são estudados em sala de aula. Sobre esse ponto o filósofo diz que:
“O próprio mestre
deveria logo mostrar, ao analisar os nossos clássicos linha por linha, com que
cuidado e com que rigor é preciso fazer cada exame, quando se tem no coração um
verdadeiro sentimento artístico e diante dos olhos a compreensão total do que
se escreve”. [NIETZSCHE, 2011, p. 82, grifos nossos]
De fato, reiterar a
importância do que é estudado em sala de aula pode ajudar os alunos a se
dedicarem mais aos estudos, por perceberem a relevância do que se estuda. Mas
talvez só isso não seja o suficiente. É por isso que Nietzsche [2011] orienta
ainda aos docentes empregarem métodos adequados na sua prática de ensino. Tal
necessidade é evidenciada, quando o filósofo diz que:
“E, ainda que os
estudos latinos e gregos não sejam capazes de provocar entusiasmo no aluno para
com a longínqua Antiguidade, ainda assim, e graças ao método através do qual
estes estudos são vistos, é despertado nele o sentido científico, o desejo de
uma rigorosa causalidade na descoberta, a sede de achar e inventar”.
[NIETZSCHE, 2011, p. 145, grifos nossos]
Com isso, nota-se que
Nietzsche [2011] reconhece que é importante os/as professores/as despertarem o
interesse dos seus alunos a partir do uso de métodos que respondam aos anseios
deles, uma vez que os alunos só se interessam em aprender aquilo que lhes
desperta interesse e que lhes faz sentido. [CHARLOT, 2000]
A isso se soma a
imperiosa necessidade dos/as professores/as abandonarem o fetiche da reprodução
de informações e assumir o compromisso com o pensar e com a reflexão, buscando
aproximar da realidade dos alunos o que se estuda em sala de aula,
especialmente na disciplina de História, que em geral trata de questões, que
por se situarem no passado, são abstratas e não raro distantes do cotidiano do
alunado.
Nessa mesma linha de
pensamento, Nietzsche [2011] reconhece que é importante romper com o modelo de
ensino – conhecido como tradicional – em que somente o/a professor/a fala e os
alunos ouvem e escrevem na sala de aula. Tal modelo de ensino, na visão do
filósofo, distancia os/as professores/as – possuidores da boca que fala – dos
alunos – detentores dos ouvidos que ouvem e das mãos que escrevem –, pois
segundo Nietzsche [2011]:
“Uma só boca que fala
para muitos ouvidos e metade de mãos que escrevem [...]. Para todos os demais,
o possuidor desta boca está separado e é independente dos detentores daqueles
muitos ouvidos [...]”. [NIETZSCHE, 2011, p. 147, grifos nossos]
À base disso, vê-se
que é preciso adequar a prática de ensino às condições históricas do período em
que se vive, a fim de tornar a educação mais significativa para o alunado.
Pois, assim como a sociedade, a educação é mutável. [ORSO, 2008] E isso
significa dizer que continuar executando uma prática pedagógica que surtia
efeito há trinta, quarenta ou cinquenta anos, não oferece nenhuma perspectiva
de sucesso na atividade docente. Pois, como lembra-nos Karnal [2007]: “A ação
pedagógica muda porque mudam seus agentes: mudam os professores, mudam os
alunos [...]”. [KARNAL, 2007, p. 9]
Como foi dito
anteriormente, Nietzsche [2011] defende a importância do/a professor/a na
aprendizagem dos alunos, por acreditar que o/a docente deve servir de modelo e
de guia para seus alunos, ajudando-os a atingirem a sua completude através da
elevação cultural. Assim, ainda que se reconheça que é necessário romper com o
modelo de ensino que privilegia o/a professor/a e desfavorece o aluno por
reconhecer o primeiro como portador do conhecimento e o segundo como simples
receptor, é fundamental valorizar a importância do papel do/a professor/a na
aprendizagem dos discentes. Prova disso é que Nietzsche [2011] assevera que o/a
professor/a precisa reconhecer e exercer sua autoridade em sala de aula. Visto
que:
“Toda cultura começa,
ao contrário de tudo o que se elogia hoje com o nome de liberdade acadêmica,
com a obediência, com a disciplina, com a instrução, com o sentido do dever”
[NIETZSCHE, 2011, p. 135, grifos nossos].
Quanto à atitude
diante das dificuldades encontradas em sala de aula, Nietzsche [2011] aconselha
o seguinte aos professores: “[...] não esconder-se atemorizado, mas antes
passar ao ataque”. [NIETZSCHE, 2011, p. 120] Com estas palavras, Nietzsche
[2011] nos ajuda a entender que os/as professores/as não podem ficar
paralisados por causa dos problemas detectados em sala de aula. Ao contrário,
eles/as devem tomar uma ação; o que envolve, além de buscar resolver estes
problemas, lutar contra os sentimentos de frustação e de desânimo. Não ser
tragado por tais sentimentos é importante, porque o contrário inviabilizaria
o/a professor/a de cumprir com o que Nietzsche [2011] considera ser a tarefa
docente mais importante, qual seja motivar os alunos a enxergar a realidade
para além das suas próprias circunstâncias.
É sabido que a
educação no Brasil apresenta muitos problemas, sendo alguns dos quais muito
longevos, a exemplo do analfabetismo que vem se arrastando desde os tempos em
que o Brasil era colônia de Portugal. [SAVIANI, 2008] A despeito disso, como
orienta Nietzsche [2011], a atitude dos/as professores/as deve ser de
enfrentamento e não de desistência. Por certo, não é difícil compreender o
porquê dos/as professores/as ficarem desanimados diante das dificuldades
identificadas no sistema educacional. No entanto, não é porque isso é
compreensível, que deve ser visto como justificável. O que ajuda nisso é não se
concentrar, em demasia, nos problemas, ou seja, naquilo que está fora da zona
de controle, pois é mais vantajoso se concentrar nas pequenas ações que podem
ser tomadas, de imediato, para sanar os problemas percebidos em sala de aula.
Considerações
finais
Por tudo isso,
constata-se que as reflexões do filósofo Nietzsche presentes no livro “Escritos
sobre educação” nos ajudam, a um só tempo, a conhecer o pensamento deste
filósofo sobre a educação da sua época e a formular reflexões sobre o modelo
educacional dos nossos dias, nos levando, por via de consequência, à ponderação
sobre os princípios que orientam a nossa educação, sobre o modo como deve ser a
atuação dos/as professores/as na Educação Básica e sobre qual deve ser a
atitude dos/as docentes em face dos problemas detectados em sala de aula.
Também, as reflexões de Nietzsche podem ser aplicadas no âmbito da Educação
Básica, sobretudo no ensino de História, quando o/a professor/a: [i] se
interessa por um ensino não instrumental, mas sim em diálogo com a formação
humana como um todo; [ii] se preocupa em educar através do exemplo mostrando
para os alunos a importância do que está sendo estudado em sala de aula; [iii]
se esforça em usar métodos de ensino que respondam aos interesses dos alunos; e
[iv] adota uma prática docente que valoriza a individualidade dos alunos,
ajudando-os a desenvolver um pensamento autônomo e crítico.
Referências
Raimundo Nonato Santos
de Sousa – graduando em Licenciatura Plena em História pelo Centro de Estudos
Superiores de Caxias da Universidade Estadual do Maranhão–CESC/UEMA.
Atualmente, atua como pesquisador-bolsista PIBIC/UEMA e pesquisador-colaborador
UNIVERSAL/FAPEMA. E-mail: raimundo.045sousa@gmail.com.
Claudinei Reis Pereira
– graduado em Filosofia pelo Instituto de Estudos Superiores do Maranhão –
IESMA; especialista em Ética e Política pela mesma instituição; especialista em
Lógica e Ciências Cognitivas pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA;
mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí – UFPI; doutorando em
Filosofia pela Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. Áreas de
interesse de pesquisa: A filosofia aristotélica; pensamento moderno e
contemporâneo; fenomenologia; existencialismo; filosofia da religião e
filosofia da educação; ética e política. Atualmente vem desenvolvendo estudos
na filosofia de Nietzsche e Kierkegaard. E-mail: claudnei_2012@hotmail.com.
CHARLOT, Bernard. Da
relação com o saber: elementos para uma teoria. Tradução de Bruno Magne. Porto
Alegre: Artmed Editora, 2000. [Livro]
KARNAL, Leandro
[org.]. História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 5. ed. São
Paulo. Contexto, 2007. [Livro]
NIETZSCHE, Friedrich.
Escritos sobre Educação. Tradução de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de
Janeiro: Ed. PUC-Rio. São Paulo: Loyola, 2011. [Livro]
ORSO, Paulino José. A
educação na sociedade de classes: possibilidades e limites. In:
ORSO, P.J.; GONÇALVES, S. R.; MATTOS, V. M. [orgs]. Educação e luta de classes. 1º
Edição, São Paulo: Editora Expresso Popular, 2008. [Artigo]
SAVIANI, Dermeval.
Política educacional brasileira: limites e perspectivas. Revista de Educação
PUC-Campinas, Campinas, n. 24, p. 7-16, junho 2008. [Artigo]
SCHMIDT, M. A. A
formação do professor de história e o cotidiano da sala de aula. In:
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. 9.ed. São Paulo:
Contexto, 2004. [Artigo]
ZUBEN, Marcos de Camargo
Von; MEDEIROS, Rodolfo Rodrigues. Nietzsche e a educação: autonomia, cultura e
transformação. In: Trilhas Filosóficas – Revista Acadêmica de Filosofia, Caicó-RN,
ano VI, n. 1, p. 71-93, jan.-jun. 2013. ISSN 1984-5561. [Artigo]
Olá, Boa tarde! Me chamo Jonatan Rafael de Souza Mello, também participo do evento na mesma mesa.
ResponderExcluirPrimeiramente eu gostaria de parabeniza-los pelo texto. Gostei muito!
De forma resumida tenho dois questionamentos a serem feitos. O primeiro refere-se a parte final do texto (o paragrafo antes da última citação de Nietzsche), onde os senhores discutem que o professor goza de certo privilégio em detrimento do aluno, e deve levar em consideração o conhecimento do aluno; nesta parte, os senhores asseveram que é preciso romper com tal estrutura, e que a proposta de rompimento esta lastreada em Nietzsche. Contudo, não reconheço na citação abaixo, nenhuma passagem na citação de Nietzsche que alicerce a proposta de rompimento mencionada pelos senhores acima. Ao contrário, vejo na passagem um certo autoritarismo típico e até normal no período educacional vivido por Nietzsche, e rigorosamente antagônico a proposta de rompimento citada pelos senhores na passagem em questão. Há alguma outra citação do filósofo germânico que embase a proposta de rompimento levantada pelos senhores?
A segunda questão refere-se a Cultura. Em várias obras (A gaia a ciência, Ecce Homo, Aurora, Além do bem e do mal) Nietzsche critica veementemente a intelectualidade de seu tempo, criticando até as democracias do período, sempre arrogando e defendendo um elitismo, uma aristocracia. Ele gaba-se de escrever para poucos e sempre procura se distanciar do populacho (uma das metáforas mais usadas por ele, como a ave de rapina, evidencia seu isolamento), em suma: é este o tipo de cultura defendida por ele no ambiente escolar? Se for, ele defende tal cultura para sujeitos isolados - de “moral superior”, como ele gosta de dizer -, ou defende que esta cultura elitizada seja popularizada?
Agradeço a atenção e reitero meus parabéns!
Jonatan. Abraço
Boa madrugada ou bom dia, senhor Jonatan Rafael de Souza Mello. Agradecemos as suas expressões. Respeitosamente, a sua primeira observação está equivocada. O parágrafo citado é esse:
Excluir"Como foi dito anteriormente, Nietzsche [2011] defende a importância do/a professor/a na aprendizagem dos alunos, por acreditar que o/a docente deve servir de modelo e de guia para seus alunos, ajudando-os a atingirem a sua completude através da elevação cultural. Assim, ainda que se reconheça que é necessário romper com o modelo de ensino que privilegia o/a professor/a e desfavorece o aluno por reconhecer o primeiro como portador do conhecimento e o segundo como simples receptor, é fundamental valorizar a importância do papel do/a professor/a na aprendizagem dos discentes. Prova disso é que Nietzsche [2011] assevera que o/a professor/a precisa reconhecer e exercer sua autoridade em sala de aula".
Se o senhor ler novamente este parágrafo, perceberá que não afirmamos com base no pensamento do filósofo que se faz necessário romper com o modelo de ensino que concebe o professor como portador e o aluno como receptor de conhecimento. Quando falamos isso, nós estamos expressando nosso pensamento sobre o assunto. Veja que nós até usamos a expressão "ainda que se reconheça", para logo depois concordar, mesmo que em parte, com o Nietzsche: "[...] é fundamental valorizar a importância do papel do/a professor/a na aprendizagem dos discentes".
Quanto à sua segunda pergunta, a concepção de Nietzsche sobre educação era mesmo aristocrática. Inclusive, ela fica muito pronunciada no livro tomado como base em nossa comunicação. Acreditamos que nesse ponto o pensamento de Nietzsche possa ser ressignificado, no sentido de que deve-se reconhecer a importância do binômio educação-cultura, mas sem adotar o caráter elitista do filósofo que atravessa a relação entre educação e cultura.
Mais uma vez, obrigado pelas expressões.
Por: Raimundo Nonato Santos de Sousa.
Segue a resposta a questão 1 e 2.
ResponderExcluirAtt,
Claudinei, Doutorando UFES
Sobre a primeira questão, Nietzsche é um autor que deve ser visto com cuidado. Suas críticas têm cunho mais de repensar o problemas ao fato de "destruí-las". Neste sentido, a ideia de educação cabe nessa análise.
ResponderExcluirNesta questão Nietzsche nos provoca diante da ideia do elitismo acadêmico. Tem uma passagem interessante que o mesmo ressalva em Crepuculo dos Ídolos que o mesmo afirma: " Esqueceu-se que para essa finalidade são necessários educadores - e não de professores ginasiais e eruditos de universidades - Necessita-se de educadores que sejam eles mesmos educadores, de espíritos livres superiores, nobres, provados a cada momento, pela palavra e pelo silêncio, de culturas que se tornaram maduras, doces, e não de eruditos grosseiros que ginásio e universidade hoje ofertam à juventude".
A segunda questão, segue um pouco a ideia: Em suas críticas ao psicologismo moral, a o utilitarismo e teses absolucinismo. A moral dos superiores ao meu entender é uma proposta de revisão da própria moral. Ou seja, existem ações que devem ser promovidas e outras extintas. Neste caso, é necessários da categoria da coragem para tal, talvez aí uma necessidade de algo superior que se traduza em potência"
Lembrando que essa é a resposta do professor Claudinei Reis Pereira.
ExcluirPrezado, parabéns pelo excelente texto.
ResponderExcluir1) A partir do pensamento de Nietzsche exposto no texto, onde se apresentou os elementos de "distanciamento da cultura", a "educação rápida" , assim como foram explanados, podemos afirmar que a educação, seja na Educação Básica e também na universidade, ela não forma (ou não estar formando) indivíduos críticos, mas sim um "produto"?
2) Temos que nos preocupar? Ora, se estar formando apenas um "produto" para o mercado? Tem consequências para a sociedade?
3) Mais uma consideração sua: A prática docente precisa desse encontro com o "professor nietzschiano"?
Eliene Brito Silva
Boa tarde, Eliene Brito Silva. Obrigado pelas expressões.
ExcluirEm resposta às suas perguntas: 1. Na perspectiva do filósofo sim, visto que não há uma preocupação com a elevação cultural dos alunos mas sim uma preparação para o mercado de trabalho.
2. Precisamos nos preocupar sim, porque o modelo educacional adotado em uma sociedade diz muito sobre o futuro dessa sociedade. Em vista disso, precisamos avaliar a eficiência dos princípios ideológicos e pedagógicos do nosso sistema de ensino.
3. Sim, porque o pensamento do Nietzsche nos faz pensar em quem estamos educando, por quê estamos educando e para quê estamos educando.
Por: Raimundo Nonato Santos de Sousa